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APUNHALADO / O BRASIL APUNHALADO COM UMA PENA DE OURO!

(Clque para saber mais)

GOIO-EN, O CAMINHO E TEMPO. (Link com a Editora Viseu)

O Brasil apunhalado com uma Pena de Ouro.

O presidente Lula, ao que parece, está um tanto deslumbrado com os rapapés que recebe em seus entendimentos com a Argentina, mas deve tomar muito cuidado para não se tornar um novo Quintino Bocaiuva. 

Os presidentes Lula, do Brasil, e Alberto Fernandez, da Argentina, anunciaram estudos para uma nova moeda sul-americana compartilhada. Segundo disseram à imprensa, “esta moeda binacional teria a finalidade de reduzir a vulnerabilidade externa dos dois países em transações comerciais e financeiras.”

Quem conhece a história das tormentosas relações entre o Brasil e a Argentina ficou com a pulga atrás da orelha. 

Começa que o Brasil não tem vulnerabilidade externa com que se preocupar.

Assim fica claro que este arranjo tem o único propósito de levar o Brasil a assumir o risco do crédito com a Argentina, já que é este o país que convive com uma escassez crônica de dólares.

O indigitado Quintino Bocaiuva era senador e virou Ministro do Exterior da recém proclamada república brasileira em 1889. República essa cuja primeira providência, após abater a monarquia brasileira, foi embarcar o embasbacado ministro no encouraçado Riachuelo, o maior navio da marinha brasileira de então, para levá-lo com toda a pompa e circunstância até o Prata para apunhalar o Brasil pelas costas!.

E o fez em grande estilo. Vaidoso, sedento de glórias, como o descreveu o Barão de Ladário, foi recebido com mesuras, adulado, bajulado, paparicado com festas e banquetes e, por fim, não de se pejou de assinar, faceiro e pampeiro, o tratado que dava de mão beijada aos Argentinos um pedaço dos atuais estados do Paraná e de Santa Catarina. 

E não só apôs sua rebuscada assinatura de Calabar no tratado, como o fez com uma esplendorosa pena de ouro. Peça única, ornada de pedras preciosas e trabalhada pela mais refinada ourivesaria, num gesto fútil de reverência que o Plenipotenciário Quintino Bocaiuva concedeu ao presidente da República Argentina Miguel Juarez Celman. 

O Jornal o Estado de S. Paulo de 26 de janeiro de 1890 revelava na primeira página aquela perversidade:

Trocaram-se ante-ontem as últimas notas entre os srs. Bocayuva e Zeballos sobre a questão de Missões.

Zeballos oferecerá em nome do governo argentino a Bocayuva, para assinar o tratado, uma artística pena de ouro, assinando aquele tratado com a pena que o presenteou Juarez Celman. 

Certa vez o Papa Argentino observou que Deus é brasileiro. Ele haverá de saber melhor do que ninguém, pois foi só graças aos céus que esta despudorada manobra não prosperou e acabou anulada pelo congresso brasileiro.

É certo que a rivalidade do Brasil com a Argentina foi herdada da rivalidade entre Portugal e Espanha e, portanto, vem desde os tempos coloniais, mas no episódio da Questão de Palmas ou, Questão das Missões, como queriam os argentinos, os eventuais entendimentos coloniais serviram só como pretexto para maquinações e pleitos muito além dos acordos estabelecidos entre as matrizes Europeias. 

A verdade é que Argentina sempre viu o Brasil com olhos gulosos. 

O Brasil é um oponente grande e simplório. Um colosso amórfo, dominado por um desmesurado complexo de inferioridade, o famoso “complexo de vIra-latas”, de que falava Nelson Rodrigues. 

O efeito desse complexo é que tem governantes brasileiros, ávidos do glamour fugaz e de uma pitada de aplauso, bem no espírito da canção Folhetim do Sérgio Buarque de Holanda, que estão sempre prontos à fazer concessões e entregar o ouro por uma coisa atoa.

 A Argentina, por seu lado, trata de defender seus interesses, o que seria mesmo de esperar. 

A questão, porém, é que o país vizinho frequentemente se conduz de forma sobranceira e egoísta, sendo useira e vezeira em menoscabar nosso país. 

Esta relação tóxica é parte de nossa tragédia latino-americana. Tragédia, aliás, que alcança todo o continente. Vale lembrar que o ex-presidente Mexicano Porfírio Diaz, reclamando dos americanos, exclamou:

“Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.

De nossa parte aqui, seria o caso de exclamarmos “Pobre Brasil, tão longe dos Estados Unidos e tão perto da Argentina”. 

Mas voltando à tentativa Argentina de se apossar de parte dos territórios do Paraná e Santa Catarina, que originaram a momentosa Questão das Missões, pode-se afirmar que este foi um embate emblemático. 

O território dos Campos de Palmas estava pacificamente nas mãos do Brasil. 

Os bandeirantes paulistas tinham circulado por ali desde o século XVI. Em 1839, com a substantiva participação do Cacique Victorino Condá ajudando a pacificar os Kaingang, estabeleceram-se no Campo de Palmas 37 fazendas, as quais, em 1850, já tinham cerca de 36.000 cabeças de gado. 

Vale lembrar que os Kaingang, também chamados de coroados e bugres, que habitavam a área, sempre se afirmaram brasileiros. Eles haviam se relacionado bem com os portugueses até porque eram inimigos dos Guarani, índios aliados dos espanhóis. 

Em 16 de março de 1837 a Assembleia Legislativa de S. Paulo criou um destacamento de Policiais Permanentes para o fim específico da ocupação daqueles campos.

Em 1845, Manuel da Fonseca de Lima e Silva, o Presidente da Província de São Paulo, com visão e descortino de estadista, tomou a iniciativa da construção do Caminho de Goio-En, o caminho de tropas entre os Campos de Guarapuava e as Missões de São Pedro do Rio Grande do Sul, como informa em seu Relatório para a Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 7 de janeiro de 1845: 

“Compartindo o interesse que vos inspirou a ideia de abertura de uma nova comunicação entre esta Província e a de S. Pedro do Sul pelo território situado a sudoeste do Campo de Palmas, encarreguei esta comissão ao Cidadão Francisco Ferreira da Rocha Loures, homem empreendedor e ativo e que, pela circunstância de residir naquelas imediações me parece para isto precisamente habilitado.” 

Manuel da Fonseca de Lima e Silva, que seria o futuro Barão de Suruí, se encarregou ainda de arregimentar o apoio do Presidente da Província vizinha de São Pedro do Rio Grande do Sul, Luiz Alves de Lima e Silva, o então Conde de Caxias, que vinha a ser seu cunhado e sobrinho. 

A esse respeito o Conde de Caxias, informa em seu relatório a Assembleia Provincial gaúcha de 1846 que:

Por este meio tempo veio ter a esta Província o Tenente Francisco Ferreira da Rocha Loures, encarregado pelo Governo Provincial de S. Paulo de explorar o terreno e abrir uma nova estrada por conta daquela província… 

Mas voltando ao relatório de 1845 do Presidente de São Paulo, este informa que vai fazer mais uma estrada naquela região, agora ligando os Campos de Palmas com a Argentina. 

Na justificativa ele esclarece: 

“Aberta essa estrada, ela pode sobretudo melhorar a posição do Brasil acerca da solução das antigas questões de limites naquela parte do Império.”

Observem que ele, ao falar das questões de limites naquela parte do império se antecipa em décadas as futuras reinvindicações dos argentinos sobre os Campos de Palmas.

Tanto é fato que cinquenta anos depois, o Barão do Rio Branco, ao defender os direitos do Brasil aos Campos de Palmas, reconhece a importância da iniciativa do Presidente da Província paulista:

Em 1845, por ordem do presidente de São Paulo, general Manuel da Fonseca Lima, depois barão de Suruí, se deu começo à abertura da comunicação com o Rio Grande do Sul, pelo passo do Goio-En e por Nonoai. 

O general Caxias, então presidente do Rio Grande do Sul (outra província brasileira), animou e auxiliou esses trabalhos.

Foi na segunda metade do século XIX que cresceram os olhos dos argentinos. Especialmente ao se darem conta que a ausência de uma fronteira bem demarcada na região lhes dava oportunidade para turvar as águas e criar confusão. 

Conjeturaram que uma artimanha bem bem-sucedida lhes daria um naco de 30.621 km2 de uma das regiões mais férteis e promissoras de todo o continente. 

Ou seja, valia o esforço! 

Os limites territoriais das possessões de Portugal e Espanha na América Meridional haviam sido definidos pelos tratados de Madri de 13 de janeiro de 1750 e pelo de Santo Ildefonso, de 1º de outubro de 1777

Nos tratados consta que a divisa entre o Brasil e Argentina / no trecho entre os rios Uruguai e o Iguaçu seria feita pelos rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio. 

Na condição de herdeiros destes tratados, tanto o Brasil como a Argentina tinham que aceitar estes rios como limite entre os dois países. 

Acontece que os mapas daquela época eram pouco precisos e a Argentina se aproveitou deste pretexto para, com base em mapas de encomenda e argumentos especiosos, questionar a localização dos rios que fariam a divisa e passou a alegar que o rio brasileiro de nome Chapecó é que seria o verdadeiro rio Peperi-Guaçú e o de nome Chopim é que seria o verdadeiro rio Santo Antônio daquele tratado de fronteiras.

Em 1882 a Argentina tentou dar uma de joão sem braço. Fez uma lei dividindo o Território das Missões argentino em cinco departamentos administrativos e incluiu na divisão o território brasileiro dos Campos de Palmas. Na lei são designados como limites os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio, porém acontece que a Argentina atribuiu estes nomes aos rios Chapecó e Chopim, que ficam no meio dos Campos de Palmas. 

Ora, a falsificação era flagrante e o governo imperial se recusou a aceitar os mapas falseados que a Argentina apresentava. 

A Argentina, por seu turno, usava sua representação diplomática na capital do império para obter apoio e tentar convencer o governo imperial a abrir mão daquele território. 

Apesar de seus esforços, contudo, estava cada vez mais evidente que sua narrativa não convencia e seus argumentos não seriam aceitos pelo império do Brasil.

Uma evidência é a notícia dada pelo Jornal O Estado de São Paulo publicando em 6 de setembro de 1882 um despacho de seu correspondente em Buenos Aires: 

Diz La Pátria Argentina, que o dr. Avellaneda comunicou ao seu governo que o gabinete imperial não estava disposto a submeter a arbitramento a questão das Missões por considerar que não admitem dúvidas os direitos que têm o Brasil sobre aquele território.

Mas a Argentina não dava trégusas. Em 7 de setembro de 1889, o governo imperial, buscando apaziguar os ânimos e confiante em seus direitos, aceitou um acordo baseado em dois pontos:

1.               Seria feita uma nova expedição para verificar se os rios Chapecó e Chopim corresponderiam, de fato, aos rios da divisa descritos nos tratados originários, e

2.               Caso o Brasil não aceitasse estes rios como divisa a questão seria levada para a arbitragem do presidente norte-americano.

O prazo para a expedição trazer provas seria de 90 dias, contados a partir da ratificação do tratado, o que ocorreu em 5 de novembro de 1889.

Para o Brasil a questão parecia resolvida. Seus geógrafos, astrônomos, demarcadores e especialistas sabiam que a missão de reconhecimento seria feita nos rios errados a Questão das Missões iria para a arbitragem.

Já os argentinos tinham pressa. O tempo estava correndo contra eles, e eles também sabiam que a missão de reconhecimento era um embuste, assim como sabiam que, salvo a improvável hipótese de convencer o presidente Cleveland a decidir em favor de um embuste, estavam perdidos. 

Desse modo, a última esperança que lhes restava residia na mudança do regime de governo no Brasil.

E eis que então acontece o mais chocante. 

É difícil avaliar influência dos agentes argentinos na derrubada da monarquia brasileira, 

O que é sabido, no entanto, é que o golpe republicano que derrubou a monarquia se deu em 15 de novembro de 1889. 

E havia mais coisas sórdidas entre o céu e a terra: 

A começar pela suspeitíssima certeza dos Argentinos de que, no final, ganhariam uma “província à nossa custa”, como havia dito Bocaiuva quando que ainda era tido como o “príncipe dos jornalistas”, com como relata o Barão de Ladário nos artigos publicados no jornal A Tribuna e encaminhados aos senadores no final de 1890.

Por exemplo, no grupo da comissão demarcadora que explorava os rios Chapecó e Chopim, um oficial argentino disse em um jantar “que seus patrícios muito desejavam que o Brasil se constituísse em república, porque então seria fácil anexar o Rio Grande do Sul à Confederação Argentina.”  

Vejam, os argentinos não somente queriam tomar 30.621 km2 dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina, como pensavam criar uma cunha separando o Rio Grande do Sul do restante do país e, assim, facilitar a anexação do Rio Grande do Sul ao seu país. 

Um outro oficial superior argentino afirmou, referindo-se aos Campos de Palmas:

“Isto será nosso, ou por bem ou pelas armas”.

Ademais, é preciso reconhecer que, naquela conjuntura, os argentinos avaliavam melhor do que os cosmopolitas republicanos do Rio de Janeiro a importância do território em jogo e qual o potencial futuro dos Campos de Palmas. 

De toda forma, o governo republicano fez o que a Argentina esperava. Em sua primeiríssima iniciativa internacional, atropela o tratado de arbitramento assinado pelo império, aceita sem pejo as demandas argentinas e manda o Ministro Quintino Bocaiuva dividir com os argentinos o território dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina. 

E foi o que ele fez!

Vejam a linha de tempo da ignomínia republicana: 

Em 7 de setembro de 1889 o governo imperial assina o Tratado de Arbitramento que leva a Questão das Missões para decisão do Presidente dos Estados Unidos;

Em 05 de novembro de 1889, 58 dias depois, o congresso brasileiro ratifica o tratado de arbitramento;

Mais 10 dias e chegamos ao fatídico 15 de novembro de 1889. Nesta data os ativistas e militares dão o golpe, derrubam a monarquia e proclamam a república. O Marechal Deodoro da Fonseca assume a presidência e Quintino Bocaiuva se torna Ministro do Exterior.

Vem dezembro, Festas, Natal e Ano novo. Já em 14 de janeiro de 1890 o Encouraçado Riachuelo leva Bocaiuva ao encontro de seus parceiros argentinos para assinar o tratado de cessão do território. 

Outros 10 dias e em 25 de janeiro, o plenipotenciário é recebido com banquete em Montevidéu, onde assina com a tal aparatosa pena de ouro o infame tratado em que o Brasil cede para a Argentina metade dos territórios dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina.

Em seguida viaja ao encontro do presidente argentino.

O jornal O Estado de S. Paulo, na edição de 6 de fevereiro de 1890 publica um despacho vindo de Buenos Aires informando que Quintino Bocaíuva tinha sido homenageado com um banquete pelo presidente Juarez Célman, na noite de 3 de fevereiro. 

Segundo o despacho, “houve durante o banquete a máxima alegria e expansão fraternal, levantando-se muitos brindes ao Brasil e a República Argentina, firmando-se assim um acordo tácito para a manutenção da paz e a prosperidade das duas poderosas nações sul-americanas.”

Não surpreende que tenha havia máxima alegria e muitos brindes fraternais. A argentina estava conseguindo barato uma nova província formada com metade do território dos estados do Paraná e de Santa Catarina arrancados do Brasil por intermédio do homenageado, Quintino Bocaiuva, que é de se supor, não estava lá de graça.

O inacreditável é que esse recém-empossado Ministro de Relações Exteriores nada mais útil tivesse a fazer além de ir sabujar os vizinhos do Prata por mais de um mês, circulando entre Montevidéu, Buenos Aires, Córdova Tucumán e outras paragens do Prata em que foi homenageado por banquetes, eventos, convescotes e festas variadas. É ridículo registrar que o plenipotenciário viajou em 14 de janeiro, assinou o tratado no dia 25, em Montevidéu, viajou 700 quilômetros para ir visitar o presidente Argentino em sua residência em Córdova, voltou a Montevidéu em 16 de fevereiro para ali passar o carnaval e só então, feliz e pampeiro, regressar ao Rio de Janeiro em 25 de fevereiro, onde, para, estupefação geral, resolve deixar o posto de Ministério do Exterior, conforme noticiou o Jornal Estado de S. Paulo do dia 26 de fevereiro.

O país estava atordoado. A notícia da desfaçatez fazia ferver o sangue dos brasileiros.

O Barão de Ladário, em seus artigos no Jornal a Tribuna condenando o tratado, conta que o dito plenipotenciário teria asseverado: 

que não se podia atender, ao liquidar-se o litígio, à questão pura e simples dos direitos a certas linhas de fronteiras, mas e preferentemente à que se prendia aos interesses momentosos da nova situação do país.

Trocando em miúdos: Quintino Bocaiuva, com espantosa cara de pau, revela que a república ia dar metade dos estados do Paraná e Santa Catarina aos Argentinos porque era do interesse momentoso do novo governo republicano. 

O Barão do Rio Branco, o defensor da causa brasileira em Washington informa que: 

“Na República Argentina esta solução foi festejada com grande entusiasmo. No Brasil, porém, ela produziu o mais profundo sentimento de dor e levantou unânimes e veementes protestos.” 

Mas é claro que haveria alegria e festejos na argentina com um presente deste tamanho,  mas graças a mobilização do povo e aos protestos da imprensa, o Congresso Brasileiro rejeitou o tratado Bocaiuva por 142 votos contra 5 em sessão de 10 de agosto de 1891.

O passo seguinte foi o envio da Questão das Missões para o arbitramento do presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland. 

Lá, em Washington, mercê do Deus que é brasileiro, como reconhece o citado Papa argentino, a defesa da causa brasileira coube ao nosso mais insigne diplomata, o Barão do Rio Branco.

E enquanto o Rio Branco buscava fundamentar as razões brasileiras reunindo documentos e provas, os Argentinos, sob a liderança de Estanislao Zeballos, faziam intensa campanha de relações públicas tentando ganhar a questão na base do tapetão. 

As vésperas da decisão do presidente Cleveland, a Argentina ofereceu um banquete de gala para a alta sociedade norte-americana e, num gesto de insólita soberba, mimoseou cada uma das damas presentes com uma joia de ouro e diamantes posicionada em frente ao seu lugar na mesa do banquete.

Mesmo assim não adiantou.

Em 6 de fevereiro de 1895 o presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland emitiu sua sentença, dando ao Brasil a posse definitiva dos atuais territórios do Paraná e Santa Catarina. Foi a primeira grande vitória de nosso maior diplomata, o Barão do Rio Branco.

Um pequeno documentário mostrando a documentação reunida por Rio Branco é mostrado no vídeo Oeste Fértil, o Legado do Barão do Rio Branco, no canal Goio-En do Youtube.

E se você quiser conhecer mais histórias sobre a conquista do Oeste Fértil brasileiro e sobre o desenvolvimento do Alto Uruguai Gaúcho e dos oestes de Santa Catarina Paraná, conheça o meu livro Goio-En o Caminho e o Tempo da editora Viseu. É uma boa pedida.

Muito obrigado.

GARIBALDI E ANITA SOB O DOSSEL DOS PINHEIRAIS.

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Foi no ano de 1837 que o jovem italiano Giuseppe Maria Garibaldi chegou à Província de São Pedro do Rio Grande e foi visitar na cadeia o líder farroupilha Bento Gonçalves que estava preso pelos imperiais por ter sido escolhido presidente da República Rio-Grandense que queria se separar do Brasil.

Giuseppe Garibaldi tinha 30 anos e havia sido condenado à morte na Itália por ter participado de uma insurreição em Gênova que queria a unificação do país. Como a revolta deu errado ele adotou um nome falso e foi ser marinheiro no Mediterrâneo até decidir vir para o Brasil.

Quando visitou Bento Gonçalves Garibaldi se disse “cansado de arrastar uma existência inútil”, de dispôs a lutar pelos farroupilhas e pediu uma “Carta de Corso”, que era uma autorização para atacar e pilhar navios do governo imperial, que era o governo inimigo.

Foi dessa forma que o futuro general italiano e herói da guerra da unificação da Itália entrou na história farroupilha e acabou envolvido na história do Sul do Brasil.

Antes de continuar e para dar uma ideia da importância que o chamado herói dos dois mundos adquiriu na Europa de seu tempo, vale citar a visita que o agora General Italiano Giuseppe Garibaldi foi convidado a fazer à Londres em 1864.  

Já famoso e respeitado, especialmente depois de ter reunificado a Itália em 1861, Garibaldi foi recebido por uma multidão como nunca tinha sido vista na capital londrina. Basta dizer que carruagem que transportava o general precisou de cinco horas para percorrer a distância de quatro quilômetros entre a estação ferroviária de Nine Elms e a Residência Lancaster, onde era o convidado de honra do duque e da duquesa de Sutherland. (Saderland)

Em 1837, ao chegar no Brasil, Garibaldi se encantou com a natureza e, especialmente, com as esplêndidas araucárias das nossas matas. Relatou em suas memórias que

“Só quem já viu as imensas florestas que cobrem os cimos do Espinhaço, com seus pinheiros seculares, que parecem destinados a sustentar o céu, e são as colunas deste esplêndido templo da natureza…podem delas fazer uma ideia”.

Na visita ao presidente farroupilha Garibaldi recebeu também a incumbência de circunscrever o bloqueio ao porto de Rio Grande. Depois de aprisionar um navio imperial e sua carga, Garibaldi percebeu que ações isoladas não iram compensar a falta de um porto. O que os farrapos precisavam era de uma saída para o mar.

A essa altura, no delta do Rio Camaquã, existiam alguns galpões de uma velha charqueada. Ali Garibaldi fez construir embarcações de fundo chato para controlar a Lagoa dos Patos – um imenso corpo de água com 260 quilômetros de comprimento e 60 de largura em seu ponto mais largo. Sua principal característica, porém, é que suas águas têm em média, 3 metros de profundidade. E além de rasa, a lagoa tem muitos bancos de areia, de modo que os navios do império não podiam navegar ali sem o risco de encalharem.

A organização do estaleiro foi entregue a John Griggs, o João Grandão, um marinheiro irlandês que juntou-se aos revoltosos. Era homem de grande estatura, corpulento e imensamente forte, estava sempre bem-humorado e era um incorrigível otimista. Ainda assim, sem conhecer a carpintaria naval e com os poucos meios de que dispunha, não podia fazer grande coisa.

João Grandão soube de Luigi Carniglia, um mestre carpinteiro naval italiano estabelecido no Uruguai. Garibaldi conseguiu a ajuda do seu compatriota, que veio com suas ferramentas e uma equipe de profissionais tarimbados.

Trabalhando dia e noite, em dois meses, conseguiram construir dois veleiros lanchões. O maior, com 18 toneladas, era o Rio Pardo. O segundo lanchão, de 12 toneladas, era o Seival. No começo de maio de 1839 os barcos circularam pela Lagoa dos Patos à procura de presas. Na altura de Cristóvão Pereira deram com a sumaca Mineira que se rendeu após um único tiro.

Em resposta os imperiais mandaram quatro navios de guerra caçar os dois lanchões farroupilhas. Os rebeldes se sentiram acossados, logo descobriram um meio de se safar. Seus lanchões eram mais leves, rápidos e manobráveis. Além disso, os marinheiros rebeldes conheciam bem a lagoa e reconheciam os bancos de areia. Quando eram perseguidos pelos navios imperiais, se dirigiam a um banco de areia próximo e avançavam até o lanchão encalhar.

Assim que ficavam presos na areia, o comandante gritava com toda a força:

“À água, patos!”.

Dada a ordem, todos a bordo pulavam na água, inclusive Garibaldi. Enquanto alguns puxavam com cordas, os demais empurravam o barco de fundo chato sobre a areia, de modo a cruzarem para o outro lado. De volta na água, todos reembarcavam e impulsionavam o barco usando varas que se apoiavam no leito do lago.

Daí que rapidamente se safavam e os pesados navios da Marinha imperial ficavam, literalmente, observando impotentes a artimanha dos rebeldes.

Acontece que essas escaramuças náuticas podiam ser bastante divertidas, mas traziam poucos resultados práticos.

Garibaldi então sugeriu ao Governo Farroupilha que tomasse a cidade de Laguna, em Santa Catarina, e por lá conseguissem o tão necessário acesso ao mar.

Mas como atacar Laguna se toda a Marinha dos farrapos se resumia aos dois lanchões que estavam na Lagoa dos Patos?

Garibaldi explicou sua ideia: os dois barcos deveriam seguir por terra os 80 km até Tramandaí, lá entrar no Rio Tubarão, descer por ele e atacar Laguna pela retaguarda.

Para fazer a ideia funcionar era preciso colocá-los sobre rodas. Então fizeram duas enormes carretas. Cada uma tinha quatro rodas imensas, que mediam 3,20 metros de diâmetro. Para puxar todo aquele peso os revolucionários conseguiram pela região cerca de 200 bois de canga.

Finalmente, foi com enorme alegria e grande estardalhaço que começou a incrível jornada de levar por terra os barcos farroupilhas.

Imagine o espanto daquela gente ao ver aqueles dois veleiros completos, com seus mastros projetando-se para o céu, navegando em plena campina verde dos campos gaúchos.

Era um espetáculo de dimensões épicas, que incluía o alarido de cavaleiros, a algazarra dos condutores incitando os bois e a constante necessidade de improvisar pranchas para evitar que as rodas afundassem no terreno alagado. Foram seis seis dias para chegar, abaixo de chuvas torrenciais e vencendo metro a metro.

Ao chegar foi preciso mais três dias de trabalho para preparar os barcos e, por cruel ironia do destino, mal os barcos entraram na água soprou um fortíssimo vento pampeiro que pegou todos sem aviso e afundou o Rio Pardo. Agora só sobrava o Seival.

Por sorte, navegando rio abaixo, encontraram e apresaram o lanchão Lagunense, que vinha subindo o rio. O novo lanchão não se comparava ao barco perdido, mas era um reforço muito bem-vindo.

Ao chegarem em Laguna viram que a Marinha imperial estava bem instalada e equipada. Contava com diversas embarcações armadas e tinha sentinelas no alto do Morro da Glória, todos atentos à entrada da barra pelo lado do mar. Por sorte não havia sentinelas voltadas para o Rio Tubarão, afinal, ninguém poderia imaginar um ataque pela retaguarda.

No entanto, de repente, no dia 22 de outubro, coisas inesperadas começaram a acontecer. O Catarinense, que estava posicionado para defender a entrada do mar sofreu, um ataque de surpresa, pela popa. O comandante José de Jesus, vendo que perderiam o navio mandou que os marinheiros pusessem fogo na embarcação e fugissem para a terra.

O comandante imperial ordenou aos demais barcos que saíssem para o mar aberto, porém  a escuna Itaparica e o lanchão Santana não conseguiram escapar e acabaram encalhados. O problema, para Garibaldi, é que a escuna Cometa conseguiu sair para o mar. Ela levaria a notícia da queda de Laguna aos imperiais e era certo que logo eles viriam com todas as forças.

Então, os farrapos buscaram se preparar dentro das suas limitações.

Foi neste interregno que Garibaldi, que estava à bordo da escuna Itaparica e seguia com uma luneta as casas da barra de Laguna, observou em terra um grupo de moças e viu, em meio delas, uma donzela que se distinguia pelo porte e beleza e que, num átimo, atraiu sua atenção.

De imediato, fez descer um escaler e remou, alucinado, até a margem. Uma vez em terra, correu até o local onde tinha visto a moça, porém não mais a encontrou.

Suspirou desolado e perdeu a esperança de encontrá-la.

Mas o cupido tem lá suas artimanhas. Mais tarde um morador local o convidou a ir até sua casa para um café e Garibaldi aceitou. E ao entrar nessa se deparou com a jovem que tanto o encantara ao vê-la pela luneta.

Em suas memórias, Garibaldi conta seu encontro com Anita:

“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-nos reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse:

‘Tu deves ser minha!’.

Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor”.

A jovem Ana Maria de Jesus Ribeiro, que viria a ser mais conhecida como Anita Garibaldi e se converteria na “Heroína dos Dois Mundos”, por ter lutado ao lado dos farroupilhas e, depois, pela unificação da Itália, estava com 18 anos quando foi vista por Giuseppe Garibaldi, que tinha 32 anos.

A jovem aceitou unir-se a Garibaldi e recebeu seu batismo de fogo já na batalha naval de Laguna. A armada imperial chegou com força avassaladora e a Marinha dos farroupilhas foi simplesmente trucidada. Anita entrou nessa batalha sem temer pela própria vida e, num frágil bote a remo, cruzou diversas vezes a área de combate levando munições a Garibaldi.

Vendo a situação perdida, Canabarro, o comandante farroupilha, ordenou a retirada e, dias depois, enviou Garibaldi no rumo oeste, com a difícil missão de subir a Serra Geral e tentar recuperar Lages, que havia voltado para as mãos dos imperiais.

Na retomada de Lages Garibaldi viveu sua primeira experiência de combate como cavaleiro. Foi ainda em Laguna que aprendeu a cavalgar e a combater montado. Sua professora foi Anita, aquela moça encantadora que agora era sua companheira inseparável.

Anita, que era uma amazona de grande traquejo, teve em Garibaldi um aluno talentoso e aplicado. Sobre seu aluno de equitação escreveu ela para sua irmã e confidente:

“Querida irmã: (….) pela primeira vez eu o via em ação a cavalo. (…) Felizmente, ele aproveitou bem as minhas aulas de equitação. Eu não conseguia tirar os olhos de cima dele, cheia de admiração pelo modo como conseguia prever os movimentos dos adversários. Era tão bom nisso que conseguia mandar os seus homens para os lugares certos, surpreendendo a todos com a rapidez de suas ações e indo de um lugar para outro com muita velocidade, deslocando-se sem parar, como um perfeito guerrilheiro(…)”.

Regista a história que, naquele memorável dia 14 de dezembro de 1839, 500 soldados republicanos, entre os quais lutou a destemida Anita Garibaldi, enfrentaram e derrotaram os 2.000 soldados imperiais comandados pelo brigadeiro Xavier da Cunha.

Quatro dias depois, em 18 de dezembro, Garibaldi, Anita, Rosetti e Teixeira Nunes, com seus farroupilhas, entraram triunfalmente em Lages e ali reinstalaram os comandos militares e o governo da recém proclamada República Catarinense.

Anita e Garibaldi, desfrutaram, então, de alguns dias de paz e tranquilidade e cultivaram o amor que sentiam um pelo outro. Em meio às paixões políticas e à emoção das conquistas, viverem, com enlevo, momentos de mútuo abandono como só o amor conhece. Aqueles dias de romance e ternura ambos iriam lembrar para sempre.

Por coincidência, Anita era originária de uma família de Lages e ali ainda vivia seu Tio Antônio, que os acolheu afetuosamente. Em sua casa hospedaram-se e puderam compartilhar o mesmo teto pela primeira vez. Anita escreveu para sua irmã:

“(…) Nos dias que se seguiram àquela luta, chegamos a Lajes sem maiores dificuldades e fomos acolhidos alegremente pela família e pelos amigos. Já encontramos uma casinha bonita, toda de madeira. Não consigo acreditar que estou vivendo sozinha com José. Estamos muito felizes, rimos e brincamos de donos de casa, quando os nossos amigos vêm nos visitar. Tio Antônio e José logo simpatizaram um com o outro. Quando eles se encontram, passam horas discutindo sobre a liberdade dos povos. Mas devo confessar que, às vezes, começo a duvidar de que um dia o mundo será realmente diferente. Talvez ele melhore para os nossos filhos, pelo menos é o que espero. Mas o tempo passa e tudo fica como antes. Evito dizer isso aos nossos fervorosos sonhadores, que, por mais que discutam, não sabem dizer por quanto tempo resistiremos em Lajes. Ninguém se arrisca a fazer previsões. As patrulhas falam de tropas inimigas, organizam-se várias expedições. Com certeza José vai ter que patrulhar nos próximos dias, e eu vou com ele. Ficou decidido que ficarei encarregada de reabastecer as tropas de munições, o que me parece uma tarefa útil. Levarei comigo um grupo de companheiros fortes, que estou aprendendo a conhecer, para garantir os transportes. Quero organizá-los da melhor maneira possível (…).

Anita deixara um casamento de conveniência e uma vida de mediocridades para fazer parte das grandes lutas do mundo de seu tempo. E o destino lhe dera o companheiro a que fora destinado pelas estrelas. Sem pensar por quanto tempo a felicidade lhe seria pródiga, vivia momentos de arrebatamento indizíveis.

O Natal chegou e Anita e Giuseppe comemoraram juntos pela primeira vez a grande festa da cristandade. A Missa do Galo, em 24 de dezembro de 1839, foi um momento de profundas emoções para ambos e, ainda mais, para Anita, que aos 18 anos, via desabrochar a grande paixão à qual entregava sua vida sem medos e sem reservas.

A igreja, na Vila de Lages, estava enfeitada com um presépio que tinha uma manjedoura como a contada no Evangelho. À noite, a cena era iluminada por lamparinas que bruxuleavam, inquietas, como os corações do casal que as observava. No centro, o bambino Jesus, esculpido em madeira, tinha os braços abertos, um sorriso angelical e as faces rosadas. Envolto com musgos e ramos de pinheiro, pouco parecia se importar com a modéstia de seu berço. Embevecido, o casal esqueceu o tempo e ali ficou, de mãos dadas, se deixando encantar por aquela atmosfera de fé e esperança que os unia ainda mais. Um sentimento de carinho sem limites os amalgamava em um amor maior do que a vida, enquanto fortalecia seus sonhos para um futuro que desvendariam juntos.

Subitamente, fazendo ecoar sua voz de tenor, limpa e cristalina, naquela pequena igreja de Lages, Garibaldi principiou a cantar a mais linda e a mais italiana das músicas de Natal, Tu scendi dalle stelle, uma canção natalina de simbolismo incomparável que unificava seu país pelo inexcedível amor a Gesù bambino, ainda antes que a Itália tivesse se unido politicamente:

Tu scendi dalle stelle, o Re del Cielo,

e vieni in una grotta, al freddo al gelo.

O bambino, mio divino, io ti vedo qui a tremar.

O Dio beato!

Ahi, quanto ti costò l’avermi amato!

A te, che sei del mondo il Creatore,

mancaron panni e fuoco, o mio Signore!

Caro eletto pargoletto, quanto questa povertà più m’innamora!

Giacché ti fece amor, povero ancora!

(Tu desces das estrelas, ó Rei do Céu,

e vens para uma gruta, ao frio, ao léu.

Ó menininho, meu divino, eu te vejo aqui a tremer.

Ó Deus abençoado!

Que preço tu pagaste por ter-nos amado!

A ti, que és do mundo o Criador,

faltaram roupa e calor, ó meu Senhor!

Querido pequenino eleito, como esta pobreza me faz amá-lo ainda mais!

Porque, por amor, agora te fizeste pobre.)

Como presente de Natal, Teixeira Nunes, o comandante farroupilha, deu a Anita um vestido de musselina, um xale de seda, sapatos de marroquim e um chapéu da moda. Garibaldi ganhou um poncho claro, ricamente trabalhado.

Dias depois a luta recomeçava tão dura e angustiante como antes. Garibaldi e Anita continuaram vencendo mil entreveros pelas plagas do sul nos três anos seguintes, de 1839 a 1841, ano em que Garibaldi despediu-se dos farroupilhas e, ao lado de Anita e de seu pequeno Menotti, seguiu para viver o extenso caminho de conquistas que ainda lhe reservava o destino.

Para saber mais sobre o conteúdo do livro Goio-En, o Caminho e o Tempo, vou apresentar neste canal um punhado de casos e histórias ligados à conquista do Alto-Uruguai gaúcho e das regiões dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná, a região que forma o rico Oeste Fértil Brasileiro.

E se você tiver folego para uma maratona de 900 páginas de leitura sobre fatos e histórias de um tempo que merece ser lembrado, Goio-En, o Caminho e o Tempo, da editora Viseu, é uma boa pedida.

Obrigado.

(Clique para acessar a Editora Viseu)

No meio do caminho tem eleição. Tem eleição no meio do caminho.

 

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Dia 02 de outubro tem eleição no meio do caminho; Tem eleição no meio do caminho dia 02 de outubro.

Estamos no rumo certo, mas cuidado: tem uma eleição no meio do Caminho!

No meio do caminho tem um eleição

Tem uma eleição no meio do caminho

  • Desde já aviso aos amigos que vou votar em João Dória. Quero ter a “convicção” (a palavra está na moda) de que voto na continuidade do caminho.

Ainda que aos trancos e barrancos, o Brasil vai avançando e entrando nos eixos. (Ainda com muitos trancos: a receita da União voltou a decepcionar em agosto). Enquanto isto, o barulho dos pinos caindo no strike do boliche anticorrupção da Lava Jato continua. Os corruptos desabam como carreiras de dominós enfileirados. Caiu Dilma. Caiu Cunha. Lula caiu na Lava-Jato.

E ainda tem muito gaiato pendurado se agarrando para não cair. Mas a sociedade está vigilante e a nova ordem vem se afirmando como uma vitória do Brasil. Um triunfo que vem sendo obtido com o espírito e as armas do século XXI. Mas é preciso lembrar Tancredo Neves: Estamos apenas na metade do caminho. Não podemos nos dispersar.

Um ano atrás, quem diria? Estávamos nas ruas. Tínhamos a indignação. Tínhamos a esperança. Tínhamos a determinação. Mas os petebas do poder grudavam em suas benesses e sorviam privilégios com a gula insaciável dos sanguessugas. A corrupção estava institucionalizada e parecia invencível. Vivíamos em uma “propinocracia”, na definição de Deltan Dalagnol, da força tarefa da Lava Jato. E os cabras que haviam tomado o governo viviam à larga, refestelavam-se em um luxo de nababos, voavam pelos céus do Brasil e do mundo na frota VIP da FAB, enquanto se lambuzavam com as delícias, as benesses e o néctar do poder.

Por um momento pareceu aos crédulos que os petistas tinham – heureca! –  encontrado a fórmula do roubo perpétuo, do moto contínuo da propina forrando a burra dos larápios. Os brasileiros decentes, por outro lado, coçavam a cabeça se perguntando como era possível tanta patifaria dar certo por tanto tempo. E muitos se questionavam, diante do êxito aparente da esbórnia escancarada, se ainda valia a pena se manterem honestos.

Mas desafiar a lógica é como afagar um tigre: raramente dá certo. E o PT devia saber: roubar e deixar roubar não é uma ideologia, é uma patifaria. E ao adotar a patifaria como estratégia de manutenção do poder e em escala jamais vista no planeta, seria de se esperar que o fim fosse um fiasco desastroso. E não deu outra. Foi tanta a sofreguidão, tanta a ganância, que sobreveio o descontrole e o caos. Claro, a desatinada da Dilma, perdida em suas mandiocas, deu o empurrão final. Mas o que se roubou neste país foi coisa nunca vista. Um mega rombo para não se esquecer jamais.

  • Vencendo a hidra de mil cabeças

O fato é que, para livrarmos o país do projeto de poder do PT foi preciso vencer a hidra petista de mil cabeças, de mil línguas bífidas venenosas. Foi preciso encetar uma luta árdua, enfrentar chiliques, esperneio e chorumelas, mas o Brasil que tem ambições, que quer um lugar decente na história, combateu o bom combate com a admirável galhardia verde e amarela. Ao chegarmos ao meio do caminho podemos nos orgulhar de que juntos lutamos e juntos vencemos. E é uma alegria congratular-me com você, que esteve aos milhões nas manifestações, que amassou suas panelas para fazer o Brasil ouvir seu clamor, que protestou, incansável, nas mídias sociais. Parabéns a você que foi para o enfrentamento corajoso e sem esmorecimento, que disse a que veio na pugna crucial entre o passado caquético da esquerda corrupta e o ansiado futuro que todos queremos para nosso Brasil. E que só depende de nós.

Com o país ainda se debatendo na maior crise de nossa história, não tínhamos mesmo escolha. Não queríamos um destino cafajeste. Um futuro de bagre chafurdando na lama rasa. Era preciso reagir. Era preciso demolir o Carandiru ideológico com que Lula e os seus asseclas aprisionavam o Brasil; em que prendiam os brasileiros por meio de um emaranhado de mentiras, demagogia, e engodos.

  • Definindo o país que queremos

Não podemos morrer na praia. Seria uma pena esmorecermos agora. Podemos lembrar Tancredo Neves quando dizia “Enquanto houver neste país um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”.

Existe muito a ser feito, é verdade. Há montanhas de entulho para limpar. Bobalhões desfilando asneiras. Desocupados atrapalhando o trânsito. Mas, sem recear o lugar comum, todo começo começa pelo princípio.

O mais importante é nos entendermos sobre o Brasil que queremos. E definirmos o que, como sociedade, queremos fazer do país.

O que sabemos, desde logo, é que qualquer organização – e um país é um tipo complexo de organização – se apoia em um triângulo com três vértices:

  1. – Recursos Humanos
  2. – Recursos Materiais
  3. – Sistemas.

Os Recursos Humanos, as pessoas, vem em primeiro lugar. E elas é que se valem dos recursos materiais e dos sistemas para fazer o país funcionar. Os recursos materiais, ao contrário do que muitos pensam, não fazem a riqueza de uma nação. Nossa maior riqueza não é o pré-sal. Não é o ferro, ou o ouro ou os diamantes. Nem mesmo a Amazônia, o cerrado, o sertão, o pantanal, os pampas do sul. Nossa maior riqueza é a gente brasileira. É nosso povo. Com ele, tudo será possível. Sem ele, seremos tribos perdidas, grupos erantes, confusos e quebrantados.

Mas os recursos materiais contam muito. E nossos recursos naturais contam muito mais. Nossa prosperidade haverá de voltar muito pela generosa mão da natureza com que o Brasil foi abençoado. Os recursos naturais que temos são superlativos. Temos muito e temos em abundância, tanto temos que podemos sermos ufanos de nosso país. Mas lembrando sempre que, sem a atividade produtiva de nossa gente, nossos recursos naturais são apenas paisagem. Se não forem tocados pela mágica transformadora do homem, continuarão ali, inertes, pelos tempos afora, sem gerar riquezas e sem contribuir para melhorar a vida do povo ou para enriquecer seu futuro.

A propósito, o Brasil tem dois exemplos do que pode ser conseguido fazendo certo as coisas certas: o agronegócio, que prosperou graças aos empreendedores que vivem no campo, longe dos predadores de Brasília, e a Embraer, que é até “brasileira” (note as aspas…), mas que soube escapar do alcance da burocracia rapinante que esculhamba tudo o que toca neste país e foi progredir lá fora.

  • Tudo depende de nós. 

Um país não se faz apenas amontoando pessoas em um território. Países existem que acumulam seres e vidas, mas que são lástimas, que são catástrofes. Temos vizinhos como a Venezuela, a Bolívia e o Equador nesta categoria de paspalhões fracassados.

Sem bons governos e bons sistemas não existem bons países. Sem bons governos, as nações se desorganizam, ficam improdutivas e sofrem os efeitos deletérios da desordem. O resultado é que seus povos vivem vidas desgraçadas, vidas sem perspectivas, vidas miseráveis.

O que vai fazer a diferença é a educação. Segundo Sydeny Harris, o principal propósito da educação é transformar espelhos em janelas. É facultar às pessoas uma visão capaz de abarcar o mundo e permitir que compreendam os fatos elementares da vida e da natureza. Desta compreensão nasce a sabedoria. E da sabedoria de um povo surgem bons governos e bons países.

A sabedoria permite compreender que não se pode viver de mentiras e engodos. E que a nossa condição humana nos impõe a crueldade da matemática: nenhuma nação se poderá sustentar de pé se seu povo não tiver juízo. Se gastar mais do que tem. Infelizmente é possível, sim, usar o cheque especial para viver uma fantasia passageira, gastando por conta. Alimentar um sonho demagógico, uma ilusão aberrante, por algum tempo. Mas a ilusão passageira cobrará bem caro na hora da conta. E a conta sempre vem: a economia não se defende, ela se vinga.

Confúcio, que viveu 500 anos antes de Cristo, explicou existirem três métodos para adquirir sabedoria: Primeiramente, pela reflexão, que é a mais nobre; Em segundo lugar, pela imitação, que é a mais fácil; e terceiro, por experiência, que é a mais amarga. E tudo leva a crer que nós, brasileiros, preferimos a última. Acho que temos uma queda para o sofrimento. Affêe!!!

Conclusão I: A sabedoria de um povo é que define seu destino. Todos conhecem a fábula de Esopo que narra a história de uma cigarra que canta durante o verão, enquanto a formiga trabalha acumulando provisões em seu formigueiro. No inverno, desamparada, a cigarra vai pedir abrigo à formiga. Esta, a formiga, pergunta o que a outra fez durante o verão. “Eu cantei”, responde a cigarra. “Pois então agora, dance”, rebate a formiga, deixando-a do lado de fora. A fábula de Esopo é um ensinamento que vem da sabedoria da experiência. E permite concluir que um povo operoso será recompensado com a prosperidade. Um povo de tolos terá o destino dos tolos: as carências, a miséria e o sofrimento desnecessário.

O terceiro vértice corresponde aos “Sistemas”. Estes determinam o que fazemos, como fazemos, quando fazemos e porque fazemos. O governo está neste vértice e seu papel de líder e organizador equivale ao do cérebro em nosso organismo. A gente até deveria saber disso, posto que nossa sabedoria popular sempre ensinou que “quando a cabeça não pensa o corpo padece”…

Em síntese, um governo inteligente organiza os sistemas de modo a formar um todo coerente, bem balanceado e holístico, capaz de funcionar e ser eficiente. Até aqui, salvo os eventuais misantropos, suponho que todos estejamos de acordo. Deste ponto em diante, contudo, é que as divergências começam a separar a humanidade em dois grupos irreconciliáveis: os “fazedores” e os “tomadores”.

  • A divisão do mundo em dois grupos: Os “fazedores” e os “tomadores”

Os “fazedores” são os românticos da ação. Para estes, o mundo é como um pomar. Entendem que sua tarefa no mundo é plantar, adubar, regar, combater as pragas, colher e distribuir a colheita para que todos possam se saciar. Para os “fazedores”, um país rico é cheio de pomares (e fábricas, lojas, escritórios; óbvio, né mesmo?) onde os laboriosos colhem frutos em abundância. Os fazedores acreditam que fazer um país se tornar rico é fácil. Basta que todos se disponham a plantar pomares e obedeçam as regras da natureza. Como são sábios, compreendem que existe um tempo para plantar e um tempo para colher. E que é preciso saber semear, esperar que as sementes germinem, que as plantas cresçam, que as flores se convertam em frutos. Que os fruto amadureçam. Daí que sua maior aspiração é poderem plantar e colher sem obstáculos. Sua crença: a produção transforma o mundo. Sua fé: se muito for produzindo, muito haverá para todos e não haverá ninguém com fome.

Já os “tomadores” acham que o mundo é um galinheiro onde eles são as raposas.

Existem “tomadores” à esquerda e à direita. Os da direita são os folgados, os vagais, os parasitas. Sabem o que deve ser feito, mas não estão a fim de trabalhar. Ponto.

Já na esquerda, petistas inclusos, os “tomadores” acham que seu papel é “redistribuir” a riqueza que os outros produzem. Se pensam os justiceiros da humanidade.

Esses boçais vivem olhando ao redor. Onde alguém criar um caminho, eles tratam logo de colocar uma pedra, “regulando” e taxando a atividade. Esta fúria arrecadatória não começou com a indústria da multa do Haddad, embora, devo reconhecer, este a tenha refinado para o padrão da tortura chinesa. A fúria arrecadatória já era assim nos tempos coloniais dos tropeiros e no “Caminho de Viamão”. O tropeiro suava sangue para trazer do extremo sul gaúcho uma tropa de muares ou gado, vindo por trilhas intransponíveis, cruzando os Campos de Vacaria cheio de obstáculos, enfrentando os índios Xokleng e os Coroados Kaingang e quando, mil quilômetros depois, chegava em Lages, tinha que pagar um “pedágio” para cada cabeça de boi ou lombo de mula que houvesse sobrevivido.

Essa obsessão de tudo controlar e regular chega a ser uma patologia. Acredito tratar-se de uma compulsão atribuível a uma fixação freudiana na fase anal. Parece humor escatológico, mas não é, pois, como se sabe pela psicologia, a fixação na fase anal leva ao desejo compulsivo de controlar tudo e todos. Explico: o sujeito que não conseguia controlar sua evacuação na infância, que se abraçava ao vaso sanitário pedindo “cocô, volta aqui”, enquanto chorava ao vê-lo ser levado pela descarga, agora quer compensar controlando a vida de quem trabalha e produz. É o fim da picada. E como para o pirado esquerdista-anal vale tudo, dá-lhe discurso apelativo, demagogia, mentiras, engodos e enrolação.

O cúmulo, contudo, é que o esquerdista brasileiro pensa que o país lhe deve uma cornucópia. Para quem não sabe, a cornucópia, na mitologia grega, era um dos cornos do bode Amalthea, o qual seria dotado da propriedade mágica de prover quantidades ilimitadas dos mais variados e deliciosos manjares e guloseimas. Do corno vinha mel, doces, frutas, e, seria de supor que, para atender ao surpreendente paladar petista, viriam também fantásticos sanduíches da melhor mortadela. E sendo que nada neste mundo é mais parecido com uma cornucópia do que um emprego público no Brasil, o sonho do petista padrão é uma sinecura ou uma boca no governo.

  • O Brasil merece bons sistemas 

Apesar dos pesares, no Brasil já somos um país. (Que bom!). Mas somos latino-americanos. (Que mau!). E, portanto, somos disfuncionais. Acreditamos em coisas que não existem, como na capacidade do governo criar riqueza. Ou na capacidade de funcionários púbicos resistirem à tentação. Em compensação, não sabemos ligar causa com efeito. O arguto e saudoso Nelson Rodrigues dizia que toda a vez que via um brasileiro ligar causa ao efeito tinha um orgasmo. Acho que os teve poucos.

O ponto chave é entender que, no século XXI, um governo deve ser um maestro. Em sociedades amadurecidas, os cidadãos não precisam da tutela do governo. E um governo deveria ter sua avaliação de forma automática. Se seus indicadores mostrassem incompetência, o sistema acionaria a ejeção e pimba: o governo seria mandado para o espaço.

O maior dos indicadores seria a qualidade do gasto público. Quando o governo começasse a gastar mais nas atividades meio do que nas atividades fim, tocaria o alarme da ejeção. Se um governo começa a enriquecer os amigos e a mandar as contas para o povo receberia um aviso de alerta e, se insistisse, seria demitido pelo computador. Estamos chegando a um tempo em que ninguém mais aceita ser escalado para ser trouxa a vida inteira.

Os governantes deveriam ser servidores do povo. Com crachá. O presidente deveria fazer como o Papa e lavar os pés do povo ao menos na páscoa da ressureição. Mas no Brasil, os membros dos três ramos do governo ainda se acham no direito de desfrutar das glórias imperiais. Vivem em palácios, voam nos tapetes voadores da FAB e desfrutam da coisa pública como se vivêssemos em um reino das arábias. É uma pouca vergonha daquela muito sem vergonha. Mas temos que nos curvar ante a dura verdade, a doída verdade: nenhum país pode ser latino-americano impunemente.

O que precisamos cultivar no Brasil é um pouco de bom senso. É lutarmos para criarmos sistemas balanceados com um mínimo de equilíbrio ganha-ganha. Sistemas feitos com uma beirada para incluir o povo e em que os dois lados ganhem.

Talvez venhamos a concluir que isto implica em refundar o Brasil. Fazer um nova constituição para o novo século. Todavia, só um imbecil anacéfalo irá acreditar que estes políticos mentecaptos, ou os políticos da velha ordem, sejam capazes de largar o osso que roem desde o descobrimento. Que se disponham a criar sistemas isentos da velha sacanagem patrimonialista nacional que os fazem marajás. De modo que, para mudar mesmo, precisamos, antes, reinventar a participação moderadora da sociedade no desenho de nosso destino.

Como as mídias tradicionais tem se mostrado limitadas é preciso contar com a mobilização das mídias sociais e, especialmente com as ruas. A estas cabe mostrar força e união. Às ruas cabe neutralizar os esforços bucaneiros dos piratas de nossa política.  Sem uma presença massiva desta nova forma de mobilização social seria repetir a velha história: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Lamento dizer, mas penso que apenas se, e quando, a sociedade ficar de olho e contar com pesos e contrapesos eficazes, os políticos e agentes públicos se portarão com a devida decência. Por exemplo, é impossível esperar reformas do atual congresso, formado por compadrio entre 28 partidos que repartem o mando. O resto é devaneio de noite de verão.

Conclusão II: Um bom sistema é como a virtude, que só é boa quando a serviço de uma boa causa. Como lembrava Santo Agostinho, “uma virtude a serviço do vício agrava o vício!”. Carlos Lacerda, ao dar um exemplo sobre esta frase da tribuna da câmara, disse, certa feita, que “a pontualidade é uma virtude, mas se for usada para ir ao bar para beber com pontualidade, vai agravar o vício da bebida.”

De maneira que redesenhar o sistema político precede outras providências. É preciso redesenhar os canais pelos quais fui a democracia. Hoje o sistema é uma enganação. As elites fingem que mudam mas, mudar mesmo, não mudam nada. A habilidade com que os políticos “espertos” manipulam as leis e normas em seu favor nesta grande pátria tropical ficou cabalmente demonstrada no arranjo inconstitucional sobre os direitos políticos da Dilma.

  • Fórmula para arrumar a casa

Se fosse para consertar de vez, não seria preciso reinventar a roda: o mundo desenvolvido já mostrou claramente que os mecanismos que melhor funcionam são aqueles baseados em dois princípios:

  1. – Voto distrital – A experiência demonstra que o distrito tende a eleger o melhor candidato de sua área. O conjunto de distritos tende a eleger um congresso com compromissos claros com suas comunidades, o que resulta em um congresso melhor.

(A dificuldade: Os políticos profissionais fogem dessa discussão porque, na hora de se discutir o tamanho dos distritos, o povo de São Paulo vai querer saber porque, para a câmara federal, o voto de um cidadão de Roraima vale 10 vezes mais do que o de um cidadão paulista. E não vai gostar de ficar na segunda classe. Nem de saber que é o que mais paga e é o que menos recebe.

2. – Parlamentarismo – Os mecanismos do parlamentarismo favorecem a governabilidade e ajudam a neutralizar os vícios e as inevitáveis crises do presidencialismo.

(A dificuldade: o presidencialismo de “coalisão” é o regime das melhores negociatas. Vender o voto é um excelente negócio. Somado aos lucros da corrupção, tem sido melhor do que encontrar ouro no quintal.)

  • Pedra à vista: estamos no meio do caminho 

Estamos no meio do caminho. Mas no meio caminho já estávamos quando conquistamos as eleições diretas. Parecia, naquele tempo d’antanho, que havíamos de seguir em frente. O governo de Fernando Henrique Cardoso, sobretudo, foi auspicioso e parecia indicar um tendência pela prosperidade autossustentada. Mas, ledo engano: nossa natureza de sul-americanos não demorou a aflorar e a nos submeter. O Belzebu colorado que jura ao povão que dá para viver de milagre, de efeitos sem causa, voltou com seu tridente para nos afastar da lógica e do bom senso. Caímos novamente na tentação das delícias grátis. E agora, no fundo do poço, devemos enfrentar uma penosa e lenta recuperação. Ou, pior, descambarmos de vez, seguindo no destino dos rebotalhos do mundo, a exemplo de Cuba, da Venezuela e de outros fracassados deste e do outro lado do Atlântico.

Mas haveremos de vencer, certo? Vamos enfrentar nossa realidade de frente, esconjurar nossos pecados, cortar as asas da corrupção, ficar de olho no desejo de nossas “zelites” picaretas de meter a mão e de misturar o público com o privado. Temos que acreditar que o impeachment de Dilma, a cassação de Cunha e o indiciamento de Lula no Lava-Jato são sinais de um provir mais promissor.

Uma saída, mais à frente, possivelmente será uma nova constituinte para o século XXI. A Atual constituição é desbalanceada e conduz a uma instabilidade permanente. Até seria muito bom se nosso dinheiro desse, mas o Brasil não tem como manter todos os privilégios, regalias, direitos e benesses contemplados na atual carta. Esta constituição está além de nossas possibilidades. É triste reconhecer, todavia, que enquanto esta perdurar, vamos viver em crise permanente.

  • E a eleição no meio do caminho?

Escolher mal agora pode desperdiçar toda a caminhada já feita. E recolocar as pedras que conseguimos tirar do caminho.

Por isso, como revelei com candura, vou votar em João Dória para prefeito de São Paulo.

Conheço o candidato pessoalmente e já trabalhei com ele em uma parceria internacional. Sei, de primeira mão, que é preparado, competente e trabalhador. O mais importante: acho que, com ele, vamos poder contar com São Paulo para continuar a caminhada no rumo do Brasil decente que queremos.

Que me desculpem os petistas e os vermelhos em geral, mas, com o entusiasmo da esperança, não posso deixar de bradar: Viva o Brasil verde e amarelo.


Ceska – O digitaleiro