Só os clusters salvam a indústria brasileira – Embracluster – uma Embrapa para a indústria brasileira.
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Sou Celso Skrabe, Consultor de Empresas, e neste vídeo vou abordar a crise da indústria brasileira, analisar suas causas e explicar por que só os clusters industriais podem salvar a indústria do país.
Os números mostram que a indústria brasileira está em crise.
Os números não só estão ruins como vem piorando de modo alarmante.
Quarenta anos atrás, em meados dos anos 80, quase a metade do PIB brasileiro vinha da indústria.
A partir de então a manufatura brasileira perdeu vitalidade, engatou a marcha a ré e passou a andar para trás.
A indústria de transformação, o ramo mais diversificado da indústria e que transforma matéria-prima em produtos finais ou intermediários, desabou.
Caiu de 36% do PIB em 1985 para vexaminosos 10,8% de participação na produção nacional em 2021.
E em relação à 2023 a CNI – Confederação Nacional da Indústria, informa mais uma queda de 0,5% na indústria de transformação.
Pior foi a queda da participação da indústria brasileira na produção mundial. Em 1995, nossa indústria representava 2,77% da produção industrial do mundo. Hoje o percentual é de apenas 1,28% – ou seja, caiu para praticamente a metade.
E como desgraça pouca é bobagem, a esta altura do estrago, dá para afirmar que, se continuar nesta toada, em diversos setores da indústria corremos o risco de voltarmos no tempo e jogarmos no lixo os últimos 100 anos de desenvolvimento industrial.
Neste vídeo vou explicar por que só os clusters industriais podem salvar a indústria brasileira e reverter o processo de desindustrialização. E vou sugerir a criação da EMBRACLUSTER, uma empresa publica a ser criada nos moldes da EMBRAPA com a missão de reinventar a indústria brasileira e fazê-la recuperar o protagonismo que já teve – e que é preciso que volte a ter – na economia brasileira.
A natureza da EMBRACLUSTER, no entanto, seria diferente daquela da EMBRAPA porque a principal diferença na obtenção de resultados entre o agro e a indústria é que o campo crítico da competitividade do agro está na produção, enquanto o campo crítico da competitividade da indústria se situa no mercado.
A denominação de “Clusters industriais” é atribuída a aglomerados de indústrias, fornecedores de insumos, prestadores de serviço, empresas de apoio e logística, formadores de recursos humanos e outras atividades de suporte que atuam colaborativamente para suprir e atender a uma determinada cadeia produtiva industrial da qual fazem parte.
Dada esta diferença, o principal foco de atuação da EMBRACLUSTER deverá ser a melhoria da competitividade mercadológica das empresas clusterizadas.
A métrica de seu desempenho deve ser o nível de participação e a rentabilidade dos produtos brasileiros nos mercados do Brasil e do exterior, bem como a conquista e a preservação destes mercados.
A EMBRACLUSTER operaria no formato de uma provedora de soluções em todo o espectro das necessidades e demandas dos “clusters”, atuando tanto como consultoria multidisciplinar como na qualidade de parceira no desenvolvimento de inovações, tecnologias, boas práticas e produtos.
O seu escopo de atuação incluiria mediar as demandas dos mercados e o mix de produtos a ser produzido pelos clusters e suas indústrias. Outra estratégia de sua operação seria apoiar acordos de cooperação entre os membros dos clusters, desenvolver mecanismos para facilitar o consórcio, a coordenação e a soma de esforços no âmbito do complexo dos clusters.
Assim como incluiria promover a sinergia e a cooperação via compartilhamentos e padronização, estimular a engenharia de valor, o design, a inovação tecnológica, coordenar esforços para ganhar escala, evitar sobreposições e desperdícios, promover ações para reduzir custos e melhorar a produtividade e, enfim zelar pelo bom funcionamento de toda a estrutura.
Para mostrar a conveniência da criação da EMBRACLUSTER vou dividir a questão em cinco tópicos:
1.A real situação da indústria brasileira atual;
2.O modelo da EMBRAPA e suas lições para a indústria brasileira;
3.Como transferir o modelo EMBRAPA para a indústria;
4.Como criar e empoderar a EMBRACLUSTER;
5.Os riscos de nada fazer e ficar para trás.
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1.Vamos examinar, então, como está a real situação da indústria brasileira atual.
Como vimos, o setor manufatureiro, que tinha de 36% do PIB em 1985 caiu para 16,5% em 2008 e para vexaminosos 10,8% de participação no PIB em 2021. Foi uma queda de 25 pontos percentuais no conjunto do produto interno bruto do país em 40 anos. Ou seja, a indústria perdeu um quarto do PIB nacional no período. Se não fosse o milagre do agro estaríamos chorando as pitangas junto com a Venezuela e outros perdedores por aí.
A indústria, antes protegida e beneficiada por incentivos fiscais e juros subsidiados, estava despreparada e mal-acostumada e sofreu com o choque da abertura econômica dos anos 1990, com restrições ambientais mal concebidas, com oscilações cambiais devastadoras, com o custo Brasil na estratosfera e outros infortúnios de nossa insanidade tropical. O efeito foi que perdeu produtividade, ficou tecnologicamente defasada, não conseguiu acompanhar a velocidade das transformações do mundo e nem se adaptar ao ambiente global de alta competitividade.
A perda se deu em diversas frentes, mas um indicador chave dá a medida do que vem acontecendo: trata-se da chamada produtividade total dos fatores de produção, a PTF, que vem caindo continuadamente. Este indicador mostra o grau de desenvolvimento econômico de um país. Países ricos são ricos porque são altamente produtivos e agregam um alto valor por trabalhador. Um trabalhador norte americano é cinco vezes mais produtivo que um trabalhador brasileiro e, infelizmente, a baixa produtividade do trabalho resulta em baixos salários e em países mais pobres.
E o que faz o governo? Está inerte?
Não, aparentemente até que não está. O que acontece é que o governo está desorientado, atira para todo lado e vem adotando medidas que são ineficazes por não colocarem o foco onde a ação acontece, ou seja, no mercado. E também por desconhecerem a complexidade da indústria 4.0 em um mundo conectado, robotizado, automatizado, globalizado e, agora, “inteligentizado” pelo uso intensivo da Inteligência Artificial.
Ainda no governo Dilma foi criada a EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, uma Organização Social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Já no governo atual, em 22 de janeiro deste ano de 2024 o governo federal lançou o estrepitoso Programa Nova Indústria Brasil (NIB), um programa festivamente apresentado, com muita retórica e cintilantes boas intenções. Mas aí é que a coisa pega.
As medidas preconizadas pelo Programa da Nova Indústria são do tipo que prometem muito, mas entregam pouco.
O Brigadeiro Vicente Faria Lima, o grande Prefeito de São Paulo, um realizador incomparável e que, entre outras obras, iniciou o Metrô de São Paulo, dizia que o Brasil não tem falta de PLANEJAMENTO. Tem falta é de FAZEJAMENTO.
A questão é: diante deste quadro um tanto quanto sombrio, estará a indústria brasileira condenada ao caos de uma décrisis, o tipo da crise fatal que os gregos temiam?
Não necessariamente.
O que temos que fazer é transplantar para a indústria o que está dando certo no agronegócio brasileiro.
Então vamos ao segundo tópico para examinar mais de perto o modelo EMBRAPA e suas lições para a indústria brasileira.
O sucesso da EMBRAPA mostra que podemos encontrar caminhos brasileiros para sermos competitivos em escala global. Estamos fazendo isto no agro e certamente podemos fazer isto na indústria.
Neste ponto é que o agronegócio mostra o caminho e a Embrapa ensina o método.
A Embrapa hoje é a grande formuladora das estratégias da agricultura brasileira. Detentora de reputação e prestígio inquestionáveis, suas propostas pairam acima das controvérsias e das paixões políticas. Sua inequívoca competência, objetividade e seriedade garantem a ela a independência para atuar na promoção do que é o melhor para a agricultura brasileira.
Graças ao respeito que impõe e ao reconhecimento de sua competência, a Embrapa conseguiu posicionar-se como uma superestrutura sobre todo o conjunto do agro brasileiro.
Esta condição de supremacia é que lhe permite agir como o principal player e como o principal coordenador estratégico das políticas e iniciativas do mundo agro.
É esta abordagem, que leva em conta a totalidade dos fatores envolvidos no ecossistema produtivo, que permite que encare de frente tanto os problemas como as oportunidades existentes.
Além disso, a EMBRAPA se empenha na busca sistemática da SUSTENTABILIDADE de suas ações. O conceito aparece tanto em sua Declaração de Missão como em sua Declaração de Visão e revela a preocupação da empresa com a continuidade das iniciativas e a perenidade dos resultados.
Mas, enfim, como transferir o modelo EMBRAPA para a indústria?
Como vimos no tópico anterior, três dos vetores fundamentais do modelo da Embrapa são 1) sua independência, 2) sua supremacia na formulação das estratégias para o agronegócio e 3) a busca da sustentabilidade em suas iniciativas.
Estes três vetores são os condicionantes para criar uma transferência bem-sucedida do método da Embrapa para a EMBRACLUSTER.
Se o propósito é criar uma empresa que traga para a indústria o sucesso da Embrapa é indispensável ter em mente que é preciso fazer uma transferência efetiva dos fatores que fazem o sucesso da EMBRAPA.
Só contando com independência para fazer o certo do jeito certo, sem concessões, só contando com autoridade para estabelecer políticas e definir prioridades, assim como buscando sustentabilidade com visão de longo prazo é que a EMBRACLUSTER poderá alcançar resultados de envergadura equivalente àqueles da Embrapa.
Assim, não dá para fazer meia transferência.
A cautela se justifica porque já vimos este filme antes. A Embrapii e outras Iniciativas pontuais e isoladas do tipo das que propõe o Programa Nova Indústria Brasil (NIB) até podem obter alguns resultados, só que igualmente pontuais e isolados.
Ocorre que, na atual conjuntura, o que realmente a indústria precisa é de algo verdadeiramente disruptivo, de algo radical, maior e mais ambicioso.
O Brasil precisa priorizar a indústria, pensar diferente, pensar grande e agir grande. Sem reunir massa crítica não vamos chegar a lugar nenhum. É preciso focar em soluções transformadoras que sejam capazes mudar o ecossistema industrial brasileiro e de tal modo que possamos proclamar a mudança repetindo os versos de Camões nos Lusíadas: “Cesse tudo o que a antiga Musa Canta que um valor mais alto se alevanta”.
Exemplos de políticas de “cluster” bem-sucedidas no mudo são os da indústria de microchips de Taiwan, de carros elétricos na China, de pisos cerâmicos na Itália, e da indústria de software do Vale do Silício nos Estados Unidos
Em síntese, o que nossa indústria precisa é de condições e competência para inovar e avançar nos hipercompetitivos mercados mundiais levando a eles a marca do Brasil.
Mas, então, como organizar uma instituição que atenda a todos estes requisitos?
Neste quarto tópico vamos ver uma forma para criar a EMBRACLUSTER;
A instituição proposta para impulsionar a indústria haverá de ter semelhanças, mas terá requisitos diferentes daqueles que tem a EMBRAPA em sua missão no agro.
Ainda que tanto o desempenho da agricultura como da indústria dependa da produtividade, o ecossistema de cada setor é diferente em muitos aspectos e, assim o tipo de apoio necessário também.
São diferentes o ciclo de produção, a cadeia de suprimentos, a dinâmica do mercado, a geração de valor etc.
Por isto a instituição a ser criada para apoiar a indústria precisa de um escopo de atuação específico, desenhado para alcançar toda a complexidade da sua cadeia de negócios.
É preciso lembrar que uma das principais diferenças entre o agro e a indústria é que o agro produz commodities, o que faz com que seu campo crítico de competitividade se situe na produção, enquanto a indústria produz mercadorias e, portanto, seu campo crítico de competitividade reside no mercado.
Isto significa que, embora tanto o agro como a indústria precisam ser competitivos em toda sua cadeia competitiva, para se manterem sustentáveis, o jogo de cada um dos setores se ganha ou se perde no seu campo crítico.
Ainda para entender a diferença entre o agro e a indústria vale destacar que o agro brasileiro vem sabendo capitalizar as vantagens competitivas que o favorecem no mercado internacional. Além do Brasil possuir vastas extensões de áreas agricultáveis, clima favorável e água abundante, graças à Embrapa e a outras instituições correlatas, o agro conta com tecnologia de ponta e uma geração de empresários e recursos humanos bem-preparados e atuantes.
A reunião deste conjunto de condições excepcionais não aconteceu da noite para o dia e se deve, em parte, ao fato de que a EMBRAPA nasceu abaixo da linha de radar da política, o que permitiu a ela, mesmo sendo uma empresa pública, se profissionalizar e criar uma cultura interna ética saudável e resiliente sem sofrer interferências.
Já nossa indústria nasceu e sempre se manteve com grandes limitações. A antiga estratégia de substituição das importações sempre foi de horizontes limitados e hoje se encontra esgotada. O custo Brasil é um ônus intolerável. Os produtos evoluíram, os mercados mudaram e a indústria do Brasil se apequenou. Ainda assim temos algumas indústrias que brilham no mercado mundial, como a EMBRAER, a WEG, a TRAMONTINA, a GERDAU, a ALPARGATAS, a JBS e algumas outras. O que estas empresas têm em comum é que estão alinhadas com os novos paradigmas do mercado mundial, são empresas sólidas, bem administradas e com profundo conhecimento de seus mercados. Também contam, na retaguarda, com o apoio de sólidos “clusters” em suas regiões de origem, para os quais contribuem e dos quais se beneficiam.
Outros exemplos de “clusters” no Brasil são os da indústria calçadista de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul e o de Franca, em São Paulo, o cluster metalúrgico de Joinville, em Santa Catarina, o cluster da indústria cerâmica na região de Criciúma, em Santa Catarina, o cluster de produção de proteínas na macrorregião do Alto Uruguai gaúcho e Oeste catarinense e diversos outros.
No Brasil nossos “clusters” são basicamente informais ou associativos, surgiram espontaneamente e funcionam gerenciando a cadeia estratégica de forma mais ou menos cooperada ou consensual.
Isto é bom, mas insuficiente para a maioria das empresas nacionais competirem no atual hipercompetitivo mercado mundial, onde vem preponderando os mega-clusters nacionais, com países inteiros operando políticas nacionais centrados em “clusters” como é o caso da indústria de microchips de Taiwan, de carros elétricos na China, de pisos cerâmicos na Itália.
A conclusão, assim, é que o conjunto da indústria brasileira precisa contar com um suporte estratégico e mercadológico maior, mais bem organizado e institucionalizado.
E como comprova a EMBRAPA, só uma empresa pública independente, capacitada a encarar os ecossistemas produtivos em sua totalidade, e com visão de longo prazo, reuniria as condições para encarar o imenso desafio de organizar os clusters competitivos que podem salvar a indústria do Brasil.
Finalmente, e se o Brasil não fizer nada?
Uma coisa é certa: o mundo não vai parar para esperar pelo Brasil.
Basta lembrar que por muito pouco não perdemos a EMBRAER para a Boeing. Felizmente, para o Brasil, a Boeing cometeu alguns erros de consequências trágicas e precisou recuar da compra, que já estava fechada. Mas nada impede que logo logo os chineses voltem seu olho gordo para a EMBRAER e tentem levar nossa melhor empresa.
Os nossos amigos portugueses, sempre práticos e telúricos, tem um ditado irrecorrível: “quem não tem competência não se estabelece”.
O que quase aconteceu com a Embraer vem acontecendo de maneira desalentadora na indústria brasileira. Sem horizontes e sem sólidas perspectivas nossas melhores indústrias, as mais inovadoras e competitivas, vem sendo assediadas pelos conglomerados internacionais e sendo vendidas às dúzias.
Quando uma empresa é vendida nós perdemos o controle sobre sua tecnologia, sobre seu desenvolvimento e sobre seu futuro.
De modo que, para reverter a debacle da indústria é preciso mais que uma política de apoio perfunctório. É preciso o amparo estratégico de uma organização multifacetada e que se constitua em uma superestrutura proativa, atenta ao mundo e aos mercados mundiais e que não se deixe surpreender pelos fatos. Uma instituição qualificada a fazer a interface entre as empresas brasileiras e seus mercados no Brasil e no exterior. Mais do que isto, uma empresa capacitada a construir futuro, posto que, como dizia o grande Peter Drucker, é certo que não podemos prever o futuro, porém podemos construí-lo.
Para atender a este escopo é que faço a sugestão de criarmos a EMBRACLUSTER. Uma empresa abrangente como a EMBRAPA e que apoie o conjunto, a totalidade das cadeias produtivas agrupadas em clusters, ainda que sem perder de vista as empresas que os compõe. Em outras palavras, que olhe para a floresta e não para árvores isoladas.
Esta visão de conjunto é essencial para que os “clusters” sejam bem balanceados e concatenados, uma vez que, como se sabe, todo comboio viaja pela velocidade do barco mais lento.
Para concluir, um recente estudo da Universidade de Harvard revela um paradoxo: no mundo altamente globalizado que vivemos as vantagens competitivas duradouras numa economia global residem cada vez mais em coisas locais – conhecimento, relacionamentos, motivação – que os rivais distantes não conseguem igualar. E é isto, conhecimento, relacionamentos e motivação que sabemos como e onde buscar.
Felizmente ainda dá para salvar nossa indústria antes que a derrocada industrial nos faça voltar no tempo e nos condene a viver do agro e dos minérios, como nos idos tempos do Império.
Por fim, gostaria de dirijr à todos os brasileiros que querem ver no país uma indústria pujante e próspera a convocação do grande fazejador Brigadeiro Faria Lima: arregacemos as mangas que temos muito o que fazejar!
E se você gostou da proposta deste vídeo peço que o encaminhe para seus amigos e participe dos debates sobre os temas da indústria nas mídias sociais.
O Agro está mudando o Brasil. A Onda do Agro 4.0 vem como um tsunami avassalador que vai romper os muros do atraso, mudar história do campo e colocar o Agro no centro do futuro do Brasil.
O Agro brasileiro tem DNA de primeiro mundo.
O Agro 4.0 é o agro das inovações, da automação, da tecnologia, da Internet das coisas, da Inteligência Artificial, mas é também o agro de brasileiras e brasileiros bem-preparados, de empreendedores com visão de futuro e que tem aspirações de progresso e prosperidade que não cabem mais nos moldes mesquinhos dos arranjos políticos que manietam o agronegócio.
O Brasil é um país complicado!
É verdade! O Brasil é um país complicado. Tem tudo para ser o paraíso da abundância. Tem riquezas naturais incomparáveis, território imenso e generoso, uma natureza invejada pelo mundo. Tem tudo para ser rico, próspero e sem miséria, mas teima em brigar com os fatos, ignorar o bom senso e mandar a lógica às favas.
Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos! (Nelson Rodrigues)
Nelson Rodrigues, frustrado pelo atraso endêmico que assola o Brasil desde o descobrimento, afirmou que “Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. O que Nelson Rodrigues queria dizer é que o povo brasileiro vinha sendo espoliado e esbulhado pelos coronéis, pelos governantes e pelos açambarcadores do poder desde que as caravelas de Cabral aportaram por aqui. Mas a sabedoria popular diz que não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe. E nossa gente sempre manteve a esperança. E sempre acreditou que um dia um novo futuro iria raiar no horizonte do Brasil. E esse futuro está agora batendo em nossa porta. O fato novo que agora surge no horizonte é Agronegócio que se agiganta, se torna uma força irresistível e forma um novo país dentro das fronteiras do Brasil.
O Agro brasileiro é disruptivo!
E esse novo país do Agro tem natureza disruptiva e vem com ímpeto para romper com as velhas crenças e com os velhos paradigmas do nosso triste passado patrimonialista e corrupto. E a transformação a ser produzida pelo Agro 4.0 é uma certeza porque as mudanças seguem a inexorável Lei de Camões, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta / Que outro valor mais alto se alevanta” Mas a mudança não se limitava aos versos do poeta. As novas descobertas daquele tempo alargaram os horizontes da civilização. Mostraram o caminho para as Índias; encontraram as Américas, descobriram o Brasil, fizeram surgir novos países. E, por fim, mudaram o eixo de poder no mundo. Pois bem, é exatamente este efeito da “Lei de Camões” que o Agro vai produzir no Brasil. A Onda Agro 4.0, na verdade, já começou. No plano econômico, o Agro é que vem pagando as contas e trazendo os dólares para custear a bagunça que reina em Brasília.
Os números não mentem jamais (Malba Tahan)
Os números do Agro são eloquentes. E como os números não mentem jamais, como dizia o matemático Malba Tahan, estes número provam que não é o carnaval, é o Agro que está salvando o Brasil. … Os ventos continuam soprando ao favor do Agro Brasileiro. Hoje ninguém mais põem em dúvida de que o Agro é a vocação natural do Brasil. Mas ainda nos falta uma verdadeira Mentalidade Agro. Ainda carecemos daquilo que os americanos chamam de “mindset”, uma disposição para escolher um rumo, para agir e superar obstáculos na conquista de um objetivo e a determinação de fazer acontecer, / de buscar avanços e resultados de forma consistente e sistemática. Possuímos a terra, a água, o clima, os empreendedores, os recursos humanos e a tecnologia. Ainda precisamos melhorar a infraestrutura e a logística, mas depois de cinco séculos de altos e baixos, de dúvidas e desconfianças, está claro para nós e para o mundo que, finalmente, encontramos o caminho.
Os indicadores do Agro brasileiro são convincentes.
Os indicadores impressionam. Segundo o IPEA, a Produtividade total dos fatores – ou seja o aproveitamento dos insumos que se convertem em produto – cresceu 400% na agricultura brasileira. Hoje nossa produção é suficiente para alimentar 1/6 da humanidade e, no mais bem vindo dos índices para o povo brasileiro, desde os anos 70, o preço da cesta básica no Brasil caiu para a metade. Outra coisa: A produtividade cresceu quatro vezes mais que a área plantada. A expansão do agronegócio é o fato mais importante da história econômica recente do Brasil mas a continuidade do sucesso do Agro pressupõe uma estrutura decisória descentralizada. As decisões precisam ser tomadas perto da ação, nos clusters e polos produtivos espalhados pelas vastas extensões do país. As necessidades do Sul são diferentes daquelas das do Centro Oeste ou do Norte ou Nordeste.
O modelo descentralizado é vacina contra a ditadura, porque só funciona em ambiente de liberdade e democracia.
Acontece que este modelo descentralizado só consegue funcionar em um ambiente de liberdade e democracia. O mundo em que o Estado centralizava tudo e se via como patrão e padrinho morreu. Hoje é tão anacrônico como os antigos lampiões de gás que precisavam de um acendedor público para alumiarem as ruas e becos.
O Brasil está pronto para a metamorfose 4.0
Em síntese, o Brasil está pronto a se transformar em uma nação capaz de voar alto, ir longe e brilhar entre as nações para proporcionar aos brasileiros tanto a prosperidade que merecem como o autêntico protagonismo no mundo contemporâneo a que legitimamente aspiram. …
O presidente Lula, ao que parece, está um tanto deslumbrado com os rapapés que recebe em seus entendimentos com a Argentina, mas deve tomar muito cuidado para não se tornar um novo Quintino Bocaiuva.
Os presidentes Lula, do Brasil, e Alberto Fernandez, da Argentina, anunciaram estudos para uma nova moeda sul-americana compartilhada. Segundo disseram à imprensa, “esta moeda binacional teria a finalidade de reduzir a vulnerabilidade externa dos dois países em transações comerciais e financeiras.”
Quem conhece a história das tormentosas relações entre o Brasil e a Argentina ficou com a pulga atrás da orelha.
Começa que o Brasil não tem vulnerabilidade externa com que se preocupar.
Assim fica claro que este arranjo tem o único propósito de levar o Brasil a assumir o risco do crédito com a Argentina, já que é este o país que convive com uma escassez crônica de dólares.
O indigitado Quintino Bocaiuva era senador e virou Ministro do Exterior da recém proclamada república brasileira em 1889. República essa cuja primeira providência, após abater a monarquia brasileira, foi embarcar o embasbacado ministro no encouraçado Riachuelo, o maior navio da marinha brasileira de então, para levá-lo com toda a pompa e circunstância até o Prata para apunhalar o Brasil pelas costas!.
E o fez em grande estilo. Vaidoso, sedento de glórias, como o descreveu o Barão de Ladário, foi recebido com mesuras, adulado, bajulado, paparicado com festas e banquetes e, por fim, não de se pejou de assinar, faceiro e pampeiro, o tratado que dava de mão beijada aos Argentinos um pedaço dos atuais estados do Paraná e de Santa Catarina.
E não só apôs sua rebuscada assinatura de Calabar no tratado, como o fez com uma esplendorosa pena de ouro. Peça única, ornada de pedras preciosas e trabalhada pela mais refinada ourivesaria, num gesto fútil de reverência que o Plenipotenciário Quintino Bocaiuva concedeu ao presidente da República Argentina Miguel Juarez Celman.
O Jornal o Estado de S. Paulo de 26 de janeiro de 1890 revelava na primeira página aquela perversidade:
Trocaram-se ante-ontem as últimas notas entre os srs. Bocayuva e Zeballos sobre a questão de Missões.
Zeballos oferecerá em nome do governo argentino a Bocayuva, para assinar o tratado, uma artística pena de ouro, assinando aquele tratado com a pena que o presenteou Juarez Celman.
Certa vez o Papa Argentino observou que Deus é brasileiro. Ele haverá de saber melhor do que ninguém, pois foi só graças aos céus que esta despudorada manobra não prosperou e acabou anulada pelo congresso brasileiro.
É certo que a rivalidade do Brasil com a Argentina foi herdada da rivalidade entre Portugal e Espanha e, portanto, vem desde os tempos coloniais, mas no episódio da Questão de Palmas ou, Questão das Missões, como queriam os argentinos, os eventuais entendimentos coloniais serviram só como pretexto para maquinações e pleitos muito além dos acordos estabelecidos entre as matrizes Europeias.
A verdade é que Argentina sempre viu o Brasil com olhos gulosos.
O Brasil é um oponente grande e simplório. Um colosso amórfo, dominado por um desmesurado complexo de inferioridade, o famoso “complexo de vIra-latas”, de que falava Nelson Rodrigues.
O efeito desse complexo é que tem governantes brasileiros, ávidos do glamour fugaz e de uma pitada de aplauso, bem no espírito da canção Folhetim do Sérgio Buarque de Holanda, que estão sempre prontos à fazer concessões e entregar o ouro por uma coisa atoa.
A Argentina, por seu lado, trata de defender seus interesses, o que seria mesmo de esperar.
A questão, porém, é que o país vizinho frequentemente se conduz de forma sobranceira e egoísta, sendo useira e vezeira em menoscabar nosso país.
Esta relação tóxica é parte de nossa tragédia latino-americana. Tragédia, aliás, que alcança todo o continente. Vale lembrar que o ex-presidente Mexicano Porfírio Diaz, reclamando dos americanos, exclamou:
“Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.
De nossa parte aqui, seria o caso de exclamarmos “Pobre Brasil, tão longe dos Estados Unidos e tão perto da Argentina”.
Mas voltando à tentativa Argentina de se apossar de parte dos territórios do Paraná e Santa Catarina, que originaram a momentosa Questão das Missões, pode-se afirmar que este foi um embate emblemático.
O território dos Campos de Palmas estava pacificamente nas mãos do Brasil.
Os bandeirantes paulistas tinham circulado por ali desde o século XVI. Em 1839, com a substantiva participação do Cacique Victorino Condá ajudando a pacificar os Kaingang, estabeleceram-se no Campo de Palmas 37 fazendas, as quais, em 1850, já tinham cerca de 36.000 cabeças de gado.
Vale lembrar que os Kaingang, também chamados de coroados e bugres, que habitavam a área, sempre se afirmaram brasileiros. Eles haviam se relacionado bem com os portugueses até porque eram inimigos dos Guarani, índios aliados dos espanhóis.
Em 16 de março de 1837 a Assembleia Legislativa de S. Paulo criou um destacamento de Policiais Permanentes para o fim específico da ocupação daqueles campos.
Em 1845, Manuel da Fonseca de Lima e Silva, o Presidente da Província de São Paulo, com visão e descortino de estadista, tomou a iniciativa da construção do Caminho de Goio-En, o caminho de tropas entre os Campos de Guarapuava e as Missões de São Pedro do Rio Grande do Sul, como informa em seu Relatório para a Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 7 de janeiro de 1845:
“Compartindo o interesse que vos inspirou a ideia de abertura de uma nova comunicação entre esta Província e a de S. Pedro do Sul pelo território situado a sudoeste do Campo de Palmas, encarreguei esta comissão ao Cidadão Francisco Ferreira da Rocha Loures, homem empreendedor e ativo e que, pela circunstância de residir naquelas imediações me parece para isto precisamente habilitado.”
Manuel da Fonseca de Lima e Silva, que seria o futuro Barão de Suruí, se encarregou ainda de arregimentar o apoio do Presidente da Província vizinha de São Pedro do Rio Grande do Sul, Luiz Alves de Lima e Silva, o então Conde de Caxias, que vinha a ser seu cunhado e sobrinho.
A esse respeito o Conde de Caxias, informa em seu relatório a Assembleia Provincial gaúcha de 1846 que:
Por este meio tempo veio ter a esta Província o Tenente Francisco Ferreira da Rocha Loures, encarregado pelo Governo Provincial de S. Paulo de explorar o terreno e abrir uma nova estrada por conta daquela província…
Mas voltando ao relatório de 1845 do Presidente de São Paulo, este informa que vai fazer mais uma estrada naquela região, agora ligando os Campos de Palmas com a Argentina.
Na justificativa ele esclarece:
“Aberta essa estrada, ela pode sobretudo melhorar a posição do Brasil acerca da solução das antigas questões de limites naquela parte do Império.”
Observem que ele, ao falar das questões de limites naquela parte do império se antecipa em décadas as futuras reinvindicações dos argentinos sobre os Campos de Palmas.
Tanto é fato que cinquenta anos depois, o Barão do Rio Branco, ao defender os direitos do Brasil aos Campos de Palmas, reconhece a importância da iniciativa do Presidente da Província paulista:
Em 1845, por ordem do presidente de São Paulo, general Manuel da Fonseca Lima, depois barão de Suruí, se deu começo à abertura da comunicação com o Rio Grande do Sul, pelo passo do Goio-En e por Nonoai.
O general Caxias, então presidente do Rio Grande do Sul (outra província brasileira), animou e auxiliou esses trabalhos.
Foi na segunda metade do século XIX que cresceram os olhos dos argentinos. Especialmente ao se darem conta que a ausência de uma fronteira bem demarcada na região lhes dava oportunidade para turvar as águas e criar confusão.
Conjeturaram que uma artimanha bem bem-sucedida lhes daria um naco de 30.621 km2 de uma das regiões mais férteis e promissoras de todo o continente.
Ou seja, valia o esforço!
Os limites territoriais das possessões de Portugal e Espanha na América Meridional haviam sido definidos pelos tratados de Madri de 13 de janeiro de 1750 e pelo de Santo Ildefonso, de 1º de outubro de 1777
Nos tratados consta que a divisa entre o Brasil e Argentina / no trecho entre os rios Uruguai e o Iguaçu seria feita pelos rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio.
Na condição de herdeiros destes tratados, tanto o Brasil como a Argentina tinham que aceitar estes rios como limite entre os dois países.
Acontece que os mapas daquela época eram pouco precisos e a Argentina se aproveitou deste pretexto para, com base em mapas de encomenda e argumentos especiosos, questionar a localização dos rios que fariam a divisa e passou a alegar que o rio brasileiro de nome Chapecó é que seria o verdadeiro rio Peperi-Guaçú e o de nome Chopim é que seria o verdadeiro rio Santo Antônio daquele tratado de fronteiras.
Em 1882 a Argentina tentou dar uma de joão sem braço. Fez uma lei dividindo o Território das Missões argentino em cinco departamentos administrativos e incluiu na divisão o território brasileiro dos Campos de Palmas. Na lei são designados como limites os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio, porém acontece que a Argentina atribuiu estes nomes aos rios Chapecó e Chopim, que ficam no meio dos Campos de Palmas.
Ora, a falsificação era flagrante e o governo imperial se recusou a aceitar os mapas falseados que a Argentina apresentava.
A Argentina, por seu turno, usava sua representação diplomática na capital do império para obter apoio e tentar convencer o governo imperial a abrir mão daquele território.
Apesar de seus esforços, contudo, estava cada vez mais evidente que sua narrativa não convencia e seus argumentos não seriam aceitos pelo império do Brasil.
Uma evidência é a notícia dada pelo Jornal O Estado de São Paulo publicando em 6 de setembro de 1882 um despacho de seu correspondente em Buenos Aires:
Diz La Pátria Argentina, que o dr. Avellaneda comunicou ao seu governo que o gabinete imperial não estava disposto a submeter a arbitramento a questão das Missões por considerar que não admitem dúvidas os direitos que têm o Brasil sobre aquele território.
Mas a Argentina não dava trégusas. Em 7 de setembro de 1889, o governo imperial, buscando apaziguar os ânimos e confiante em seus direitos, aceitou um acordo baseado em dois pontos:
1. Seria feita uma nova expedição para verificar se os rios Chapecó e Chopim corresponderiam, de fato, aos rios da divisa descritos nos tratados originários, e
2. Caso o Brasil não aceitasse estes rios como divisa a questão seria levada para a arbitragem do presidente norte-americano.
O prazo para a expedição trazer provas seria de 90 dias, contados a partir da ratificação do tratado, o que ocorreu em 5 de novembro de 1889.
Para o Brasil a questão parecia resolvida. Seus geógrafos, astrônomos, demarcadores e especialistas sabiam que a missão de reconhecimento seria feita nos rios errados a Questão das Missões iria para a arbitragem.
Já os argentinos tinham pressa. O tempo estava correndo contra eles, e eles também sabiam que a missão de reconhecimento era um embuste, assim como sabiam que, salvo a improvável hipótese de convencer o presidente Cleveland a decidir em favor de um embuste, estavam perdidos.
Desse modo, a última esperança que lhes restava residia na mudança do regime de governo no Brasil.
E eis que então acontece o mais chocante.
É difícil avaliar influência dos agentes argentinos na derrubada da monarquia brasileira,
O que é sabido, no entanto, é que o golpe republicano que derrubou a monarquia se deu em 15 de novembro de 1889.
E havia mais coisas sórdidas entre o céu e a terra:
A começar pela suspeitíssima certeza dos Argentinos de que, no final, ganhariam uma “província à nossa custa”, como havia dito Bocaiuva quando que ainda era tido como o “príncipe dos jornalistas”, com como relata o Barão de Ladário nos artigos publicados no jornal A Tribuna e encaminhados aos senadores no final de 1890.
Por exemplo, no grupo da comissão demarcadora que explorava os rios Chapecó e Chopim, um oficial argentino disse em um jantar “que seus patrícios muito desejavam que o Brasil se constituísse em república, porque então seria fácil anexar o Rio Grande do Sul à Confederação Argentina.”
Vejam, os argentinos não somente queriam tomar 30.621 km2 dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina, como pensavam criar uma cunha separando o Rio Grande do Sul do restante do país e, assim, facilitar a anexação do Rio Grande do Sul ao seu país.
Um outro oficial superior argentino afirmou, referindo-se aos Campos de Palmas:
“Isto será nosso, ou por bem ou pelas armas”.
Ademais, é preciso reconhecer que, naquela conjuntura, os argentinos avaliavam melhor do que os cosmopolitas republicanos do Rio de Janeiro a importância do território em jogo e qual o potencial futuro dos Campos de Palmas.
De toda forma, o governo republicano fez o que a Argentina esperava. Em sua primeiríssima iniciativa internacional, atropela o tratado de arbitramento assinado pelo império, aceita sem pejo as demandas argentinas e manda o Ministro Quintino Bocaiuva dividir com os argentinos o território dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina.
E foi o que ele fez!
Vejam a linha de tempo da ignomínia republicana:
Em 7 de setembro de 1889 o governo imperial assina o Tratado de Arbitramento que leva a Questão das Missões para decisão do Presidente dos Estados Unidos;
Em 05 de novembro de 1889, 58 dias depois, o congresso brasileiro ratifica o tratado de arbitramento;
Mais 10 dias e chegamos ao fatídico 15 de novembro de 1889. Nesta data os ativistas e militares dão o golpe, derrubam a monarquia e proclamam a república. O Marechal Deodoro da Fonseca assume a presidência e Quintino Bocaiuva se torna Ministro do Exterior.
Vem dezembro, Festas, Natal e Ano novo. Já em 14 de janeiro de 1890 o Encouraçado Riachuelo leva Bocaiuva ao encontro de seus parceiros argentinos para assinar o tratado de cessão do território.
Outros 10 dias e em 25 de janeiro, o plenipotenciário é recebido com banquete em Montevidéu, onde assina com a tal aparatosa pena de ouro o infame tratado em que o Brasil cede para a Argentina metade dos territórios dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina.
Em seguida viaja ao encontro do presidente argentino.
O jornal O Estado de S. Paulo, na edição de 6 de fevereiro de 1890 publica um despacho vindo de Buenos Aires informando que Quintino Bocaíuva tinha sido homenageado com um banquete pelo presidente Juarez Célman, na noite de 3 de fevereiro.
Segundo o despacho, “houve durante o banquete a máxima alegria e expansão fraternal, levantando-se muitos brindes ao Brasil e a República Argentina, firmando-se assim um acordo tácito para a manutenção da paz e a prosperidade das duas poderosas nações sul-americanas.”
Não surpreende que tenha havia máxima alegria e muitos brindes fraternais. A argentina estava conseguindo barato uma nova província formada com metade do território dos estados do Paraná e de Santa Catarina arrancados do Brasil por intermédio do homenageado, Quintino Bocaiuva, que é de se supor, não estava lá de graça.
O inacreditável é que esse recém-empossado Ministro de Relações Exteriores nada mais útil tivesse a fazer além de ir sabujar os vizinhos do Prata por mais de um mês, circulando entre Montevidéu, Buenos Aires, Córdova Tucumán e outras paragens do Prata em que foi homenageado por banquetes, eventos, convescotes e festas variadas. É ridículo registrar que o plenipotenciário viajou em 14 de janeiro, assinou o tratado no dia 25, em Montevidéu, viajou 700 quilômetros para ir visitar o presidente Argentino em sua residência em Córdova, voltou a Montevidéu em 16 de fevereiro para ali passar o carnaval e só então, feliz e pampeiro, regressar ao Rio de Janeiro em 25 de fevereiro, onde, para, estupefação geral, resolve deixar o posto de Ministério do Exterior, conforme noticiou o Jornal Estado de S. Paulo do dia 26 de fevereiro.
O país estava atordoado. A notícia da desfaçatez fazia ferver o sangue dos brasileiros.
O Barão de Ladário, em seus artigos no Jornal a Tribuna condenando o tratado, conta que o dito plenipotenciário teria asseverado:
“que não se podia atender, ao liquidar-se o litígio, à questão pura e simples dos direitos a certas linhas de fronteiras, mas e preferentemente à que se prendia aos interesses momentosos da nova situação do país.”
Trocando em miúdos: Quintino Bocaiuva, com espantosa cara de pau, revela que a república ia dar metade dos estados do Paraná e Santa Catarina aos Argentinos porque era do interesse momentoso do novo governo republicano.
O Barão do Rio Branco, o defensor da causa brasileira em Washington informa que:
“Na República Argentina esta solução foi festejada com grande entusiasmo. No Brasil, porém, ela produziu o mais profundo sentimento de dor e levantou unânimes e veementes protestos.”
Mas é claro que haveria alegria e festejos na argentina com um presente deste tamanho, mas graças a mobilização do povo e aos protestos da imprensa, o Congresso Brasileiro rejeitou o tratado Bocaiuva por 142 votos contra 5 em sessão de 10 de agosto de 1891.
O passo seguinte foi o envio da Questão das Missões para o arbitramento do presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland.
Lá, em Washington, mercê do Deus que é brasileiro, como reconhece o citado Papa argentino, a defesa da causa brasileira coube ao nosso mais insigne diplomata, o Barão do Rio Branco.
E enquanto o Rio Branco buscava fundamentar as razões brasileiras reunindo documentos e provas, os Argentinos, sob a liderança de Estanislao Zeballos, faziam intensa campanha de relações públicas tentando ganhar a questão na base do tapetão.
As vésperas da decisão do presidente Cleveland, a Argentina ofereceu um banquete de gala para a alta sociedade norte-americana e, num gesto de insólita soberba, mimoseou cada uma das damas presentes com uma joia de ouro e diamantes posicionada em frente ao seu lugar na mesa do banquete.
Mesmo assim não adiantou.
Em 6 de fevereiro de 1895 o presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland emitiu sua sentença, dando ao Brasil a posse definitiva dos atuais territórios do Paraná e Santa Catarina. Foi a primeira grande vitória de nosso maior diplomata, o Barão do Rio Branco.
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Um pequeno documentário mostrando a documentação reunida por Rio Branco é mostrado no vídeo Oeste Fértil, o Legado do Barão do Rio Branco, no canal Goio-En do Youtube.
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E se você quiser conhecer mais histórias sobre a conquista do Oeste Fértil brasileiro e sobre o desenvolvimento do Alto Uruguai Gaúcho e dos oestes de Santa Catarina Paraná, conheça o meu livro Goio-En o Caminho e o Tempo da editora Viseu. É uma boa pedida.
Um mau sistema destrói uma boa pessoa todas as vezes. Todas as vezes.(Edwards Deming)
O que explica que o Brasil, um país de proporções continentais, dotado de imensas riquezas minerais, uma natureza exuberante e a maior área agricultável ainda não explorada do planeta viva imerso em crises intermináveis, corrupção endêmica e pobreza acachapante? A praga endêmica que desgraça o Brasil tem um nome: presidencialismo.
O presidencialismo é a nossa condenação de Sísifo. Sísifo, como sabem, vem a ser aquele personagem da mitologia grega que foi amaldiçoado pela eternidade a repetir a penosa tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava prestes a alcançando o topo, os deuses a empurravam de volta, montanha abaixo. E Sísifo tinha que começar tudo de novo. Segundo a mitologia, este destino maldito o perseguiria pela eternidade.
Nosso presidencialismo, como a pedra na lenda de Sísifo, é o nosso castigo pelo desapreço que temos com a seriedade e nosso pendor pela demagogia. Nosso presidencialismo chinfrim nunca deu certo e nem vai dar. Trata-se de um sistema de governo que é defeituoso por concepção. É ruim por design. Foi adotado por pura imitação do sistema americano, que, como salta aos olhos, também lá não funciona direito. E, para piorar as coisas, o copiamos mal.
. O teste da boa árvore.
De tantas causas possíveis, como saber que o nosso problema maior é, de fato, o presidencialismo? Não seria o excesso de partidos? Não seria o voto proporcional? Não seria nossa cultura?
O presidencialismo é um arranjo de governo que concentra poder demais em uma só pessoa. O Presidente é, ao mesmo tempo, chefe de Estado e Chefe do Executivo, funções que o Parlamentarismo divide exatamente para evitar a tentação de arroubos do tipo “quem manda sou eu”. É frequente, no presidencialismo, a ascensão de políticos “personalistas” que tentam desmontar os arranjos democráticos de forma a acumular mais poderes e continuar no poder. A respeito deles advertia Lorde Acton: “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.
A Bíblia, ainda que uns tantos questionem sua validade como livro religioso, é reconhecidamente um compêndio do conhecimento humano milenar. Em Mateus 12:33 se encontra uma destas pérolas do saber universal: pelo fruto se conhece a árvore. (Segundo o texto bíblico: “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto será bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto será mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.”) Ora, basta olharmos para a tristemente conturbada história do presidencialismo brasileiro para concluir que estamos diante do pior tipo de árvore existente no rol das democracias.
A verdade é que o presidencialismo à brasileira é um queijo…Suíço!. Tem buracos e brechas de todos os tamanhos e tipos. O dito “presidencialismo de coalisão” outra coisa não é que um “presidencialismo de corrupção”, um “presidencialismo de rapina”. Um bando de bucaneiros da política que se mancomunam para negociar seu apoio e assumir cargos onde possam “meter a mão”. Nada explica melhor este propósito de fazer tudo como arremedo que a célebre afirmação do Delúbio Soares, o ex-presidiário que chefiou as finanças petistas de 2000 a 2005. O finório, respondendo aos que queriam que publicasse na internet a demonstração financeira do partido, disse: “transparência assim é burrice”. Pois é na mesma linha que os corruptos fogem de um sistema democrático transparente, imunizado contra a corrupção: “DEMOCRACIA ASSIM É BURRICE”!
E, claro, um sistema tão vulnerável aos assaltos dos “pais da pátria” tende a viver em um clima de divisão de botim permanente. Tanto que, no Brasil do século passado, este rocambole institucional nos trouxe 22 grandes crises e rupturas, entre golpes, revoltas, revoluções, movimentos militares, impeachment e congêneres. E foram sete constituições diferentes. Neste século XXI, que até começou auspicioso, com o primeiro governo Lula seguindo as pegadas do governo de FHC, a obtusa ambição petista de perpetuar-se no poder logo descambou para a corrupção mais desenfreada. Produziu Dilma e seu impeachment, desencadeou a Lava Jato, levou a uma crise permanente durante o Governo de Michel Temer, promoveu a inédita “eleição por facada” de Bolsonaro e agora nos condena a viver uma cruel multipandemia que mistura coronoavirus, economia e segurança. Tudo em frangalhos.
E como desgraça pouca é bobagem, o atual presidente Bolsonaro tem o perfil do tipo político mais nefasto para assumir a presidência no presidencialismo.
O General Douglas MacArthur, o comandante americano que venceu o Japão na II Grande Guerra e depois supervisionou a ocupação do país de 1945 a 1951, promovendo sua reconstrução e o conduzindo para uma espetacular expansão econômica, política e social, revelou, de certa feita, que o segredo de seu sucesso é que adotava o método de Sun Tsu para avaliar seus oficiais. Segundo explicou, cada novo oficial que vinha servir em suas tropas era pessoalmente entrevistado por ele. Na entrevista, ele classificava o oficial em uma de quatro categorias: Categoria 1 – Inteligente e ativo; Categoria 2 – Inteligente e preguiçoso; Categoria 3 – Burro e preguiçoso; Categoria 4 – Burro e ativo.
Segundo MacArthur, a primeira categoria é a dos que ganham a guerra. Devem ser colocados nas posições chave e onde se dá a ação. Infelizmente, são poucos. A segunda categoria não serve para o front. São lentos e elucubrados demais para comandar tropas. Mas podem ser utilizados na inteligência ou no estado maior. A terceira categoria, a dos burros preguiçosos, é a mais numerosa. Agem burocraticamente, evitam riscos e preferem o conforto à ação. O melhor é colocá-los em posições de retaguarda ou em posições de baixo risco. Vão criar problemas, mas, sendo preguiçosos, farão poucos estragos. Todavia, segundo MacArthur, o perigo está no quarto grupo, o dos burros ativos. Destes ele tratava de se livrar na primeira oportunidade. O grande general, como seu mestre Sun Tsu, tinha pavor dos burros ativos. Estes, além de néscios, são incontroláveis, atropelam tudo e todos, sempre se acham com razão e se acreditam mais espertos que os outros. E sendo descombulados e hiperativos, produzem burradas em série, espalham o caos e destroem, por dentro, qualquer exército.
Pois, pode haver melhor descrição de atual ocupante do Planalto?
Pode-se argumentar que a Lava-Jato mostrou que existem caminhos para o combate à corrupção no Presidencialismo. Mas os fatos mostram que episódios heróicos não sobrevivem por muito tempo. Deve ter sido por compreender que, sem transformar o combate à corrupção numa ação sistemática, os políticos corruptos logo encontrariam meios de o impedir, foi que o Juiz Sérgio Moro, patrioticamente, decidiu abrir mão de 22 anos de magistratura e aceitar o Ministério da Justiça. Ele sabia, melhor que ninguém, que o milagre da Lava-Jato só vingou pelo destemor dele e de uma plêiade de heróis, como o do Procurador da República, Deltan Dallagnol, e de um núcleo de outros heróis – quase todos de uma nova geração e sem compromissos com as oligarquias. Moro haverá de ter percebido que ele e a Lava-Jato foram favorecidos por atuaram em um ecossistema jurídico, social e político que corre por fora dos tradicionais centros da corrupção. O Sul teve suas instituições menos contaminadas pelo patrimonialismo e pela predação de Estado do que as do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e das capitais nordestinas, centros mais antigos e onde a corrupção é endêmica. Uma nova Lava Jato, contudo, dificilmente voltará a ser possível no atual presidencialismo. O pântano político e o “Centrão” já trataram de interpor os bloqueios e barreiras para impedir outra “ousadia” do tipo no futuro. A título de exemplo, pode-se suspeitar que o tal “juiz de garantia” foi criado precisamente para “garantir” que nunca mais apareça um Moro para atrapalhar os “negócios” dos vendilhões da pátria.
. O Brasil tem solução?
Pode parecer um exercício de futilidades discutir se o Brasil quer, de fato, encontrar uma solução realista para seus problemas. Mas as mudanças virão, por bem ou por mal. A crise monumental que se avizinha, possivelmente a maior da história do país, vai produzir mudanças disruptivas. Vai ser um período conturbado, mas, no final, a saída será mais democracia. Os vetores que se observam na sociedade indicam que existe uma massa crítica da opinião pública que não vai aceitar retrocessos. Acredito, portanto, que a sociedade brasileira vai exigir um novo modelo de democracia e não este faz-de-conta meia-boca que está aí.
Acredito até que, depois de tanto sofrer, a nação irá se lembra de Rui Barbosa e decida emendar-se:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Ora, o chacoalhão que vamos enfrentar vai fazer todo mundo botar a mão na consciência. E, depois, nada levanta mais rápido um traseiro do que fogo embaixo do banquinho.
Dado que a crise que estamos vivendo é uma “decrisis”, que é como os gregos definiam o tipo de crise que tende a ir piorando, com caos e desorganização crescente, até se dar o colapso do sistema, não vai demorar para o Brasil buscar em profundidade as causas que criam e alimentam a disfuncionalidade do governo da república e se decida a mudar. Tudo indica que o país está mais maduro e preparado para adotar um solução comprovada e baseada em evidências para consertar de uma vez por todas o sistema que o infelicita e empobrece.
O presidencialismo à brasileira tem sido a casamata dos privilégios. O espaço do “me engana que eu gosto”. Demagogos e malandros se passam por democratas para tomarem o poder e se apoderarem do estado. O atual sistema presidencialista e o voto proporcional foram inventados pelo diabo para facilitar a tarefa de enganar eleitor tonto. Trata-se de uma combinação embusteira concebida para fraudar os objetivos da democracia.
Os velhacos da política aprendem logo a primeira lição da canalhice: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Com coronavirus, ou sem coronavirus, o negócio desta ralé moral é meter a mão. Se é dinheiro para comprar respiradores ou ajudar os pobres, não faz diferença. O que interessa é enricar. Desviar a grana. É a lei do pirão: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. Foi esta lei que inspirou os “direitos adquiridos” contra o povo! Os tais “imexíveis” “direitos adquiridos” são sempre contra o povo. Em sua maioria são, na verdade, “abusos adquiridos”. E, de tanto esfolar o povo, precisam acabar.
Agora, tirar os tais “direitos adquiridos” da privilegiatura não será um processo indolor.
Fernão de Lara Mesquita escreve que “Não ha inocentes na tragédia brasileira. O Sistema não muda porque ninguém está pleiteando que mude. Ninguém admite perder nada. A divergência que essa polarização burra traduz circunscreve-se à disputa pelo comando da coisa. Não é o Brasil que está em discussão. O Brasil é só o prêmio dessa disputa.”
Em outro trecho Fernão de Lara Mesquita diz que “Não haverá arrumação fiscal sem o fim desse regime de escravização de 99,5% do país aos “direitos adquiridos” dos 0,5% da privilegiatura. (Aliás, em minha opinião, devíamos fazer uma emenda à Constituição que dissesse simplesmente: “Não existem direitos adquiridos contra o povo” e “Revogam-se as disposições em contrário”.)
. Democracia Baseada em Evidência – O método para buscar uma Democracia de Qualidade.
Segundo Einstein, “Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” Portanto, o primeiro pressuposto para obtermos melhores resultados é mudarmos nosso modo de fazer política e eleger nossos governantes.
Somos o país da jabuticaba, do besteirol, do carnaval e do presidencialismo de corrupção. Aos poucos o país vai entendo que Sérgio Porto tinha razão quando dizia: “Ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade”. E, como há de parecer óbvio até ao mais obtuso dos viventes, não dá para toda a nação se locupletar. Para implantar a moralidade, por outro lado, é preciso criar um sistema que mude a lógica do atual sistema e crie mecanismos que empoderem a sociedade. E é motivo de alento observar que nossa sociedade tem mostrado que quer acabar com a corrupção e quer mudanças. Mas para sair da retórica e ir para o fazejamento, a dificuldade está em definir quais mudanças devem ser feitas e como gerar um consenso sobre elas.
Infelizmente nossos políticos, salvo exceções, são carreiristas profissionais. Entram na política não para servir o país, mas para se servir dele. Destes não se pode esperar nada. Falam em “mudança”, mas são adeptos da filosofia de Alphonse Karr: “plus ça change plus c’est la même chose”. Quer dizer, “mais se muda, mais fica a mesma coisa”…
Se, por um lado, é difícil obter um consenso sobre como formatar um novo modelo de governo, talvez seja menos difícil obter consenso sobre a metodologia para buscar este modelo ideal. E existe uma metodologia consagrada de fazer o certo do jeito certo e prevalente no meio médico: a Medicina Baseada em Evidência. A MBE reúne as melhores evidências científicas e indicadores de bons resultados para orientar o tratamento dos pacientes. A metodologia revolucionou a medicina, empoderou os protocolos e passou a fazer valer as melhores práticas. E esta técnica de reunir as melhores evidencias também pode ser aplicada na área política. Para começar, poderíamos abrir a discussão elencando o que não funciona a contento no Brasil e comparar com os métodos e resultados obtidos nos diferentes países e nos diversos sistemas de governo dos países avançados. O método permitiria considerar os prós e os contras de cada alternativa, o que melhor se ajusta à nossa cultura e aí definir a mudança e gerar um consenso. Obviamente, no final do processo, será preciso escrever uma nova Constituição. Chamar uma nova Constituinte capaz de usar os meios modernos de participação da sociedade para elaborar uma nova Carta Magna. Uma constituição pensada para o Brasil do Mundo 4.0 e que seja, de fato, debatida por toda a sociedade e não apenas por um grupo de políticos da velha política, interessados, sobretudo, em promover os interesses da privilegiatura e seus inconfessados interesses político-eleitorais.
Acredito que a maioria dos brasileiros está cansada de tanta bandalheira e tanto atraso. E, diante de um chamamento para repensar a desorganização crônica do país, concordaria em debater a mudanças de seu governo segundo as regras da Democracia Baseada em Evidência. E em desenvolver consensualmente um projeto para o país do século XXI.
De minha parte, tenho a opinião de que o debate nos iria encaminhar para um governo parlamentarista com voto distrital e não obrigatório.
O sistema parlamentarista é o adotado por todos ao países desenvolvidos, com a notória exceção dos Estados Unidos, que compensa o poder do presidente com uma eleição indireta e com uma câmara de deputados eleita a cada dois anos por voto distrital. Vale ressaltar que, mesmo assim, o presidencialismo de lá é sempre fonte de problemas e questionamentos. Quanto ao presidencialismo, este é sistema majoritário no mundo do atraso. Prevalece na América Latina e tem forte presença na África, o que já deve levar à reflexão.
O segredo do sucesso dos governos parlamentaristas está na virtude intrínseca do sistema que é equilibrado por um mecanismo de pesos e contrapesos bem mais sofisticado do que o nosso, que funciona sempre no limite, na base da confrontação permanente . Em um parlamentarismo bem ajustado, este mecanismo funciona promovendo a “síntesis”, ou a “crise boa” dos gregos, agindo preventivamente e acomodando situações antes que se tornem contenciosos. Por esta via de “parlamentarisar” as disputas, que são decididas no voto, o sistema de freios e contrapesos abrange todas as instâncias. A começar pelo centro de comando do país, que divide o poder em duas funções: a Chefia do Estado e a Chefia de Governo.
No parlamentarismo, o Chefe de Estado não se envolve diretamente no dia a dia da administração do país, tarefa que cabe ao Chefe de Governo, o Chanceler ou Primeiro Ministro.
Um aspecto interessante é que, por ser um sistema versátil, os poderes do Chefe de Estado variam de país para país. Em monarquias, como nos países nórdicos, na Holanda, na Bélgica, no Reino Unido, ou no Japão, onde o monarca é Chefe de Estado, este tende a ter funções mais simbólicas, mas, na maioria dos regimes parlamentaristas, o Chefe de Estado concentra algumas funções legislativas, como assinar, ratificar e até vetar leis e projetos vindos do congresso, dissolver o legislativo e demitir Chefes de Governo. Além disso, ele é o comandante máximo das forças armadas, dispensando um Ministro da Defesa, como no Brasil.
A administração do dia-a-dia do país, porém, é da alçada do Chefe de Governo, a quem cabe tomar as decisões e prestar contas aos representantes do povo, eleitos pelos distritos.
Todavia, para o sistema parlamentarista funcionar à contento é preciso que os parlamentares tenham condições de contribuir para a administração do país e não apenas fazerem pronunciamentos perfunctórios e votarem iniciativas do executivo. Portanto, o parlamentarismo requer um perfil diferente de representantes do povo.
O voto distrital cria um elo de confiança e um comprometimento claro entre cada representante e seus representados. Os candidatos disputam o voto majoritário em seu distrito. Cada distrito elege um só deputado. E os eleitores daquele distrito podem vigiar e cobrar o seu representante o tempo todo. Esta proximidade do eleitor com seu representante promove a depuração do parlamento. Maus deputados não são eleitos ou são afastados. Veja-se o exemplo do voto distrital nos Estados Unidos. Mesmo em um regime presidencialista, o voto distrital faz uma enorme diferença. Os eleitores de cada distrito tem encontros periódicos, com seus respectivos deputados. Nos encontros, realizados em espaços como prefeituras, salões ou escolas, os eleitores ouvem o que seu representante tem a dizer, discutem suas posições, suas posturas e votos no parlamento. Caso ele insista em se comportar de forma inadequada, os eleitores podem fazer o chamado “recall”. Por meio de um abaixo-assinado que atenda determinados requisitos, os eleitores do distrito podem convocar uma nova eleição distrital. A qualquer tempo. Os eleitores locais poderão, então, decidir por maioria, se mantem ou elegem um novo representante.
Para assegurar que o voto de cada cidadão tenha igual peso eleitoral na formação do parlamento, os distritos eleitorais são divididos por áreas com um número semelhante de habitantes. Isto acaba com o arremedo de democracia que hoje faz um cidadão paulista valer apenas 1/11 avos de um eleitor de Rondônia. (Pelo atual arranjo eleitoral, um eleitor de Rondônia vale por 11,3 vezes mais do que um eleitor paulista, o que é um absurdo.)
Mas, enfim, a resposta é que sim, o Brasil tem solução. Contudo, resta saber quando o Brasil vai abandonar sua histórica mediocridade política e passar a se comportar como um país adulto e responsável.
O que é certo é que logo o Brasil vai ter que fazer mudanças em escala nunca vista. Querendo ou não. Com a monumental crise econômica que se avizinha e sob um presidente despreparado, destrambelhado e boquirroto, um autêntico “burro-ativo” na definição de MacArthur, as mudanças virão por bem ou por mal. O colapso das atividades econômicas, os 20 milhões de desempregados, a pior recessão dos últimos cem anos, são desafios que requerem uma nova postura diante da realidade. O Brasil sairá desta, mas em novas bases. O Brasil velho morreu. E o futuro do Brasil será decidido por uma nova geração, mais bem informada e preparada e pela atitude de seu povo frente aos desafios que logo engolfarão a nação.
. A Democracia por Evidência para fazer um Brasil decente.
Finalmente, para encerrar, penso que chegou o momento de o Brasil abandonar essa mania de querer reinventar a roda. O melhor que podemos fazer é adotarmos as melhores práticas políticas do mundo. Com critério e bom senso. Doa a quem doer. Reconstruirmos nossas instituições com equilíbrio e equidade. Criarmos anticorpos institucionais para acabar com a malandragem rampante que tira dos pobres para dar aos ricos. Um país que valorize a meritocracia, em que os méritos valham mais que o nepotismo e os compromissos partidários. E acreditar que vale a pena. Afinal, temos boas razões para fazermos do Brasil uma nação mais decente e melhor. Afinal, vivemos aqui.
Para o bem ou para o mal, daqui a poucos meses vamos definir o Brasil que queremos. Aliás, o Brasil que teremos. E são duas as alternativas: um Brasil com juízo ou sem juízo. Um Brasil com sustos ou sem sustos.
De minha parte, depois de sofrer em meio ao maior festival de corrupção da história humana, depois do vendaval de aberrações reveladas pelaLava-Jato, depois da escabrosa desfaçatez da JBS, da obscena transformação do BNDES no banco financiador da corrupção internacional e de outras tantas perversões, depravações e decepções, prefiro um Brasil sem aventuras. Um país com o juízo no lugar. Sem sustos. E isto significa escolher o mais sensato, provado e preparado entre os candidatos.
E, no meu entendimento, os nomes são os que estão na mesa. Dado que as regras vigorantes impedem que surja um candidato vindo do nada, vamos ter mesmo que escolher entre os candidatos que estão postos. E entre eles, Alckmin pode não ser o mais celebrado ou o mais carismático, mas é a escolha do bom senso.
Agora, aqui entre nós, o eventual candidato Alckmin precisa fazer sua parte. Tenho acompanhado sua presença no Twitter. Eu e mais um escasso punhado de seguidores. O conteúdo é substancial. Alckmin é um realizador. Seu trabalho é, de longe, o mais produtivo e articulado entre os governadores. Mas a abordagem de sua mensagem é ineficaz e insossa. Seu mote “Preparado para o Brasil” é ruim de doer. Vindo de um paulista, soa arrogante e gera ressentimentos em muitos estados. Falo como profissional de marketing que conhece o assunto. Alguém precisa dizer ao governador que ele precisa inverter a polaridade de sua mensagem. Não adiante ele estar “preparado para o Brasil”. A questão é: o Brasil está preparado para ele?
E para não ficar na divagação estéril, acho que duas coisas precisam melhorar no atual posicionamento “utilitário” de sua mensagem: (1) faz falta em sua mensagem uma visão que encante – um “projeto” para o Brasil – que transcenda o valioso trabalho de “zeladoria”, que é de qualidade inquestionável, mas não empolga, e (2) falta em sua mensagem um toque humano. O governador Alckmin precisa de uma “marca” que gere empatia e simbolize seu lado humano, hoje muito apagado para ser notado. Afinal, não temos como fugir da semiótica: se não é “percebido”, não existe.
Neste sentido, lembro que o Brigadeiro Faria Lima, um realizador do calibre do governador Alckmin e, como ele, um “fazedor” que também precisava “humanizar” sua imagem pública, adotou como símbolos a “pá e a rosa” e fez com eles uma marca que o ajudou a se tornar imensamente popular e querido da população paulistana.
A “pá de pedreiro” representava a obra de transformação urbana que o prefeito realizava na cidade; a “rosa” representava o eixo de humanidade que lhe servia como fonte de inspiração permanente, um “leitmotif” que marcava toda a sua obra.
Trazendo estes símbolos para a atualidade, sugiro uma marca que mostre o Brasil na tecnologia digital e resgate a rosa do brigadeiro Faria Lima como símbolo de humanidade. A obra que o Brasil precisa é sua modernização tecnológica. A inclusão do Brasil na era da Inteligência Artificial e a preparação dos brasileiros para a quarta revolução industrial. Todo brasileiro que tem um celular sabe que o futuro está na tecnologia. E sabe que precisa ganhar oportunidades de melhorar de vida no novo mundo da Inteligência Digital (ID) que vem aí. Então, a rosa seria o símbolo deste futuro que todos sonhariam juntos. Sonho de uma revolução tecnológica que mudaria o Brasil, liderada por um presidente competente, um médico com visão humana e preparado para melhorar a vida e o destino do Brasil e de sua gente.
Eureka!, Eureka!, gritava um desvairado Arquimedes correndo nu pelas ruas de Siracusa, na antiga Grécia. O grande matemático tinha acabado de descobrir porque os barcos flutuam sobre a água. E, ao se dar conta do fenômeno que depois se transformou no “Princípio de Arquimedes”, instantaneamente entendeu que aquela revelação transformaria o mundo. Por isto, tomado por uma alegria delirante, não se conteve: pulou da banheira e saiu proclamando a notícia do jeito que estava.
Três milênios depois, cá no Brasil, vemos nosso país navegando às tontas e correndo o risco de ir a pique. Este nosso país, tão lindo e cheio de potencialidades, infelizmente continua cheio de cretinices e boçalidades e se recusa à racionalidade com a teimosia de um jumento empacado.
A luta do país para sair do enrosco é a velha luta do bem contra o mal. Do Brasil velho e curvado de vícios, que ainda se comporta como colônia, contra o país vibrante e moderno da tecnologia e do agronegócio, o Brasil 4.0, que vem aflorando e vai acabar por se impor.
Por felicidade, em 2018 teremos eleições gerais. O país vai poder se repensar. E, quem sabe, reavaliar seus erros e acertos e adotar um novo modelo de política. Oxalá, por meio do voto, possamos nos valer de nosso momento de “Eureka”, um lampejo de clarividência que nos foi legado por Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, quando formulou seu enunciado de como evitar que o Brasil afunde. Seu enunciado é tão óbvio que ulula: “ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade”. Traduzindo: ou afundamos no mar de lama ou adotamos regras de comportamento civilizado em nossa sociedade.
O que Sérgio Porto diz é que não dá para todos os milhões de brasileiros se locupletarem ao mesmo tempo. Simplesmente, não dá. É uma impossibilidade matemática. Então, o único jeito da manter o país flutuando é adotarmos a moralidade. Algo que só conseguiremos fazer se adotarmos uma nova política.
Em um primeiro momento parece difícil. Mas tudo é uma questão de timing. O muro de Berlim não foi “derrubado”. Caiu de maduro quando os alemães orientais decidiram, coletivamente, que não o aceitavam mais. E agora, parece que cansamos do muro de atraso que nos impede de avançar para a modernidade. Estamos fartos da roubalheira desenfreada; estamos fartos desta politica de compadrio, da mistura do público com o privado e da “economia da corrupção”. Cansamos de assistir o rodízio de ladrões que nos assaltam dia e noite. Então a alternativa é botarmos abaixo o anacronismo e adotarmos a civilização. Passarmos a crer na moralidade e abrirmos as portas para a decenciocracia. Para e equidade e para um sistema de pesos e contrapesos para controlar os políticos e o governo.
O sentimento de probidade e retidão deve passar a prevalecer. Não por virtude pela virtude, mas porque um país assentado na malandragem nunca será próspero, nem viável. A cada um segundo sua contribuição, a cada um segundo seu merecimento. A nova ordem dever ser: ninguém mais mete a mão. Ninguém mais fura a fila. É proibido roubar e deixar roubar. E, para cada político corrupto a eleição deve mostrar a porta de saída como serventia da casa, acompanhada da exortação: “Vai trabalhar, vagabundo”.
A democracia disruptiva
A democracia à brasileira tem sido a casamata dos privilégios. O espaço do “me engana que eu gosto”. Demagogos e malandros se passam por democratas para se apossarem do estado e tomarem o poder. O sistema presidencialista e o voto proporcional foi inventado pelo diabo para facilitar a tarefa de enganar eleitor tonto. Trata-se de uma combinação embusteira concebida para fraudar os objetivos da democracia.
E, obviamente, como diz a sabedoria popular, “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Os donos do poder fazem as leis para favorecerem a eles mesmos. É o caso da lei do pirão: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. Foi esta lei que inspirou os “direitos adquiridos” contra o povo! Os “Direitos adquiridos” são contra o povo. Em sua maioria são, na verdade, “abusos adquiridos”. E precisam que acabar.
E enquanto não se resolve a revogação destes famigerados “direitos adquiridos” em causa própria, e não se expurga a respectiva “cláusula pétrea” (a pedra?) do meio do caminho, que ao menos se decida que os privilégios devem ser pagos por último. O direito a hospitais, escolas e segurança, deve ter prioridade. O sibilino “direito” à privilégios e mordomias deve vir depois.
A esta altura seria bom perguntar: você quer mesmo sobreviver no Brasil? Sério? Então tá, e parabéns por sua coragem, mas saiba que o Brasil não é para amadores. E, para escapar incólume nesta aventura um tanto quanto insana, é bom ter em mente que o Brasil é desafiador e inóspito. Especialmente para os incautos e desavisados.
Ademais, sem subestimar o distinto público – e tirando uma suculenta nata de marajás e privilegiados que vivem as delícias das tetas do governo, – a verdade é que mesmo os iniciados se enroscam em grandes dificuldades para sobreviver no Brasil contemporâneo.
Contudo, os ventos estão mudando. E se você quer ampliar suas chances de dar a volta por cima aqui mesmo, vale a pena desvendar alguns segredos desta esfinge chamada Brasil. E, para este exercício, vamos visitar algumas práticas da Cabala.
A Cabala, vale esclarecer, não é panaceia. O uso de suas técnicas pode ajudar a entender o Brasil profundo e evitar muitas das ciladas que ficam à espreitam. A Cabala pode ajudar a navegar em meio as brumas e desafios do conturbado presente e incerto futuro. Mas o resultado vai depender da sua disposição para olhar os fatos com isenção, acuidade e equilíbrio.
As técnicas da Cabala que vamos utilizar se constituem em um filtro da realidade. O seu uso sistemático ajuda a entender a dinâmica das forças que se movem no ambiente de nosso entorno e a dar relevo aos vetores que se formam no seu interior. Forças que se entrechocam, se amplificam e se anulam em um embate permanente até se tornarem dominantes e aflorarem como tendências que influenciam ou até determinam o rumo dos acontecimentos. Identificando estas forças e monitorando sua evolução é possível identificar riscos e ameaças, assim como perceber oportunidades, no contexto social, político e econômico. Detectar oportunidades e ameaças precocemente pode contribuir para melhores decisões no presente e mais acerto na antecipação do futuro. Sempre ressalvando, porém, o que dizia Drucker, “Prever o futuro é impossível. Tudo o que podemos fazer é construí-lo”.
Antes de por a mão na massa, uma última admoestação, este agora de Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim.” Resulta então que, posto que nossa circunstância se realiza no Brasil, ou o salvamos ou afundamos todos juntos.
De maneira que é nesta tarefa de desvendar os enigmas do Brasil profundo e penetrar nas entrelinhas de nosso futuro que as técnicas da Cabala vem a calhar. Reitero que a Cabala não substitui uma bola de cristal, nem eu sou o Mago Merlin, mas não custa a gente tentar dar uma espiada nos desvãos do presente e nos pendores do futuro, não é mesmo?.
A cabala, o que é?
Para começar pelo início, a Cabala é uma escola de pensamento esotérico criada na idade média por judeus e formada a partir de uma raiz mística, de conotação religiosa, e que compreende um lado, digamos, telúrico, eminentemente prático e objetivo, com a missão de prestar atenção no entorno social, político e econômico visando a sobrevivência da comunidade. De fato, alguns estudiosos até sugerem que a Cabala religiosa teria sido concebida mais para servir de cobertura ao trabalho dos iniciados que se reuniam para investigar e discutir os riscos a que a comunidade judaica estava exposta naqueles tempos perigosos do que como uma escola de pensamento esotérico alternativo.
De toda forma, o que vamos aplicar em nosso exercício de análise da realidade brasileira é a metodologia que busca desvendar os segredos da realidade.
No processo para entender a realidade circundante a cabala se vale da análise da realidade em quatro diferentes dimensões. Em geral vemos a realidade como um todo, mas assim como um organismo parece único, mas é formado por camadas, órgãos internos e sistemas ocultos, o conjunto da realidade aparente reúne um infinidade de componentes que interagem entre si. Cada uma delas possui características próprias e cabe ao interessado focar cada uma das dimensões de maneira a captar aspectos, detalhes e nuances que irão se revelando ao olhar atento e acabarão por formar um mosaico revelador do conteúdo de cada uma delas. Será a combinação dos diversos quadros que abrirá frestas na realidade aparente, deixando entrever movimentos, sinais e alertas relevantes. A leitura do cenário que resultar desta análise é que irá permitir desvendar o contexto, ensejando compreender o que se torna aparente com suas causas e motores. Em certo sentido, estas técnicas da Cabala permitem examinar a realidade com lentes de aumento.
As quatro dimensões
As quatro dimensões a serem examinadas, uma de cada vez, são as seguintes:
Primeira dimensão: o “Aparente do Aparente”,
Segunda dimensão: o “Oculto do Aparente”,
Terceira dimensão: o “Aparente do Oculto”
Quarta dimensão: o “Oculto do Oculto”.
O Aparente do Aparente.
A primeira dimensão, o Aparente do Aparente, vem a ser realidade visível, o mundo aparente, a coisas que estão à nossa volta e compõe a realidade de nossa vida cotidiana. Nesta etapa o escopo da análise é observar e analisar a composição da realidade em que estamos imersos, ou seja, a realidade material, visível, palpável. Aquela realidade material que percebemos por meio de nossos cinco sentidos. Portanto o somatório de tudo o que é visível e perceptível, incluindo os objetos, as pessoas e suas circunstâncias, os elementos e fenômenos naturais, os eventos e seu encadeamento, as instituições, a cultura, o ordenamento social, as causas e seus efeitos, enfim, tudo o que vemos, tocamos, ouvimos e sentimos diretamente.
O Oculto do Aparente.
Como se sabe, as “aparências enganam.” Como sugere a definição, existem muitoselementos que estão aparentes mas passam desapercebidos. Figuram no cenário, ambiente ou contexto, estão diante de nossos olhos, de nossos sentidos, mas estão dissimulados, estão mimetizados. O mimetismo é um tipo de “oculto do aparente”, sendo uma “estratégia” ou um “truque” da natureza para dissimular e enganar a percepção daquilo que não deseja que se destaque no cenário aparente. O mesmo artifício de esconder-se em meio a paisagem vale no contexto social, onde o engodo e a mentira são parte do processo de disfarçar intenções e encobrir a verdade. Em certas circunstâncias, o disfarce é uma defesa, em outras uma cilada, um golpe, um logro. Formam entre esses elementos interesses, situações, eventos, coisas fora do normal, que intencionalmente ou não,se escondem no panorama. O exame do Oculto do Aparente é mais eficaz seincluir os “ciclos” da natureza, a exemplo da idade, as estações, a maturação e demais fatores que são causa e efeito da vida. Especialmente os atrelados ao um grande processo vital que submete a todos, ou seja, o nascimento, vida e morte.
O jogos de sete erros em ilustrações e o popular “Onde está Wally” são exemplos do Oculto do Aparente, assim como o são as “entrelinhas” de muitos contratos e acordos. Assim como os efeitos perversos de muitas políticas ditas “sociais” e vendidas como “humanitárias”.
No Oculto do Aparente podem se esconder grandes perigos, sendo os mais perigosos precisamente aqueles que se passam por coisas desejáveis.
O Aparente do Oculto
A terceira dimensão– o Aparente do Oculto – engloba tudo o que se encontra oculto, mas pode ser encontrado por uma pista, indício ou sinal que fica aparente. Muitos atributos, qualidades e fenômenos que existem no plano real podem ficar ocultos e não ser percebidos a menos que se observe um sinal ou evidência perceptível. A parte visível de um iceberg é aparente, mas a parte oculta, a parte submersa, é muito maior e mais perigosa, fato que quem conhece, quem sabe a natureza de um iceberg, sabe que abaixo da linha d’água haverá uma massa muito maior de gelo. Para desvendar a parte oculta de um Aparente do Oculto é preciso dispor de conhecimentos sobre a sua natureza e saber decifrar seus sinais. Reconhecendo sinais ou evidências é possível desvendar muito do que se esconde longe dos olhos. Um outro exemplo simples, mas ilustrativo, seria a forma de decodificar o atributo “gelado” de uma dada garrafa de água. Vendo-a pela janela de um freezer não dá para saber se está gelada o não. Mas, caso estiver gelada, este atributo logo vai se revelar se for retirada da geladeira. Ao ser colocada na temperatura ambiente uma camada de condensação irá se formar em sua volta, denunciando sua condição gelada.
O Oculto do Oculto
A quarta dimensão, o universo do Oculto do Oculto, reúne o contexto do invisível e a imensa massa do que não se pode ver, do que não pode ser percebido de forma direta ou por meio de sinais aparentes, mas que, ainda assim, exerce influência sobre a realidade. Por exemplo, a força da gravidade não é fenômeno visível, mas o efeito de sua presença é universalmente notado. O fato do universo do Oculto do Oculto não estar aparente não quer dizer que seja pequeno ou insignificante. Ou, ainda, que tenha pouca influência. Muito pelo contrário.
Se tomarmos como referência o sempre fascinante fenômeno da simetria da Natureza, então podemos considerar que a extensão do Oculto do Oculto representa mais de 90% de todo o conjunto de qualquer realidade que estudarmos. No caso do Universo, a parte oculta representa 95% de toda a matéria existente no cosmo. A “energia escura” representa 74%, enquanto a “matéria escura”, representa 21%. De modo que o somatório de todo o universo visível, todas as galáxias e constelações existentes, perfazem não mais de 5%.
Bem, podemos agora fazer um giro pelas quatro dimensões da Cabala para desvendar o Brasil.
O ideal seria que pensássemos em conjunto, buscássemos eixos de análise e chegássemos a conclusões compartilhadas, mas como este artigo é obra pessoal, vou apresentar o meu ponto de vista, mas sinta-se convidado a concordar, discordar e a apontar sua visão pessoal.
Fase 1 – Análise do Aparente do Aparente
O cenário do Aparente do Aparente no Brasil é desolador.
O Brasil continua atordoado. Continua perdido. Tentando levar a crise com a barriga. Não tem um projeto nacional. Não tem uma visão de futuro. Não formou um consenso sobre o que é disfuncional ou está errado e, assim, não compartilha de um programa sobre o que precisa ser mudado, ou que reformas devem ter prioridade. O mundo político brasileiro é de uma mediocridade acachapante. Desalentadora. Poucos políticos se dispõe a enfrentar os problemas reais e a maioria, os cabeças de bagre, acham que os problemas se resolverão sozinhos. A reforma da previdência é um caso de chorar na sarjeta. Como pode o país aceitar que os trabalhadores rurais precisem esperar os 70 anos para s aposentar com um salário mínimo enquanto muitos marajás se aposentam aos 50 anos de idade, ganhando salários integrais de 30, 40 ou 50 mil reis mensais, vezes 13?!!! Aliás, outra “esperteza” bem tupiniquim é publicar o salário nominal mensal e esconder o seu verdadeiro montante, sem incluir os benefícios, 13º salário, etc. e etc. Nos Estados Unidos se divulga sempre o valor anual dos ganhos, devidamente totalizados.
Um país que aceita esta desigualdade não tem um eixo moral claro. Vivemos em uma situação bucaneira, um salve-se quem puder, onde cada um pega o que pode. A devassidão, que não nasceu no governo petista, mas foi aperfeiçoada por ele, nos levou para a maior crise de nossa história. Entramos em um atoleiro onde ainda permanecemos. Momentaneamente existe um certo alívio e uma sensação de que teríamos chegado ao fundo do poço. O país até dá alguns sinais de lenta recuperação. Mas é um sentimento ilusório. Sem consertar o problema fiscal, em especial a previdência, a rainha do buraco das contas públicas, não vai demorar para voltarmos à queda livre, posto que o problema fiscal continua a puxar o país para o despenhadeiro. O lado dos números são eloquentes. A meta para o déficit primário do governo para 2017, bem como para 2018, é de R$ 159 bilhões. O desemprego tem 12 milhões de desempregados, 5,1 milhões de empresas estão inadimplentes (das 7 milhões existentes), o país registrou em 2016 61.619 mortes violentas, o maior número de homicídios da história. A piora do Brasil foi dramática nos últimos três anos. Em 2016, 24,8 milhões de brasileiros viviam na miséria, espantosos 53% a mais que em 2014, segundo revela o IBGE. Após o início da crise econômica, 8,6 milhões de brasileiros adicionais passaram a viver com menos de um quarto do salário mínimo por mês. A população com renda de até meio salário mínimo chegou a 36,6 milhões de pessoas. É muito sofrimento e miséria para um país com o potencial do nosso. E tudo por burrice pura, por teimosia e desvios inescrupulosos criminosos. E por insistirmos em requentar falsas soluções que jazem no cemitério dos fracassos comprovados.
Contudo, para uma análise equilibrada, em meio ao desastre que nos assola, o país mostra que tem um lado positivo: a inflação caiu a 3% ao ano; a balança comercial tem tido superávits significativos; também nossas reservas são altas. E, o mais importante, temos áreas de excelência. Um agronegócio robusto e crescente. Muitas de nossas empresas industriais mostram que somos capazes de engenho e arte. Algumas se mostram altamente competitivas no mercado internacional, a exemplo da Embraer, Tramontina, Fanem, Weg e outras.
O Governo Temer?
A questão do Governo – Tudo indica que o Presidente Temer vai terminar seu mandato, ainda que com algumas turbulências. Existe disposição dos brasileiros de aguentar este governo porque ele acaba em um ano e não está piorando as coisas. Ao contrário, mostra coragem em promover algumas reformas indispensáveis. Seu índice de aprovação dificilmente vai passar do 10 ou 15%, mas para um país que sobreviveu a Lula e Dilma, o presidente Temer é um alívio.
O Congresso?
A Câmara dos Deputados – A câmara ainda não decidiu se vai tomar vergonha. O projeto da reforma de previdência ficou para 2018. Ano de eleição. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia está surpreendendo pelo bom senso e equilíbrio. Poderia ter se aproveitado das denuncias de Janot para tentar sentar na cadeira presidencial. Tinha chances e bons pretextos, mas sofreou seus instintos políticos. Agiu com espírito público, pensando no país. Vai sair da crise como uma nova liderança confiável e consolidada. Tem grande futuro.
O Senado – Sem o carbonário Renan Calheiros, que perdeu de vez a confiança do país naquela manobra medonha para salvar a elegibilidade de Dilma na sua cassação e não tem mais cacife para criar problemas, parece que vai dar guarida para as reformas necessárias. Nada espetacular, mas um mínimo de sobrevivência.
O Judiciário?
O Judiciário – O Juiz Moro é a grande figura do judiciário. Mas não esta só. A decisão de marcar o julgamento do recurso apresentado por Luiz Inácio Lula da Silva no processo do tríplex em Guarujá para 24 de janeiro de 2018, dá ao Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre um relevo especial e indica que a justiça compreendeu que o Brasil não pode mais ficar paralisado no aguardo de decisões que vão definir seu futuro. O STF, por seu turno, tirando um ou outro indigitado que eructa mofo no dia a dia, vem dando para o gasto. E no STF muito do mérito cabe à sólida presidência da Ministra Carmen Lúcia.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal tem, igualmente, contribuído para que o país ainda se mantenha confiante nas instituições. Vivem disputando poder, mas se o usarem para o bem do país, menos mal.
A sociedade empoderada: O fato novo de 2017 é que a sociedade percebeu que pode se mobilizar e ir para a rua para pressionar pelas mudanças necessárias. Se o governo “pisar no tomate” ou sair dos trilhos, a sociedade da internet não precisa mais do que 24 horas para bater panelas ou encher as ruas e encurralar o governo. É possível prever que vamos ter muitos panelaços e manifestações em 2018. A sociedade já deixou claro que não tem vocação para ser bom cabrito.
Por tudo isto, o sentimento dominante na sociedade é o de moderada expectativa para 2018. Um sentimento que pode não resistir se o congresso aprontar trapalhadas na questão da reforma da previdência em fevereiro de 2018. Um fracasso na reforma fará a economia desandar e uma nova onda de desanimo poderá ter consequências desastrosas.
Fase 2 – O Oculto do Aparente
O que está claro é que vamos ter um monte de candidatos a presidente em 2018. Passado o Carnaval vão surgir as candidaturas. Em janeiro se saberá se Lula estará concorrendo. Duvido. A data escolhida para o julgamento, dez dias antes do “tríduo de Momo”, já indica como foi bem arquitetada a operação “Saca Lula”. Nota 10, com louvor, para os Juízes da 4ª Região (TRF4).
Vetores do atraso:
Dado que, no Brasil, a diferença entre esquerda e direita tem sido sempre a maneira de roubar, com a esquerda ganhando disparado nos quesitos mistificação e volume roubado, o povo se vê indefeso. Prefere a democracia direta. Gosta de votar, mas hoje reconhece que o governo que menos roubou foi o militar. Aliás, o governo militar foi combatido pelos mal intencionados precisamente por não deixar roubar. Felizmente o país tem mostrado maturidade para perseguir opções democráticas e não precisa recorrer aos militares.
A velha política, travestida de esquerda e direita, ainda vai tentar voltar em 2018. Não sei se notaram, mas pela esquerda, o lado que promete que o estado vai ser o provedor de tudo grátis, Lula, o ogro dos cafundós, está em campanha. É irregular, mas e daí? O Ogro tem feito o circuito dos grotões vociferando com a mais esganiçada eloquência que sua voz espectral ainda consegue. Mas tudo o que vem mostrando é que virou gagá. Está velho demais para liderar no grito. O tempo em que ganhava no gogó se foi. Aliás, líderes que se apoiam no intelecto, como FHC são mais longevos. Lula, ao contrário, sempre foi um líder do tipo “vamo que vamo”. Hoje, parece um arremedo, um cartum do que era. Sua liderança agora é do tipo “vão indo que eu já vou”. Falta a ele o tônus vital. É patético vê-lo como caricatura de si mesmo, escalafobético, tentando empinar um carisma que não lhe pertence mais. Que não passa de um resquício da que teve um dia. É verdade, o candidato ainda rosna e tenta gesticular no estilo “Eliscóptero”, mas seu balanço desengonçado está um bagaço. Possivelmente terá ainda votos de seus eleitores vetustos sobreviventes. É triste, mas muitos deles estão morrendo aferrados a uma ilusão que lhes logrou por décadas. As novas gerações, contudo, não se deixarão empolgar por um líder encanecido, que se apresenta trôpego e demagógico, além de pendurado num histórico de corrupção. Isto se for candidato, o que é bem provável que não seja.
Vetores de Modernidade:
Quando Temer indicou Raquel Dodge para o cargo de Procuradora Geral da República ele fez o que estava ao seu alcance para responder ao ímpeto acusatório de Janot, uma figura maquiavélica que era leal ao regime petista e que tentara todos os truques e malvadezas para desestabilizar o governo que sucedera o de sua musa. Acontece que a nova Procuradora, a escolha possível nas circunstâncias, tinha sua própria agenda. E Temer vem descobrindo que está sendo forçado a dançar pela música da nova Procuradora Geral. Dado que o propósito da Procuradora está alinhado com a agenda da parte civilizada da sociedade, a PGR pode ser uma fonte de energia a somar no vetor modernizador da sociedade.
Fase 3 – O Aparente do Oculto
Vamos começar pela figura dos “laranjas”. O sítio de Lula em Atibaia, como todo mundo sabe, é do ex-presidente, mas está em nome de dois “laranjas”: Fernando Bittar – filho do amigo de Lula e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar – e Jonas Suassuna, ambos sócios de um filho de Lula,
De fato, todo o “laranja” pode ser definido como um “Aparente do Oculto”.
O Brasil tomou gosto pelo oculto nos tempos coloniais. Hoje apreciar o oculto, entender o oculto, se incorporou ao DNA brasileiro. Sobreviveu trezentos anos ocultando tudo o que podia da metrópole. No Brasil colonial nada se podia produzir às claras, nem sabão. Daí, para sobreviver, desenvolveu uma tecnologia insuperável para lidar no campo do oculto. E sabe ocultar melhor do que ninguém. O governo, claro, sabia disto e respondia com a “derrama”, que era um confisco aplicado em Minas Gerais para desovar o ouro oculto e assegurar o teto de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto. (Aliás, o “quinto”, como se sabe, era chamado de “quinto dos infernos” pela população e correspondia a um imposto de 20% do ouro encontrado e que devia ser enviado diretamente para a Coroa Portuguesa).
A contrapartida é que nosso sistema jurídico aprendeu a desencavar o oculto. O instituto da “denúncia premiada”, por ironia aprovado no governo da Dilma, tem sido extremamente eficaz neste mister. Fato reconhecido pelo saudoso Ministro Teori Zavascki ao definir o “fenômeno das penosas”: “a gente puxa uma pena e vem uma galinha”.
Agora, o que tem de corrupção “oculta” no Brasil é uma grandeza. Onde quer que se jogue luz, ali se encontra um galinheiro.
Fase 4 – O Oculto do Oculto
O Oculto do Oculto é o contexto que não temos como tocar, mas que nos toca sem mesmo sentirmos. Ele é imenso e insidioso e nos cerca como uma atmosfera cujo ar respiramos sem nos darmos conta. No espaço do Oculto do Oculto opera a “flecha do tempo”, a inexorável marcha da vida que obedece à segunda lei da termodinâmica.
O Oculto do Oculto encobre o rio da existência que segue, impávido, sua corrente e, em suas águas, seguem nossos destinos. O Oculto do Oculto nos oferece as circunstâncias e o tempo para nele vivermos buscando superar nossos desafios e aproveitar nossas oportunidades, enquanto o tic-tac de nossos dias vão sendo contados e cada momento desperdiçado se perde na entropia para não voltar mais.
Imenso e insidioso, seu principal conteúdo é constituído de energia invisível e das forças em movimento. Assim como o mundo em que vivemos é constituído por uma natureza que pode ser, a um tempo generosa ou hostil, nos oferece um meio-ambiente feito de solo, água e ar, assim o mundo do Oculto do Oculto é constituído por elementos desta mesma natureza e aos quais se soma a humanidade e os elementos da cultura, valores, crenças e expectativas para formar grupos humanos que compartilham destinos comuns e se desdobram em um ambiente que nos abraça e determina muito das nossas circunstâncias a que aludia Ortega e Gasset.
No caso da atmosfera em que estamos imersos, ela nos permite sobreviver graças ao ar e, especialmente ao oxigênio, enquanto nos protege do vácuo e estabelece o clima em que vivemos, ditados pela umidade, o calor e o frio. Esta atmosfera, entretanto, também pode ser afetada pela poluição e pela pestilência de elementos químicos e biológicos indesejáveis. Similarmente, no espaço humano do Oculto do Oculto, a cultura é o oxigênio. O tempo e a temperatura nos são dados pela civilização, sua moral e ética, seus conhecimentos e tecnologia, enquanto seus poluentes são a bestialidade, a selvageria, o medo, o ódio e a inveja. Na luta sem fim entre o bem e o mal, que nos acompanha desde os primórdios dos tempos, o propósito do mal é, e sempre foi, se dar bem praticando o mal para sobreviver às custas do bem.
Embora o Oculto do Oculto pareça ser predominantemente esotérico, já vimos que muito de seu conteúdo é dado pelos aspectos da materialidade da vida.
Somos seres sociais e não temos como escapar de nossa condição humana. Para Hobbes a existência humana é balizada por dois impulsos fundamentais: o medo da morte violenta e da falta das coisas necessárias para uma vida decente. São estas duas as necessidades que levam ao contrato que cria o estado, posto que o homem entende que é do seu interesse dividir e compartilhar a vida social para chegar ao bem comum, o que implica aceitar regras sociais de convévio e exercer o autocontrole.
Mas uma coisa é aceitar a necessidade do estado para organizar a vida social e outra é aceitar a predisposição de muitos para “tirar vantagem” do estado em proveito de si próprios e dos seus comparsas, segundo o velho adágio bem brasileiro: “para os amigos, tudo; para os outros, a lei”.
Para botar ordem na casa, então, existe o tal “estado de direito”, que seria o império da lei, a que todos estariam submetidos, mas que, segundo o Ministro Gilmar Mendes, se explica por quem manda mais, se o rabo ou o cachorro.
Para interpretar as forças e tendências do Oculto do Oculto num dado momento da sociedade é preciso ter uma visão do inconsciente coletivo e do conjunto dos inconscientes pessoais, representado pelos sentimentos e ideias reprimidas, desenvolvidas durante a vida dos indivíduos. O inconsciente coletivo é um conjunto de arquétipos ou conceitosprimordiais, que cada pessoa herda de seus ancestrais. Por exemplo, o medo de aranhas pode ser transmitido por meio do inconsciente coletivo. Mesmo no primeiro contato o medo de aranhas pode se manifestar de modo irracional, com falta de ar e até desmaio. Felizmente a “aracnofobia “(medo de aranhas), assim como a “catsaridafobia” (medo das baratas), podem ser vencidas com o aprofundamento dos conhecimentos sobre como lidar com elas. Na verdade, a pessoa não tem consciência de porque age de uma ou outra forma, mas herda uma predisposição para reagir ao mundo da maneira como que seus ancestrais reagiam. Este reservatório de ideias e sentimentos primitivos pode ficar adormecido por muito tempo, mas nas circunstâncias certas pode ser despertado e produzir estragos bem significativos, inclusive o preconceito, o fanatismo e o temido “efeito manada”.Um político sem escrúpulos pode soltar e instrumentalizar estes sentimentos. No Brasil, Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”, e Lula, o molusco dos Cafundós, se mostraram os mais hábeis manipuladores destes sentimentos obscuros que solapam a viabilidade de uma boa ordem social.
Colocadas estas preliminares, no mundo atual civilizado, os seres humanos vivem em ambiente social, politico e econômico que passa por grande transformação. Hoje a prosperidade é uma escolha ao nosso alcance. Quem quer que caminhe pala lógica e pelo bom senso pode aspirar satisfazer as suas necessidades e alcançar a realização plena. Como o atendimento destas necessidades não vêm ao homem prontas e acabadas, o psicólogo Abraham Maslow organizou uma hierarquia, a “Pirâmide de Maslow”, para demarcar uma sequência, um ordem, na conquista dessas necessidades do ser humano.
A Pirâmide de Maslow é dividia em cinco níveis de necessidades. Na base estão as necessidades fisiológicas e de sobrevivência, como a respiração, a sede, a fome, o sexo. Um degrau acima está a segurança e a defesa, depois as necessidades sociais, amizades e família. No quarto degrau estão a estima, a autoestima, a confiança e as conquistas. No quinto e ultimo degrau estão a auto-atualização, a criatividade, a autenticidade, a espontaneidade, a expressão artística
Vivemos em uma época em que, graças ao progresso, aos avanços da tecnologia e do conhecimento humano, seria possível a toda a humanidade sobreviver e progredir e, mais do que isto, subir aos mais altos degraus de sua realização pessoal desfrutando de abundância, sem necessidade de praticar o mal, piratear, tirar dos outros ou escravizar alguém; sem matar, nem roubar, enfim – o que é uma situação inédita da história o homem. O que é frustrante é observar que, no Brasil, ainda teimamos em trilhar os caminhos da ignorância, em cultivar valores bárbaros de uma sociedade de predadores. Enquanto os chineses seguem o ensinamento de Deng Xiaping, que diz que “ser rico é glorioso”, nós abominamos os ricos e fazemos a opção pela pobreza. Ora, ser pobre é fácil: basta ser indigente contumaz, basta agir com desprezo pelos conhecimentos da civilização e fazer como se faz em Cuba ou na Venezuela. Ou seja, pensar com pobreza e agir com pobreza faz a gente acabar pobre. Mas nossos “líderes” políticos, com algumas exceções, pouco estão se lixando em mudar o destino dos pobres. Eles não pensam em abrir caminhos que criem riqueza. Muitos tem pavor de que os pobres fiquem ricos e descubram a mediocridade de seus “líderes”, uma cambada de ignorantes de meia tigela, e lhes deem um merecido pontapé nos fundilhos. Como patifes que são, corruptos, bandoleiros e salteadores por alma e vocação, muitos se acumpliciam com o fim de enriquecer por pilhagem. Este o pano de fundo da realidade oculta com que temos de lidar. E por isto, no Brasil, é preciso ficar com os olhos bem abertos. Nesta terra onde canta o sabiá, os tontos estão ferrados e os bobocas vão se “daná”. Aqui a credulidade aleija e a ingenuidade mata. Não temos escolha. Precisamos educar nosso povo e criarmos defesas para nos protegermos dos vendilhões do templo.
Mas, então, estamos condenados a correr atrás do rabo séculos afora? Estamos condenados a esta vida miserável de criminalidade incontrolável, de corrupção sem peias, de mortes por atacado que vemos crescer à nossa volta e a tomar conta das franjas de nossa sociedade?
Não. De modo algum. Se nos unirmos todos, se voltarmos a empunhar nossas panelas, se sairmos em defesa da civilização como saímos para combater o petismo que nos afundou e enchermos as ruas com nossa determinação, venceremos o atraso.
O desafio está em desvendar a esfinge e compreender a natureza e o peso do Oculto do Oculto em nossa sociedade.
Precisamos identificar o inimigo para saber contra o que e contra quem lutar.
Talvez seja o caso de dizer como Pago, o personagem dos quadrinhos:“Encontramos o inimigo e ele é nós”…
Na verdade, o maior dos inimigos que enfrentamos são os que Hobbes identificou: o medo da morte violenta e da falta das coisas necessárias para uma vida digna. Somos uma sociedade acuada pelo medo. E o medo é mau conselheiro. O medo leva ao desespero, leva ao pânico, leva ao salve-se-quem puder. O medo leva à debandada, ao estouro da boiada. E sem um mínimo de ordem, estamos perdidos.
Lula, o grande mistificador, o mestre das trevas e ignorâncias, enganou o país dizendo que a “esperança venceria o medo”. Mentira, não foi a esperança que venceu o medo, foi o embuste. Foi o logro. Foi a enrolação. E por culpa de sua má fé e da arrogância de sua pretensão o Brasil, o Brasil mergulhou na maior tragédia de sua história. A pobreza, que nunca foi debelada, apenas mitigada por esquemas artificiosos e sem sustentação, volta ainda mais cruel. A desesperança volta a apertar os corações de nossa gente. Contudo, os brasileiros não querem abandonar a esperança e nem querem abandonar seus sonhos legítimos. Então cabe a cada brasileiro que tenha percepção de nossa tragédia e de suas causas, ajudar a mostrar que existe um caminho para a prosperidade. O que não existe é um paraíso instantâneo, uma solução mágica. É chegado o momento de fazer escolhas difíceis. De plantar as sementes de futuro, de adubar o solo com trabalho, com denodo e com justiça.
Os milhões que perderam seus empregos, os milhões que se vem abandonados nas filas dos hospitais, que perderam sua dignidade e que caminham pelas sombras da desesperança merecem destino melhor.
E então, que podemos esperar do Oculto do Oculto para 2018?
Considerando os fatos que preparam o cenário político e econômico para 2018 é possível olhar para as energias acumuladas e as frustrações e especular algumas possibilidades.
O cenário político, em especial, pode ter uma previsão sem erro: dificilmente as multidões, especialmente os desempregados e os mais jovens, vão aceitar serem jogadas ao relento. Especialmente depois de terem sentido o sabor das ruas e terem feito valer o peso de sua opinião no impeachment da Dilma.
O novo papel da Internet
Na década de 70, no século passado, Marshal McLuhan cunhou uma expressão que adquiriu nova atualidade com a Internet: “O meio é a mensagem”.
Ele queria dizer que a forma de como uma mensagem era transmitida criava uma linguagem própria e gerava uma relação simbiótica que influenciava a maneira como a mensagem é concebida e percebida.
O modo instantâneo como as mídias sociais “aceitam” ou “recusam” uma ideia permitem que as coisas aconteçam de forma também instantânea.
E neste processo de endosso ou recusa de uma ideia, elas acabam funcionando como um filtro do que as pessoas querem. Neste sentido o Vice-Primeiro Ministro de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, acredita que as mídias sociais e a Internet estão criando uma “Mão Invisível Social”, com impacto equivalente à “Mão Invisível da Economia” de Adam Smith.
– O alcance da mensagem, que tem uma amplitude incomparável;
– A velocidade com que impacta os acontecimentos;
– A dispersão dos comunicadores por todo o universo de usuários. Quem quer que queira comunicar algo tem como fazê-lo de forma direta
– O usuário desta mídia aprende a separar a notícia boa do “Fake News”;
– O custo irrisório desta mídia faz com que esteja ao alcance de milhões de pessoas, permitindo alcançar massa crítica de comunicação rapidamente.
Conclusão: a eleição de 2018 deverá ser uma montanha russa de emoções. Fatos novos deverão surgir e mudar o cenário em curtos intervalos. Mas o grande quadro do “Oculto do Oculto” continuará como um oceano de conteúdo que acabará por fazer prevalecer suas tendências mestras. A volta do pensamento conservador é um fato. Se vai, ou não, empolgar o voto jovem depende da forma como vai ser apresentado. Se vier a bordo de um projeto de país alinhado com a Revolução 4.0, que mostre um caminho de prosperidade com as novas tecnologias, vai ser como um tufão que empolgará a imaginação do país, como aconteceu com o governo de Juscelino, que se tornou invencível com a lançamento da indústria automobilística e de Brasília. E aqui não faço análise de seu valor ou conveniência.
E os temas?
Os temas para a eleição de 2018 ainda não foram colocados. Assim, as escolhas ficam na dependência de muitas incógnitas. Especularia com alguns cenários possíveis:
Primeiro: – Lula condenado
A escolha de 24 de janeiro para o julgamento de Porto Alegre prenuncia disposição para a condenação. Se Lula for condenado, vamos assistir ao maior espetáculo de esperneio da história. Mas janeiro é o mês de morte da política. O pessoal de férias, as praias cheias, o carnaval se avizinhando, tudo isto significa repercussão morna, qualquer que seja o resultado.
Para o país, Lula fora do páreo significa arejar o ar e mudar o disco. Fecham-se as cortinas do passado petista e encerra-se a agenda de conceitos medievais em que se baseava. Significa abrir uma nova senda, introduzindo o retorno par o futuro no debate. Caso não seja condenado ou, mesmo condenado, conseguir manobrar para continuar candidato, o debate seria dominado pelo mofo de um retorno a um passado que não deu certo, Pior, as forças contra o petismo iriam correr atrás dos galinheiros que existem ao montes por aí. E voaria pena para todo lado. Uma nova leva de revelações da Lava Jato se encarregaria de cortar as asas do candidato. Não tem erro. Ainda tem muita falcatrua a ser descoberta e muita corrupção a aflorar. O país sofreria um novo abalo.
Segundo: A reforma do previdência passa?
No atual quadro, dificilmente. Os deputados teriam que ser confrontados pelas forças vivas da sociedade. Empresariado, especialmente, que é o grupo com visão estratégica e que tem noção de onde vamos parar seguindo nesta loucura. Mas nosso empresariado não é do tipo confrontador. Do setor financeiro, que tem desfrutado de opulência e lucrado mesmo na crise, não deve vir nada.
Mas, e a economia aguenta? Os políticos parecem dispostos a pagar para ver. Se a reforma da previdência não passar, esta tímida recuperação da economia vai ser um voo de galinha adoentada. Lembrem-se: a economia não se defende. Ela se vinga. E sua vingança será maligna. Imaginem uma nova onda de crise, nova queda de avaliação das agências de rating, nova queda de investimentos, um aumento do desemprego, uma inflação em retomada em plena campanha. Existe, contudo uma compensação para alegria dos sádicos: uma demora maior vai significar um rombo maior e, quando a sociedade decidir cortar de vez os privilégios, mergulhada na bagunça e no descontrole, o corte será mais profundo e radical. Se os privilegiados tiverem bom senso vão preferir perder os anéis para salvar os dedos. Melhor mudanças sob controle do que com a faca no pescoço. Hoje, a mudança seria pacífica e ainda asseguraria alguns privilégios. Mais à frente, poderá não ser.
Terceiro: Ressurge o anseio por um governo “forte”, militar.
Bolsonaro é o nome dele. Mas Bolsonaro tem perfil de um sargentão. Dificilmente sua política de “prendo e arrebento” vai conquistar a maioria. E outra coisa, Bolsonaro é um rústico em economia. Sua visão de manter o estado presente na economia é igual a do PT, e é nas estatais que começa a corrupção.
Quarto: Surge um movimento pelo novo.
Existe um grande anseio pelo diferente, pelo novo. Mas poucos se dispõe a um salto no desconhecido. A melhor prova disto foi o que aconteceu com o Dória. Se ele, que tem o melhor perfil entre todos os possíveis candidatos “novos” não decolou (acho que ele não seria candidato para valer, dado seus compromissos de lealdade com o Alckmin e com a Opus Dei); e nem o Luciano Huck, que seria o “outsider”, é pouco provável que venha a ser a vertente dominante.
Quinto: A opção pela continuidade
Temer tem zero chance, mas Henrique Meirelles até poderia ser a continuidade, caso o governo Temer virasse a economia. Foi a economia e o Plano Real que elegeu FHC pela primeira vez. Infelizmente, as chances de uma reversão econômica para valer já estão comprometidas. O congresso liquidou com as reformas e uma reforma meia boca em março não irá produzir grande mudança. Meirelles parece acreditar em suas chances, no que faz muito bem, contudo ele precisaria de um “banho de loja” radical para ser visto como competitivo.
Sexto: A escolha segura
Depois de tantas reviravoltas o eleitorado cansou de girar feito pião. E o candidato que melhor veste o figurino da segurança é o Governador Geraldo Alckmin. Se for capaz de neutralizar a rejeição a uma “solução paulista” de parte do eleitorado “dor de cotovelo” que tem por todo o país, e se for capaz de articular um projeto de país que aponte para o futuro, ganha fácil.
O “timing” vai escrever o roteiro
A campanha, que já está iniciando, entra em banho-maria até março. O Brasil nunca se mobilizou antes do carnaval. Nenhuma revolução, ou grande evento político, teve impacto antes do “Triduo de Momo” no Brasil. O julgamento de Lula vai mexer apenas com seus seguidores mais fiéis. A maior parte do país nem vai tomar conhecimento.
Ele lidera as pesquisas? Sim. Neste momento, como seria de esperar, ele concentra o apoio da esquerda e do pessoal do pântano. Só que as pesquisas já mostram todo o seu potencial politico. E não é suficiente para ganhar um eleição em segundo turno. Ponto.
O evento mais importante do primeiro semestre será a votação da reforma da Previdência. Dela vai derivar todo o desdobramento a ser observado na economia, com reflexos na política. Se for aprovada, criará um clima de otimismo que vai dar uma lufada de ar fresco na economia e no humor do país. Se for recusada, ou adiada para o dia de “São Nunca”, o clima de desalento pode gerar turbulência e, aí, será bom por as barbas de molho.
Faço votos de que 2018 seja auspicioso para todos.
De onde menos se espera, de lá é que não sai nada mesmo.(Apparício Torelly, o “Barão de Itararé”)
O fato é que o Brasil é um país único. Um país sui generis, que dá um tiro no pé e depois reclama que está difícil de caminhar.
Em certo sentido, somos especiais. Temos uma natureza privilegiada e um potencial inigualável. Somos o quinto maior território e a quinta população do mundo; temos 200 milhões de hectares de terras agricultáveis e mecanizáveis; somos campeões no agro negócio; fabricamos aviões como gente grande; nossa economia é a nona do planeta (mas já foi a sétima). Em contrapartida, gostamos do atraso. Somos afeiçoados mesmo. Basta dizer que ocupamos um obsceno 80º lugar no Ranking Mundial de Produtividade. (E olha que melhoramos uma posição em relação ao ano passado!). É vergonhoso dizer, mas o crescimento da produtividade no Brasil foi, segundo a CNI, de 0,6% ao ano, entre 2002 e 2012. Na Coréia do Sul, no mesmo período, o crescimento foi de 6,6% ao ano. O que o Brasil levou 10 anos para crescer a Coréia do Sul cresceu a cada ano. Em compensação, nosso salário real continuou a subir muito acima da produtividade – cresceu 1,8% ao ano – e como desgraça pouca é bobagem, tivemos a maior apreciação da moeda doméstica – o Real valorizou-se a uma taxa de 7,2% ao ano, jogando água em nossa competitividade.
E bota anacronismo nisso!
Em resumo, somos um fenômeno de anacronismo. Grande porção do país ainda vive mergulhada no atraso. Temos regiões onde grassa o coronelismo colonial e onde ainda vicejam crenças da idade média. Quarenta anos depois ainda somos um “Belíndia”, como definiu Edmar Bacha em seu ensaio de 1974, referindo-se a um Brasil com áreas de desenvolvimento Belga convivendo com outras de pobreza indiana.
O que assombra é que aceitemos um sistema que favorece os trapaceiros da política. Nosso regime político foi desenhado como um queijo suíço, com buracos para facilitar a corrupção. Os privilégios e as mordomias são espantosos. A desfaçatez é escandalosa. É assombroso que aceitemos engolir este presidencialismo de “coalisão”, que cheira a quadrilha e que nos mantém em crise permanente.
Infelizmente, somos presa fácil dos demagogos e charlatães da política. O propósito de enricar com dinheiro público, desviando do erário, sempre foi a grande motivação de grande parte dos políticos brasileiros, notadamente os dos grandes grotões do norte e nordeste, regiões em que a política é a maior atividade econômica. E é nelas que reside a grande reserva nacional de atraso. É contando com elas que Lula e sua trupe de bucaneiros, aventureiros, corruptos, saltimbancos e malabaristas sonha em voltar ao poder. Ameaça vã, que o país rejeita, como os rejeitou com o impeachment da Dilma, mas que ainda move suas mentes peçonhentas.
Seremos, como Sísifo, condenados a combater a corrupção por toda a eternidade?
Nossa leniência nos faz vítimas recorrentes. A cada geração os brasileiros tem precisado mobilizar-se contra os piratas da política em nosso país. Jânio, em 1960 prometia varrer a corrupção. Seu símbolo era a vassoura. Os versos de seu jingle “Varre, varre, varre, varre vassourinha / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já ‘tá cansado / De sofrer dessa maneira” empolgaram o país. Era o que o povo queria ouvir. Mas ele avaliou mal, preferiu dar um golpe no congresso acreditando que o povo ficaria do seu lado e se deu mal. Veio Jango e os comunistas se assanharam. O povo pediu e os militares botaram os comunas para correr. O governador Brizola, genro de Jango, o mesmo que, depois, institucionalizou a criminalidade nos morros do Rio de Janeiro, fugiu para o Uruguai vestido e mulher. Coisa de “coração valente” e vergonha pouca. Tivemos ainda o Collor, que prometia acabar com os “marajás”. Pilantra e sacana, até hoje, se refestela com dinheiro público. Pouco tempo atrás se descobriu que sua mansão em Brasília, a “Casa da Dinda” é mantida com verbas do senado. Se bem que é coerente: é preciso bem conservar a frota de carros de luxo, um Lamborghini Aventador (R$3,2 milhões); uma Ferrari 458 (R$ 1,4 milhão) Uma Bentley Flying (R$ 975 mil), e um Range Rover (R$ 570 mil), que a PF diz terem sido pagos com recursos de propina, e que, mesmo assim, estão sob a “guarda” do senador por Alagoas, o mesmo estado do notório senador Renan Calheiros.
Enfim, não fosse nossa leniência, de que outro modo explicar a resignação com que engolimos 13 milhões de desempregados e 5 milhões de empresas sufocadas e inadimplentes neste país fantástico onde jorra leite e mel? Tínhamos que estar indignados. Tínhamos que estar enfurecidos. Tínhamos que estar na ruas.
Acontece que nossa índole é de povo manso. De povo dócil. Acostumado a engolir desaforos sem piar. A ser açoitado no tronco sem gemer. Esta passividade é nosso mal. Os políticos corruptos e os habitantes do pântano do planalto contam com ela. Eles, os políticos corruptos que pululam em Brasília, estão agora mesmoplanejando um novo golpe na decência. Pensam em enfiar goela abaixo do país uma nova legislação para dificultar o combate à corrupção. Os paspalhos acham que vai dar. Que não estamos atentos. Acham que o impeachment de Dilma foi uma exceção causada pela inabilidade da dita cuja, cujos erros foram além da conta. Erros que eles, mais ladinos, mais malandros, mais “espertos”, não tencionam repetir.
Penso, entretanto, que laboram em erro crasso. Querem continuar mamando e corruptando. Desafiam a paciência da nação. Brincam com fogo e com o país e vão sofrer as consequências.
…
Exorcizando o erro
O que entristece é que temos tudo para dar certo. Ainda assim nossos políticos teimam em cometer desatinos, em perseverar em erros históricos, em flertar com os desacertos que são a razão de nosso atraso.
Mas, então, por que insistem em fazer errado?
A razão é simples: fazem errado porque fazer errado tem sido um bom negócio. Porque a ocasião faz o ladrão. Porque preferem se locupletar sem esforço.
E por que não mudamos o regime e passamos a fazer o que é certo?
Bom, aqui podemos voltar ao perspicaz Barão de Itararé, “Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”.
Para começar, o que está errado no Brasil é que as elites do atraso é que comandam o país. E estas não querem mudar. Fingem que mudam, mas só de mentirinha. Felizmente, para as gerações jovens, estão envelhecidas e no seu ocaso. Infelizmente, delas não se pode esperar mais nada.
Vejam o governo Temer. O presidente está mais para um caricatura do que para um estadista. Seus ministros são mais sinistros do que ministros. O congresso é mais um convescote de predadores do que uma instituição a serviço do país.
Mas ainda assim, não duvide, o Brasil vai mudar. Afinal, nada levanta um traseiro mais depressa que fogo em baixo do banquinho!
O tsunami que o governo do PT/PMDB produziu no Brasil apresenta números de estarrecer. Após três anos andando para trás, o brasileiro ficou 10% mais pobre. E o estrago ainda perdura: 7 mortes violentas por hora (por hora!), bilhões desviados por corrupção, criminalidade nas alturas, angústia e sofrimento generalizados. Até nossa proverbial fleuma tropical vem perdendo a paciência. E os brasileiros, chamuscados, cansaram das labaredas queimando sob seus banquinhos. Até porque, convenhamos, a pilantragem que nos esfola passou dos limites.
Bem, mas o que fazer?
Deixar como está para ver como é que fica não é opção. Precisamos reconhecer que nossa democracia não é funcional. E que temos que mudar nossa forma de fazer politica.
Três passos fundamentais para desatar o nó que prende o país ao atraso:
1. Mudar a eleição da Câmara de Deputados do sistema proporcional para o distrital. Parece pouco, mas o efeito é mágico. 80% destes deputados não se elegeriam no sistema distrital. Os partidos se reduziriam naturalmente a três ou quatro. O sistema distrital muda a forma e a lógica da escolha. A eleição em um distrito mobiliza as forças locais. Os candidatos saem da comunidade e são escolhidos e apoiados por gente que os conhece. Pode ser um professor, um empresário, um clérigo, um médico. Mas dificilmente será um rufião, um safado, um corrupto, um palhaço. A comunidade saberá distinguir entre um candidato sério e um pilantra.
2. Mudar para o sistema parlamentarista. Um parlamento eleito pelo voto distrital tende a agir pensando no melhor para suas comunidades e para o país e não no melhor par si mesmos. Este compromisso com seu país e seu povo pode ser observado na maioria dos países do primeiro mundo. Todos parlamentaristas, exceto os EUA, onde o presidencialismo também vive em crise permanente. Engraçado que esta gente que tanto detesta os americanos foi copiar exatamente o que os EUA tem de errado.
3. Reequilibrar a representação na Câmara dos Deputados. Não é democrático que o voto de um roraimense valha dez vezes o voto de um paulista. Esta desproporção afeta a representatividade do sul e desequilibra o parlamento, onde a maioria do norte e nordeste se especializou em tirar proveito dos estados do sul. Isto não é saudável e não se sustentará no longo prazo. Infelizmente este desequilíbrio foi produzido no governo militar por um general metido a gênio, mas nada democrata, o “bruxo” Golbery do Couto e Silva, que dizia: “São Paulo já tem o poder econômico, então não pode ter o poder político”. Esta tese é antipatriótica ao extremo. Ela pressupõe que os outros estados estão condenados a serem pobres eternamente. Ademais, esta aberração, além de antidemocrática é preconceituosa e precisa ser corrigida.
Estas correções sistêmicas vão ocorrer. Por bem ou por mal. A mudança de gerações no Brasil sempre foi traumática, dado que os mais jovens sonham com uma revolução, mas o que recebem é a conta deixada pelos mais velhos. Os déficits colossais do atual governo vão ser empurrados para os jovens. E eles serão sacrificados na crença de que “bom cabrito não berra” ao ser morto e esfolado. Será? Os jovens brasileiros vão se deixar esfolar sem berrar? Duvido.
E de distorção em distorção, nossa política insana construiu um sistema político perverso, aberrante, concebido e desenhado para não dar certo.
Somos uma obra prima do atraso
O resultado é que temos hoje uma obra prima do atraso, uma obra prima do compadrio. Um regime feito sob medida para favorecer a corrupção. Não temos uma democracia de verdade. Os brasileiros não se sentem representados. O que temos é um arremedo de fancaria, uma alegoria que acoberta um balcão para negociatas.
Só que os tempos mudam. O tempo das ilusões acabou. As novas gerações não vão aceitar pagar a conta das estripulias das gerações perdulárias que as antecederam. E vão querer mudar as regras do jogo, por bem ou por mal, como outras o fizeram antes. Cansaram dos piratas de cara de pau, dos políticos incompetente e corruptos, dos idiotas, patetas, palhaços e trapalhões que o voto proporcional elege.
A sociedade mobilizada e o povo nas ruas começaram por demolir a república petista. Mas não se mobilizou para entregar o poder a Temer e seu bando de espertalhões. Não foi para isto não!
Outra coisa: muito se engana quem pensa que o povo enfiou a viola no saco e sossegou. O povo agora tem a internet e está equipado com as mídias sociais. O burburinho online mostra que está mais atento e mais bem informado do que nunca. O povo pode ainda não saber bem o que quer, mas sabe com clareza o que não quer. O povo cansou de estripulias e vem rejeitando os demagogos e rufiões. E não quer mais do mesmo. Cansou de ser o bode que não berra e engole a corrupção, a indecência e a grossa burrice do regime que temos.
O debate está apenas começando. E a internet vai ser a nova ferramenta de mudança. A mão invisível da mídias sociais vai fazer a diferença.
Ano que vem tem eleições. Preparem-se porque vai ser um vendaval. E aposto que vamos debater e esconjurar a corrupção. Chegou a hora de virar a página. Chega de atraso, que ninguém merece.
Ceska – O digitaleiro
(*)PS. – Como se sabe, Sísifo, na mitologia grega, foi condenado, por toda a eternidade, a rolar uma grande pedra de mármore até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que estivesse quase alcançando o topo, a pedra rolava montanha abaixo novamente até o ponto de partida, invalidando todo o esforço despendido.
“Queremos ir ao Céu, mas não queremos ir por onde se vai para o Céu” – Padre Vieira
Uma metamorfose mudou a natureza da crise brasileira. Saímos da décrisis e agora estamos em uma sincrisis. Resta ver se esta metamorfose vai também mudar o Brasil.
Como se sabe, os gregos dividiam a crises em dois tipos: a décrisis e a sincrisis.
Por décrisis entendiam o tipo de crise em que as coisas vão piorando até colapsar ou explodir de vez. Até que se dê a ruptura do status quo. É a crise dominada por forças desagregadoras que se entrechocam, rompem a coesão interna e, por fim, dilaceram o organismo ou a sociedade onde se instalam. Foi o que aconteceu com o regime do PT e o “governo” da “Presidenta” Dilma. A queda da Dilma foi o ponto da inflexão. Foi o momento em que se deu a metamorfose e a décrisis se transmudou para sincrisis.
O PT havia se convertido na intersecção da corrupção, do acesso ao dinheiro sujo e ao poder político desvirtuado. Abandonou seus propósitos moralistas quando se deixou tomar pela ganância sôfrega, pela ambição sem peias, enfim, quando mandou os escrúpulos às favas. Ao decidir “comprar” tudo e todos entrou numa aventura doida demais. Apostou contra o Brasil e perdeu o jogo. Convém lembrar, entretanto, que os comunas e a esquerda profunda desprezam a moral burguesa e acham que o capitalismo é ilegítimo, o que justifica tirar dos que tem e do governo. Acreditam que não se trata de roubo, posto que, para eles, os fins justificam os meios. Quanto ao povo, nosso ingênuo e crédulo povo, este se tornou vítima da espoliação e foi escalado para cobaia da tal “nova matriz econômica”, um experimento grotesco de “moto perpetuo” na economia.
A economia não se defende. Ela se vinga!
Foram desmandos e mais desmandos, mas o fato é que o PT, ébrio de cobiça, inescrupuloso e sem noção, não aprendeu que a economia, assim como a natureza, não se defende. Ela se vinga. Não tem discurso que anule a melancólica realidade: não existe “almoço grátis”. O PT, contudo, deu de ombros. Continuou a gastar sem limites e a agir como o selvagem de Montesquieu, aquele que derruba a macieira para comer a maçã. Só o despreparo, a imaturidade basbaque e a cretinice rotunda da mal informada Dilma para achar que “fazer o diabo” para ganhar a eleição não teria consequências. Teria e teve.
A farra da gastança desregrada, a roubalheira desenfreada, a corrupção sistemática, o voluntarismo inconsequente, a arrogância e a prepotência foram ingredientes que entraram na décrisis petista e tornaram o Impeachment da Dilma um fato irreversível. A implosão final de seu governo era prenunciada pelo cheiro de enxofre no ar. Quem tinha um mínimo de pudor se afastava. E o crescimento do tumor da décrisis ia assustando todo mundo. No final os estertores do governo petista foram um espetáculo dantesco. Formou-se uma unanimidade anti-Dilma. Todos, menos um “resti di galera”, um grupelho de debilóides, perceberam que era questão de vida ou morte. Ou tiravam Dilma ou afundariam todos.
O mais notável é que a nação em si não correu o risco de colapso. A economia sofreu, e ainda sofre, claro. É sempre mais fácil destruir do que construir. Mas as instituições, bem ou mal, funcionaram, funcionam e vem dando conta do recado. Por seu lado, a sociedade civil se mobilizou, enchendo as ruas e cobrando providências. Os milhões na rua davam clara demonstração de que estavam atentos e tinham reservas cívicas para encaminhar o fim da crise. Outro ponto positivo é que as forças armadas não precisaram entrar no processo de colocar ordem na casa. Mas seu silêncio sinalizava que estavam alertas e prontas. Se as coisas fugissem ao controle, agiriam. Não tenham dúvida.
E agora, o que vai ser?
Estamos em uma encruzilhada e a eleição de 2018 vai dizer para onde vamos.
Pela definição dos gregos, a fase da crise em que estamos mergulhados agora tem os contornos de uma sincrisis.
E toda a sincrisis começa com uma catarse, a purgação ou purificação por que deve passar a sociedade para reencontrar seu eixo moral. Trata-se do processo de contrição e expiação que abarca políticos, servidores e empresários corruptos, mas não se resume a eles. Os brasileiros que votaram para eleger Lula e Dilma (e que, de contrabando, também elegeram Temer) igualmente precisam fazer o mea culpa. Este processo catártico é doloroso e requer grande dose de equilíbrio para que não se jogue fora o bebê com a água do banho. É preciso punir os culpados e rever procedimentos, mas deve ser depurado e aproveitado o que possa ser recuperado.
A grande incógnita: o comportamento dos eleitores em 2018.
Eleições tem a ver com escolhas. E com propostas.
E como sabem os que lidam com pesquisas de opinião, a escolhas em uma eleição tendem a ser guiadas pelos vetores dominantes no debate social.
O debate, a rigor, já começou. As mídias sociais são o fator novo no grande debate e terão pesodecisivo. Os vetores do debate tendem a cristalizar-se em volta das opiniões dominantes e vão balizar as alternativas disponíveis. Os grupos sociais, estimulados pelo debate, vão fazer sua escolhas e apoiar as propostas mais em consonância com seus interesses. As mídias sociais vão filtrar e sedimentar o sentimento nacional. E vão apoiar a economia de mercado e respaldar o sentimento anti-corrupção. Aliás, já vem fazendo isto…
Dois temas dominantes: a economia e a corrupção.
A questão da corrupção vai ser importante, sem dúvida, mas a economia deverá ser o mais importante dos temas da eleição.
O eleitorado, hoje mais amadurecido, parece ter aprendido uma lição com a degringolada do governo petista. A lição é que, no final, nós é que pagamos a conta. E que governar não é fazer mágica. Governar é agir pesando as consequências e pensando no bem geral.
Mas sabemos que ainda tem muita gente que vai apoiar os demagogos. Ainda tem gente que acredita em Papai Noel e que existe um jeitinho malandro de obter benefícios sem pagar a conta.
E, ao fim e ao cabo, todo o debate vai, mais uma vez, girar em volta do dilema proposto pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta: “Ou nos locupletamos todos, ou implante-se a moralidade.”
Se der a lógica, se decidirmos ser um país sério, o melhor candidato para a presidência deverá ser um político experimentado, comprovado, bem intencionado, sério e bem avaliado. Hoje, em minha opinião, o melhor nome que o país tem é o do Governador Geraldo Alckmin. Afinal, é consenso de que o estado melhor governado do país é o de São Paulo. E seria lógico, portanto, imaginar que o país todo desejasse ser como São Paulo. Mas não tenhamos ilusões. Vai ter quem prefira a mediocridade. Vai ter quem prefira turvar as águas para continuar tirando vantagens e nadando na malandragem.
É doloroso reconhecer, mas nosso debate político ainda vem patinando em ideias dos anos cinquenta do século passado. Ainda assim, o movimento pendular de nossa história nos dá esperanças. Jânio prometeu varrer a sujeira e sua vassourinha. Empolgou a nação, conquistou o imaginário nacional e ganhou a eleição. (Sua renúncia foi uma traição ao seu eleitorado…). O movimento militar veio apoiado pela maioria da sociedade e prometeu um governo sério. (Em 20 anos acabou desgastado, mas hoje todos reconhecem que foi sério e fez muito pelo país.). Collor ganhou prometendo acabar com os Marajás. (Revelou-se um engodo. Ele virou o Rei dos Marajás. Teve sua décrisis, foi impichado, mas foi seu vice, o Itamar Franco, que assumiu e fez o Plano Real.). Fernando Henrique Cardoso se elegeu prometendo fortalecer o Plano Real. (Cumpriu o que prometeu e entregou um país arrumado ao Lula.). Lula, que parecia ser gente boa, foi nossa recaída no populismo. (Sua “carta aos brasileiros” foi apenas mais uma mendacidade de um mentiroso contumaz.). Quanto a Dilma, ela não passou de uma pedra no caminho, de um poste eleito por um marketing charlatão.
Resumo da ópera: sim, dá para ter esperanças. Mas, no fundo mesmo, o que vamos decidir na eleição de 2018 será se aqui, na Terra de Santa Cruz, o crime ainda vai compensar ou se, de uma vez por todas, vai deixar de compensar para sempre!
O Plano Real 1.0 – A Estabilidade – Promoveu a estabilidade da moeda e livrou o Brasil de uma inflação crônica que parecia invencível. O êxito inconteste deste plano deu novo alento ao país e assegurou mais de uma década de prosperidade, além de ter vacinado o país contra a inflação. Os efeitos do Plano Real 1.0 vem perdurando e abarcam toda a sociedade. Hoje o Brasil é unânime em dizer: “Inflação Nunca Mais”.
Agora precisamos de um Plano Real 2.0 – A Decência – para vencer a corrupção. Este mal chegou a um nível de infecção generalizada e compromete todas as instituições do país. O executivo está atolado em escândalos e o presidente só escapou de ser processado por negociar no congresso apoios despudorados e por exercer o presidencialismo de cooptação em sua plenitude mais viciosa. O congresso, para juntar o insulto à injúria, vêm com esta proposta que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), considera um “desaforo”: a criação de um fundo público com R$ 3,6 bilhões para financiar campanhas. Os escandalosos salários e vantagens de altos dignitários do executivo, do legislativo e do judiciário são um escárnio diante das dificuldades e carências do país e mostram que os escrúpulos simplesmente desapareceram do três poderes. Desalentado, o país se vê vitima de absoluto desrespeito, sofre com seus 13 milhões de desempregados e vê milhões de cidadãos lutando para sobreviver em meio a maior crise da história, enquanto enfrenta carências de toda a ordem, na saúde, na segurança pública, nos transportes, na educação e em tudo o mais.
Em paralelo, o congresso, de composição medíocre, da qual se salvam alguns poucos, se mostra incapaz de oferecer qualquer perspectiva para o país. Mergulhado em profunda perplexidade, parece caminhar às tontas.
A Indignação em ponto de erupção
Existe um nível elevado de indignação na sociedade brasileira. E se a população não está nas ruas isto não significa que está aceitando o atual estado de coisas. Não está. E não se enganem, se a população não está nas ruas é porque não quer protestar só por protestar. Uma vez afastado o perigo mais imediato, que era o desvario da ex-Presidente Dilma, a população está se guardando para sair em apoio a uma causa que valha a pena. Poderá ser uma ideia. Poderá ser um líder. Mas é no vazio de alternativas que mora o perigo. Assim, antes que as multidões se deixem seduzir por algum maluco ou aprendiz de incendiário é preciso oferecer um projeto de moralização do Brasil. Um plano bem estruturado e bem orientado, que una e motive as pessoas. Um Plano Real 2.0, que continue a transformação virtuosa do Plano Real 1.0 e agora se oriente para a moralização do país. Um plano que tenha as virtudes do Plano Real 1.0, como bom planejamento e implementação equilibrada. Um plano, enfim, que tenha o sincero propósito de implantar uma nova cultura de decência no Brasil.
E assim como o Plano Real 1.0 trouxe para o Brasil as boas práticas da gestão monetária adotadas no primeiro mundo, o Plano Real 2.0 deveria se espelhar nas melhores práticas políticas dos países democráticos do primeiro mundo. Chega de jabuticabas. Está na hora de acabarmos de uma vez com esta mania de tentar reinventar a roda a golpes de parvoíce.
Plano Real 2.0 – FHC deve ser o líder.
Precisamos vencer o dilema que nos amarra à mediocridade: “Somos corruptos porque somos atrasados ou somos atrasados porque somos corruptos?”
Vencer e afastar a corrupção é a tarefa prioritária da nacionalidade. Chegou a hora de ouvirmos o que Sérgio Porto, o imortal “Stanislaw Ponte Preta”, dizia ser a nossa escolha: “Ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade.” E alertava para o fato de que, se fizéssemos a primeira opção, o planeta não teria dinheiro suficiente para saciar a voracidade de nossos corruptos.
Felizmente o Brasil tem o homem certo para liderar a formulação de um Plano de Moralização e produzir um consenso na sociedade brasileira. O Presidente Fernando Henrique Cardoso já provou que sabe conduzir com bom senso e equilíbrio um plano capaz de mudar fundamentos equivocados do país. FHC já prestou muitos serviços ao pais, mas o Brasil deve pedir mais este serviço ao Presidente do Real. Ao líder que resgatou nossa moeda, que acabou com nossa inflação alucinada, pediríamos que formulasse as diretrizes para o Plano Real 2.0, o plano que teria a finalidade de encaminhar as mudanças no rumo da moralização e da modernização de nossas instituições.
Evidentemente, uma vez feito o plano sob liderança de Fernando Henrique Cardoso, caberia a sociedade apoiar as mudanças constitucionais necessárias e ao eleitorado escolher o executor da grande transformação do país.
De minha parte, acredito que o político mais provado, experiente e capaz de liderar a implementação do plano seja o governador Geraldo Alckmin. Sua administração em São Paulo é evidência de sua capacidade como realizador. E sua liderança firme e de pés no chão é o tipo de liderança que um plano como este precisaria para ser bem sucedido. Um plano sólido, implantado com base no bom senso e em práticas comprovadas nos países de referência democrática, seria capaz, finalmente, de nos livrar da praga da corrupção e de levar o Brasil a cumprir, finalmente, seu destino de grande país. E que teria orgulho em proclamar: “Corrupção no Brasil, nunca mais”!
…
PS. Diversos comentários questionam como um Plano Real 2.0 poderia se contrapor às mudanças da tal “reforma política”, ora em gestação no congresso. A resposta está na “Lei de Camões” (Como escrita em “Os Lusíadas”):
“Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta”
Se houver apoio popular suficiente, o mundo político encontrará os mecanismos legais para fazer valer o Plano. Uma nova musa que se levante sempre irá deslocar a antiga.
Era o melhor correio do mundo. O povo todo confiava. Tudo funcionava como um relógio. O presidente da instituição, um sergipano “porreta”, tinha uma máxima que virou um mantra: “correio é horário”.
Os outros países, acostumados com a malemolência brasileira, no começo ficaram pasmados com a transformação daquele correio vira-latas. – Seria o “super-homem”?– Depois, ainda incrédulos, se perguntavam como podia existir um correio daquele calibre no país das maracutaias, da selva amazônica, do sertão profundo, do pantanal intransponível, das estradas intransitáveis? Finalmente, se renderam. No Correio do Brasil, o homem que mandava sabia das coisas. Não demorou e a surpresa virou admiração. O respeito internacional cresceu tanto que logo chamaram aquele mago das cartas e encomendas para mostrar como se faz um correio funcionar.
Em 1984, no Congresso de Hamburgo/Alemanha, o Presidente da ECT, Coronel Eng. Adwaldo Cardoso Botto de Barros foi eleito Diretor Geral (Presidente) da UPU – União Postal Universal. A UPU é o órgão da ONU, com sede em Berna, na Suíça, que regula e organiza os correios de todo o planeta. Era o reconhecimento do mundo pela competente transformação nos Correios do Brasil. E tão operosa foi a gestão do Coronel Botto na UPU que a entidade lhe garantiu a reeleição por mais 5 anos, em 1989.
De minha parte, conheci bem o Coronel Botto. Tudo começou quando ele ainda dirigia o Correio de São Paulo, conduzido ao cargo por indicação pessoal do Presidente Castelo Branco.
Eu, em meus verdes vinte e sete anos, trabalhava na antiga AEG Telefunken, onde atuava na área comercial de equipamentos de rádio comunicação em SSB. Estes rádios funcionavam em ondas curtas e usavam apenas meia banda, o que os tornava mais leves (para a época…) e podiam ser instalados em estações fixas ou em veículos, como caminhonetes, ônibus e embarcações. Também podiam ser usados para fonia ou para telegrafia sem fio. Neste último uso, combinando diversas frequências para compensar variações de propagação, eram tão confiáveis quanto a telegrafia tradicional, com fio de cobre.
Um dia, acho que foi em agosto de 1971, logo cedo, ao chegar no escritório que ficava junto ao parque industrial da empresa, instalado em grandes prédios na Avenida Nossa Sra. do Sabará, em São Paulo, a secretária me passa um telefonema:
– Está no telefone uma pessoa que se diz diretor do Correio e quer falar com alguém da área comercial.
– Ok, pode passar a ligação.
Do outro lado da linha ouvi o Coronel Botto, embora naquele momento não soubesse de quem se tratava.
– Bom dia. Sou Celso Skrabe, consultor da área de rádios SSB.
– Bom dia. Meu nome é Adwaldo Botto, mas todos aqui me conhecem como Coronel Botto. Sou o diretor dos Correios aqui em São Paulo e gostaria de saber se vocês teriam condições de nos emprestar dois rádios SSB no período das férias de verão. Podem ser rádios usados ou de demonstração.
Eu fiquei intrigado. Sabia que o correio não usava rádios para seus serviços de telégrafo. Era uma coisa que já me havia chamado a atenção e que eu atribuía ao nosso atraso tecnológico. Na verdade, eu já tinha fornecido rádios para a Funai, para a FAB e outras instituições que os usavam para comunicação na selva e que, frequentemente, faziam o envio de mensagens da população local. Estas instituições, contudo, reclamavam, já que não tinham infraestrutura para entregar as mensagens aos destinatários. Para fazer o envio precisavam repassar os telegramas para o Correio, acarretando demora desnecessária em mensagens urgentes e ônus para as instituições.
Enfim, fui em frente:
– Bem Coronel, se eu entendi certo, o que o senhor quer é que emprestemos dois rádios SSB no final do ano, de novembro a março. Seria isto?
– Sim. Eu gostaria de instalar um dos rádios em Ubatuba, no litoral, e outro aqui em São Paulo para fazermos um teste para nossa área de telegrafia. Hoje não temos um único telégrafo instalado no litoral paulista. Em nenhuma cidade. E, durante as férias, a população cresce muito e reclama da falta de comunicação. E, para piorar, as cidades do litoral também não tem telefone. Ubatuba tem apenas uns poucos telefones públicos e a espera de uma linha para uma ligação, nos meses de verão, pode levar horas. Ir de ônibus é mais rápido do que telefonar. Na alta estação demora duas, três, as vezes quatro horas.
Era verdade. Quando iniciou o governo militar, em 1964, as comunicações no Brasil eram uma coisa medieval. Este estado de coisas ainda perdurava no início da década de 70. Me pareceu, desde logo, que meu interlocutor queria fazer algo para amenizar isto.
Respondi então:
– Posso verificar se temos equipamentos disponíveis e preciso consultar nossa diretoria para saber se podemos atender. – E lembrei de um detalhe – Se eu conseguir os rádios, o correio já tem as frequências? – No caso, os rádios precisavam de cristais para fazer a modulação. Estes cristais eram feitos sob medida para cada usuário e dependiam de licença do DENTEL.
O Coronel Botto, então, confidenciou:
– Olha, eu preciso que vocês me emprestem também as frequências. O correio não tem frequências autorizadas pelo DENTEL para uso em telegrafia e eu, como diretor regional, não tenho autoridade para solicitá-las. Minha ideia é que, se conseguirmos fazer uma conexão de telégrafo sem fio bem sucedida, talvez eu possa quebrar a resistência contra o uso de radiotelegrafia no correio e argumentar para a liberação de seu uso com nossa presidência. Se conseguir demonstrar que a radiotelegrafia funciona acredito que possamos comprar rádios para todas as localidades do litoral paulista hoje sem telégrafo. Talvez possamos comprar rádios até para outras praças não atendidas.
Esta questão das frequências me parecia mais complicada do que conseguir os dois rádios. Duvidava que o Dr. Cardoso, nosso presidente, fosse aceitar que instalássemos frequências de teste em rádios que seriam usados para telegrafia pelos correios. A empresa era alemã e seguia normas estritas do que se podia, ou não, fazer. E como o empréstimo de frequências não estava previsto nas nossas autorizações do DENTEL, dificilmente seriam autorizadas. Não era formalmente proibido, mas ficava no limbo legal e eu teria que consultar nossa assessoria jurídica. Traduzindo: era proibido tudo o que não estivesse formalmente permitido.
Aí resolvi pedir uns dias para verificar meios de atender ao que o coronel me solicitava. E, como estávamos em pleno regime militar, me atrevi a perguntar:
– Coronel, o senhor, com seus contatos no governo, não teria meios de liberar umas duas ou três frequências junto ao DENTEL, mesmo que em caráter provisório?
A resposta do coronel foi direta:
– Exatamente aí é que está o problema. Falar em telegrafia por ondas curtas aqui no Correio é tabu. Não é que eles desconheçam uma tecnologia que, desde antes da guerra, está em uso em todo o planeta. Mas tem muito dinheiro envolvido nas redes telegráficas de cobre. E tem muita gente lucrando com elas. Assim, jamais eu conseguiria formalizar um pedido de frequências ao DENTEL. Eu não consigo autorização nem mesmo para pedir frequências provisórias. Ao contrário, seu eu mexer errado, posso por tudo a perder e ser proibido expressamente de testar o uso dos rádios. Aí meu projeto vira fumaça e você perde a chance de vender rádios para o Correio. Venha me fazer uma visita eu explico o que está acontecendo.
Caramba, pensei com os meus botões, aí tem algum mistério da “mão invisível do mercado”. Não a mão invisível descrita por Adam Smith, claro, mas aquela outra, bem brasileira, inventada pelo capeta!
Foi a esta altura que tive um estalo e liguei as pontas. Ocorre que, por uma destas coincidências que mostram que Deus ainda não tinha desistido do Brasil, eu havia acabo de fechar a venda de uma rede de rádios SSB para a Sudelpa, a Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista. Precisamente a agencia estadual criada para fomentar o desenvolvimento do litoral de São Paulo, onde, claro, se situa a cidade de Ubatuba. Não era preciso ter o QI do Einstein para perceber que havia uma coincidência de interesses: o Correio queria instalar um telégrafo em Ubatuba e a Sudelpa ficaria muito feliz se contribuísse para a instalação do telégrafo em Ubatuba. Afinal, o que mais poderia contribuir para o desenvolvimento da região a curto prazo se não instalar o telégrafo dos correios na época das férias que se avizinhavam? E, ainda mais, a um custo praticamente zero?
Ademais, a Sudelpa tinha as frequências de SSB já concedidas e até já tinha recebido alguns dos rádio comprados. Todos, entretanto, da versão móvel, instalados nas caminhonetas, que foi a prioridade solicitada. A conclusão lógica saltava aos olhos: se o governo do estado cedesse os rádios e emprestasse uma ou duas das suas frequências teríamos resolvido o problema. Ubatuba teria telégrafo funcionando na alta estação e o Coronel Botto poderia mostrar que a solução funcionava.
Por um momento pensei em consultar informalmente o superintendente da Sudelpa, Antônio Castilho, sobre a ideia, mas achei que deveria antes saber como o Coronel Botto veria esta alternativa de solução. Liguei marcando uma visita e, no dia seguinte, na hora marcada, (sete da manhã!) fui vista-lo em seu escritório, no antigo prédio dos Correios, no início da Avenida São João.
Na manhã friorenta do dia seguinte o Coronel me recebeu em sua sala e, após uma conversa introdutória, foi direto ao assunto:
– A direção nacional dos Correios fica no Rio de Janeiro. E lá, na alta direção, existe uma máfia dos fios de cobre. O presidente é um militar da reserva, mas de patente maior que a minha, e só posso supor que ele também está envolvido no esquema. O pessoal lá do Rio sabe que se ficar provado que os rádios de ondas curtas em SSB podem atender nossa necessidade com telegrafia sem fio, na mesma hora acaba todo o negócio deles e, junto, terminam as propinas milionárias que eles recebem. O esquema é perverso porque o custo de implantar o serviço de telegrafo com fio tradicional é astronômico. Para qualquer localidade são quilômetros e quilômetros de fios e milhares de postes a serem instalados. Além do sistema depender de conexões e triangulações intermináveis, com o repasse de telegramas. Chega a ser ridículo o número de erros nas mensagens repassadas. Sem falar no roubo constante dos fios, fato que requer reposição constante e consome todos os recursos de expansão. E sem dinheiro expansão não há. Desde que estou aqui não implantamos nenhuma nova estação no estado. Por isto, pelo sistema tradicional, o litoral paulista vai levar ainda muito anos para receber o serviço de telégrafo. Infelizmente, para os dirigentes da estatal nada disto importa. Daí meu cuidado em tentar uma operação discreta. Precisamos mudar este estado de coisas, mas se o pessoal da máfia do cobre descobrir o que estou tramando, me impedem ou me demitem na hora.
Ainda retruquei:
– Mas coronel, sendo o senhor indicado para a Superintendência dos Correios em São Paulo pelo presidente não seria o caso de recorrer a ele?
– Eu fui indicado pelo Castelo Branco. Tenho bons amigos no governo, mas não tenho a mesma intimidade com o presidente atual. E depois, a situação não é tão simples. Esse pessoal da máfia tem controle sobre a empresa e seus projetos e existem muitos interesses envolvidos. O sistema de telegrafia sempre foi a vaca leiteira da corrupção aqui nos Correios e tem muita gente mamando. Eles não vão largar o osso assim fácil. Sei que tenho a confiança do governo, fui colocado aqui pelo Presidente Castelo Branco, mas prefiro agir de modo a criar fatos consumados e usar a evidencia para forçar as mudanças. Seria desperdiçar a janela de oportunidade que temos se abrir uma guerra interna, um conflito em que a causa maior dos correios e das comunicações pode ser sacrificada em meio a uma luta politica.
Agora dava para entender o dilema do Coronel Botto. Em resumo, se ele tentasse furar o bloqueio da máfia do cobre de peito aberto, possivelmente seria demitido. Mesmo com o ministro e o presidente da República desejando ficar ao seu lado, a realidade é que havia todo um jogo de interesses políticos e militares conspirando contra ele.
A solução imaginada pelo Coronel Botto, assim, era estrategicamente brilhante. Se fizesse funcionar satisfatoriamente uma estação de radio telégrafo no litoral paulista, uma só que fosse, abriria uma brecha na represa da corrupção e a pressão da demanda iria forçar a mudança na política e alterar o jogo. De fato, como alguém iria se colocar no caminho de uma solução que custava menos de 1% do método tradicional, era muito mais versátil, tinha implantação rápida (dias ao invés de anos) e era altamente lucrativa?
O Brasil do início dos anos 70 ainda estava em lua de mel com o governo militar. Os velhos cabides de antes da revolução, como os Correios, esperneavam e resistiam tanto quanto podiam, mas, no caso dos correios, o fim do empreguismo e da corrupção estava à vista e a era de ouro estava em marcha. O coronel Botto era um destes homens providenciais, o homem certo na hora certa. Engenheiro, bem preparado, íntegro, patriota, ansiava por melhores comunicações para o país e sabia que os correios precisavam dos recursos a serem gerados pela expansão dos serviços de telégrafo. O ponto chave de seu plano, contudo, era fazer as evidências falarem por si sós. E para conseguir isto era preciso, como repetia sempre, “navegar abaixo da linha do radar”.
O coronel, a esta altura da nossa conversa, me convidou para ir tomar um café em uma padaria ao lado. O café aos funcionários fora reduzido e só seria servido as dez horas. Enquanto sorvíamos o café cheiroso daquelas máquinas “Monarca”, típicas dos bares paulistas da época, expliquei a ideia de falarmos com a Sudelpa e o governo paulista para atendermos seu plano de conseguir o empréstimo de dois rádios SSB equipados com as frequências. O coronel ouvira falar da Sudelpa, a Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista, mas não tinha conhecimento exato de sua função. Quando terminei de explicar o que aquela instituição fazia e como poderia se associar ao seu plano para levar telegrafia sem fio ao litoral de São Paulo, ele virou um dínamo de entusiasmo. Seus olhos brilhavam:
– Se a Sudelpa ajudar os correios a operação está garantida. Ubatuba vai ter telégrafo e, depois, vamos conectar todo o litoral.
Em face da manifestação de entusiasmo nem precisei perguntar: a autorização para falar com a Sudelpa estava concedida.
A confiança do Coronel Botto era uma coisa contagiante. Em geral comedido nos gestos, no entusiasmo do momento ele tirava e colocava os óculos sem parar e gesticulava como um napolitano na Festa di San Gennaro.
Assim que nos despedimos peguei meu fusca azul, estacionado ali nas imediações, e subi a Avenida Angélica, onde ficava a Sudelpa.
Me dirigi direto à secretária e pedi para falar com o Dr. Castilho.
A moça me olhou com se eu tivesse chegado de Marte.
– O senhor tem hora marcada? O Dr. Castilho deve estar chegando e já tem um pessoal esperando por ele para uma reunião.
Eu nem precisei argumentar. O superintendente estava entrando e, ao me ver, veio me cumprimentar com aquele ar de pressa educada. Estava esbaforido e em cima da hora.
Antes que me descartasse fui logo falando:
– Dr. Castilho, sei de sua reunião e não quero atrapalhar, mas o assunto que tenho é uma oportunidade única e eu precisaria dois minutinhos de sua atenção reservada.
Achei que ele me mandaria voltar mais tarde, mas eu ainda devia estar sob a influência do entusiasmo do Coronel Botto, que era uma coisa contagiosa, e o Dr. Castilho resolveu me conceder os dois minutinhos.
Fomos a uma sala contígua e eu expliquei resumidamente o que tinha a dizer. Os olhos do Dr. Castilho quase saltaram das órbitas.
– Mas esta é uma oportunidade fantástica! Eu estava precisamente procurando maneiras de mostrar serviço lá na região. Vamos topar com certeza. Pode contar comigo.
Eu me apressei a marcar um próximo passo:
– O senhor estaria disposto a ter um encontro pessoal com o Coronel Botto para conversar?
– Sem dúvida nenhuma. E gostaria que fosse o quanto antes. Acontece que eu tenho uma reunião com o secretario nos próximos dias e gostaria de levar a ele esta ideia já mais elaborada.
– Se o senhor me autoriza, ligo agora de seu gabinete e falo com o Coronel e vejo quando podemos marcar.
Enquanto o Superintendente entrava em sua reunião liguei para o Coronel. Expliquei o resultado do contato e o desejo do Dr. Castilho de fazer a reunião o mais rápido possível.
O coronel respondeu sem titubear um segundo:
– O mais rápido possível é agora, mas vamos deixar para depois do almoço. Se ele puder me receber, podemos marcar aí as duas horas da tarde.
– Se o senhor puder esperar na linha, vou confirmar com o Dr. Castilho.
Fiz um bilhetinho e pedi para a secretária levar na reunião e confirmar o horário com o superintendente. A resposta veio escrita em maiúsculas no bilhete: “ESTÁ MARCADO”.
Voltei ao telefone:
– Coronel, a reunião está confirmada para hoje, as duas horas da tarde.
– Ótimo, ótimo. Vou cancelar umas coisas que tinha marcado por aqui e chego aí as duas horas.
Acabei ficando por ali. Precisava fazer hora. Comprei um jornal, fui almoçar em alguma espelunca da Angélica, que meu tíquete refeição era igual ao da peãozada da fábrica, e voltei cedo ao escritório do presidente da Sudelpa.
Dez para as duas chegou o Coronel Botto. Vinha acompanhado de um engenheiro a quem incumbiria cuidar dos aspectos técnicos.
Na reunião os dois homens de ação se entenderam de imediato. Sem delongas inúteis, debateram as alternativas. Castilho disse que, caso fossemos usar o rádio das caminhonetes, ele poderia ceder até umas quatro ou cinco para o período das férias daquele ano. Além de Ubatuba poderiam ser atendidas outras cidades. Inclusive Registro, cidade pela qual Castilho tinha grande consideração. Para a estação no correio central eu prometi antecipar a entrega de um rádio fixo e instalar a antena no telhado da agencia central. A reunião do Superintendente da Sudelpa com o Secretário se daria em uma semana e o Dr. Castilho queria um teste do funcionamento da solução para que o assunto pudesse ser levado ao Governador Laudo Natel.
Ao que eu lembro, a reunião se daria na quarta feira da semana seguinte. Então combinamos fazer um teste logo na segunda feira, com uma caminhonete com rádio posicionada próximo a agencia dos correios em Ubatuba e a estação fixa instalada em uma unidade de Assistência Técnica da Telefunken localizada na Avenida Pacaembu, a uma quadra da Avenida São João e a uns dois quilômetros em linha reta da agencia dos correios. Dada a precariedade do tempo, a antena seria fixada provisoriamente do lado de fora, estendida entre duas janelas.
Tudo pronto, uma caminhonete instalada em Ubatuba e o rádio na Barra Funda instalado, as nove horas começa o teste para valer. Os dois pontos já tinham feito contatos bem sucedidos, mas agora era oficial. Estavam na sala, em São Paulo, o coronel Botto, seu engenheiro, o Dr. Castilho, um engenheiro da Polícia Militar de São Paulo especialista em comunicações, eu e meu chefe na Telefunken, Wayland Coats além, obviamente, de um operador do rádio e do telegrafista do correio. Nove em ponto, o rádio ligado, entra a voz do operador de Ubatuba, falando da caminhonete.
– QRA Ubatuba – QAP (Estação na escuta).
O sinal vinha claro e límpido, tanto quanto era possível, considerando que o SSB aproveita só meia banda. Mas a emoção tomou conta da sala.
O operador de São Paulo responde:
– QRA estação São Paulo. Sinal com clareza cinco. Repito, clareza cinco.
Nem precisava repetir. Óbvio que, se era clareza cinco é porque era clareza cinco. A comunicação era limpa e perfeita.
Em seguida São Paulo inicia o teste para valer:
– Segue QTC em Morse.
E ambos os telegrafistas fizeram a troca de mensagens em condições tão boas quanto o fariam no telégrafo com fio. Bastou uma tentativa. E até houve espaço para o humor:
– Favor QRQ (transmita mais depressa…)
Terminada a troca de mensagens, todos na sala sentiram a mesma emoção que devem ter sentido os cariocas que testemunharem a iluminação do Corcovado, em 12 de outubro de 1931, quando, numa cerimônia organizada pelo jornalista Assis Chateaubriand e presidida pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Paes Leme (filho de Espírito Santo do Pinhal) e pelo Presidente Getúlio Vargas, o cientista italiano Guglielmo Marconi, inventor do rádio, e o Papa, acionaram um dispositivo que enviou um sinal de rádio que iluminou o Cristo Redentor. A iluminação que brilhou no céu aconteceu no início da noite, as 19 horas e quinze minutos e assim foi relatada por Marconi, em sua biografia escrita por Filippo Garozzo:
“Então todos ficaram olhando para o morro, esperando o milagre a ser produzido pelo homem. E o milagre aconteceu pontualmente. O Papa e Marconi, em Roma, apertaram uma chave de transmissor e um sinal partiu rápido da Cidade Eterna, deslizou sobre o Atlântico mais velozmente que o relâmpago, e atingiu o Cristo Redentor, construído sobre o Morro do Corcovado, na Baía de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa. E o Cristo, de repente, ficou tão resplandecente e brilhante de luz que mais se assemelhava a uma festa! Parecia até outro Cristo, risonho e mais bonito, agora que estava iluminado e inaugurado pela mão do Santo Padre e pelo gênio de Marconi.”
O espantoso desta história é que o corrupto Correio brasileiro da época, mesmo depois de atravessar quarenta anos e uma guerra mundial, ainda enfiava a cabeça na areia, ainda parecia não ter tomado conhecimento das ondas de rádio e se aferrava aos fios de cobre.
De toda forma, após o teste entre o litoral e a capital, estava resolvida a questão técnica. Faltava, agora, resolver a questão política.
O Dr. Castilho levou os laudos do teste para o Secretário, que, junto com o Superintendente da Sudelpa, os levou ao Governador Laudo Natel. Esta reunião não assisti. Mas soube dos resultados depois.
Segundo o relato do Dr. Castilho, o governador ouviu todo o relato e deu uma olhada nos laudos para então dizer:
– Os senhores devem estar brincando comigo. Como eu posso justificar para a opinião publica que vamos beneficiar apenas uma cidade em detrimento das outras?
O secretário e o Dr. Castilho tentaram justificar:
– Desculpe, governador, mas nossa proposta é emprestar os rádios para atender um pedido do Correio e começar fazendo um teste. Primeiro seria Ubatuba, mas depois o correio nos assegurou que vai poder estender o serviço para as demais localidades…
O governador teria ficado impaciente:
– Quanto custa cada estação? – Quis saber o governador.
– Metade do custo de um fusca, foi como o Dr. Castilho teria respondido.
– E quantos postos de correio existem no litoral?
– Cerca de vinte localidades. – Teria sido a resposta do Dr, Castilho.
Laudo Natel, então, teria resolvido a questão:
– Se este é o número vamos fazer nossa parte. Vamos formalizar logo um convênio doando os rádios ao Correio e oferecermos telégrafo no litoral paulista ainda neste verão. Vamos comprar os rádios e fazer uma festa nas vinte localidades logo que começar a alta temporada.
– Mas será que teremos tempo? – Quis saber o Secretário.
– Os senhores já devem conhecer minha frase preferida: “fazer o possível agora e o impossível depois.” Se precisar, o senhor empresta suas caminhonetes. Então vamos logo adquirir os tais vinte rádios e providenciar imediatamente o convênio para oficializar a doação da Sudelpa para os correios.
E assim foi feito. O governo de Laudo Natel celebrou o convênio entre a Sudelpa – Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista e a ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, formalizou a doação dos rádios – como ficou registrado no flagrante acima – e inaugurou os novos pontos de telégrafo naquela temporada de praia com uma grande festa. E todos foram felizes até quando uma nova geração de corruptos ressurgiu nos governos Lula e Dilma e passou a meter a mã0 e novamente avacalhar com os correios.
PS.
1) – Os rádios foram entregues a tempo mas as frequências estavam demorando perigosamente. O governador, por seu turno, queria que os rádios fossem instalados já com as frequências definitivas. Acontece que o Dentel estava criando problemas. Contaram-me que o governador, em raro momento de irritação, teria ligado diretamente para o Presidente da República, o General Médici. Como por encanto, as frequências vieram rapidinho e a tempo.
2) – Quando a máfia do cobre e a alta direção dos correios soube do “golpe baixo” do Coronel Botto ficou espumando de raiva e foi reclamar com o presidente. Pensaram que iam tosquiar o coronel Botto mas saíram tosquiados. A solução foi típica do governo militar: a diretoria corrupta foi demitida sem delongas e – surpresa! – sabem quem foi escolhido como o novo presidente da Empresa Brasileira de Correios? Ele mesmo, o Coronel Adwaldo Cardoso Botto de Barros, o sergipano porreta, o Coronel Engenheiro do Exército Brasileiro que mais entendia de comunicações e um personagem que nos enche de orgulho e que marcou seu nome na história como o responsável pela criação do serviço de SEDEX, pela criação do POSTALIS e pela era de ouro do correios do Brasil. De sobra, ainda dirigiu a renovação tecnológica dos correios de todo o planeta. O resto da história vocês já conhecem.
3) – Muitos anos depois reencontrei o Coronel Botto no Aeroporto de Guarulhos. Ele já era, então, presidente da UPU – União Postal Universal. Ao me ver, o coronel Botto veio ao meu encontro e fez questão de me convidar para um café. Nos quinze minutos que faltavam para seu horário de embarque, relembramos o episódio dos rádios e dos “telégrafos de férias”, episódio que ele lembrava com carinho e via como “a mudança da maré” de sua carreira nos Correios, que presidiu por 12 anos, e, por extensão, de seu papel como líder mundial dos correios por oito anos. Fez-me um convite para visitá-lo na Suíça, mas vai ter que ficar para uma outra vida. Nunca mais o vi, porém tampouco o esqueci. E foi com grande tristeza que li a notícia de sua morte em janeiro de 2015, quando nos deixou, aos 90 anos de idade.
Homens como ele temos poucos e nos fazem muita falta. Que seu legado de competência e integridade frutifique e que Deus o tenha.
tanto que garante, na conversa vaidosa, que o país não tem “alma mais pura”,
só que o maroto de sempre fez do Brasil sua troça e de nosso futuro sepultura;
—
Moleque, comia calango cozido no ensopado de jerimuns,
depois, já em “Sum Palo,” tomou gosto em usar o gogó e tapear o povo sofrido,
se fazendo de grande amigo nos discursos de paletó;
—
Competente prometedor de vício antigo, prometeu tudo de baciada.
Promessa fez de montão, mas era tudo fantasia
de uma falador que se fazia de Patativa do Garanhuns;
—
Demagogo caviloso e muito esperto, um jagunço redivivo,
sempre foi imbuído da mais pura desfaçatez.
Enganou gente com fome e deixou amargurado quem pensou que teria vez.
—
Rei da “istripolia”* tenebrosa, foi um presidente comodista.
Querendo, tudo podia, posto que tinha o poder da nação,
mas todo dia mentia e, por sua gente, não se atrevia nem um tiquinho não;
—
Homem tosco e de pouca cultura, à beber sabedoria ele preferia uma boa pinga,
o cabra tinha medo de livro e do saber corria feito o diabo da cruz,
porém lábia tinha muita sobrando e ludibriava o povo como ninguém;
—
Com seu talento maneiro e um traquejo verbal colosso,
tivesse sido homem digno, ou mesmo um poeta de tabuleta,
teria enricado e virado santo só fazendo rima e caçando “barbuleta”.
—
Mas sendo um insensato que pela ambição foi picado,
vendeu fiado sua alma ao capeta e logo trocou tudo e fez errado:
meteu os pés pela mão e, aloprado, “Cantou cá” o que devia “Cantar lá”.
—
Tivesse sido fiel a seu berço, ao seu povo e sua nação,
tivesse refreado, só um pouquinho, sua insana ambição,
teria sido, se fosse bom e honesto, o grande presidente da redenção.
—
Mas, qual nada, era fraco de caráter e gostou do encosto macio.
Se cercou de puxa-saco e zuniu de avião a jato, movido à corrupção.
Virou um “bon vivant”, liso como quiabo, esperto como o diabo e malandro como o tiziu.
—
Lula, cabra indomado, vaidoso e arrogante, se deixou cair em tentação.
Deu uma banana malvada, rasteira e desalmada, ao seu povo sofrido,
que só teve consolo num bolsa família de ralas migalhas de humilhação.
—
Mascate de ilusões tarimbado, Lula pegou na mão o que pode,
enricou ainda mais os ricos e mandou dinheirama até para outras nações,
mas o Brasil, pobre coitado, além de pagar a conta, ficou na pior condição.
—
E diferente do Patativa do bem, que cantou as mágoas de quem pouco tem,
esse embusteiro terrível só queria mesmo levar vantagem
e, para dizer a verdade, nunca foi leal a ninguém.
—
Agora, o país lastima o tanto de dinheiro roubado no governo dele e da Dilma,
enquanto falta hospital e falta tudo mais na sofrida “classe matuta”,
“que nem em sonho mais desfruta as riquezas do Brasil”;
—
Lula, se acaso fosse mesmo verdade que ele nada sabia,
como repete, com monotonia, o seu surrado refrão,
seria pior que um mau vigia que abre a porta da casa para deixar entrar o ladrão;
—
Todos sabem que um corno só é enganado se for frouxo ou bobalhão.
Se roubaram nas suas barbas fortunas de muito milhão,
além de ser condenado, merece uma surra de vara do sofrido povo do sertão.
—
E nosso triste nordeste, ainda mais empobrecido e calcinado,
outra vez foi logrado sem a menor contemplação,
e, decepcionado, ficou ainda mais “nordestinado” depois deste sonho de verão.
—
E se pensa, este traíra, viver de luxo no bem bão,
o velhaco se engana total e completamente. Que bote as barbas de molho
que desta vez não escapa das grades da prisão.
—
E agora, desmascarado, que sabe não ser mais nada,
que desceu do pedestal, que é réu na Lava Jato da Justiça Federal,
ainda vive se iludindo com o poder que já não tem mais;
—
Quer de novo, este tratante, voltar a ser presidente,
dizendo, na cara dura, que vai arrebentá e prendê. Mas ele está muito enganado,
pois seu prestígio é do passado, tal como foi do passado sua força e seu poder;
—
Ao povo brasileiro, este sujeito matreiro, nunca mais engana não.
E se ainda tivé povinho prá acreditá na sua enganação,
o santo padinho Ciço vai mandá todinho ele para a eterna danação.
—
Mas pretensão é pior que bicheira prá apodrecê coração.
Esta vontade traiçoeira de mandá no povo de novo e que faz coceira na sua língua,
só precisa um gole de pinga prá desandá em falação.
—
Mas a um povo inteligente só se engana uma só vez;
Lula, por isso, disse ao Moro, falando de sem pulo, sem saber bem o que fez:
“Eu já não sou mais presidente. Agora eu só sou um “Vaso Chinês”!.
Ceska – O digitaleiro
(*) As expressões e frases em itálico foram inspiradas em poesias de Antônio Gonçalves da Silva, poeta e trovador cearense conhecido como “Patativa do Assaré” (1909 – 2002).
Vamos nos alinhar ao mundo que deu certo, para variar?
O mundo contemporâneo, este que emerge da Quarta Revolução Industrial, o chamado Mundo 4.0, gira em volta da Inteligência Artificial (IA). Este mundo em transformação, revolucionário e disrruptivo, vem quebrando todos paradigmas. Para começar, o mundo já não se divide mais entre esquerda e direita. Ele se divide em digital e analógico; em funcional e disfuncional; em veloz e capenga. Este novo mundo é conectado ao universo digital e vai se distanciando cada vez mais das partes velhas, desarvoradas, sem eira e nem beira, perdidas na poeira das nações de ponta.
A diferença entre as nações bem sucedidas e as fracassadas se acentuará de modo irreversível à medida que a Quarta Revolução Industrial for mudando a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. A Primeira Revolução Industrial utilizou água e vapor para mecanizar a produção. A Segunda se valeu da energia elétrica para criar a linha de montagem e a produção em massa. A terceira usou a eletrônica e a tecnologia da informação para automatizar a produção. Agora, a Quarta Revolução Industrial vem no bojo da Inteligência Artificial. Mais do que nunca, será o novo contra o velho; o múltiplo contra o monocórdio; o inteligente contra o obtuso.
O Brasil, felizmente, tem núcleos que já ingressaram no Mundo 4.0. Empresas como Embraer, Tramontina, Fanem, para ficar apenas em algumas que atuam no cenário mundial, já estão neste mundo novo. O agronegócio brasileiro figura entre os mais avançados do planeta. Nele a IA – Inteligência Artificial – vem sendo adotada intensivamente. Tratores e colheitadeiras dispensam operadores e trabalham com piloto automático, orientadas por GPS. Drones supervisionam do ar rebanhos e lavouras e fazem pulverização de fertilizantes e inseticidas. O gado é rastreado com chips de RFID. Isto tudo da porteira para dentro, claro, porque da porteira para fora caem no Brasil meia-boca de sempre. Armazenagem insuficiente, estradas imprestáveis, ferrovias por construir, portos limitados e subdimensionados. Um Brasil imensamente rico em potencial, mas contaminado pela corrupção, dirigido por incompetentes e pilhado dia e noite por bucaneiros da política, salvo as honrosas exceções, que existem e são fonte de esperança e alento.
Agora, porém, em meio a maior crise de nossa história, chegou a hora de repensarmos o Brasil. E de reformarmos este arremedo de democracia que tem se mostrado uma madrasta para o país.
Para fazermos nossa democracia alinhar-se aos requisitos da Quarta Revolução Industrial precisaremos que atenda três exigências:
– Deve ser digital, conectada, inteligente, online e funcionar em tempo real;
– Deve ser aberta ao cidadão, criar espaço para o debate permanente das questões mais importantes, e permitir que de todos os interessados na política do país tenham acesso a canais de transparência com todas as áreas do governo;
– Ser capaz de integrar os cidadãos no processo de tomada de decisão, oferecendo suporte decisório baseado em “evidências” sobre tudo o que diga respeito a vida da sociedade e as boas práticas.
Em princípio, não é difícil, havendo vontade. Mas temos que entender que a democracia Brasileira enfrenta um desafio de vida ou morte. Se não transformar-se radicalmente, continuará vulnerável ao assalto de demagogos e populistas. Se vierem demagogos populistas, com desclassificados padrão Lula, a crise não se resolverá nesta geração. Tomada por desalento, a democracia será dissolvida no ácido de seu fracasso e de sua inépcia. E termos uma ditadura no horizonte.
Mas sejamos otimistas. A oportunidade que o Mundo 4.0 nos abre, com as novas tecnologia e a Inteligência Artificial, permite que venhamos a ter uma democracia inovadora, vibrante e alinhada com a cibernética, para substituir a atual que é burocrática, caduca, lenta e fenecente.
A chave, contudo, para o êxito de uma democracia digital no Mundo 4.0 não se limita à velocidade nas decisões, por exemplo, mas em ser capaz de azeitar o funcionamento da sociedade para que esta possa cumprir seu papel e atender as expectativas de seu povo, operando com eficiência, eficácia, equidade, precisão e qualidade. Sua arquitetura deve articular as melhores decisões possíveis. Decisões bem informadas, provadas e comprovadas, baseadas nas melhores “evidências” disponíveis.
O mundo digital já está entre nós
No Brasil já está todo mundo na orbita digital. Nem que seja ao assistir televisão.
Os brasileiros, especialmente os das novas gerações, já vivem na era digital. Segundo o Jornal O Estado de SP, com dados da 28ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), de março de 2017, o Brasil terá um smartphone em uso por habitante até o final de 2017. Com crise ou sem crise, ainda de acordo com a pesquisa, até outubro a base de smartphones no País será de 208 milhões de aparelhos.
Hoje, o País tem 198 milhões de celulares inteligentes em uso, crescimento de 17% na comparação com o ano passado. Um número que continua crescendo. A expectativa é de que, nos próximos dois anos, o País tenha 236 milhões de aparelhos, um crescimento de 19% em relação ao momento atual. Sem esquecer que o Brasil tem também 162,8 milhões de computadores (entre desktops, notebooks, e tablets) em funcionamento, um crescimento de 5% na base instalada com relação ao levantamento de 2015. Até o final do ano serão 166 milhões de computadores em uso, sendo cerca de 33 milhões de tablets.
O mudo digital também já chegou aos bancos brasileiros e ao imposto de renda. Como seria de esperar, para cobrar juros e cobrar impostos já estamos na era digital. Falta chegar na democracia.
Agora, achar que vamos ficar encalhados numa democracia “carro de boi” é tolice. Os jovens já vivem em outra dimensão e vão simplesmente passar por cima dos que ficarem no caminho. Os políticos do antigamente, do tempo do onça (eita!), podem não gostar, mas a transformação digital vai jogá-los ao relento. O país está pronto para fazer as reformas transformadoras e abrir as portas do século XXI, um século que ainda não alcançamos.
A Democracia fascinante
Brava gente brasileira, já podemos antever os contornos desta nova democracia de perfil digital. Como em outros campos transformados pela Inteligência Artificial, a nova democracia digital tende a funcionar em volta de uma grande “nave mãe” virtual, aberta para a participação cidadã, tendo à sua volta os “c-pods”, os “civic-pods”, núcleos de opinião e grupos de interesses específicos, organizados por áreas e temas, aos quais os cidadãos poderão aderir usando seus títulos de eleitor eletrônicos para ter amplo acesso à transparência, as informações e as decisões dos três níveis de governo.
Estes aplicativos permitirão participar de debates e de decisões, votar e cobrar resultado de seus eleitos. Organizar e encaminhar projetos de lei de iniciativa popular e muitos outros. Essa democracia digital será infinitamente mais inclusiva, mais participativa, mais transparente e mais equitativa. Até muito mais alegre e divertida. Além disso, como o mundo digital está ainda em formação, a nova fronteira é território aberto, pronto para ser desbravado e conquistado.
De uma coisa, contudo, já podemos ter certeza: a era da Quarta Revolução Industrial, a era da IA – Inteligência Artificial – vai mudar profundamente as práticas democráticas e, com elas, as formas de governar e prestar contas aos eleitores.
Basta imaginar qual seria o impacto da adoção de “câmaras testemunhas” em obras públicas. O cidadão interessado em uma determinada obra poderia, ele mesmo “fiscalizar” sua evolução. Um fórum associado permitiria opiniões e críticas. E, acreditem, nada levanta um traseiro mais depressa que fogo em baixo do banquinho!.
Ademais, pode-se prever que nosso titulo de eleitor será a senha aplicativos pessoais, para acesso a informações sobre indicadores democráticos, bem como para o exercício de votos online em consultas públicas e assinaturas pré-validadas para abaixo-assinados e projetos de lei de iniciativa popular. A senha servirá, ainda, para contato autenticado com autoridades e representantes no legislativo. Nós, o povo, vamos ter muito mais força, muito mais direitos, mas também muito mais responsabilidades. A democracia que teremos será menos distante e mais inteligente; menos perfunctória e mais funcional. Além de menos vulnerável a fraudes e a manipulações.
Apenas para ilustrar, uma boa “evidência” sobre como os cidadãos querem acompanhar as coisas que lhe dizem respeito são os 222.086.385 de visitantes que foram ao site da SABESP conferir os níveis dos reservatórios da capital paulista entre maio de 2014 a 01 de março de 2017. Ou seja, deixa só este povo tomar gosto pela democracia digital. Vai ser a maior limpeza das teias de aranha de nossas instituições já registrada em nossa história.
Democracia Inteligente
A Democracia Inteligente do Mundo 4.0 vai colocar o cidadão no centro do processo político. Não será só na hora de votar que o cidadão terá voz e vez. O chamamento à participação será permanente e dinâmico, o que significa que o cidadão deverá também saber mais em relação aos assuntos do governo. Para tomar posição em temas como a reforma política, na economia, nas questões sociais, nas leis e decretos, o cidadão precisará de boas informações e bons comparativos sobre os efeitos das decisões que vai tomar. Saber qual o custo social a pagar e quais os resultados a esperar.
De maneira que, para melhor exercer sua cidadania, precisará dispor de “evidências” sobre o que funciona e o que não funciona.
O movimento mundial em favor de decisões baseadas em evidências começou com a Medicina Baseada em Evidência (MBE). Em pouco tempo revolucionou a prática médica e mostrou-se um instrumento de enorme valia para orientar boas decisões na medicina. O sucesso levou a enfermagem a logo adotar sua versão por meio das “Práticas Baseadas em Evidência”. Outras áreas a adotaram na sequência, como Nutrição e Fisioterapia. Hoje é difícil encontrar uma área da saúde que não tenha a sua versão da metodologia. Campos de atividades correlatas logo também abraçaram a experiência, a exemplo da Arquitetura e do Design Hospitalares. Em pouco tempo surgiu um movimento mundial para acabar com o “achismo” e que tornou as decisões com base em evidência em um conceito multidisciplinar. Hoje, este método de basear decisões numa sistemática de evidencias já foi adotado por áreas como Administração, Economia e dezenas de outras.
Dado o êxito destacado desta metodologia, tudo indica que seus princípios seriam aplicáveis a uma Democracia Baseada em Evidência no Brasil.
Seguir as “evidências” nos ajudaria a evitar equívocos e erros dolorosos, como o nosso presidencialismo imperial e as eleições proporcionais com desequilíbrio na representação na Câmara. Ocorre que há uma distorção no modelo atual. As regiões mais povoadas e avançadas, sul e sudeste, têm uma representação proporcionalmente menor que as menos povoadas.
Entre os benefícios, desde logo a DBE nos auxiliaria na tarefa de exorcizar essa nossa mania de adotar políticas jabuticabas, que só existem aqui. Esta insistência em inventar políticas “heterodoxas” tem uma explicação: fica mais fácil encobrir a corrupção e a incompetência quando se adota um modelo politico turvado e opaco. Tal é o caso da estapafúrdia “Nova Matriz” econômica”, um conceito destrambelhado adotado pelo duo Lula e Dilma. A explicação é rasa: com adoção de uma falsa democracia, o que temos é um mero arremedo democrático, os indicadores tradicionais passam a ser rejeitados sob o argumento de que “não são aplicáveis”.
Qualquer sociedade precisa de uma organização e uma disciplina interna para funcionar. Disto não há dúvida. Consequentemente, é preciso que exista uma autoridade que atue sistematicamente para manter o conjunto funcionando. Está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesses ou preocupações mútuas visando um objetivo comum.
O principal objetivo comum de um país, supõe-se, seria o bem estar de seus cidadãos. Mas, no Brasil, o deposto governo de Dilma já não tinha mais este objetivo. Seu propósito se tornou ter e manter o poder. O sonho petistas era chegar a um poder ditatorial, como em Cuba e na Venezuela. Ditadores, como Raul Castro, em Cuba, ou Maduro na Venezuela, ditam as ordens e o povo ou se submete ou é reprimido. No Brasil, porém, já existe uma sociedade suficientemente bem informada e articulada para torpedear este tipo de pretensão totalitária. Este tipo de ameaça já foi vencido mais de uma vez, mas sempre a custo de muita angústia e sofrimento.
Como sabemos, foi para evitar o trauma das revoltas populares e limitar o poder absoluto dos monarcas que a civilização criou a democracia. Este regime, mesmo que imperfeito, é, no dizer de Churchill, “o pior dos regimes, exceto todo os outros”. De modo que nada temos de melhor ou mais civilizado para organizar a sociedade e dar voz e vez aos cidadãos. Mas sempre será possível aperfeiçoar a democracia e seus mecanismos de empoderamento dos cidadãos.
O que precisamos aceitar, no entanto, é que uma democracia é, por natureza, um sistema de permanentes tensões e disputas. Precisamente por esta razão precisa de mecanismos rápidos de ajustes e de acomodação de interesses.
O homem sempre quer mais e nunca está satisfeito. Talvez esta ambição ilimitada explique porque o homem saiu das cavernas para conquistar o espaço. Decorre daí que as demandas nunca acabam. As sociedades se formam e existem em um contexto dinâmico, insertas que estão na natureza e competido umas com as outras. Portanto, vivem em um mundo de cotidiana tensão. O que equivale dizer que em nenhuma sociedade moderna os dias são sempre iguais. São estas disputas que produzem as mudanças e fazem a história. O pressuposto é que, se nada é permanente e tudo é fluído, a conclusão é que o bem estar geral irá refletir a qualidade das decisões. Estas vão moldar o momento e as circunstâncias. Tempos de vacas gordas e de vacas magras sempre acompanharam a história do homem. A escassez sempre foi um inimigo a ser combatido. Aliás, é bom lembrar que a disciplina da economia foi criada para lidar com o fenômeno da escassez.
Os povos bárbaros sofriam as crises de escassez e a elas se conformavam sob a crença de que sua penúria vinha dos deuses. Os povos subdesenvolvidos acreditam na lorota de que suas agruras venham dos inimigos externos. O esquerdistas de Cuba e na Venezuela culpam os Estados Unidos. Já os povos civilizados aprenderam que a pobreza não vem da maldição divina, mas das decisões equivocadas de seus governantes. Ao evoluírem, passaram a exigir bons governantes e querem ser consultados naquilo tudo que tenha a ver com seu destino. Os povos civilizados querem resultados e por isto querem votar e influir nas em suas sociedades.
Ocorre que o processo democrático, sendo obra dos homens, é passível de distorções, vícios e imperfeições. Sem falar, claro, da demagogia, da irresponsabilidade e da mais destilada hipocrisia.
No mundo civilizado acredita-se em valores como equidade, igualdade e justiça. Algo que os gregos, desde Clístentes, chamavam de “isonomia”. Modernamente, este conceito abarca a noção de cidadania, sendo o cidadão, por definição, membro ativo da sociedade e partícipe da construção de sua história. E foi para proteger o cidadão, seus direitos e deveres, que a civilização engendrou a divisão dos poderes entre executivo, legislativo e judiciário.
Norberto Bobbio, que era socialista, mas temperava seus pecados com um vigorosa defesa da democracia e acreditava na separação de poderes, indicou pelo menos três fatores que dificultam um projeto democrático efetivo nas sociedades contemporâneas: a especialidade, a burocracia e a lentidão do processo.
O primeiro obstáculo seria derivado da complexidade da vida contemporânea, que demanda competências técnicas de “especialistas” para dar solução a inúmeros problemas públicos, notadamente em economias altamente reguladas e planificadas. A complexidade dos problemas dificulta o entendimento das soluções por parte do cidadão comum e abre espaço para “especialistas” que usurpam o poder político ao tomar decisões contrárias ao interesse da maioria. As ditas “soluções técnicas” dificultam a hipótese democrática de que todos podem decidir a respeito de tudo.
O segundo obstáculo resulta da expansão exagerada da burocracia, um aparato de poder sem mandato, ordenado hierarquicamente de cima para baixo, em direção totalmente oposta ao sistema de poder democrático.
O terceiro obstáculo vem do desejo equivocado das esquerdas de fazer com que o Estado tome o lugar de Deus e se torne o grande provedor da sociedade. Políticos demagogos se valem do desejo legítimo das pessoas de obterem renda e se sentirem seguras e prometem que o estado oferecerá estas duas benesses a troco do voto. Prometem o que não existe: o almoço grátis. Com sua demagogia irresponsável estimulam demandas irrealistas dirigidas ao Estado. Um povo dependente do estado é mais propenso a ser seduzido pelas promessas populistas. Ocorre que o Estado não produz riquezas, apenas se apropria daquela produzida pela sociedade. O resultado prático é que, ao invés de atuar para equalizar as oportunidades, o estado cria privilégios, benefícios e benesses para os grupos mais influentes, favorecendo corporações e grupos específicos. Esta tendência s torna ainda mais aguda no voto proporcional. Neste modelo os candidatos representam corporações e grupos e são facilmente seduzidos pela corrupção. Ao usar o estado para favorecer aos “amigos”, tirando dos que produzem para dar aos aliados, acaba criando descontentamento e minando as bases em que se assenta democracia. Quando a Democracia se desfigura e não tem mais legitimidade para encaminhar o debate político, uma crise é inevitável. Sem confiar nos seus ditos “representantes” fica comprometido o convívio democrático e esgarçada a coesão social.
Sincrisis “versus” décrisis.
Se, eventualmente, a perturbação do equilíbrio é corrigida por algum mecanismo homeostático, como eleições periódicas que permitam a mudança do poder, a crise pode se limitar a uma “síncrisis”, uma crise que se resolve de forma não traumática. Por exemplo, em um governo parlamentarista, uma crise do governo dificilmente evolui e se resolve com um voto de desconfiança e a substituição do primeiro ministro. Se, porém, a democracia não possui os instrumentos de defesa e de reequilíbrio ágeis para conter a erosão das instituições, as características da crise podem levar a impasses e ao esgarçamento de sua coesão. Neste caso sobrevém uma “décrisis”, um processo de falência múltipla das instituições democráticas. O exemplo das crises do presidencialismo brasileiro ilustra bem os efeitos das “décrisis”. Quando uma crise aguda se instala, dificilmente se tem um bom prognóstico. O ambiente politico vira um “salve-se quem puder” e os acordos e os mútuos compromissos do arranjo social, que implicam em concessões em nome do bem comum, deixam de valer.
A piora gradativa leva à desordem, ao descontrole e, finalmente, desemboca no caos. Para impedir a evolução de uma “décrisis” é preciso interromper o processo de desagregação. Na atual “décrisis” brasileira, que continua sem uma solução definida, a saída da ex-presidente Dilma permitiu um alívio momentâneo. Seu desfecho, contudo, ainda é uma incógnita. As mudanças estão no rumo certo, mas se mostram tímidas demais para o porte da catástrofe em curso. Para reverter a situação política do país e estabelecer um círculo virtuoso que converta a “décrisis” em uma “síncrisis”, é preciso mais do que parar de piorar. É preciso que sobrevenham fatos novos.
A oportunidade que vem da “décrisis”
Em uma sociedade que conta com uma escassa “massa crítica” de bom senso, como a brasileira, resta o instinto de sobrevivência como antídoto para uma “décrisis”. Os milhões de brasileiros que saíram às ruas no “fora Dilma” evidenciam que a sociedade está alerta e disposta a tomar posição. As multidões deixam claro que não vão aceitar um destino e segunda classe.
A lamentar, contudo, é que não se pode esperar muito deste congresso ou do governo Temer. A maioria dos atuais políticos no governo e no congresso estão implicados e tem contas a prestar.
Mas podemos encontrar um lado bom neste cenário de crise e de obtusidade política. A necessidade é a mãe das soluções. Então, a mesma sociedade que se mobilizou nas manifestações poderá se mobilizar para acertar as coisas no Brasil. Vamos precisar de muito jogo de cintura e, talvez, fechar os olhos para muita coisa errada, mas não adianta chorar o leite derramado. Transformar o Brasil é imperioso, posto que de crise já cansamos. Multidões na rua podem ajudar a encontrar um novo caminho. Multidões nas mídias sociais também podem. Mas que caminho? Corrupção e mentiras não queremos. Engodo nem pensar. Sim, é verdade que ainda estamos imersos em perplexidade, mas não será por muito tempo.
O jeito de mudar certo
Confúcio nos dizia que há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.
Como não aprendemos pelos dois primeiros métodos e hoje sofremos com mais de 14 milhões de desempregados (e crescendo…), estamos acumulando uma divida colossal e regredimos com uma recessão por dois anos seguidos, com uma queda, segundo a Folha de S. Paulo, de 9,1% do PIB “per capita” desde 2014, tudo o que nos resta é engolir seco e aproveitarmos as lições mais amargas que nos vem da experiência que estamos vivendo.
Encruzilhada da ação
O que temos claro é que nos encontramos diante de uma encruzilhada. Ou abraçamos as mudanças necessárias ou vamos avançar rumo a um despenhadeiro de empobrecimento e mediocridade. O caminho que escolhermos agora vai definir o que seremos como nação no restante do século XXI.
Aprendendo a transformar com base em evidência
Recapitulando, já sabemos que nossa democracia é um arremedo. Que nossos políticos, salvo exceções, são uma lástima. Despreparados, desinformados, superados, isto quando não mal intencionados. Uma parcela deles são apenas e tão somente “picaretas”. Mas o povo brasileiro tem alma democrata. Gosta de votar. As eleições o Brasil são uma festa. Pena que os candidatos sejam uma lástima.
Mas por quê?
Dá para deduzir que alguma coisa está errada no processo. Certamente, o presidencialismo e voto proporcional tem boa parte da culpa. O voto distrital traria outro perfil de candidatos. Mas não temos voto distrital. Nem parlamentarismo. Estas duas mudanças já seriam um avanço, mas elas não virão sem um movimento popular que as respalde. E mesmo sendo fundamentais, não esgotam as transformações possíveis e desejáveis para uma democracia do século XXI. E neste ponto é que viria a calhar uma nova metodologia de transformação democrática para o Brasil. Uma nova forma de examinar e diagnosticar os nossos males, de reunir e comparar as alternativas, de escolher as melhores soluções e de trazer a sociedade, a cidadania e o povo para ter participação 24/7 nesta tarefa que é de todos e de cada um.
Em todos os campos da atividade humana vem sendo adotada a busca sistemática de melhores resultados com base no conhecimento, nas experiências e no comparativo entre performances, ou seja, nas “evidências”. Hoje, além da “Medicina Baseada em Evidência” já existe uma enfermagem com “Procedimentos Baseados em Evidência”, uma “Arquitetura Baseada em Evidência” uma “Administração Baseada em Evidência” e inúmeras outras similares. O que podemos fazer para curar nossa democracia é sermos os pioneiros de uma “Democracia baseada em Evidência”.
Um pouco da História do Movimento pela adoção das Evidências como método de acertar
O movimento da “Medicina Baseada em Evidências” foi inspirado no livro “Eficácia e Eficiência”, escrito pelo médico Archibald (Archie) Cochrane e publicado em 1971. A obra criticava acerbamente os métodos nos cuidados de saúde de então. O livro criticou o “achismo” e a falta de evidência confiável por trás de muitas das intervenções de saúde comumente aceitas na época. Suas críticas provocaram um terremoto nas práticas médica e estimularam a adoção de “evidências” confiáveis na medicina. O movimento levou a McMaster University, de Ontario, no Canadá e a University of York, do Reino Unido, a estruturarem a “Medicina Baseada em Evidência”. A nova abordagem obteve ampla aceitação porque era evidente que muitos pacientes morriam ou sofriam sequelas por não terem sido tratados com as melhores práticas existentes. E isto era moralmente inaceitável. Ainda mais tendo em conta que, na era digital, era possível organizar as informações sobre as boas práticas e sobre pesquisas científicas de modo a encontrar “evidências” sobre o melhor procedimento para tratar cada caso. Visando reunir uma acervo de evidências foi criado o Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), um banco de pesquisas científicas e publicações médicas que podem ser acessadas por médicos de todo o mundo na busca das melhores terapias disponíveis para tratar a doença de seus pacientes.
Ao médico canadense David Sackett se atribui a definição clássica da MBE: “uso consciencioso, explícito e sensato da melhor evidência disponível na tomada de decisão sobre o cuidado a pacientes, acrescida da experiência do médico e das preferências do paciente”.
Se viermos adotar um método análogo para a “Democracia Baseada em Evidência” no Brasil, poderíamos começar com uma definição inspirada na definição da MBE: “adoção conscienciosa, explícita e sensata da melhor evidência disponível sobre o regime e as práticas democráticas, a escolha de representantes, a elaboração de leis, a transparência, a governança e a participação continuada dos cidadãos nas decisões que afetem a sociedade e o povo”.
Optar por uma democracia com método seria um fato novo, uma alternativa ao debate estéril, pirotécnico, impregnado de ideologias arcaicas e falsas premissas que vemos ser feito por partidos políticos de aluguel, alheios a realidade e aos anseios do país.
Um Futuro, Já!
Como transformaremos o país se não temos um plano de ação coerente e nem vislumbramos um destino desejável? Sêneca dizia: “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe onde ir”. Como empolgar a nação, em especial a juventude, se não definirmos onde queremos chegar e como faremos para chegar lá?
Talvez um dos poucos momentos de nossa história em que tivemos uma clara visão de um projeto nacional foi na construção de Brasília. O país se jogou no projeto proposto por Juscelino Kubistchek e o realizou. Juscelino também se lançou na criação da indústria automobilística, levou a nação junto e o fez acontecer. Foram bons projetos? A discussão hoje é supérflua. Não há dúvida de que houve muita corrupção e desvios na época. Uma peça de teatro do impagável Sérgio Jockyman, “Boa Tarde, Excelência”, produziu gargalhadas homéricas na décadas de 60 e 70 ao contar as trapalhadas e as maracutaias daquele período. A disputa da concessão dos clips de papel e do papel higiênico é tão hilária que chega a ser perigosa para quem sofre de falta de ar. Mas fica o exemplo de que sabemos realizar bons projetos, embora precisemos mudar os métodos.
Portanto, debater um projeto nacional é da mais alta prioridade. E esse debate deve ser da sociedade, da cidadania, como foi a manifestação das ruas.
O que é certo é que podemos ter uma democracia melhor e mais funcional. Uma democracia para o mundo 4.0. O Brasil não aguenta mais retórica vazia e precisa partir para as transformações. Ou, como dizia, com espírito, o ex-prefeito de São Paulo, Brigadeiro Faria Lima, “precisamos de menos planejamento e mais fazejamento”.
Método para fazer uma Democracia 4.0
O primeiro passo é assumir que queremos uma democracia alinhada com o futuro. Claro, esta democracia deve ser imune à contaminação corruptogênica. Para chegar a esta imunização será preciso dotá-la de defesas e dar a ela total transparência digital. O espírito desta Democracia 4.0 deve ser capaz de coragem para iluminar-se na lógica de Camões, nos Lusíadas, nos versos em que canta as descobertas lusitanas que transformaram o mundo de seu tempo: “Cesse tudo o que a musaantigacanta, que outro valor maior alto se alevanta!”. Ou seja, diante do novo, dos novos valores e novas descobertas; dos novos conhecimentos e saberes, cessa a influência da antiga musa. O velho cede o passo para o novo. A velha musa murcha e perde o encanto, eis que surge, resplandecente, uma nova e bela musa. O novo brilha com um novo encanto e remete ao obsoletismo as velharias superadas e manda para o ostracismo os seus velhacoutos.
Se dermos boas vindas a uma nova musa democrática, esbelta e glamorosa como todas as musas recém chegadas, precisamos ajudá-la a firmar-se entre nós. Um cuidado preliminar é afastá-la dos zumbis delirantes, um grupo de bocós políticos que teima em acreditar em fantasmas marxistas, encostos bolivarianos, abdução por seres extraterrestes, mau olhado e sortilégios, mas não acredita em coisas prosaicas e burguesas como matemática, lógica cartesiana, causa e efeito e que tais. Também convém proteger nossa musa dos corruptos profissionais de plantão, o bem aparelhado bando de rufiões que obra com engenho e arte, como prova o mal afamado “Departamento de Operações Estruturadas”, da Odebrecht. Esses são até mais perigosos do que aqueles. Nossos corruptos são afamados mundo afora, atuam com método e disciplina. Tem faro para o dinheiro público e seguem objetivos estratégicos. Para obterem acesso ao erário se fantasiam de democratas e se camuflam de esquerda, direita, centro e o escambau. Estes calhordas nefandos são os que pilham o Brasil e condenam seu povo a uma vida de sofrimentos e necessidades. Nas mãos pecadoras destes bucaneiros nossa política deixou de servir à democracia e passou a ser mera e escassa alegoria. A triste verdade é que nossa democracia sempre foi palco de engodo e foi usada para a encenação de simulacros eleitorais. Uma nova democracia teria que ser imune a estes mercenários e mistificadores.
O esgotamento da locupletação autossustentável
Stanislaw Ponte Preta nos deu o caminho da redenção: “ou nos locupletamos todos ou implante-se a moralidade”. Não temos mais dinheiro e nem condições para mantermos a locupletação desenfreada que tivemos até o esboroamento dos governos petistas de Lula e Dilma. Em outras palavras, a locupletação deixou de ser autossustentável no Brasil. Portanto, chegou a hora de implantarmos a moralidade. Mas temos uma dificuldade: não temos experiência em lidar com a moralidade. Nossa democracia ou foi manietada, no governo militar, ou sempre foi corrupta.
Este é outro motivo para adotarmos uma “Democracia Baseada em Evidências”. Esta DBE nos ajudaria a reunir boas evidências é a usá-las na formulação de nosso projeto democrático. Precisamos conhecer o que funciona e o que não funciona nas democracias do mundo. E, ainda mais importante, precisamos isolar nosso contingente politicamente subdesenvolvido. Um grupo de chupins culturalmente limitado e emocionalmente ressentido. Nelson Rodrigues dizia: “subdesenvolvimento não se improvisa. É obra se séculos.” Ora, sendo o subdesenvolvimento, a um só tempo, causa e efeito da corrupção que nos assola, pode-se ampliar o significado: “Corrupção também não se improvisa; é também “obra de séculos”. Sabemos que nossa corrupção é endêmica e está arraigada a nossas práticas políticas desde a carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, na qual o escriba que revelava à corte a “descoberta do Brasil”, aproveitava para pedir favores pessoais ao Rei.
E, além disto, controvérsias à parte, quer De Gaulle tenha dito, quer não tenha dito que “Lê Brésil n´est pas um pays sérieux”. A verdade é que o Brasil não era mesmo um país sério. Aliás, até agora continua não sendo. Mas vai ter que mudar. E não por moralismo ou decência cívica, que seriam bons motivos, mas porque o custo da corrupção ficou alto demais. Nossa corrupção já consumiu tudo o que podia na saúde, na educação, na infraestrutura e onde logrou meter a mão. Finalmente estamos cruzando o limiar da moralidade.
Da Prática de uma Democracia Baseada em Evidência
A DBE só teria sentido em um novo ambiente que crie um mundo paralelo que seja uma reprodução digital do mundo real. Neste ambiente paralelo podem ser reunidas informações e realizadas simulações ao infinito. Com o uso desta tecnologia a vida institucional do país vai deixar de ser este marasmo medieval para se transformar numa atividade online, com os acontecimentos fluindo como flui a vida. A mudança implica em fazer uma mudança do sistema e não no sistema. Trata-se de uma nova lógica e não de uma mudança limitada ou cosmética. Ainda que a prioridade seja neutralizar o sistema corruptocêntrico, a mudança de paradigma é que vai determinar se vamos mesmo escapar deste buraco negro político.
Em síntese, mudar do jeito certo significa fazer as coisas funcionarem direito. A corrupção colossal, os 13 milhões de desempregados e os déficits monumentais do governo indicam que nossa política e nossa democracia não estão funcionando direito. E precisam ser consertadas. Ou melhor, nós mesmos precisamos consertá-las.
A viabilização da DBE no Brasil vai depender das novas gerações. Elas é que viverão nesta nova democracia. Caberá a elas delinear um projeto que cresça por dentro e que, quando pronto, descasque esta velha carcaça política e permita ao país sair deste casulo de ideias medievais que o oprime.
Como o sistema político atual não é representativo da nação e como os atuais partidos não acolhem o debate aberto e não se prestam para o exercício de uma militância inovadora, a renovação democrática no Brasil precisa encontrar um novo tipo de entidade sem ligações partidárias. Movimentos como o MBL e o Vem Para a Rua tem esta característica, mas nasceram para lutar “contra” o projeto corrupto de pode do PT. Cumpriram seu papel de forma brilhante, mas agora é preciso abrir uma nova luta. Quem sabe desenvolver a DBE – a Democracia Baseada em Evidencia – em volta de uma nova entidade, de uma “nave mãe”, permitiria que se formassem miríades de núcleos filiados, cada um com uma vocação, cada um com uma missão, cada um dedicado a um projeto específico. Todos unidos por uma causa: transformar a Democracia Brasileira em uma democracia inteligente, alinhada com o Mundo 4.0 e, ainda que com atraso, pronta para os desafios do século XXI.
Parece que este país perdeu o juízo. O nível de desatino que aflora nos mais diferentes setores do país é de estarrecer. Para onde quer que olhemos vemos uma nação mergulhada na estultícia. A corrupção generalizada associada à irresponsabilidade, à inconsequência e a arrogância vem derretendo as instituições e transformando o país num ente desmoralizado e em desagregação.
Tivemos nossa imagem internacional tisnada pelos escândalos da Lava-Jato, cujos eventos de corrupção foram solidamentecomprovados e, de repente, em contra-ponto, vemos agora uma imitação canhestra querendo a ribalta. Na Operação “Carne Fraca”, que, pela falta do que procurar devia ter sido chamada de “Operação Pelo em Ovo”, um delegado da PF, despreparado e destrambelhado, decidiu jogar na sarjeta a coisa que melhor funcionava neste país, o agronegócio. Se não eram as luzes do proscênio o que queria a Polícia Federal ao detonar a tal operação “Carne Fraca”?
A Polícia Federal declarou que se valeu de um laudo próprio – um único laudo! – referente à empresa Peccin Agroindustrial Ltda., uma empresa insignificante para o setor, sendo o outro laudo fornecido pelo Ministério da Agricultura. Também haviam mal explicadas denúncias de um auditor do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sobre o frigorífico Souza Ramos. Em cima destes dois “laudos”(?) e da tal “denúncia”, a PF atacou com mais de 1.100 (!) policiais federais todo o setor produtivo do maior exportador de carnes do mundo. Mais de 1.100 agentes federais saíram país afora procurando pelo em ovo. Na operação foi investigado um dito “esquema de fraude” na produção, fiscalização e comercialização de carnes, envolvendo pagamento de propina a fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Segundo a PF, a investigação teria encontrado “indícios” de adulteração de produtos e venda de carne vencida e estragada.
Agentes que nada entendem da produção de carnes, nem de como funciona a extensa e complexa cadeia produtiva de que dependem milhões de brasileiros, entrou estabanadamente em frigoríficos e empresas do setor falando bobagens, acreditando em “salsichas com papelão”, e espalhando acusações com a ligeireza dos inconsequentes. Quer dizer, então, que vamos acabar com milhares de empregos e todo um setor da economia do Brasil só porque um fabricante de salsichas trocou carne de peru por carne de frango?
Se queriam afundar ainda mais o Brasil, conseguiram. Se queriam criar mais desemprego, conseguiram. Se queriam produzir mais crise, se queriam envergonhar ainda mais o país, se queriam jogar gasolina no incêndio que queima as entranhas brasileiras, conseguiram com louvor.
A falta de juízo com que as coisas vem sendo feitas nesta terra maluca não tem paralelo. Nunca antes neste país, – aliás, nunca antes neste mundo! – se viu tanta insensatez. Os exemplos de hipocrisia e de mau comportamento que vem de cima, e que continuam agora com esta “reforma política”, com a tal “lista fechada”, desenhada para proteger políticos de vergonha escassa e cara de pau espessa, só podiam prosperar e nos jogar na lama.
Consertar o país, agora, ficou um pouco mais difícil. O Brasil vai ter que juntar os cacos da nossa indústria de carnes e sair peregrinando humilde por nossos clientes pedindo clemência. Tentando explicar que somos um país de doidos. E dando mais descontos. Nossa imagem internacional já andava abalada com a lava-jato, de modo que uma acusação de corrupção no sensível setor de carnes, por mais descabida que fosse, encontrou terreno favorável para prosperar e se espalhar mundo afora. E, como desgraça pouca é bobagem, para gáudio de nossos concorrentes do mercado de carnes de exportação, como a Índia e Austrália (carne bovina) ou Turquia (aves), nosso caricato presidente, mais perdido que cego em tiroteio (ou seria mais correto dizer “deficiente visual” perdido em meio aos projéteis de uma saraivada de tiros”?), agindo da mais paspalha maneira, resolve convidar os embaixadores dos países que importam nossa carne para um churrasco. E os leva justo para uma fina churrascaria de Brasília que se orgulha de servir…carnes argentinas!!! É ou não é uma Chose de loc?
Infelizmente, como seria de esperar, as consequências já começaram. As vendas despencam. As exportações desabam. Os mercados mundiais se fecham. Uma empresa de Curitiba, uma das “investigadas”, acusada sem defesa, mas já devidamente denegrida, demitiu 280 pessoas dia 22 de março. E, acreditem, muito mais demissões vem aí.
Pode ser que tudo tenha acontecido por “acidente”. Mas pode ser que tudo tenha sido feito de caso pensado. Para aparecer na mídia ou para obter algum tipo de ganho político. Só que, ao que tudo indica, o feitiço virou contra o feiticeiro. Afinal, como justificar uma operação tão desastrada que, como diz a PF, vinha sendo “preparada” há dois anos? Já daria para suspeitar de algo “contaminado” (na operação e não na carne) a partir daí. Então quer dizer que a PF “sabia” que os alimentos vinham sendo “adulterados” há dois anos, em tese “comprometendo” a saúde da população ao longo de dois anos, e só agora resolveu agir?
Ainda na terça-feira a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) divulgou nota afirmando que as conclusões da Operação Carne Fraca referentes aos danos à saúde pública não têm embasamento científico. A entidade diz que peritos foram acionados uma única vez e não comprovaram os danos.
Segundo o Jornal Folha de S. Paulo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que a “narrativa” da PF ao divulgar as ações da Carne Fraca está cheia de “fantasias” e “idiotices”. Nesta quarta-feira, o ministro disse que os prejuízos para o setor são estratosféricos.
Nem nos tempos bíblicos, nem nos rocambolescos tempos da idade média, uma nação padeceu de tanta falta de juízo. E vai tudo ficar por isto mesmo?
Deus do céu, por caridade, dê um pouco de juízo ao Brasil.
Depois de longa diáspora, está na hora de irmos buscar a lógica de volta. E já é mais do que tempo.
Parecia que o Impeachment da Dilma nos tiraria da “decrisis”, onde prevalece o círculo vicioso desagregador, e nos conduziria para a “sincrisis”, onde um círculo virtuoso começaria a amainar a tempestade.
Mas as coisas não estão caminhando como deviam. O Temer vem decepcionando. Mostra-se titubeante. E temeroso. E o titubeante temeroso Temer tem se mostrado incapaz de entender o contexto de fundo e de enfrentar a crise que o país enfrenta. Concordo, estamos melhor com Temer do que com a Dilma dos tempos escarlates, mas isto é pouco. A crise não cede, antes rescede, e continuamos cruzando terrenos pantanosos. Ainda vivemos em brumas nebulosas.
Os emblemáticos episódios das matanças dos presídios de Manaus e Roraima mostrou um novo Temer: o presidente avestruz. Não só enfiou a cabeça na areia como a tirou titubeante. Segundo seu falar vetusto, cheio de volteios gongóricos, a revolta de Manaus foi “acidente”. Tal e qual a queda do avião da LaMia. Aí não dá. O mordomo de Brasília subestima o povo brasileiro e não só titubeia temerosamente como demonstra estar perdido e perplexo diante dos desafios da crise sem precedentes em que estamos imersos.
“Acidente”, convenhamos, é estarmos sendo governados por Temer e por políticos medíocres. Nós os elegemos, é verdade. Mas o modelo presidencialista com voto proporcional é um fiasco. Estamos patinando no pântano da mediocridade. Sem uma liderança que aglutine o país e o conduza com segurança, vamos continuar patinando…
Temer, o titubeante temeroso, já mostrou que não está a altura. Mas quem está? O único líder com arcabouço moral, experiência e força política seria o governador Geraldo Alckmin. Mas seu estilo é mais do tipo “devagar e sempre” e não exibe o ardor do líder revolucionário que o país precisa agora. Fernando Henrique é uma reserva moral, mas já passou seu tempo. Aécio e Serra estão chamuscados pelas labaredas das denúncias da Lava Jato. Tá difícil.
A Inconsequência galopante
Nesta formosa terra que tem palmeiras onde canta o sabiá tem também um monte de gente que acredita nos poderes de uma galinha preta com uma pinga e duas velas na encruzilhada, mas não tem a mínima fé em matemática. Desconfia das ciências exatas e, ainda com mais razão, de ciências exóticas, como economia. Hão de preferir as ciências ocultas.
O que somos é inconsequentes. E imprevidentes. O Brasil, para nossa desdita, está encastoado em uma América latina convictamente, teimosamente e recorrentemente inconsequente. E frequentemente irresponsável. Desde o descobrimento e das cartas de Pero Vaz de Caminha, vivemos às turras com a lógica e desprezamos raivosamente o dito “bom senso”. Bom senso quer dizer capacidade para ver além das aparências e entender as razões e os motivos, as causas e os efeitos. E agir com equilíbrio. Um elenco de coisas abomináveis para os que preferem crer em mandingas, bruxedos e “amarrações” de cartomantes. O bom senso, enfim, é tido e havido pelas esquerdas como um mofado convencionalismo burguês, ainda que venha da Grécia de Aristóteles.
O problema é que quem briga com a lógica não escapa da sua vingança. De tragédia em tragédia estamos preparando uma hecatombe. Os “acidentes” do Temer são da mesma natureza irresponsável da recente queda do avião da LaMia. Este acidente, típica tragédia desnecessária, foi resultado de um desafio à lógica. O capitão, um inconsequente dotado do voluntarismo que implicou com o império da lógica, entendeu que não precisava seguir as normas de segurança. O comandante, tomado da empáfia besta do voluntarismo latino-americano, preferiu jogar roleta russa com a vida de seus 72 passageiros e 9 tripulantes. Com uma pane seca anunciada continuou voando para a morte. Pode-se supor que continuava o voo esperando um milagre. Tanto que, ao se dar conta de que o avião iria mesmo espatifar-se no solo, ainda cobrou o milagre que não vinha: “Jesus”!.
A praga latino americana que pegou
A inconsequência, esta praga latino-americana que está na raiz da nossa atual crise e de nosso subdesenvolvimento é doença antiga. Um espécie de herpes-crisis cujo vírus se recolhe, mas volta a se manifestar de tempos em tempos. Fugimos da lógica como o diabo da cruz. Somos avessos a normas, desafiamos as regras e enxotamos a razão. Não acreditamos em fazer contas, como, aliás, não acreditamos em planejamento, ou melhor, não acreditamos é em fazejamento, que “planejamento” por estas bandas, é biombo para “consultorias” suspeitas e, por isto, dá como capoeira em mato. Tem muito mas não serve para nada. Também não respeitamos nenhuma destas disciplinas burguesas que foram criadas para “explorar os pobres”. E para quem interessar, não esqueçam que agora somos livres e independentes. Não precisamos dar satisfações à metrópole e somos “capazes” de fazer nossas próprias leis. E, orgulhosamente, tem mais: revogamos as leis de que não gostamos ou que nos oprimem. Um exemplo: a Lei de Newton. Ainda não conseguimos acabar com a lei da Gravidade, mas não desistimos. Mesmo sendo uma lei “cláusula pétrea” da natureza (Ah, bom!), sua revogação continua sendo proposta em reiterados projetos de lei. Qualquer dia conseguimos.
Para ilustrar, alguns anos atrás o Estado de São Paulo noticiou que o Prefeito de Palmeira dos Índios, das Alagoas, propôs revogar a lei da gravidade por uma decisão da Câmara Municipal: “Informado pelo engenheiro da Municipalidade que a lei da gravidade impedia a construção de uma caixa de água na praça central de Palmeira dos Índios, devido a um forte declive,” o prefeito da cidade não se conformou. Chamou seu líder na câmara e mandou que conseguisse maioria “para derrubar a lei da gravidade, pois era preciso construir uma caixa de água na praça”. Ainda bem que o edil tinha um mínimo de noção do ridículo e foi hábil em não afrontar o alcaide:
“Senhor prefeito, não se sabe se esta lei é municipal ou estadual. E, depois, pode ser federal. É melhor não mexer no assunto, para não criar problemas. É melhor não desobedecer ao engenheiro, que é especialista no assunto”.
O monitor das besteiras que assolam o país aponta outra recente tentativa de revogar a lei da gravidade. Desta feita veio no bojo do episódio (“acidente”…?) de Mariana. Por pouco o Ministério Público Federal não vira motivo de chacota global: ele “ordenou” que a Samarco “impedisse” que o material argiloso que chegou pelo rio à foz do Rio Doce entrasse no mar. Os desavisados procuradores confundiram a argila, que se mistura com a totalidade da água, com uma mancha de óleo, que não se mistura e fica na superfície, e sapecaram a “ordem”. Ora, impedir que a argila entrasse no mar exigiria “apenas” represar o rio inteiro. Uma estupidez descomunal. Ainda bem que um juiz providencial, Thiago Albani, titular da 3ª Vara Civil de Linhares, no ES, veio salvar a face do Brasil e da MPF: “autorizou” que a água do rio desaguasse no mar!
De tanto ver prosperar estultícia Nelson Rodrigues dizia, rouco de desespero, que, toda a vez que via um brasileiro “ligar causa à efeito, tinha um orgasmo“. Os teve poucos.
Segundo Confúcio, “três são os caminhos pelos quais chegamos à virtude: pela reflexão, o mais nobre; pela imitação, o mais fácil; pela experiência, o mais doloroso”. E já que teimamos em não aprender nem pela reflexão e nem pela imitação, vamos ter que aprender pelo sofrimento. O consolo é que, por cruel que seja nossa sina, sofrimento produz lógica. Ao menos entre os sobreviventes, claro. A dor leva a busca das causas. E estas, no caso da atual crise, apontam para a inconsequência aguda de nosso socialismo capenga de cepa petista. E, sendo a crise sintoma da grande enfermidade que padecemos no Brasil, qual seja a ilusão socialista de que o estado teria os poderes que os socialistas negam a Deus, o poder de acabar a pobreza por ato de vontade, certamente podemos lembrar Margareth Thatcher que dizia: “o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros”.
A opção pelo despenhadeiro
Dilma Rousseff queria enfraquecer a posição do ministro da Fazenda Antônio Palocci no governo. Ela era, na época, a ministra da casa civil do Lula. Palocci, que era corrupto mas não era burro, tinha um plano de ajuste fiscal de longo prazo que vinha sendo elaborado pela equipe econômica. Em síntese, Palocci defendia que o gasto público não podia subir mais que o crescimento do PIB. O mesmo princípio que levou o atual Ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles, a propor o teto de gastos por vinte anos.
O plano de Palocci estabelecia que o ideal seria que tivéssemos um superávit fiscal de 4,25% pelos próximos dez anos.
Dilma, a guerrilheira, que se imaginava audaz, de coração valente e cabeça de vento, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, desqualificou os autores da proposta, dizendo que Palocci e seu grupo estavam se baseando “em planilhas” e classificou o plano de “rudimentar”, afirmando que nem o encaminharia ao presidente Lula porque não tinha as condições mínimas para um início de discussão dentro do governo. E aí deu sua imortal contribuição para o rol das frases insanas: “gasto público “é vida”!.
Daí em frente abriu-se a porteira dos gastos sem freios. Estabelecido como preceito pela grande líder que gasto público era “vida”, todo mundo desandou a “viver”. “Viveu-se” a mais não poder. Nunca antes se tinha visto tanta “vida” neste país. E até disparamos a ensinar outros países a “viver”: Cuba, Bolívia, Venezuela e outros deste e do outro lado do Atlântico.
O PT, alegremente convertido ao catecismo dilmista, não só pregava “a vida em abundância”, aqui e “urbi et orbi”, como praticava com fervor franciscano a boa nova. O que se viu foi uma maré de “vida em abundância”, com os pixulecos escalando as estrelas. Parecia descoberto o moto-contínuo da prosperidade. Só que não. De repente caiu a ficha: quando termina a “vida”, o que vem depois? Estava na cara que esta aventura irresponsável só podia acabar mal.
E agora, o que temos diante de nós?
Quando os gregos dividiam as crises em “decrisis “e “sincrisis” eles buscavam entender como as forças internas dos processos de crise evoluíam. Decrisis eram as crises “ruins”, que tinham como característica a desagregação, enquanto as sincrisis, ao contrário, eram as crises “boas”, aquelas que se encaminhavam para uma solução por força dos mecanismos corretivos e dos equilíbrios de pesos e contrapresos que atuavam no seu interior.
Nossa crise, uma “decrisis” crônica, sob a estarrecida batuta da Dilma “presidenta”, evoluiu para uma crise aguda e resultou no impeachment. Com o impeachment tivemos uma sangria e a crise aguda foi momentaneamente debelada, mas os desequilíbrios financeiros que alimentam a cronicidade da crise continuaram a minar o organismo da nação.
A partir do impeachment, a sociedade deu um crédito de confiança ao governo Temer. Mas o prazo está se esgotando e as medidas de rearrumação da economia tem se mostrado insuficientes. O congresso continua com óculos cor de rosa. O que vemos é que as condições objetivas da economia e do meio social não se modificaram e continuamos vivendo em meio a um impasse social muito perigoso.
Um barril de pólvora social
Doze milhões de desempregados são um barril de pólvora social. Os desempregados estão encurralados e não veem saída. O governo se mostra perdido. E a crise pode piorar rapidamente e descambar para uma nova etapa de “decrisis”.
Um PROER para o povo
O ponto critico mais importante é que a sociedade está endividada e não tem como resolver seu endividamento com a crise torpedeando a atividade econômica e os empregos. E enquanto os milhões de endividados não conseguem voltar a ter crédito, a economia fica travada.
Os juros dos cartões de crédito e cheque especial são um crime de lesa pátria. E os bancos estão insensíveis. A saída seria o governo atacar o problema de maneira a desatar o nó. Criar um PROER para o povo. Criou para salvar os bancos, não foi? E que tal fazer a mesma coisa para salvar o povo? Mas os bancos mandam no país e não vão aceitar de bom grado que o governo tire deles o filão que os mantém indecorosamente lucrativos, mesmo numa crise sem precedentes.
Acontece que as “decrisis” não tem bom prognóstico. Se as forças desagregadoras que as formam não são neutralizadas, a caldeira continuará a acumular vapor até o ponto de explosão. O país é um trem despencando ladeira abaixo, com o maquinista olhando para a paisagem. E estamos próximos, perigosamente próximos, de um grande desastre. Perdão, de um grande “acidente”, como definiria o tateante e temeroso Temer.
Estamos no rumo certo, mas cuidado: tem uma eleição no meio do Caminho!
No meio do caminho tem um eleição
Tem uma eleição no meio do caminho
Desde já aviso aos amigos que vou votar em João Dória. Quero ter a “convicção” (a palavra está na moda) de que voto na continuidade do caminho.
Ainda que aos trancos e barrancos, o Brasil vai avançando e entrando nos eixos. (Ainda com muitos trancos: a receita da União voltou a decepcionar em agosto). Enquanto isto, o barulho dos pinos caindo no strike do boliche anticorrupção da Lava Jato continua. Os corruptos desabam como carreiras de dominós enfileirados. Caiu Dilma. Caiu Cunha. Lula caiu na Lava-Jato.
E ainda tem muito gaiato pendurado se agarrando para não cair. Mas a sociedade está vigilante e a nova ordem vem se afirmando como uma vitória do Brasil. Um triunfo que vem sendo obtido com o espírito e as armas do século XXI. Mas é preciso lembrar Tancredo Neves: Estamos apenas na metade do caminho. Não podemos nos dispersar.
Um ano atrás, quem diria? Estávamos nas ruas. Tínhamos a indignação. Tínhamos a esperança. Tínhamos a determinação. Mas os petebas do poder grudavam em suas benesses e sorviam privilégios com a gula insaciável dos sanguessugas. A corrupção estava institucionalizada e parecia invencível. Vivíamos em uma “propinocracia”, na definição de Deltan Dalagnol, da força tarefa da Lava Jato. E os cabras que haviam tomado o governo viviam à larga, refestelavam-se em um luxo de nababos, voavam pelos céus do Brasil e do mundo na frota VIP da FAB, enquanto se lambuzavam com as delícias, as benesses e o néctar do poder.
Por um momento pareceu aos crédulos que os petistas tinham – heureca! – encontrado a fórmula do roubo perpétuo, do moto contínuo da propina forrando a burra dos larápios. Os brasileiros decentes, por outro lado, coçavam a cabeça se perguntando como era possível tanta patifaria dar certo por tanto tempo. E muitos se questionavam, diante do êxito aparente da esbórnia escancarada, se ainda valia a pena se manterem honestos.
Mas desafiar a lógica é como afagar um tigre: raramente dá certo. E o PT devia saber: roubar e deixar roubar não é uma ideologia, é uma patifaria. E ao adotar a patifaria como estratégia de manutenção do poder e em escala jamais vista no planeta, seria de se esperar que o fim fosse um fiasco desastroso. E não deu outra. Foi tanta a sofreguidão, tanta a ganância, que sobreveio o descontrole e o caos. Claro, a desatinada da Dilma, perdida em suas mandiocas, deu o empurrão final. Mas o que se roubou neste país foi coisa nunca vista. Um mega rombo para não se esquecer jamais.
Vencendo a hidra de mil cabeças
O fato é que, para livrarmos o país do projeto de poder do PT foi preciso vencer a hidra petista de mil cabeças, de mil línguas bífidas venenosas. Foi preciso encetar uma luta árdua, enfrentar chiliques, esperneio e chorumelas, mas o Brasil que tem ambições, que quer um lugar decente na história, combateu o bom combate com a admirável galhardia verde e amarela. Ao chegarmos ao meio do caminho podemos nos orgulhar de que juntos lutamos e juntos vencemos. E é uma alegria congratular-me com você, que esteve aos milhões nas manifestações, que amassou suas panelas para fazer o Brasil ouvir seu clamor, que protestou, incansável, nas mídias sociais. Parabéns a você que foi para o enfrentamento corajoso e sem esmorecimento, que disse a que veio na pugna crucial entre o passado caquético da esquerda corrupta e o ansiado futuro que todos queremos para nosso Brasil. E que só depende de nós.
Com o país ainda se debatendo na maior crise de nossa história, não tínhamos mesmo escolha. Não queríamos um destino cafajeste. Um futuro de bagre chafurdando na lama rasa. Era preciso reagir. Era preciso demolir o Carandiru ideológico com que Lula e os seus asseclas aprisionavam o Brasil; em que prendiam os brasileiros por meio de um emaranhado de mentiras, demagogia, e engodos.
Definindo o país que queremos
Não podemos morrer na praia. Seria uma pena esmorecermos agora. Podemos lembrar Tancredo Neves quando dizia “Enquanto houver neste país um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”.
Existe muito a ser feito, é verdade. Há montanhas de entulho para limpar. Bobalhões desfilando asneiras. Desocupados atrapalhando o trânsito. Mas, sem recear o lugar comum, todo começo começa pelo princípio.
O mais importante é nos entendermos sobre o Brasil que queremos. E definirmos o que, como sociedade, queremos fazer do país.
O que sabemos, desde logo, é que qualquer organização – e um país é um tipo complexo de organização – se apoia em um triângulo com três vértices:
– Recursos Humanos
– Recursos Materiais
– Sistemas.
Os Recursos Humanos, as pessoas, vem em primeiro lugar. E elas é que se valem dos recursos materiais e dos sistemas para fazer o país funcionar. Os recursos materiais, ao contrário do que muitos pensam, não fazem a riqueza de uma nação. Nossa maior riqueza não é o pré-sal. Não é o ferro, ou o ouro ou os diamantes. Nem mesmo a Amazônia, o cerrado, o sertão, o pantanal, os pampas do sul. Nossa maior riqueza é a gente brasileira. É nosso povo. Com ele, tudo será possível. Sem ele, seremos tribos perdidas, grupos erantes, confusos e quebrantados.
Mas os recursos materiais contam muito. E nossos recursos naturais contam muito mais. Nossa prosperidade haverá de voltar muito pela generosa mão da natureza com que o Brasil foi abençoado. Os recursos naturais que temos são superlativos. Temos muito e temos em abundância, tanto temos que podemos sermos ufanos de nosso país. Mas lembrando sempre que, sem a atividade produtiva de nossa gente, nossos recursos naturais são apenas paisagem. Se não forem tocados pela mágica transformadora do homem, continuarão ali, inertes, pelos tempos afora, sem gerar riquezas e sem contribuir para melhorar a vida do povo ou para enriquecer seu futuro.
A propósito, o Brasil tem dois exemplos do que pode ser conseguido fazendo certo as coisas certas: o agronegócio, que prosperou graças aos empreendedores que vivem no campo, longe dos predadores de Brasília, e a Embraer, que é até “brasileira” (note as aspas…), mas que soube escapar do alcance da burocracia rapinante que esculhamba tudo o que toca neste país e foi progredir lá fora.
Tudo depende de nós.
Um país não se faz apenas amontoando pessoas em um território. Países existem que acumulam seres e vidas, mas que são lástimas, que são catástrofes. Temos vizinhos como a Venezuela, a Bolívia e o Equador nesta categoria de paspalhões fracassados.
Sem bons governos e bons sistemas não existem bons países. Sem bons governos, as nações se desorganizam, ficam improdutivas e sofrem os efeitos deletérios da desordem. O resultado é que seus povos vivem vidas desgraçadas, vidas sem perspectivas, vidas miseráveis.
O que vai fazer a diferença é a educação. Segundo Sydeny Harris, o principal propósito da educação é transformar espelhos em janelas. É facultar às pessoas uma visão capaz de abarcar o mundo e permitir que compreendam os fatos elementares da vida e da natureza. Desta compreensão nasce a sabedoria. E da sabedoria de um povo surgem bons governos e bons países.
A sabedoria permite compreender que não se pode viver de mentiras e engodos. E que a nossa condição humana nos impõe a crueldade da matemática: nenhuma nação se poderá sustentar de pé se seu povo não tiver juízo. Se gastar mais do que tem. Infelizmente é possível, sim, usar o cheque especial para viver uma fantasia passageira, gastando por conta. Alimentar um sonho demagógico, uma ilusão aberrante, por algum tempo. Mas a ilusão passageira cobrará bem caro na hora da conta. E a conta sempre vem: a economia não se defende, ela se vinga.
Confúcio, que viveu 500 anos antes de Cristo, explicou existirem três métodos para adquirir sabedoria: Primeiramente, pela reflexão, que é a mais nobre; Em segundo lugar, pela imitação, que é a mais fácil; e terceiro, por experiência, que é a mais amarga. E tudo leva a crer que nós, brasileiros, preferimos a última. Acho que temos uma queda para o sofrimento. Affêe!!!
Conclusão I: A sabedoria de um povo é que define seu destino. Todos conhecem a fábula de Esopo que narra a história de uma cigarra que canta durante o verão, enquanto a formiga trabalha acumulando provisões em seu formigueiro. No inverno, desamparada, a cigarra vai pedir abrigo à formiga. Esta, a formiga, pergunta o que a outra fez durante o verão. “Eu cantei”, responde a cigarra. “Pois então agora, dance”, rebate a formiga, deixando-a do lado de fora. A fábula de Esopo é um ensinamento que vem da sabedoria da experiência. E permite concluir que um povo operoso será recompensado com a prosperidade. Um povo de tolos terá o destino dos tolos: as carências, a miséria e o sofrimento desnecessário.
O terceiro vértice corresponde aos “Sistemas”. Estes determinam o que fazemos, como fazemos, quando fazemos e porque fazemos. O governo está neste vértice e seu papel de líder e organizador equivale ao do cérebro em nosso organismo. A gente até deveria saber disso, posto que nossa sabedoria popular sempre ensinou que “quando a cabeça não pensa o corpo padece”…
Em síntese, um governo inteligente organiza os sistemas de modo a formar um todo coerente, bem balanceado e holístico, capaz de funcionar e ser eficiente. Até aqui, salvo os eventuais misantropos, suponho que todos estejamos de acordo. Deste ponto em diante, contudo, é que as divergências começam a separar a humanidade em dois grupos irreconciliáveis: os “fazedores” e os “tomadores”.
A divisão do mundo em dois grupos: Os “fazedores” e os “tomadores”
Os “fazedores” são os românticos da ação. Para estes, o mundo é como um pomar. Entendem que sua tarefa no mundo é plantar, adubar, regar, combater as pragas, colher e distribuir a colheita para que todos possam se saciar. Para os “fazedores”, um país rico é cheio de pomares (e fábricas, lojas, escritórios; óbvio, né mesmo?) onde os laboriosos colhem frutos em abundância. Os fazedores acreditam que fazer um país se tornar rico é fácil. Basta que todos se disponham a plantar pomares e obedeçam as regras da natureza. Como são sábios, compreendem que existe um tempo para plantar e um tempo para colher. E que é preciso saber semear, esperar que as sementes germinem, que as plantas cresçam, que as flores se convertam em frutos. Que os fruto amadureçam. Daí que sua maior aspiração é poderem plantar e colher sem obstáculos. Sua crença: a produção transforma o mundo. Sua fé: se muito for produzindo, muito haverá para todos e não haverá ninguém com fome.
Já os “tomadores” acham que o mundo é um galinheiro onde eles são as raposas.
Existem “tomadores” à esquerda e à direita. Os da direita são os folgados, os vagais, os parasitas. Sabem o que deve ser feito, mas não estão a fim de trabalhar. Ponto.
Já na esquerda, petistas inclusos, os “tomadores” acham que seu papel é “redistribuir” a riqueza que os outros produzem. Se pensam os justiceiros da humanidade.
Esses boçais vivem olhando ao redor. Onde alguém criar um caminho, eles tratam logo de colocar uma pedra, “regulando” e taxando a atividade. Esta fúria arrecadatória não começou com a indústria da multa do Haddad, embora, devo reconhecer, este a tenha refinado para o padrão da tortura chinesa. A fúria arrecadatória já era assim nos tempos coloniais dos tropeiros e no “Caminho de Viamão”. O tropeiro suava sangue para trazer do extremo sul gaúcho uma tropa de muares ou gado, vindo por trilhas intransponíveis, cruzando os Campos de Vacaria cheio de obstáculos, enfrentando os índios Xokleng e os Coroados Kaingang e quando, mil quilômetros depois, chegava em Lages, tinha que pagar um “pedágio” para cada cabeça de boi ou lombo de mula que houvesse sobrevivido.
Essa obsessão de tudo controlar e regular chega a ser uma patologia. Acredito tratar-se de uma compulsão atribuível a uma fixação freudiana na fase anal. Parece humor escatológico, mas não é, pois, como se sabe pela psicologia, a fixação na fase anal leva ao desejo compulsivo de controlar tudo e todos. Explico: o sujeito que não conseguia controlar sua evacuação na infância, que se abraçava ao vaso sanitário pedindo “cocô, volta aqui”, enquanto chorava ao vê-lo ser levado pela descarga, agora quer compensar controlando a vida de quem trabalha e produz. É o fim da picada. E como para o pirado esquerdista-anal vale tudo, dá-lhe discurso apelativo, demagogia, mentiras, engodos e enrolação.
O cúmulo, contudo, é que o esquerdista brasileiro pensa que o país lhe deve uma cornucópia. Para quem não sabe, a cornucópia, na mitologia grega, era um dos cornos do bode Amalthea, o qual seria dotado da propriedade mágica de prover quantidades ilimitadas dos mais variados e deliciosos manjares e guloseimas. Do corno vinha mel, doces, frutas, e, seria de supor que, para atender ao surpreendente paladar petista, viriam também fantásticos sanduíches da melhor mortadela. E sendo que nada neste mundo é mais parecido com uma cornucópia do que um emprego público no Brasil, o sonho do petista padrão é uma sinecura ou uma boca no governo.
O Brasil merece bons sistemas
Apesar dos pesares, no Brasil já somos um país. (Que bom!). Mas somos latino-americanos. (Que mau!). E, portanto, somos disfuncionais. Acreditamos em coisas que não existem, como na capacidade do governo criar riqueza. Ou na capacidade de funcionários púbicos resistirem à tentação. Em compensação, não sabemos ligar causa com efeito. O arguto e saudoso Nelson Rodrigues dizia que toda a vez que via um brasileiro ligar causa ao efeito tinha um orgasmo. Acho que os teve poucos.
O ponto chave é entender que, no século XXI, um governo deve ser um maestro. Em sociedades amadurecidas, os cidadãos não precisam da tutela do governo. E um governo deveria ter sua avaliação de forma automática. Se seus indicadores mostrassem incompetência, o sistema acionaria a ejeção e pimba: o governo seria mandado para o espaço.
O maior dos indicadores seria a qualidade do gasto público. Quando o governo começasse a gastar mais nas atividades meio do que nas atividades fim, tocaria o alarme da ejeção. Se um governo começa a enriquecer os amigos e a mandar as contas para o povo receberia um aviso de alerta e, se insistisse, seria demitido pelo computador. Estamos chegando a um tempo em que ninguém mais aceita ser escalado para ser trouxa a vida inteira.
Os governantes deveriam ser servidores do povo. Com crachá. O presidente deveria fazer como o Papa e lavar os pés do povo ao menos na páscoa da ressureição. Mas no Brasil, os membros dos três ramos do governo ainda se acham no direito de desfrutar das glórias imperiais. Vivem em palácios, voam nos tapetes voadores da FAB e desfrutam da coisa pública como se vivêssemos em um reino das arábias. É uma pouca vergonha daquela muito sem vergonha. Mas temos que nos curvar ante a dura verdade, a doída verdade: nenhum país pode ser latino-americano impunemente.
O que precisamos cultivar no Brasil é um pouco de bom senso. É lutarmos para criarmos sistemas balanceados com um mínimo de equilíbrio ganha-ganha. Sistemas feitos com uma beirada para incluir o povo e em que os dois lados ganhem.
Talvez venhamos a concluir que isto implica em refundar o Brasil. Fazer um nova constituição para o novo século. Todavia, só um imbecil anacéfalo irá acreditar que estes políticos mentecaptos, ou os políticos da velha ordem, sejam capazes de largar o osso que roem desde o descobrimento. Que se disponham a criar sistemas isentos da velha sacanagem patrimonialista nacional que os fazem marajás. De modo que, para mudar mesmo, precisamos, antes, reinventar a participação moderadora da sociedade no desenho de nosso destino.
Como as mídias tradicionais tem se mostrado limitadas é preciso contar com a mobilização das mídias sociais e, especialmente com as ruas. A estas cabe mostrar força e união. Às ruas cabe neutralizar os esforços bucaneiros dos piratas de nossa política. Sem uma presença massiva desta nova forma de mobilização social seria repetir a velha história: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Lamento dizer, mas penso que apenas se, e quando, a sociedade ficar de olho e contar com pesos e contrapesos eficazes, os políticos e agentes públicos se portarão com a devida decência. Por exemplo, é impossível esperar reformas do atual congresso, formado por compadrio entre 28 partidos que repartem o mando. O resto é devaneio de noite de verão.
Conclusão II: Um bom sistema é como a virtude, que só é boa quando a serviço de uma boa causa. Como lembrava Santo Agostinho, “uma virtude a serviço do vício agrava o vício!”. Carlos Lacerda, ao dar um exemplo sobre esta frase da tribuna da câmara, disse, certa feita, que “a pontualidade é uma virtude, mas se for usada para ir ao bar para beber com pontualidade, vai agravar o vício da bebida.”
De maneira que redesenhar o sistema político precede outras providências. É preciso redesenhar os canais pelos quais fui a democracia. Hoje o sistema é uma enganação. As elites fingem que mudam mas, mudar mesmo, não mudam nada. A habilidade com que os políticos “espertos” manipulam as leis e normas em seu favor nesta grande pátria tropical ficou cabalmente demonstrada no arranjo inconstitucional sobre os direitos políticos da Dilma.
Fórmula para arrumar a casa
Se fosse para consertar de vez, não seria preciso reinventar a roda: o mundo desenvolvido já mostrou claramente que os mecanismos que melhor funcionam são aqueles baseados em dois princípios:
– Voto distrital – A experiência demonstra que o distrito tende a eleger o melhor candidato de sua área. O conjunto de distritos tende a eleger um congresso com compromissos claros com suas comunidades, o que resulta em um congresso melhor.
(A dificuldade: Os políticos profissionais fogem dessa discussão porque, na hora de se discutir o tamanho dos distritos, o povo de São Paulo vai querer saber porque, para a câmara federal, o voto de um cidadão de Roraima vale 10 vezes mais do que o de um cidadão paulista. E não vai gostar de ficar na segunda classe. Nem de saber que é o que mais paga e é o que menos recebe.
2. – Parlamentarismo – Os mecanismos do parlamentarismo favorecem a governabilidade e ajudam a neutralizar os vícios e as inevitáveis crises do presidencialismo.
(A dificuldade: o presidencialismo de “coalisão” é o regime das melhores negociatas. Vender o voto é um excelente negócio. Somado aos lucros da corrupção, tem sido melhor do que encontrar ouro no quintal.)
Pedra à vista: estamos no meio do caminho
Estamos no meio do caminho. Mas no meio caminho já estávamos quando conquistamos as eleições diretas. Parecia, naquele tempo d’antanho, que havíamos de seguir em frente. O governo de Fernando Henrique Cardoso, sobretudo, foi auspicioso e parecia indicar um tendência pela prosperidade autossustentada. Mas, ledo engano: nossa natureza de sul-americanos não demorou a aflorar e a nos submeter. O Belzebu colorado que jura ao povão que dá para viver de milagre, de efeitos sem causa, voltou com seu tridente para nos afastar da lógica e do bom senso. Caímos novamente na tentação das delícias grátis. E agora, no fundo do poço, devemos enfrentar uma penosa e lenta recuperação. Ou, pior, descambarmos de vez, seguindo no destino dos rebotalhos do mundo, a exemplo de Cuba, da Venezuela e de outros fracassados deste e do outro lado do Atlântico.
Mas haveremos de vencer, certo? Vamos enfrentar nossa realidade de frente, esconjurar nossos pecados, cortar as asas da corrupção, ficar de olho no desejo de nossas “zelites” picaretas de meter a mão e de misturar o público com o privado. Temos que acreditar que o impeachment de Dilma, a cassação de Cunha e o indiciamento de Lula no Lava-Jato são sinais de um provir mais promissor.
Uma saída, mais à frente, possivelmente será uma nova constituinte para o século XXI. A Atual constituição é desbalanceada e conduz a uma instabilidade permanente. Até seria muito bom se nosso dinheiro desse, mas o Brasil não tem como manter todos os privilégios, regalias, direitos e benesses contemplados na atual carta. Esta constituição está além de nossas possibilidades. É triste reconhecer, todavia, que enquanto esta perdurar, vamos viver em crise permanente.
E a eleição no meio do caminho?
Escolher mal agora pode desperdiçar toda a caminhada já feita. E recolocar as pedras que conseguimos tirar do caminho.
Por isso, como revelei com candura, vou votar em João Dória para prefeito de São Paulo.
Conheço o candidato pessoalmente e já trabalhei com ele em uma parceria internacional. Sei, de primeira mão, que é preparado, competente e trabalhador. O mais importante: acho que, com ele, vamos poder contar com São Paulo para continuar a caminhada no rumo do Brasil decente que queremos.
Que me desculpem os petistas e os vermelhos em geral, mas, com o entusiasmo da esperança, não posso deixar de bradar: Viva o Brasil verde e amarelo.
Os ratos estão em polvorosa. Pressentem que o fim está próximo. Nunca a confraria dos roedores deste país se sentiu tão acuada. Nunca enfrentou inimigos tão implacáveis, nem tão letais, como o Juiz Sérgio Moro e a Força Tarefa.
Nada a estranhar, portanto, na estridência de seu esperneio.
De todas as bocas de lobo, de todos os antros corruptos, de todos esgotos escancarados, de todos os quadrantes comprometidos com a roubalheira ouvem-se impropérios, ranger de dentes e ataques à Lava Jato e, em especial, contra o juiz Moro.
Todos os ratos que pilharam a pátria sem dó agora se juntam nos rompantes guturais do coral da cloaca. Vendo o cutelo zunindo em sua direção, vociferam a cantilena de golpe que ecoa pelos porões putrefos daquele que foi o mais perverso dos governos que o Brasil conheceu.
Segundo disse à Folha de S. Paulo o Procurador Dalton Dallagnol, coordenador da Força Tarefa de Curitiba, “nossa única defesa é a sociedade.”
Fica claro, portanto, que, se queremos um país decente, precisamos nos unir e mostrar que estamos com a Lava Jato e apoiando o Juiz Sérgio Moro, para o que der e vier.
O sentimento majoritário da sociedade brasileira é que chegou a hora de dar um basta. De desratizar o país. De eliminar os ratos para acabar com a roubalheira desenfreada, despudorada, desavergonhada, de uma vez por todas.
Ainda que muitos políticos pensem o contrário, não somos um país de tolos. Somos tolerantes em demasia, é verdade, mas tudo tem limite. Cansamos de tanto bandido, cansamos de tantos roedores.
Fora ratos Já!
“Você sabe o que acontece quando um navio tem ratos demais? Ele afunda. É isto o que acontece.” (David Wong).
Bem, um país com ratos demais também afunda. Que é precisamente o que vemos acontecer com o Brasil.
A verdade sobre os ratos, tanto os rattus rattus, de quatro patas, como os homo rattus (teria mulher rattus?) de duas pernas, é que são insidiosos. E prolíficos: quando encontram condições favoráveis, os ratos se multiplicam como ratos. O que, convenhamos, era de esperar! E, ainda, sendo os ratos roedores incansáveis, roem tudo o que podem. Daí os rombos colossais que vemos à nossa volta no Brasil.
Por isso, a luta contra os ratos não tem fim e o homem vem, desde sempre, tentando se livrar destas pragas.
No combate aos ratos, é mais fácil eliminar o animal de quatro patas, o rattus rattus, como registram diversos episódios do passado.
Por exemplo, em 1508, na pacata Autun, uma pequena cidade da França, cerca de 300 km ao sul de Paris, o vigário acionou o tribunal eclesiástico da localidade para processar os ratos que haviam devorado as plantações de cevada da região.
Naquele tempo era comum este tipo de processo que o direito eclesial e medieval considerava dentro de suas atribuições. Hoje, na igreja católica, ainda existe a benção dos animais, mas nos idos do século XVI, os líderes religiosos acreditavam que os animais poderiam ser possuídos pelo demônio e, portanto processados e condenados pelos tribunais da igreja.
Só para ilustrar, houve um Papa, Leão XIII, que preconizava o exorcismo de animais. Em outro exemplo, o bispo de Lausanne, certa feita, tratou de amaldiçoar oficialmente as criaturas que desobedeciam as ordens eclesiais.
Na França, chegou a existir alguma jurisprudência penal animal, como evidencia uma tapeçaria na antiga cidade de Falaise, referindo-se ao assassinato de um bebê por um porco, em 1386.
Assim é que, em 1508, a pequena cidade de Autun decidiu que haviam evidências suficientes para processar os ratos das redondezas. Os bichos tinham passado de todas as medidas. Pois não é que os desgraçados haviam dizimado a plantação de cevada local?
O crime já era grave por si, pelas perdas econômicas, mas, para piorar as coisas, haviam privado a cidade da matéria prima para a produção local de cerveja. (Não entenda mal: em certas épocas, a cerveja chegou a ser mais popular do que a água, já que, na Idade Média, as práticas sanitárias deixavam muito a desejar. Assim, ainda que servisse com uma boa desculpa, era mais seguro beber cerveja do que água.)
O fato é que, então, o Tribunal Eclesiástico de Autun, solenemente presidido pelo dito vigário, emitiu uma citação convocando os ratos a comparecerem perante o Tribunal. Em deferência à importância dos réus, a corte seria instalado na célebre Catedral de Autun, uma magnífica construção ainda imponente, concluída em 1.146.
Como rezavam as boas regras do direito, um advogado local foi indicado para ser o defensor “pro bono” dos ratos. A atribuição coube a Barthélemy de Chasseneuz, personagem que se tornou conhecido e respeitado pela forma engenhosa como defendeu as ratazanas de Autun.
Os autos do processo registram que, no primeiro dia do julgamento, os ratos não compareceram.
Chassenez argumentou ao Tribunal que a intimação fora inválida. A intimação, feita dos púlpitos, não teria como chegar aos acusados, que tendiam a viver sozinhos. O advogado insistiu que cada um de seus clientes devia receber uma intimação individual.
Depois de acalorado debate, o juiz decidiu que Maitre de Chassenez tinha levantado uma questão relevante e foi decidido que uma intimação fosse devidamente afixada nas igrejas de toda a cidade e das cidades vizinhas. (Consta que perto do chão, na altura dos olhos das criaturas endiabradas, para facilitar a leitura por parte dos réus).
Mas os ratos continuaram em desobediência e não se deram ao trabalho de aparecer na segunda citação.
Foi a esta altura que Chassenez ganhou a reputação que o tornou famoso e o enriqueceu como grande advogado: argumentou que, na medida que o tribunal não tinha proibido a presença dos gatos no caminho, simplesmente não era seguro para seus clientes comparecerem nas audiências em Autun.
Ora, o Estado de Direito já fazia sentido na França em 1508: se um acusado não pode ter assegurada sua segurança pessoal para comparecer diante de um tribunal para responder às acusações, poderia ser dispensado de obedecer à citação. E assim foi que, por decisão da corte, os ratos continuaram vivos e soltos.
Outro episódio medieval, desta feita com um desfecho menos favorável aos ratos, exige que recuemos ainda mais 250 anos na história.
Conta-se que, precisamente no dia 26 de junho de 1284, um “caçador de ratos” se apresentou com uma proposta ao prefeito de Hamelin. A cidade, que estava tão infestada de ratos como o Brasil hoje, queria se livrar da praga que a assolava. O caçador se propunha livrar a cidade dos ratos mediante uma recompensa. Haveria um alta conta a ser paga pela população, mas a cidade se veria livre da praga para sempre.
O mencionado “caçador de ratos”, um personagem que entrou para a história como o “Flautista de Hamelin”, pôs-se a trabalhar. O “caçador de ratos”, que era, na verdade, um músico que tinha uma flauta cujo som atraia os ratos, saiu pelas ruas da cidade tocando seu instrumento. A população viu, assombrada, que os ratos, enfeitiçados pela música, seguiram o flautista até o Rio Wesser, onde foram caindo e morreram afogados.
Todos festejaram e ficaram muito felizes: o fim dos ratos prometia uma nova era para o povo da cidade de Hemelin.
Mas e agora? O que esta história da Alemanha Medieval tem a ver com o momento que vivemos no Brasil?
Simples: O Juiz Moro é o nosso “Flautista de Hemelin”. A flauta á a Polícia Federal e a música é a lei. Os ratos, como estamos vendo, são todos da espécie homo rattus, bípedes corruptos que estão sendo desentocados e tendo que se explicar diante da lei.
De nossa parte, o que devemos fazer é apoiar de todas as formas possíveis a Força Tarefa da Lava Jato e o Juiz Sérgio Moro.
E aproveito para enviar um recado ao Temer e seu grupo da velha guarda (e velhos hábitos) que assumiram o plantão: a Lava Jato vai acabar quando acabar. A limpeza vai ser geral e irrestrita.
Segundo o Ministro Teori, “A gente puxa uma pena e vem uma galinha“. Portanto, enquanto houver pena solta por aí, o povo vai continuar mobilizado. Podes crer. Assim, que fique claro para todos os efeitos: a Lava Jato vai acabar quando tiverem acabado as galinhas e eliminados todos os ratos que infestam o Brasil.
Se você é também desta opinião anota aí: dia 31 de julho próximo vamos todos para a rua participar da próxima megamanifestação de apoio à Lava Jato e ao Juiz Moro.
E lembre-se: país rico é país sem ratos!
Em tempo: este post já estava na internet quando o Youtube publicou o público de Curitiba aplaudindo o Juiz Sérgio Moro, em um teatro, durante show da Banda Capital Inicial, dia 25 de junho.
A fuzarca assola o país. É tanta zica que só pode ser castigo cósmico.
No horóscopo chinês, 2016 é o Ano do Macaco. No Brasil, pelo tamanho da encrenca,só poderia ser o Ano do Orangotango.
Nossa atual crise, uma esculhambação jamais vista antes neste país, tem o jeito mal encarado de um Orangotango, só que bicéfalo.
Numa das cabeças temos um presidente “vintage”, que se vira com status de substituto e pose de primeiro mordomo e, no outro crânio, um recipiente agora oco, posto que descerebrado, remanesce a dita “afastada”, uma quase “ex-presidenta” desidratada, ranzinza e cada dia mais furibunda, agora que a deixaram sem avião.
Esta bizarra criatura de duas cabeças – refiro-me ao orangotango, óbvio – começou o ano atazanada e resolveu que pagaríamos todos os nossos pecados de uma só vez. A partir desta disposição, nada que tenha o dedo do coisa-ruim tem escapado da faxina ampla, geral e irrestrita.
A Lava Jato vem usando o ventilador em sua capacidade máxima.
As instituições, por seu turno, balançam sob abalos de proporções sísmicas, provocadas por gravações insólitas, que desnudam, fáticas, algumas das figuras mais herméticas da república. Figuras caricatas, toscas, fétidas, pilhadas em eventos sórdidos, assás nauseantes, reais arquétipos de corrupção explícita. (Ufa!…)
Algumas destas figuras, ademais, não escondem estar dispostas a se aventurarem em esquemas e maquinações malucas na desesperada tentativa de escaparem de Curitiba.
Suas excelências, antes bem falantes e fagueiras, agora catam desculpas gaguejantes, atarantadas, aparvalhadas. É um espetáculo patético. É triste, mas impagável, ver os digníssimos, sempre tão empertigados, demonstram temer mais o juiz Moro, em Curitiba, do que temeriam o Conde Drácula, na Transilvânia.
E ainda, o mais atroz vaticínio neste Ano do Orangotango, horrendo e insopitável, que insiste em espalhar paranoia em Brasília: eis que todas as conversas foram gravadas; eis que todos farão delações premiadas; eis que todas as trapalhadas serão reveladas; eis que todas as bandalheiras serão punidas; eis que toda a roubalheira deverá ser devolvida.
Para complicar, o exemplo de Lula e Dilma fez escola. E, dado que o mau exemplo é mais corrosivo que o ácido, o país, que já não era sério, que sempre foi amigo do jeitinho, parou de acreditar no bom senso.
Segundo o catecismo petista, bom senso é bobagem antiga. Muito antiga. De antes do Lula. É coisa do tempo de um tal Aristóteles, um cara que falava grego. Funcionava assim: para alcançarmos uma vida próspera e feliz. devemos utilizar como instrumento a frônesis (já imaginou?), que significa “justa medida”, uma combinação de comedimento e equilíbrio que resulta no tal “bom senso”.
O velhote da Grécia dizia ser esta uma sabedoria prática, acessível a todo o povo pelo uso do cérebro (uso do quê? abusado o Tóteles, hein?). Por exemplo, um guerreiro, com pouca coragem, se torna um covarde; com muita coragem, se torna temerário e pode se dar mal. Alguém que tem a obsessão de poupar dinheiro vira sovina; em contrapartida, aquele que nunca guarda nada, torna-se esbanjador e vai à falência. Assim, pregava Aristóteles, o caminho correto para uma vida boa e feliz está no equilíbrio e na ponderação.
De modo que, descartado o citado “bom senso”, devidamente xingado de neoliberal, nenhum petista queria ouvir falar em mérito e decência. Havia uma “ética” do partido: era nossa vez de “enricar”, de “meter a mão”. E nem as “zelite”, nem ninguém mais tasca.
Tanto fizeram que instalou-se a crise e a sociedade cansou. E, repetindo Rui Barbosa, “de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Por consequência, com a adoção generalizada do “gasta que eu gosto”, hoje vivemos o efeito desta onda produzir o colapso em série nos estados e municípios. São dezenas de estados e centenas de municípios que estão na bancarrota, sem dinheiro até para pagar salários.
E foi nesta toada, ao se espalhar pelo país a seita petista, avessa às boas práticas de gestão da coisa pública, que o festival de gastança tirou os calços. Por exemplo, criaram-se milhares de cargos públicos. Acontece que cada novo emprego público gera compromissos de salário, aposentadoria e pensão por TRINTA ANOS. São trinta anos de despesa engessada. Grande número comprometida em manter funções obsoletas, como os ascensoristas do congresso nacional, que recebem mais de R$ 12 mil mensais.
E com Dilma, como mãe do PAC, e Lula et caterva com a mão no PAC, para qualquer lado que se olhe, depara-se com o desperdício. Vê-se uma profusão de obras inacabadas. Muitas delas, aliás, criadas só para gerar propina. Como Lula e Dilma acreditam que dinheiro dá em árvore, bilhões foram gastos sem controle. Podemos começar pela transposição do São Francisco, ou pela Refinaria Abreu e Lima, mas a lista é tão extensa que não cabe num só post.
Nestor Cerveró, um dos delatores “premiados”, contou que muitos políticos reclamavam do “pequeno” percentual destinado à propina nos contratos da Petrobras. “Tem muito político que pensa… Isso funciona muito em obra estadual, aí a comissão é 10%. Tinha político ali (na Petrobras) que ficava revoltado: ‘Porra, só isso que vc pode pagar? Fiz uma estradinha e levei 20%'”…
A propósito, Cerveró acusou Dilma de ferrá-lo. E deu o troco. Pelo que disse, Lula e Dilma sabiam de tudo desde o princípio. E apontou a responsabilidade de Dilma na compra da Refinaria de Pasadena, com 700 milhões de dólares pagos a mais.
O fato é que, sendo 2016 o Ano do Orangotango, tudo pode acontecer. Inclusive a volta da Dilma. Mas parece pouco provável. E por uma razão muito simples: político vende a mãe, mas não vende o cargo. Convencer senadores a escolherem o suicídio político é uma verdadeira missão impossível.
Dilma, ainda na cadeira, não conseguiu nem mudar os votos dos deputados, sendo que um deputado, eleito por voto proporcional, ainda poderia pensar em se reeleger com o que sobra de votos petistas. Ainda os haverá em pequena escala.
Já um senador, votando contra o impeachment e, assim, traindo a maioria dos seus eleitores, teria que enfrentar a fúria do eleitorado em uma eleição majoritária. Moral da história: não se reelegeria nem a pau.
Outras manobras de concepção sibilina, como esta proposta matreira que propõe a volta da Dilma com base numa promessa de renúncia e na convocação imediata de eleições diretas, simplesmente afrontam a inteligência da sociedade. Fazer um plebiscito para, depois, se for o caso, convocar eleições gerais, é enrolação da boa. Sem falar que promessa da Dilma tem credibilidade zero. Ninguém acredita.
Em todo o caso, só para ver o tamanho da bobagem, vamos imaginar a sequência destas tais “eleições gerais”: isso exigiria reformar a Constituição de uma hora para outra, com um rito complicado e maioria de dois terços. Mesmo que houvesse apoio de dois terços de ambas as casas e Dilma voltasse ao cargo à bordo desta “promessa”, isto só ocorreria em fins de agosto.
Em seguida, seria preciso começar a votar o projeto em meio às eleições municipais: o primeiro turno das eleições municipais de 2016, que elegerão em todo o país prefeitos evereadores, será realizado em 2 de outubro, primeiro domingo do mês. O segundo turno, em cidades com mais de 200 mil eleitores, está marcado para 30 de outubro, último domingo do mês. No congresso, durante a campanha, não se obterá nem quórum simples, quanto mais qualificado.
Passado o pleito, estaríamos no final do ano. Mesmo que as discussões iniciassem em novembro, as decisões pulariam as festas e as férias e seria retomadas depois do carnaval de 2017, que será em 28 de fevereiro. Com todas as chicanas e manobras protelatórias, uma eventual aprovação só ocorreria em meados de abril, na melhor das hipóteses. Então, a menos de dois anos do término do mandato, a eleição não seria por meio do voto popular, seria no plenário da Câmara dos Deputados. Sempre lembrando, claro, que, antes, seria preciso combinar com os russos: o Temer deveria concordar em renunciar junto.
E agora, José?
O Ano do Orangotango tem sido cruel de muitas formas. A roubalheira perene e os eflúvios etéreos estão nos dando uma surra merecida. Para a sociedade, não existe punição mais sádica do que assistir os noticiários. Milhões para cá, milhões para lá, milhões em profusão, milhões de contribuição, milhões no exterior, milhões em grana viva, milhões em espécie, milhões em maletas, em mochilas, em sacolas. São milhões, muitos milhões, mas nenhum, nenhunzinho, na sua mão. (São mais de 60 milhões de brasileiros inadimplentes, somando dívidas superiores a 250 bilhões)
Estamos vendo, de modo palpável, que no governo a irresponsabilidade é mais contagiosa que o sarampo. Que é mais fácil roubar do que ganhar. Que é mais fácil destruir do que construir.
O momento é de suspense. Dilma afastada é um alento. Mas é pouco. Tudo em nossa volta ainda segue se desmanchando. Estamos vendo as coisas continuando a se complicar. Temos a cada dia uma nova agonia.
Mas, por outro lado, a catarse antipetista, antisafadeza, e anticorrupção está transformando o ano de 2016 em um ano que será lembrado séculos afora. Enquanto houver Brasil, enquanto houverem brasileiros, 2016 será lembrado como o ano insólito, o ano da grande faxina, como o ano da inflexão, como o mais cabal e Orangotango de todos os anos.
A Petrobrás é uma benção ou uma praga para o Brasil?
Relata o apóstolo Mateus, no evangelho, (4:8-9), que Jesus, após o batismo, teria vencido a três grandes tentações. Se cedesse em qualquer das três, teria frustrado sua missão na Terra.
Na terceira tentação, Jesus teria sido levado pelo diabo a um monte muito alto. Do cume do monte o diabo teria mostrado todos os reinos do mundo e a glória deles e teria dito ao Messias: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”.
O preço a pagar para receber a ajuda do diabo na conquista do poder sobre as coisas materiais é prostrar-se diante do dele e adorá-lo. Esta passagem do evangelho fala em traição.
Para obter o poder absoluto, para fazer e desfazer das coisas deste mundo, sem dar satisfações, é preciso trair. E é preciso vender a alma, é preciso “fazer o diabo”, como, aliás, confessou com candura a afastada Dilma. E, neste processo, é preciso trair o povo e mandar seus interesses para o inferno.
Visto do alto do monte, no cenário brasileiro, a maior das glórias e o mais rico dos orçamentos é o da Petrobrás.
E cada governante deste país, desde que a empresa foi criada, em 1953, tem sido submetido à mesma tentação. A cada um deles, o diabo oferece a Petrobrás. E todos tem sucumbido à ela. Alguns mais, outros menos.
Os presidentes militares caíram em tentação por um dos sete pecados capitais: a soberba nacional, que se expressava pela manifestação de orgulho e arrogância. Ainda assim, mantiveram-se com algum pudor.
Quando chegou a vez do Lula, o diabo o levou ao cume da montanha e mostrou a Petrobrás. Foi amor à primeira vista. “Tudo isto vai ser meu”? quis saber Lula, os olhos brilhando.
E o capeta, esfregando as mãos, já antevendo a esbórnia que ia dar, respondeu: “tudo isto vai ser teu, desde que tu me entregues tua alma e pagues religiosamente as propinas do PT, do PMDB, do PP e caterva”.
Para o tinhoso, estava tudo dominado. Para Lula, era a glória! Exultante em botar a mão na Petrobrás, nem titubeou. Fechou negócio no ato. É de se imaginar que seus olhos aboticaram e, sem se conter, saltitava de cá prá lá, girando os braços no estilo que copiou da Elis Regina. Só podia estar radiante. Amigo do demo ele já era de muito tempo, mas agora iria ser parceiro!
Há quem diga que, neste dia, a estátua do Padinho Cícero verteu lágrimas que, de tão abundantes, resvalavam pelos botões de sua batina de pedra caiada. Mas Lula não era cabra de fazer pela metade. Então, sem titubear um segundo, partiu para a ação, implantando a transposição do dinheiro da Petrobrás para seu projeto de poder.
Para operar a safadeza, que era muita e opulenta, estabeleceu a parte que cabia a cada um. De início, nomeou os diretores que representariam o diabo na diretoria da estatal. Mas, nem com todo o enxofre vertendo pelas ventas, foi coisa fácil.
Relata, em sua delação, o ex-deputado e ex-presidente do PP, Pedro Corrêa, que houve alguma resistência corporativa ao avanço da diretoria do “Projeto Satanás”. Segundo o delator, o partido havia indicado Paulo Roberto Costa para a diretoria de abastecimento, mas a nomeação emperrou.
Lula, então, teria ligado à José Eduardo Dutra, na ocasião presidente da estatal, para saber que diabo estava atrapalhando.
Dutra, tolo que era, ainda tentou argumentar:
“Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é tradição da Petrobrás assim, sem mais hem menos, trocar um diretor”.
Qual o quê! Acordo com o diabo é como sentença do Supremo: tem que cumprir e acabou.
Lula, possesso e enfezado, mandou passar por cima da tal alegada tradição, ameaçando demitir os conselheiros teimosos que havia nomeado. Segundo Corrêa, o ex-presidente teria dito: “Se fossemos pensar em tradição, nem você era presidente da Petrobrás e nem eu era presidente da República”.
Assistindo tudo aquilo, o diabo se estrebuchava de tanto rir.
Em outro episódio da série, que seria hilária se não fosse trágica, um grupo do Partido Popular foi ao Palácio do Planalto falar com Lula e reclamar da “invasão”. Corrêa relata que o, à época, presidente, passou uma descompostura nos deputados.
Lula foi logo dizendo que eles “estavam com as burras cheias de dinheiro” e que a diretoria era “muito grande” e tinha que atender a outros aliados”. Segundo o relato, os caciques do PP se conformaram quando Lula lhes garantiu que a maior parte das “comissões” seriam dirigidas para a sigla.
E a Petrobrás, sob o comando satânico, foi se desfazendo. De maior empresa brasileira para a empresa mais endividada do mundo. Nunca antes neste país, tanto dinheiro foi pelo ralo tão depressa: a empresa registrou a maior perda em valor de mercado, em números absolutos, desde o ápice no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, em 2008, Segundo a consultoria Economatica.
A petroleira, que tinha chegado a um valor de mercado de 510,3 bilhões de reais em 21 de maio de 2008, em janeiro de 2016 não valia mais que 73,7 bilhões de reais, uma perda de R$ 436,6 bilhões, em queda de 85,55%.
O mais insano é que, se de fato, a corrupção respondeu por apenas 6 bilhões de reais, como diz a Petrobrás, para meter a mão nesta quantia o PT e aliados queimaram 430 bilhões. Há que se reconhecer que as diabruras do PT foram mesmo infernais. O belzebu estará orgulhoso do bom negócio que fez com o Lula e, por extensão, com a Dilma.
Mas e agora, o que vai acontecer daqui para a frente?
Com o Lula fora e a Dilma afastada, o diabo precisa sair para uma nova rodada de negociações. Vai tentar o Temer. O Temer tem uma figura com toques mefistofélicos que deixa o diabo com o pé atrás. Mas negócio é negócio. A Petrobrás vai continuar na parada da corrupção? Continuará a ser parte do botim eleitoral? Continuará a ser sangrada para enriquecimento dos políticos e safados de plantão?
Um antigo e sábio ditado diz que “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não tem arte”. Onde tiver dinheiro público, onde tiver dinheiro “sem dono cuidando”, lá estará o diabo obrando tentações e lá haverá gente metendo a mão.
Os liberais defendem o estado mínimo porque acreditam que lutar contra a natureza humana, contra a cobiça e contra o patrimonialismo que mistura o público com o privado, apenas com base em prédicas moralistas, é enxugar gelo ou, pior, é criar uma cortina de fumaça para que a corrupção prospere camuflada.
Mecanismos de governança e transparência podem ajudar a controlar a roubalheira desenfreada, mas serão sempre impotentes diante da criativa malandragem tupiniquim. No Brasil, não dá para facilitar. Medidas ditas de “prevenção” sempre serão vencidas pelos truques e maracutaias engendradas pela turma formada na melhor escola de corrupção do mundo, a brasileira.
A resposta, portanto, é de clareza meridiana: privatiza. Enquanto a Petrobrás for estatal, ela será alvo da cobiça dos políticos e burocratas. E ela será a grande aposta do diabo para fomentar a corrupção e, de quebra, infernizar a nação.
Agora, privatizar a vaca leiteira dos milhares de parasitas que mamam em suas tetas não vai ser bolinho. Como, então, convencer a sociedade brasileira que o melhor a fazer é privatizar a Petrobrás?
Essa daí é uma questão deveras complexa. Após anos de lavagem cerebral, na base do discurso do “Petróleo é Nosso”, muita gente ainda confunde petróleo com Petrobrás. O petróleo é nosso porque está em nosso subsolo e ninguém vai levar o petróleo embora.
Já a Petrobrás, ao contrário do que apregoa, não é “nossa”. Ela é um polvo tentacular que opera em pelo menos 35 países: Brasil, Bolívia (lembram que tomaram nossas refinarias e perdemos investimentos de 6 bilhões de dólares?) Paraguai, Peru, Colômbia, Uruguai, Argentina, Chile (A Petrobras informou, recentemente, que concluiu a negociação da venda de ativos na Argentina e no Chile, como parte de seu plano de arranjar dinheiro para cobrir o rombo da corrupção), Equador, Venezuela, Trinidad e Tobago, EUA (lembram da Refinaria de Pasadena?), México, Cuba (claro!), Senegal, Líbia, Argélia, Portugal, Inglaterra, Noruega, Guiné, Nigéria, Angola, Tanzânia, Madagascar, Moçambique, Turquia, Iraque, Japão, China, Paquistão, Índia, Cingapura (lembram da Venina Velosa da Fonseca, aquela gerente da área do Paulo Roberto Costa que denunciou as falcatruas milionárias da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco? Ela foi mandada para chefiar o escritório da petroleira nesta cidade-estado por Graça Foster, outra que anda sumida, ), Iêmem e Iraque.
Assim, a Petrobrás virou uma multinacional que negocia suas ações na bolsa de N. York e, como se sabe, aliás, vai ter que pagar bilhões de dólares em indenizações nas 28 ações que são movidas nos Estados Unidos por acionistas que se sentiram ludibriados pela corrupção e consequente desvalorização das ações.
(Anote: O julgamento dos processos contra a Petrobrás está marcado para iniciar dia 19 de setembro próximo, conforme determinou o Juiz Jed Rakoff, da Corte de Nova York)
Portanto, de brasileira mesmo, a Petrobrás hoje só tem a corrupção. Ela é de seus acionistas, ela é do mercado. Hoje a empresa defende mais o interesse de seus acionistas do que algum eventual interesse do povo brasileiro. Por exemplo, pagamos a gasolina mais cara das Américas. Se a empresa é “nossa”, e deixamos que nos explore, somos os maiores trouxas do mundo.
Os ventos estão mudando. A sociedade vem amadurecendo em seu entendimento de que precisamos nos desvencilhar de arcaísmos que nos seguram no passado.
O Brasil precisa de educação, saúde, segurança, uma matriz energética inteligente, habitação, instituições contemporâneas, um mercado livre e integrado, uma infraestrutura de logística e transportes. O país não precisa de monopólios, estatais anacrônicas, cabides de empregos, uma burocracia cara, antiquada e prepotente.
Quando estivermos preparados, saberemos fazer escolhas alinhadas com o Século XXI e nos livraremos do peso de velharias ideológicas do século dezenove. Então a Petrobrás será privatizada, retornando aos cofres públicos parte do dinheiro que já custou ao país, pagando impostos e tirando de nossos ombros a maldição do petróleo.
Quando isto acontecer, vamos produzir mais petróleo do que nunca, vamos ter mais produto a preços menores e o diabo, aleluia, vai ter que achar outro caminho para financiar a corrupção no Brasil.
Dilma, a mulher sapiens, fez uma sopa de restos. Entrou pedra, sapo, lula, um ministério “fim de feira” e muita mandioca, que, em sopa de Dilma, aipim é que não pode faltar. Foi uma pajelança.
Tem quem pense que um governo é uma sopa: uma mistura de ingredientes que devem ser fervidos juntos para produzir um caldo.
O primeiro governo do PT tinha boa proteína na sopa do Lula: Meirelles no Banco Central. Era como um naco de músculo de pescoço que teimava em resistir à fervura do fogo que a esquerda botava para queimar por baixo. O cozinheiro Lula, ainda pouco afeito às lides de forno e fogão, preferia ir com jeito, seguindo a receita econômica do mundo que dava certo – o mundo mal amado dos gringos de “olhos azuis”. Lula xingava os gringos, sem lembrar que os orientais do Japão, China, Coréia, Singapura e outros, de olhos amendoados, também vinham se dando bem à luz do bom senso na economia, aliás, seguindo o mesmo cânone prometido na hoje esquecida “Carta ao povo brasileiro”, dos idos de 2002. De toda forma, bafejado pela herança bendita que recebeu de FHC, que começava a produzir frutos, tudo parecia estar indo bem na sopa, ainda que nela já estivem cozinhando os sapos do mensalão.
O segundo governo do Lula foi o despertar dos embrulhões. Parecia chegado o momento de adotar a feitiçaria heterodoxa, que a ortodoxia era blasfêmia dos neoliberais. Com a saída de Palocci, vieram os aprendizes de feiticeiro. Com pompa e circunstância, começaram as bruxarias naeconomia. Abriu-se a caverna da Abra-cadabra: sucediam-se mágicas bestas à torto e à direito. Com dinheiro correndo farto para irrigar a corruptaiada, mesmo o escândalo do Mensalão acabou sendo absorvido, sob regozijo de Lula, que viu seu rival Zé Dirceu ir parar nas masmorras. Para o governo, tudo transcorria em clima de quermesse. O mundo vivia a festa das commodities. Os dólares jorravam da cornucópia das exportações e muita gente, no país do Macunaíma, imaginava que se haviam aberto as portas do jardim do éden. Sob a frouxidão de um presidente que, a aquela altura, saracoteava mais que um Baco de arrabalde em meio a uma balada rap, os rigores burgueses foram lançados ao mar. A Petrobrás virou a casa da mãe Joana. Bilhões eram roubados e o caixa saqueado com a desenvoltura de dona de bordel. Como tudo parecia lindo e maravilhoso, todos os aliados meteram a mão sem “pudô” e a farra do liberou geral saiu do controle.
Era uma folia de reis no planalto. O “pudê” tava uma delícia. E tudo nos conforme: se as “zelite” gostam, deve ser bom. Agora é nóis na fita.E dado que, para o projeto de poder do PT, os fins justificavam os meios, nada havia a temer.
Para o PT e aliados, após oito anos gulosos aprendendo a gostar do bom e do melhor, com Lula voando solto no salto alto, de repente surge a ameaça que podia acabar com a brincadeira: uma nova eleição se avizinhava. Era preciso pensar o futuro. Largar o osso, nem pensar. O “sapo barbudo”, definição preferida de Brizola para o molusco, gostou de ser presidente. Queria mais. Por ele, bem que tentaria ficar para sempre passeando de AeroLula, sendo bajulado por todos os basbaques bolivarianos da Sul América, e, que beleza, recebendo títulos honoris causa mundo afora. Digno do Guiness: foram 55 títulos de universidades deslumbradas e que não se deram ao respeito!. Só na Argentina foram 11. Mas o Brasil não é a Venezuela. Aqui não dava para engatar uma mudança constitucional que permitisse uma nova reeleição. A salvação é que Lula, o sapo sábio, havia aprendido com o Chapolim Colorado a suspeitar desde o princípio. E, sem querer querendo, plantou a candidatura de um poste. Dilma parecia o poste ideal. Para começar, era um poste sem luz. Não era muito inteligente, arrogante no trato, era péssima em política e ruim até no arremesso de grampeador. Daí que, pensou o molusco de Garanhuns com suas ventosas: o poste (a “posta”??) seria submissa, faria pose, mas seria ele, Lula, que continuaria a mandar nos bastidores. Seria um maestro sem batuta, um Rasputin do sertão. E assim decidiu e ficou feliz. Ele era esperto, muito esperto.
Para ganhar, fizeram o diabo. Abriram os dutos do tesouro. Prometeram enormidades e, o povo, nosso ingênuo e crédulo povo, acreditou. Só que, como diz o ditado, a esperteza, quando é muita, vira bicho e come o esperto. Como as contas não fechavam, as coisas começaram a dar errado. Dilma só fazia o que lhe dava na telha, quer dizer, coisa pouca e atabalhoada. Depois de dar lições de economia à Angela Merkel (e levar um pito equivalente ao 7 x 1), assumiu a nova “matriz econômica”. Desdenhosa, quis mostrar-se acima da matemática, esta ciência que dá nojo em petista que se preza, esta invenção satânica da burguesia de direita para oprimir os pobres e os humildes. Foi uma derrocada anunciada que provou, uma vez mais, que quem não aprende com o passado está condenado a revivê-lo como farsa.
Em um governo cheio de empáfia e distante da realidade, a lei de causa e efeito foi revogada e deixou de valer. Erros sucessivos e incompetência obsessiva solapavam diariamente as bases em que se assentava a economia do país. Dilma, a mulher sapiens, esqueceu que a economia, como a natureza, não se defende: ela se vinga. O crescimento não vinha. O valor das commodities despencou. A Petrobrás não aguentou tanto desaforo. As pedaladas começaram. Quatro anos de deterioração enferrujavam a estrutura do país. A entropia auto induzida emperrava tudo. Para disfarçar seus efeitos e esconder a ferrugem, os taifeiros do PT passaram uma mão de tinta. O Brasil virou uma alegoria que fantasiava uma prosperidade que não lhe pertencia mais. Os 39 ministérios só faziam maquiagem. Neste clima veio a nova eleição.
O que se diz é que Lula tinha decidido ser candidato, como, acreditava-se, era o planejado. Acontece que Dilma o chamou para um canto e teria dito alguma coisa que fez o medo vencer a esperança. Era chato, mas Lula resolveu esperar mais quatro anos. Foi um erro fatal. Livre de escrúpulos, sem eias nem peias, Dilma se lançou em uma campanha despudorada, jogando bilhões na parada, sempre devidamente aconselhada por ministros igualmente aloprados, como Aloísio Mercadante e José Eduardo Cardoso. A candidata jogou para o alto o que restava de decência. Se valendo da mais refinada malandragem de que se ufana este país, aplicando competentes golpes de marketing charlatão, sob a batuta do atual presidiário João Santana, arrancou uma escassa vitória nos grotões. Lá, na beirada pobre do país, os votos foram escandalosamente comprados com o dinheiro do bolsa família. De positivo, só ficou provado que nada acaba mais depressa com um mau produto do que um bom marketing.
Reeleita, reassume a nova Dilma. Agora, ciclista na melhor acepção da palavra, sai para as pedaladas. Na cozinha, assume o panelão. O segundo mandato da mulher sapiens começou com uma sopa de pedra. O Ministro Levy era a pedra. Estava na sopa, mas não tinha nem sabor nem cheiro. A Dilma, mais imperial, arrogante e prepotente do que nunca, fazia questão de humilhar seu ministro. Um ministro, aliás, nomeado “pour épater le bourgeois” e que era exibido para fazer o contraste e deixar claro quem mandava. A mensagem imperial era clara e tonitruante: “vocês vão ter que me engolir”. “Vocês”, no caso, éramos nós, o povo.
Após um ano patético, Levy foi tirado da sopa. Saiu como entrou. E, com a dignidade intacta, Joaquim Levy, o engenheiro naval com doutorado em economia, foi ser Diretor Financeiro do Banco Mundial (BIRD). Sem a pedra, a sopa ficava cada vez mais à imagem da ex-guerrilheira: uma poção mal cheirosa. No caldeirão da bruxa, a “presidenta” ia jogando todo o lixo que aparecia pela frente. Jogou dentro até um ministério arrebanhado nos restos da feira livre em que virou o congresso. Tentou fazer um acordo com o Eduardo Cunha, mas era tarde. Nas ruas, as multidões eram muitas e o dinheiro era pouco. Como última esperança, a feiticeira aloprada colocou o sapo na sopa. Não funcionou: eis que a sopa de sapo ninguém quis.
E agora, o fim melancólico da era lulopetista está escrito nas estrelas. (Refiro-me às verde e amarelas, aquelas que brilham no firmamento e no coração dos brasileiros.)
A Lava Jato continua moendo petista e vem escancarando as entranhas malignas dos governos de Lula , de Dilma e do PT. O lance final da mulher sapiens, chamar o Chapolim barbudo para o ministério, foi a cereja do bolo: o Sérgio Moro foi mais esperto e soltou a gravação que citava o tal “Bessias”. Fim. Cheque mate.
Agora, na desmontagem do mais estapafúrdio e estrambólico governo de nossa história, ainda se observa um esperneio aqui e outro ali. É a petezada querendo osso. Mas nem mortadela tem mais. Só sobrou mandioca. E sem acesso ao dinheiro público, a empáfia se esvazia, a ilusão acaba, as cortinas se fecham. Tchau, querida
Prepare-se para uma grande surpresa: um tsunami de crescimento pode vir tomar conta do Brasil já ao longo dos próximos 180 dias. Conversando com diversos empresários nos últimos dias fui surpreendido por um contexto inteiramente inesperado: a existência de um represamento de projetos que estão no gatilho para serem disparados assim que se consolidarem os primeiros sinais de uma mudança nos rumos da economia. Tudo indica que a existência de crescimento represado e projetos prontos para implementação imediata pode disparar uma onda de crescimento por empresas que pretendem “sair correndo” para evitar que eventuais concorrentes cheguem antes e ocupem lugar no mercado. Se esta tendência se confirmar de fato, pode ser que venhamos a assistir a uma autêntica “corrida de ouro” dos tempos do velho oeste.
O Brasil vem passando por um fascinante processo de descoberta e amadurecimento. O que estamos vivendo no Brasil é um destes momentos transformadores que educam os povos e fazem avançar as nações. O impeachment tem sido traumático em muitos aspectos, mas o funcionamento das instituições tem mostrado um amadurecimento extraordinário. E o Congresso e o Supremo Tribunal Federal podem contribuir para converter a “decrisis” em curso – uma crise de desagregação que conduz ao caos – em uma “sincrisis” – uma crise que se encaminharia para a solução pelo reordenamento do país e por acender uma luz no fim do túnel.
A causa original do impeachment da Presidente Dilma, que já se encontra na fase do senado, foi a profunda crise econômica e moral que se abateu sobre o país. Uma crise produzida pela corrupção e pela incompetência, aliada ao desprezo olímpico pela matemática, uma ciência tida como “neoliberal”, e pela afronta rombuda aos princípios da economia. Esta, como se vê, é uma tolice perigosa, já que a economia não se defende. Ela se vinga.
Em retrospecto, foi a conjugação de preços favoráveis das commodities associado com o crescimento artificial do poder de compra das classes mais pobres, via bolsa família e financiamento generoso de bens de consumo, que levou a esquerda a se imaginar invencível.
Jogou fora o freio e passou a acelerar os gastos sem limites na crença de que, no final, o “dinheiro pinta”. Pior, para perpetuar-se no poder, escancarou as portas da corrupção. A Petrobrás passou a ser vista como uma cornucópia de dinheiro fácil. Eram milhões e bilhões que jorravam sem controle e sem vergonha para o bolso de empreiteiras e políticos amigos. O governo petista virou um programa do tipo “quem quer dinheiro”. E se ainda fosse pouco, visando ganhar a eleição por meio de distribuição de dinheiro farto e por um marketing charlatão, a primeira mandatária assumiuo papel de “dilapidadora da república”, se deixou tomar pela soberba, aquele sentimento caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, e inaugurou o governo pela arrogância. Não surpreende que os fatos tenham vindo cobrar a conta.
As mentes toscas da nossa esquerda ignara sempre imaginaram que podiam torcer a verdade sem enfrentar as consequência, que esconder os fatos os fariam ir embora. Mas descobrem, agora, que não é assim que o mundo funciona. E a parte do povo brasileiro que foi ludibriado por um governo edificado sobre mentiras, descobre que foi vítima de um conto do vigário. E descobre, pela via sofrida de quem paga o pato, que é melhor desconfiar das promessas vigaristas de quem reconhece que “faz o diabo” para ganhar uma eleição.
O lado bom, ainda que doído, é que a nação brasileira vive a experiência de lamentar ter acreditado em “milagreiros”, de ter sucumbido aos demagogos sem escrúpulos que prometem milagres e efeitos sem causa com a ligeireza dos trombadinhas políticos que, de fato, são. Desta experiência vem o aprendizado sobre os fatos da vida. Vem a percepção de que as coisas são o que são e tudo o que é falso se desmancha no ar. Uma criança cresce quando queima o dedo na borda do fogão: ela aprende a não brincar com fogo. Uma nação cresce quando vive as angústias de uma crise econômica, social, moral e política que força todos a se unirem por um impeachment salvador: ela aprende a não brincar com o voto.