Artigos do Autor: Celso Skrabe

O MARKETING PROFUNDO E A CABALA

O Marketing Profundo é o Marketing de Precisão que visa criar produtos que “se vendam sòzinhos”.

O Marketing Profundo é aquele que busca se valer da Cabala para atender ao que recomendava o pai da Administração Moderna, Peter Drucker, quando dizia que a finalidade do Marketing é conhecer tão profundamente e entender tão bem o consumidor que o produto se venda sozinho.

Assim, por definição, o Marketing Profundo vem a ser o Marketing que vai ao Mercado com o fim de entender profundamente a alma do consumidor pensando em criar produtos que se vendam sozinhos.

Logicamente, a afirmativa “se vendam sozinhos” é força de expressão. 

Ainda não nasceu o produto que se vende sozinho. 

Nem a Coca-Cola e nem as sandálias havaianas. 

Mas existem produtos tão competitivos que alcançam a supremacia, dominam sua classe e se impõe ao mercado.

Acontece que, para alcançar este nível de excelência, o Marketing deve, efetivamente, examinar o consumidor com olhar de Raio X.

Só quando souber tudo sobre ele: como ele pensa, quais suas necessidades e desejos, quais suas preferências, suas prioridades etc. será possível fazer um produto que o agrade a ponto de se vender sozinho.

O consumidor, todavia, é um ser complexo e que vive em simbiose com o Mercado.

A invenção da agricultura, 10.000 anos atrás, no Crescente Fértil, permitiu ao homem se livrar da fome, mas foi a invenção do Mercado que permitiu o desabrochar da civilização e levou o Homo sapiens ao Cosmo.

O consumidor, sem o Mercado, viveria a vida tosca, primitiva e limitada dos nossos ancestrais remotos. 

Viveria dependente da família e do clã, moraria em cavernas e se alimentaria da caça, da pesca, da coleta de grãos e frutas e de alguns roçados esparsos.

É o Mercado que provê meios para o planeta abrigar megacidades como Tokio, Nova York, Paris e São Paulo. 

É o Mercado que organiza a distribuição de bens e serviços para a população contemporânea do planeta de 8,2 bilhões de habitantes. 

E no entanto, apesar de seu assombroso tamanho, é o Mercado que empodera e dá asas a cada singelo consumidor, permitindo que por meio dele, atenda suas necessidades e desejos, e mais do que isso, expresse na plenitude sua individualidade e sua vocação de consumo.

O Mercado, entretanto, tornou-se um ente poderoso, um Leviatã moderno. 

E é exatamente para conhecer e entender o consumidor que vive no interior deste Leviatã duro e impiedoso que as técnicas da Cabala podem ajudar.

Comecemos olhando as empresas que existem no mercado para atender aos consumidores.

Toda empresa, desde uma pequena loja de bairro à uma gigante como a Embraer, nasce com uma visão de seu potencial e assume uma missão a realizar no mercado. 

Toda empresa quer criar bons produtos e ser competitiva no mercado, mas uma empresa pode criar o melhor produto do mundo e, ainda assim, acabar fechando as portas porque o consumidor não sabe que ela existe. 

Por outro lado, o consumidor pode ansiar profundamente por um produto que o encantaria e o faria feliz e não saber que ele está disponível na loja ao seu lado.

Então o produto que se venderia sozinho precisa do marketing não só em sua gênese, que o faria perfeito, mas em todas as demais tarefas do Marketing Mix, como Preço, Praça e Promoção.

Assim a missão do Marketing Profundo é ir ao Mercado para conhecer profundamente não só o consumidor e suas preferências, mas também todo o contexto que forma o Mercado e a relação simbiótica existente entre os dois.

A essa missão de reconhecimento do Mercado podemos chamar de “Strategic-Assessment”, (stratigic assessment) já que se trata mesmo de uma Avaliação Estratégica. 

E é para fazer esse reconhecimento do Mercado, com a acuidade necessária, que as técnicas da Cabala vêm ajudar. 

A finalidade, como vimos, é reunir elementos e informações sobre o consumidor e sua relação simbiótica com o Mercado e com toda a cadeia de eventos mercadológicos que o levam a adquirir e consumir o produto. 

A exatidão do levantamento é da maior importância porque negligências, equívocos e enganos nesta fase podem custar caro e até comprometer toda a empreitada. 

O cemitério do Marketing está cheio de produtos equivocados e são poucas as empresas no mundo que tem o cacife da Meta, uma empresa que gastou bilhões de dólares no desenvolvimento frustrado de seu produto de realidade virtual, o Metaverso.

Afinal, se tem coisa que todos sabemos por experiência própria é que as aparências enganam. 

E nem sempre aquilo que parece, é. 

O filósofo grego Anaxágoras dizia que as aparências são vislumbres do invisível.

Outro grego, Esopo, o mais famoso fabulista da história, autor de contos com ensinamentos milenares, como a “Raposa e as Uvas”, a “Cigarra e a Formiga”, o Coelho e a Tartaruga” já advertia, 600 anos antes da era cristã, que “as aparências são mistificadoras”.  

Mas como fazer para penetrar com olhar de raio “x” as camadas do mercado? 

Como tornar visível o que está por trás das aparências e a imensidão oculta que se esconde abaixo da superfície?

Aqui é que entra a Cabala e suas técnicas de investigar a realidade. 

Método de Investigação da Realidade pela Cabala (Gráfico por Celso Skrabe)

Mas antes de falarmos nas técnicas da cabala acho importante esclarecer que, embora a cabala seja frequentemente associada ao misticismo e ao esoterismo, o que vamos ver aqui nada tem com o místico ou o sobrenatural. 

Ao contrário, trata-se de uma abordagem analítica eminentemente prática e objetiva. 

A Cabala tem origem milenar, mas foi sua atuação como organização secreta, voltada para a sobrevivência das comunidades judaicas nas penumbras da idade média que impulsionaram o desenvolvimento das técnicas que vamos apresentar aqui. 

O Método da Cabala de analisar e entender a realidade profunda adota um de seus “Princípios Herméticos” clássicos, e que hoje é universalmente conhecido e aceito, o chamado “Princípio da Causa e Efeito”.

O enunciado deste princípio é que “Nada acontece por acaso. No Mundo existem leis de causa e efeito e elas atuam sobre toda a realidade, tanto no espectro visível como no espectro oculto”. 

A abordagem da investigação da realidade pela cabala divide a realidade em duas partes, cada uma delas com duas camadas. Temos assim as seguintes quatro camadas:

Camada um: O Aparente do Aparente;

Camada dois: O Oculto do Aparente;

Camada três: O Aparente do Oculto;

Camada quatro: O Oculto do Oculto.

* A primeira camada: O Aparente do Aparente

Esta camada é formada pelas coisas visíveis e engloba tudo aquilo que percebemos com os nossos cinco sentidos. 

Esta é a camada que por ter sua condição aparente, nos permite perceber tudo o que está em nosso ambiente imediato, ou seja, tudo o que podemos ver, observar, descrever, fotografar, ouvir, cheirar, degustar e sentir pelo tato. 

Esta é a camada em que as coisas fazem sentido.

Nela tudo é lógico e, em princípio, pode ser compreendido sem esforço. 

O mestre cabalista Nilton Bonder explica que os cabalistas chamam a esta primeira camada de camada da “literalidade”, o que significa que ela reúne o que é literal, ou seja, aquilo que pode ser descrito literalmente. 

Para efeito da Avaliação de Marketing, o que esta camada nos revela é o conjunto de informações básicas sobre a dinâmica do Mercado, sua dimensão, sua composição e configuração. 

Também nela podemos obter dados sobre as empresas, os consumidores, as leis e instituições reguladoras do governo, a imprensa, as mídias sociais, assim como reunir estatísticas e fazer estimativas. 

* A Segunda Camada é a do Oculto do Aparente.

Nesta camada tudo ainda é aparente, porém nossa percepção pode estar sendo enganada pelo que está oculto aos nossos sentidos.

Um primeiro olhar pode ser iludido e deixar de perceber o oculto em meio ao aparente. Em muitas situações falta contraste. Em outras, falta foco. Em outras, ainda, é preciso separar o joio do trigo.

A condição oculta do aparente significa que podemos deixar de perceber o aparente pela aptidão que este possui de tornar-se imperceptível em meio ao conjunto do panorama abarcado pelos sentidos.

Como mostra o esquema do Método da Cabala, para percebermos o oculto do aparente precisamos colocar o foco de nossa atenção nos detalhes e usar técnicas de contraste para torná-lo visível. 

Como diria o célebre Conselheiro Acácio, salvo exceções, o oculto se oculta precisamente para ficar oculto. 

Os soldados usam camuflagem para passarem desapercebidos aos olhos inimigos.

O camaleão é famoso por sua habilidade em mudar suas cores para se esconder no meio ambiente em que vive. 

O urso polar tem pelo branco para não assustar as presas no ártico; as maritacas são verdes para se refugiarem nas árvores; o baiacu, um peixe muito comum na costa brasileira, é conhecido por inchar e tomar o formato de uma bola para assustar predadores. 

De modo que aproveitar o aparente do oculto para vender gato por lebre, ludibriar incautos e enganar os desavisados é truque antigo e manjado. 

Que o digam os troianos enganados pelo Cavalo de Tróia, aquele cheio de soldados com que os antigos gregos marotamente os presentearam. 

Mas além da camuflagem e do mimetismo o Oculto de Aparente pode se esconder de muitas outras maneiras. 

A brincadeira gráfica dos jogos dos sete erros e o jogo “Onde está Wally” são formas populares de brincar com o Oculto do Aparente.

Mas, manjado ou não, o oculto do aparente pode ser muito enganador e causar grandes prejuízos ao descuidado ou imprudente. 

E isto para não falar de ardil ou artimanha, que aí já pode caracterizar crime de estelionato.

Para o Marketing, em meio às mais de 500 mil marcas registradas no mundo, sendo 160 mil marcas registradas no Brasil, a parte oculta do aparente tem facilidade em travestir-se, fantasiar-se, mesclar-se na multidão e em passar desapercebida. 

No Mercado, as imitações proliferam e os Fakes abundam. 

Exatamente por isto a Avaliação estratégica é tão importante. Ela cria a oportunidade para colocar foco e separar o verdadeiro do falso e o autêntico da imitação. 

Dá a chance de identificar inconsistências, checar informações e detectar possíveis equívocos.

É preciso enfatizar que a avaliação de Marketing vale tanto quanto a qualidade das informações que vier a reunir.

Do lado positivo, a avaliação preliminar facilita entender as tendências subjacentes do mercado – como restrições aos alimentos ultraprocessados ou a escolha dos carros elétricos – assim como permite avaliar o rol de prioridades dos consumidores e a lógica de seu comportamento. 

No sentido mais amplo, permite detectar oportunidades e possibilidades estratégicas.

Por exemplo, um estudo de uma universidade americana detectou que o consumidor brasileiro, por seu espírito associativo, é aquele que melhor aceita cartões de fidelização, sendo o mais propenso do mundo a associar-se a fã clubes e a comunidades de marca. 

Esta avaliação também ajuda a encontrar pérolas mercadológicas escondidas que podem criar diferenciais táticos muito interessantes. 

Só para ilustrar trago dois cases de insights deste tipo obtidos em avaliações mercadológicas:

Em um estudo para a rede de joalherias Casa das Alianças ficou evidenciado que, para muitos jovens casais de classes B e C, a compra das alianças representava a formalização de seu compromisso mútuo e tomava o lugar de celebrações mais sofisticadas e dispendiosas. 

Esta confirmação do que já era observado informalmente levou a Casa das Alianças a desenvolver uma estratégia especial em seu atendimento e os vendedores foram treinados para reconhecer e valorizar o significado emocional da compra das alianças pelos jovens casais.

Em outro caso, anos passados a Loja de eletrodomésticos Suxxar enfrentou um pico de vendas que resultou no atraso na instalação de coifas domésticas. 

A equipe de vendas conseguiu renegociar os prazos, mas para evitar desgaste com as clientes a loja adotou a estratégia de entregar com a coifa um mimo acompanhando de um pedido de desculpas pelo atraso. 

Na pesquisa para escolher o mimo ideal entrava uma cafeteira italiana, um jogo americano de mesa, um porta condimentos e outros mais. 

Para completar a lista, um tanto para fazer charme, inclui a opção de um ramalhete de rosas. 

Pois, para minha surpresa, o ramalhete de rosas obteve 80% das preferências. 

Uma das clientes que recebeu as rosas, importante figura da sociedade paulistana da época, ligou emocionada para agradecer dizendo que não recebia rosas há mais de 50 anos.

Já no outro extremo, sob o ponto de vista dos riscos, o exemplo do desastre da cerveja Bud Light nos Estados Unidos mostra que descuidar dos valores dos consumidores pode custar caro. 

Não se trata aqui de julgar o mérito, mas o fato é que a postagem com o influenciador transgênero Dylan Mulvaney realizada em abril de 2023 causou danos irreversíveis às vendas da cerveja que caiu da posição de tradicional líder do mercado americano e para um desabonador terceiro lugar, onde ainda permanece.

Também a Harley-Davidson sofreu boicote. Para salvar a icônica marca da falência emitiu recente pedido de desculpas aos seus aficionados que se diziam apunhalados pelas costas. Na nota a empresa prometeu que iria acabar de vez com suas iniciativas politicamente corretas.

Estas são apenas duas das dezenas de empresas que descobriram pela via do prejuízo o “Go Woke, Go broke”, expressão americana que significa algo como “vire politicamente correto e quebre”. 

O recado do mercado para as marcas é simples e brutal: questões políticas, raciais e de gênero devem ficar fora do Marketing sob risco de rejeição e boicote. 

Outro exemplo de Oculto do Aparente no Brasil foi o tenebroso caso de fraude das Lojas Americanas que apresentou inconsistências contábeis de 20 bilhões de reais em seu balanço. Moral da história: nem tudo o que reluz é ouro. 

A recomendação da Cabala é que nada seja aceito pelo valor de face. O aparente pode estar sendo encoberto e as boas práticas recomendam fazer sempre dupla checagem. Os antigos aconselhavam sempre olhar onde se põe os pés.

Não é desconfiança pela desconfiança. Trata-se de confiar desconfiando, afinal, como lembra outro ditado tão antigo como verdadeiro: eu confio muito nos meus dentes, mas as vezes até eles me mordem a língua.

* A terceira camada é a do Aparente do Oculto.

Não é porque o oculto está oculto que ele não existe. Ou que não venha a interferir e influenciar tudo à sua volta.

O quadro do Método da Cabala mostra que o aparente do oculto se faz perceptível por meio de sinais, indicadores e sinais. 

E aqui se pode separar o Aparente do Oculto em dois grupos:

Grupo 1) – Aqueles cujos sinais aparentes já são devidamente conhecidos e 

Grupo 2) – Aqueles cujos sinais ainda não conhecidos ou para os quais não temos explicação.

Os sinais do primeiro grupo, por já serem conhecidos, capacitam o observador a identificar de imediato o significado dos sinais aparentes. A relação de causa e efeito ligada aos sinais é conhecida e podemos entender a natureza e a expressão do oculto. 

Por exemplo, ao observarmos um copo de água gelada podemos deduzir que a água está gelada observando a camada de condensação que se forma do lado externo do copo.

Como conhecemos o fenômeno da condensação reconhecemos com facilidade a condição de baixa temperatura da água, todavia, um indígena dos trópicos, que nunca teria tido contato anterior com um copo de água gelada, jamais seria capaz de ligar o efeito – a condensação – com a causa – a baixa temperatura da água – apenas observando a condensação formada na superfície do lado de fora do copo.

Portanto o conhecimento prévio do que é que pode estar oculto e de quais sinais, indicadores e sintomas aparentes revelariam o que está oculto é uma pré-condição essencial para saber o que, efetivamente, se encontra oculto.

Já os sinais, indicadores e sintomas do segundo grupo, aqueles que não conseguimos reconhecer, devem ser investigados para encontrarmos sua causa. 

O mestre Nilton Bonder explica que, no mundo mítico, há uma clássica distinção entre as metadimensões do aparente e do oculto.3m 

O aparente é representado pela Terra. Em sua superfície podemos ver o relevo e a paisagem, bem como distinguir as formas e o movimento.

Já o oculto é representado pelos mares e oceanos. 

Os oceanos também têm vida, formas e movimento, mas o que existe sob as águas, salvo exceções, não se mostra aparente ao olhar humano, ao menos enquanto limitado à sua superfície.

Voltando ao quadro ilustrativo do Método da Cabala, vemos que a percepção do aparente do oculto se dá por sinais, por indicadores, por sintomas. E estes devem ser investigados, analisados e, eventualmente, diagnosticados, para conhecermos o oculto ou termos evidência de sua existência.

Nos tempos antigos encontrar o aparente do oculto era algo raro e difícil.

Hoje, contudo, graças aos avanços do conhecimento e à tecnologia, a possibilidade de termos evidências e cognição do oculto por meio de instrumentos, medidores, sensores, testes ou mesmo através de técnicas indutivas ou dedutivas, fazem com que o conhecimento do que se econtra oculto se torne mais fácil e até cotidiano. 

É natural, portanto, que a técnica de verificação do oculto por meio de indicadores e sensores também encontre sua aplicação no Marketing e na Propaganda.

Para desvendar a dimensão oculta do Mercado dispomos hoje de dados e informações abundantes, a exemplo do Big Data e mesmo da Inteligência Artificial. Também estão aí o censo demográfico e as estatísticas, as pesquisas de mercado, os levantamentos de opinião, e ferramentas como a da dinâmica de grupos, e as de rastreamento de consumo. 

O oculto não deixou de estar oculto, mas o Homo-sapiens aprendeu a usar artifícios criados por sua inteligência para penetrar seus segredos e para fazê-lo aparente e conhecido. 

Sob outro ângulo, as fábulas de Esopo mostram como a lógica aparente pode esconder motivos ocultos. 

Na fábula da Cigarra e da formiga, a cigarra passou o verão cantando despreocupada, enquanto a formiga trabalhava juntando seus grãos. Quando chegou o inverno, a cigarra foi à casa da formiga para pedir que lhe desse o que comer. A formiga então perguntou a ela:

— E o que é que você fez durante todo o verão?

— Durante o verão, eu cantei — disse a cigarra.

E a formiga respondeu:— Pois muito bem, então agora dance!

A resposta da formiga mostra as consequências ocultas da imprevidência. 

Na fábula da Lebre e da tartaruga, uma lebre e uma tartaruga discutiam sobre qual seria a mais rápida entre as duas. Para resolver a disputa marcaram uma corrida. A lebre, convencida de sua velocidade, se deitou no caminho e dormiu. A tartaruga, porém, consciente de sua lentidão, correu o quanto pode e, assim, ultrapassou a lebre e chegou antes ao fim da corrida, obtendo a vitória.

A vitória da lebre parecia algo certo, mas sua arrogância, que era um sentimento oculto, fez com que subestimasse a tartaruga. No fim, sua arrogância a fez perder para a tartaruga.

A fábula da Raposa e as Uvas conta que uma Raposa encontrou uma videira carregada de uvas maduras e apetitosas. Com água na boca, a raposa queria comer as uvas, mas elas estavam muito alto. Tentou pular e alcançá-las, mas, como não conseguiu, falou com desdém aparente:

– Estas uvas parecem estar ainda muito verdes e devem estar azedas. E como só gosto de uvas bem maduras, vou embora.

A desculpa dada pela raposa no plano do aparente certamente não era verdadeira e escondia a frustração oculta de não conseguir alcançar as uvas.

Então, em síntese, tanto na vida real como no Marketing, desvendar as causas ocultas é ganhar conhecimento e conhecimento é poder. 

* A Quarta camada da Realidade é a do “Oculto do Oculto”

O Oculto do Oculto não é aparente, mas existe. Ocupa um lugar no espaço e influencia a realidade no cotidiano, no planeta e no universo. Uma forma de detectá-lo é olhar para as bordas do espaço que ele ocupa. Algo assim como se busca uma peça que falta em um quebra cabeças.

Shakespeare, um observador arguto da realidade, escreveu que “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”.

E nossos irmãos castelhanos tem um ditado que veio da Galícia: “No creo en brujas pero que las hay, las hay”… 

A dimensão do Oculto do Oculto é a grande dimensão do Cosmo.

Cerca de 95% de toda a matéria que forma o Universo é constituída por algo que não conhecemos e que está oculto e não conseguimos observar de forma direta. 

Além disso, um terço de toda essa matéria desconhecida, denominada “matéria escura”, não interage eletromagneticamente, ou seja, não é capaz de emitir ou absorver qualquer tipo de radiação conhecida.

Ainda assim, as observações astronômicas indicam que a “matéria escura” sofre os efeitos da gravidade e interage com a matéria aparente, a matéria que conhecemos e que é formada por prótons, nêutrons, elétrons e todas as demais partículas presentes na matéria perceptível.

Mas a esta altura a questão que se coloca é a seguinte:

Tudo bem, o Oculto do Oculto é a grande dimensão do Universo, mas até que ponto esta camada oculta tem significado para nossa Avaliação Mercadológica? 

A resposta é que tem significado, sim. Se desejarmos avançar para além do verniz dos conceitos místicos e esotéricos da Cabala não podemos deixar de analisar a influência do Oculto do Oculto, nem no mundo em que vivemos e nem no mercado em que atuamos. 

O fato é que muitas manifestações do Oculto do Oculto são tão pervasivas que passam desapercebidas. 

A começar pela lei da gravidade.

Basta perguntar ao Elon Musk qual a força que mantém seus mais de 5 mil satélites Starlink orbitando o planeta.

A Lei da Gravitação Universal foi aquela que Newton descobriu quando caiu uma maçã no seu jardim.

Parece complicado, mas não é, posto que é pela força oculta da gravidade que medimos nosso peso toda vez que subimos em uma balança. Também é vencendo a força da gravidade que os aviões voam. E os navios flutuam. E é por causa dela que as marés mexem com os mares.

Também estão no campo do Oculto do Oculto as leis da dinâmica dos corpos.

Ou as leis da Química que garantem que “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”

Ou ainda as Leis da Termodinâmica, as leis de Maxwell, e aquelas da matemática, coroadas pelo célebre enunciado: a “ordem dos fatores não altera o produto.” E outras tantas mais.

Então, para concluir, embora o intuito aqui não seja dissertar sobre fenômenos e ciências, é importante reconhecer que o Marketing não atua no vácuo. Como ciência e arte que é, sua formulação estratégica e tática tem muito a ganhar sabendo que as camadas da realidade escondem maravilhas e segredos. Nelas existem riscos que podemos evitar e oportunidades que podemos aproveitar. 

O Marketing Profundo é o Marketing empoderado pelo conhecimento abrangente da realidade em todas as suas camadas e dimensões, posto que tudo isso faz parte do universo que nos cerca e do mundo em que vivem os consumidores, estas preciosas criaturas humanas que o Marketing precisa entender tão bem e conhecer tão profundamente que nosso produto se venda sozinho.

MARKETING NA PROMOÇÃO E VENDA PELA FÓRMULA “AIDA”

 Em Marketing pequenos truques podem produzir grandes resultados. E bons resultados é o que podemos conseguir com o uso desta interessante ferramenta conhecida como fórmula AÍDA

A AÍDA foi sugerida por Frank Bettger e se tornou clássica para organizar a abordagem da fase da promoção.

Como sabemos, no centro de toda a jornada do marketing está o marketing mix, o composto que reúne os 4 eixos do Marketing representados pelos quatro “P”s, que são Produto, Preço, Praça e Promoção.

Segundo a fórmula da AÍDA a fase da Promoção precisa atender a quatro objetivos que formam acrônimo

  • ATENÇÃO / INTERESSE / DESEJO / AÇÃO

Isto significa que, para alcançar seus objetivos a fase da Promoção deve ser capaz de 1)- atrair a atenção do cliente, 2)- despertar nele o interesse pelo produto, 3)- fazê-lo desejar o produto e, 4)- leva-lo à ação de comprar produto.

Passemos, então, a examinar cada uma destas etapas da AÍDA no processo de Promoção e Venda de um produto:

  • Primeira etapa:

A “ATENÇÃO”

O primeiro desafio da Promoção é chamar a atenção.

No mais famoso solilóquio da literatura, o “to be or not to be”, Shakespeare põe em foco a questão central da existência, o ser ou não ser. O fato é que, inclusive no Marketing, a questão de existir ou não existir precede todas as outras.

Então, em Marketing a tarefa inicial da Promoção é exatamente fazer o produto existir no ambiente do mercado. E, claro, diante do cliente.

Portanto, tudo começa em chamar a Atenção. Antes de qualquer venda ou de qualquer transação acontecer é preciso que o produto exista para o cliente.

E ainda mais, é preciso que seja colocado no centro da sua atenção. Um produto que não receba a atenção do cliente é um produto que, para todos os efeitos práticos, não existe.

Mas conquistar a atenção do cliente não é tarefa fácil.

Anos atrás o Cantor Roberto Carlos compôs uma música cujo título era: “Preciso Chamar sua Atenção”.

Na letra, o Cantor se mostra interessado em uma garota e diz que precisa dar um jeito de chamar sua atenção. Ela, por mais que ele faça, nem nota sua existência. Ela não o vê e não o ouve. Na letra, o cantor diz que fica pensando em milhões de coisas para chamar a atenção da garota.

Ele deu seu melhor sorriso e ela não viu. Ele gritou seu nome e nem assim ela o ouviu. Por fim, desalentado, vendo que os dias passam correndo e que a ela pode acabar perdendo, desabafa: “Só me falta ficar nu pra chamar sua atenção”.

O que a canção deixa claro é que chamar a Atenção de alguém é coisa complicada. E isso é verdade tanto no amor como no mercado.

Sua marca e seu produto também precisam chamar a atenção. E, salvo exceções, precisam disputar esta atenção em meio a uma multidão de competidores.

Chamar a Atenção, portanto, é uma condição necessária e indispensável para iniciar qualquer processo promocional efetivo.

É importante frisar, ademais, que esta etapa só se completa quando a atenção obtida para o produto é percebida e compreendida de forma ampla e adequada. Não basta ser algo fugaz e transitório. Também é importante que a percepção se dê sob luz favorável. Afinal, como diz o consagrado adágio popular: “Você nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira boa impressão”.

  • A Segunda fase da AÍDA é a fase do “INTERESSE”.  

Nesta fase o objetivo é prender a Atenção fugaz do cliente e transformá-la em curiosidade. E alimentar esta curiosidade com informações que cativem o cliente.

Se a fase de chamar a atenção for bem-sucedida, é bem provável que o cliente ficará interessado em saber mais sobre o produto. O que significa que estará aberto para receber mais informações.

Mas atenção para um detalhe: Já Albert Einstein alertava para o fato de que informação não é conhecimento.

Assim, o desafio desta etapa vai além de meramente informar o cliente. Também deve levá-lo para a intimidade do produto. Deve propiciar a ele meios para que conheça seus atributos e virtudes.

E é exatamente para dar aos clientes a oportunidade de experimentar o produto que os fabricantes de carros promovem o test drive.

Do mesmo modo, os fabricantes de vinho colocam demonstradoras para oferecer degustação de seu produto nos supermercados.

Fazer os clientes potenciais experimentarem o produto é a mais efetiva e provada forma de levá-los ao desejo de comprar o produto.

  • Terceira fase: O DESEJO

Quando as fases anteriores são bem sucedidas e desenvolvem no cliente o Desejo de compra é que tem início esta fase.

Se tem alguma coisa que todos sabemos de sobejo é que não basta alguém desejar alguma coisa para sair e comprá-la.

O mais frequente na realidade do dia-a-dia do mercado é que a conversão do desejo em uma venda se mostre um processo que necessita avançar passo a passo.

O cliente necessita de um tempo para se enamorar do produto. E depois ele ainda precisa tomar duas importantes decisões antes de avançar para a compra: 1) – decidir que quer comprar o produto agora, colocando-o no topo de suas prioridades e 2) – escolher exatamente o seu produto em meio aos demais produtos concorrentes.

Sobre este tópico, uma questão que frequentemente intriga os profissionais de marketing é por qual razão, mesmo com todo o trabalho promocional bem-feito, o mercado e os clientes não respondem.

A resposta é que frequentemente o mercado não está preparado para o produto ou ele não se encaixa na hierarquia das prioridades dos clientes.

A hierarquia das prioridades do mercado e dos clientes tende a acompanhar a hierarquia de necessidades humanas da Pirâmide de Maslow.

Abraham Maslow, em estudo de 1943, descreveu a hierarquia das necessidades humanas e estabeleceu cinco categorias de necessidades: as fisiológicas, as de segurança, as de afeto, as de estima e as de autorrealização. Mais tarde, em 1960, Charles Mc Dermind, organizou a hierarquia no formato de uma pirâmide.

Na base desta pirâmide encontram-se as necessidades mais básicas do homem: a respiração, o alimento, a água, o sono, o sexo.

Logo acima, no segundo nível da base para cima, está a segurança.

A segurança reúne os fatores diretamente ligados à sobrevivência como a habitação, a segurança individual e familiar, o emprego ou renda, a propriedade, o acesso à saúde.

No terceiro nível se encontra o Relacionamento e o amor. As amizades, a família, a intimidade sexual.

No quarto nível de baixo para cima está a Consideração e a Estima. A autoestima, o respeito dos outros, a consideração e a confiança recíprocas.

Finalmente, no quinto nível, o mais alto da pirâmide, afloram as necessidades de realização e sustentabilidade pessoal. Depois de atendidas as necessidades fisiológicas e as de sobrevivência, depois de atendidas aquelas do afeto, do amor, da família e das amizades e, ainda as da autoestima e respeitabilidade, o homem se volta para os valores maiores de sua humanidade.

Quer a transcendência, as conquistas do espírito e do intelecto, as realizações criativas e artísticas, a fruição da liberdade. Busca a libertação dos sentimentos menores, das mesquinharias, dos preconceitos. Aceita os fatos como são e as limitações da vida como ela é. Aceita a si mesmo e aos outros com serenidade e desprendimento. No ápice desta fase as pessoas que alcançam a sabedoria buscam a chamada sustentabilidade pessoal, ou seja, buscam atender as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de atender as necessidades do futuro.

Assim, como vemos, à medida que o Homo-sapiens evolui também evoluem suas necessidades e desejos.

E o Marketing dos produtos e serviços que aspiram atender cada uma destas camadas deve adotar uma linguagem correspondente. Deve descobrir quem são os seus clientes, onde estão e como chegar a eles. Deve entender quais seus valores e prioridades. E, por fim, deve mantê-los no foco de seu marketing.

Portanto toda a estratégia de mercado precisa ser desenhada para falar com o cliente certo. Como é óbvio, para o público de renda alta que busca um carro de luxo ou uma viagem de férias em Paris a mensagem deve ser bem diferente daquela para o público de baixa renda, que tem preocupações com sua cesta básica.

E quanto ao segundo obstáculo, aquele que alude ao risco de trazer o cliente até à beirada da compra e vê-lo optar por um produto concorrente, esta é uma possibilidade que nunca deve ser negligenciada. E que, para ser evitada, deve ser prevenida antecipando os riscos e, se for o caso, garantindo ao cliente a melhor oferta.

E aqui vai um parêntesis: como todo negociante sabe, nada pode ser mais frustrante do que convencer um cliente potencial a comprar um produto agora e, então vê-lo comprar o produto de um concorrente.

Isto acontece porque o cliente, na hora da decisão de compra, pode ter um momento de dúvida a pesquisar suas opções. E a Internet está forrada de opções e de gente tentando roubar a venda do outro. Mas o fato é que o cliente tem todo o direito de fazer sua escolha pela opção que lhe parece a melhor.

Assim, para evitar surpresas desagradáveis é melhor prevenir. E a adoção de um índice comparando seu produto com o dos concorrentes pode ajudar a medir a posição de seu  produto frente aos demais.

Para obter o índice o primeiro passo é identificar os atributos e características que o mercado valoriza. Em seguida atribuir uma nota para cada um destes atributos e dividir sua média pelo preço. E, então, repetir o exercício de cálculo com os demais produtos do mercado. A comparação dos índices vai ajudar a estabelecer a estratégia de marketing para o produto. E poderá sugerir as melhores armas para conquistar a preferência do cliente na batalha da propaganda.

Em situações excepcionalmente favoráveis, quando o produto ofertado atende aos melhores desejos ou necessidades do cliente, e o faz de modo a corresponder ou superar suas expectativas, pode ocorrer a situação de match perfeito, aquela situação ideal descrita por Peter Drucker e na qual o produto se vende sozinho. Mas esta é uma circunstância rara. Ainda mais em um mercado cheio de competidores disputando cada um de seus nichos e escaninhos.

E agora chegamos a “AÇÃO”

Esta é a fase de fechar o negócio. O cliente já passou pelas fases anteriores e está decidido a comprar. E, salvo imprevistos, vai efetivamente comprar. Mas aí é que mora o perigo.

Nesta hora é importante que o cliente tenha diante de si um caminho claro e desimpedido para chegar à efetiva aquisição, para efetuar o pagamento e para usar o produto.

Em itens de baixo valor e do dia a dia, como alimentos e produtos de supermercado, este não costuma ser um problema. Mas à medida que o valor sobe ou a compra se torna mais complexa, não é raro todo o esforço do marketing esbarrar no último passo. As vezes é um detalhe do processo de compra, uma exigência não antecipada, problemas com a entrega, dificuldades com o crédito ou o cartão. Por isto é fundamental que o Marketing antecipe os possíveis problemas e proponha uma solução.

Certa feita conduzi um estudo para um fabricante de tintas e descobrimos que a falta de uma escada na casa a ser pintada era um frequente motivo da não venda.

Resolvemos fazer um teste criando um sistema de aluguel de escadas para pintura em uma grande loja de tintas. O resultado superou todas as expectativas. Esta simples iniciativa aumentou a venda de tintas e ainda criou um novo produto para a loja.

E, finalmente, ainda existe um complemento a considerar: o Pós-Venda.

Houve um tempo em que o ciclo da venda se encerrava com o ato de compra. Hoje não é mais assim

Por exemplo, o SAC, Serviço de Atendimento ao Cliente, o serviço destinado a solucionar problemas e reclamações e dar apoio aos clientes e usuários converteu-se em uma imposição do mercado. E este serviço pode ser utilizado para garantir a satisfação do cliente e como instrumento para novas vendas. De fato, muitas vezes o simples agradecimento pela compra já abre espaço para futuras vendas e novos negócios.

Outra tarefa para o Pós-Venda é prevenir eventos do que os americanos chamam de “buyer’s remorse“ – o remorso do comprador.

Em muitos casos o arrependimento da compra significa devolução do produto, o que a lei faculta em diversas situações. Outras vezes o arrependimento da compra cria má vontade e o cliente passa a falar mal do produto. Com as mídias sociais e outros canais de comunicação ao alcance dos clientes insatisfeitos o mais prudente é monitorar estas possíveis manifestações de desagrado e, sempre que possível, agir para minimizar os estragos na imagem da marca ou do produto.

Talvez a melhor mensagem para o Pós venda seja uma recomendação de Frank Bettger: Nunca esqueça um cliente. Nunca deixe um cliente esquecer de você.

SÓ OS CLUSTERS SALVAM A INDÚSTRIA BRASILEIRA / PROPOSTA DE CRIAÇÃO DA EMBRACLUSTER

Só os clusters salvam a indústria brasileira – Embracluster – uma Embrapa para a indústria brasileira.

… 

Sou Celso Skrabe, Consultor de Empresas, e neste vídeo vou abordar a crise da indústria brasileira, analisar suas causas e explicar por que só os clusters industriais podem salvar a indústria do país. 

Os números mostram que a indústria brasileira está em crise. 

Os números não só estão ruins como vem piorando de modo alarmante. 

Quarenta anos atrás, em meados dos anos 80, quase a metade do PIB brasileiro vinha da indústria.

A partir de então a manufatura brasileira perdeu vitalidade, engatou a marcha a ré e passou a andar para trás. 

A indústria de transformação, o ramo mais diversificado da indústria e que transforma matéria-prima em produtos finais ou intermediários, desabou. 

Caiu de 36% do PIB em 1985 para vexaminosos 10,8% de participação na produção nacional em 2021. 

E em relação à 2023 a CNI – Confederação Nacional da Indústria, informa mais uma queda de 0,5% na indústria de transformação.

Pior foi a queda da participação da indústria brasileira na produção mundial. Em 1995, nossa indústria representava 2,77% da produção industrial do mundo. Hoje o percentual é de apenas 1,28% – ou seja, caiu para praticamente a metade.

E como desgraça pouca é bobagem, a esta altura do estrago, dá para afirmar que, se continuar nesta toada, em diversos setores da indústria corremos o risco de voltarmos no tempo e jogarmos no lixo os últimos 100 anos de desenvolvimento industrial. 

Neste vídeo vou explicar por que só os clusters industriais podem salvar a indústria brasileira e reverter o processo de desindustrialização. E vou sugerir a criação da EMBRACLUSTER, uma empresa publica a ser criada nos moldes da EMBRAPA com a missão de reinventar a indústria brasileira e fazê-la recuperar o protagonismo que já teve – e que é preciso que volte a ter – na economia brasileira.

A natureza da EMBRACLUSTER, no entanto, seria diferente daquela da EMBRAPA porque a principal diferença na obtenção de resultados entre o agro e a indústria é que o campo crítico da competitividade do agro está na produção, enquanto o campo crítico da competitividade da indústria se situa no mercado.

A denominação de “Clusters industriais” é atribuída a aglomerados de indústrias, fornecedores de insumos, prestadores de serviço, empresas de apoio e logística, formadores de recursos humanos e outras atividades de suporte que atuam colaborativamente para suprir e atender a uma determinada cadeia produtiva industrial da qual fazem parte. 

Dada esta diferença, o principal foco de atuação da EMBRACLUSTER deverá ser a melhoria da competitividade mercadológica das empresas clusterizadas. 

A métrica de seu desempenho deve ser o nível de participação e a rentabilidade dos produtos brasileiros nos mercados do Brasil e do exterior, bem como a conquista e a preservação destes mercados.

A EMBRACLUSTER operaria no formato de uma provedora de soluções em todo o espectro das necessidades e demandas dos “clusters”, atuando tanto como consultoria multidisciplinar como na qualidade de parceira no desenvolvimento de inovações, tecnologias, boas práticas e produtos.

O seu escopo de atuação incluiria mediar as demandas dos mercados e o mix de produtos a ser produzido pelos clusters e suas indústrias. Outra estratégia de sua operação seria apoiar acordos de cooperação entre os membros dos clusters, desenvolver mecanismos para facilitar o consórcio, a coordenação e a soma de esforços no âmbito do complexo dos clusters.

Assim como incluiria promover a sinergia e a cooperação via compartilhamentos e padronização, estimular a engenharia de valor, o design, a inovação tecnológica, coordenar esforços para ganhar escala, evitar sobreposições e desperdícios, promover ações para reduzir custos e melhorar a produtividade e, enfim zelar pelo bom funcionamento de toda a estrutura. 

Para mostrar a conveniência da criação da EMBRACLUSTER vou dividir a questão em cinco tópicos:

1.  A real situação da indústria brasileira atual;

2.  O modelo da EMBRAPA e suas lições para a indústria brasileira; 

3.  Como transferir o modelo EMBRAPA para a indústria;

4.  Como criar e empoderar a EMBRACLUSTER;

5.  Os riscos de nada fazer e ficar para trás.

1.  Vamos examinar, então, como está a real situação da indústria brasileira atual.

Como vimos, o setor manufatureiro, que tinha de 36% do PIB em 1985 caiu para 16,5% em 2008 e para vexaminosos 10,8% de participação no PIB em 2021. Foi uma queda de 25 pontos percentuais no conjunto do produto interno bruto do país em 40 anos. Ou seja, a indústria perdeu um quarto do PIB nacional no período. Se não fosse o milagre do agro estaríamos chorando as pitangas junto com a Venezuela e outros perdedores por aí. 

A indústria, antes protegida e beneficiada por incentivos fiscais e juros subsidiados, estava despreparada e mal-acostumada e sofreu com o choque da abertura econômica dos anos 1990, com restrições ambientais mal concebidas, com oscilações cambiais devastadoras, com o custo Brasil na estratosfera e outros infortúnios de nossa insanidade tropical. O efeito foi que perdeu produtividade, ficou tecnologicamente defasada, não conseguiu acompanhar a velocidade das transformações do mundo e nem se adaptar ao ambiente global de alta competitividade. 

A perda se deu em diversas frentes, mas um indicador chave dá a medida do que vem acontecendo: trata-se da chamada produtividade total dos fatores de produção, a PTF, que vem caindo continuadamente. Este indicador mostra o grau de desenvolvimento econômico de um país. Países ricos são ricos porque são altamente produtivos e agregam um alto valor por trabalhador. Um trabalhador norte americano é cinco vezes mais produtivo que um trabalhador brasileiro e, infelizmente, a baixa produtividade do trabalho resulta em baixos salários e em países mais pobres.

E o que faz o governo? Está inerte?

Não, aparentemente até que não está. O que acontece é que o governo está desorientado, atira para todo lado e vem adotando medidas que são ineficazes por não colocarem o foco onde a ação acontece, ou seja, no mercado. E também por desconhecerem a complexidade da indústria 4.0 em um mundo conectado, robotizado, automatizado, globalizado e, agora, “inteligentizado” pelo uso intensivo da Inteligência Artificial.

Ainda no governo Dilma foi criada a EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, uma Organização Social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Já no governo atual, em 22 de janeiro deste ano de 2024 o governo federal lançou o estrepitoso Programa Nova Indústria Brasil (NIB), um programa festivamente apresentado, com muita retórica e cintilantes boas intenções. Mas aí é que a coisa pega.

As medidas preconizadas pelo Programa da Nova Indústria são do tipo que prometem muito, mas entregam pouco.

O Brigadeiro Vicente Faria Lima, o grande Prefeito de São Paulo, um realizador incomparável e que, entre outras obras, iniciou o Metrô de São Paulo, dizia que o Brasil não tem falta de PLANEJAMENTO. Tem falta é de FAZEJAMENTO.

A questão é: diante deste quadro um tanto quanto sombrio, estará a indústria brasileira condenada ao caos de uma décrisis, o tipo da crise fatal que os gregos temiam?

Não necessariamente.

O que temos que fazer é transplantar para a indústria o que está dando certo no agronegócio brasileiro. 

Então vamos ao segundo tópico para examinar mais de perto o modelo EMBRAPA e suas lições para a indústria brasileira.

O sucesso da EMBRAPA mostra que podemos encontrar caminhos brasileiros para sermos competitivos em escala global. Estamos fazendo isto no agro e certamente podemos fazer isto na indústria.

Neste ponto é que o agronegócio mostra o caminho e a Embrapa ensina o método.

A Embrapa hoje é a grande formuladora das estratégias da agricultura brasileira. Detentora de reputação e prestígio inquestionáveis, suas propostas pairam acima das controvérsias e das paixões políticas. Sua inequívoca competência, objetividade e seriedade garantem a ela a independência para atuar na promoção do que é o melhor para a agricultura brasileira.

Graças ao respeito que impõe e ao reconhecimento de sua competência, a Embrapa conseguiu posicionar-se como uma superestrutura sobre todo o conjunto do agro brasileiro. 

Esta condição de supremacia é que lhe permite agir como o principal player e como o principal coordenador estratégico das políticas e iniciativas do mundo agro. 

É esta abordagem, que leva em conta a totalidade dos fatores envolvidos no ecossistema produtivo, que permite que encare de frente tanto os problemas como as oportunidades existentes. 

Além disso, a EMBRAPA se empenha na busca sistemática da SUSTENTABILIDADE de suas ações. O conceito aparece tanto em sua Declaração de Missão como em sua Declaração de Visão e revela a preocupação da empresa com a continuidade das iniciativas e a perenidade dos resultados.

Mas, enfim, como transferir o modelo EMBRAPA para a indústria?

Como vimos no tópico anterior, três dos vetores fundamentais do modelo da Embrapa são 1) sua independência, 2) sua supremacia na formulação das estratégias para o agronegócio e 3) a busca da sustentabilidade em suas iniciativas.

Estes três vetores são os condicionantes para criar uma transferência bem-sucedida do método da Embrapa para a EMBRACLUSTER.

Se o propósito é criar uma empresa que traga para a indústria o sucesso da Embrapa é indispensável ter em mente que é preciso fazer uma transferência efetiva dos fatores que fazem o sucesso da EMBRAPA. 

Só contando com independência para fazer o certo do jeito certo, sem concessões, só contando com autoridade para estabelecer políticas e definir prioridades, assim como buscando sustentabilidade com visão de longo prazo é que a EMBRACLUSTER poderá alcançar resultados de envergadura equivalente àqueles da Embrapa. 

Assim, não dá para fazer meia transferência.

A cautela se justifica porque já vimos este filme antes. A Embrapii e outras Iniciativas pontuais e isoladas do tipo das que propõe o Programa Nova Indústria Brasil (NIB) até podem obter alguns resultados, só que igualmente pontuais e isolados. 

Ocorre que, na atual conjuntura, o que realmente a indústria precisa é de algo verdadeiramente disruptivo, de algo radical, maior e mais ambicioso. 

O Brasil precisa priorizar a indústria, pensar diferente, pensar grande e agir grande. Sem reunir massa crítica não vamos chegar a lugar nenhum. É preciso focar em soluções transformadoras que sejam capazes mudar o ecossistema industrial brasileiro e de tal modo que possamos proclamar a mudança repetindo os versos de Camões nos Lusíadas: “Cesse tudo o que a antiga Musa Canta que um valor mais alto se alevanta”.

Exemplos de políticas de “cluster” bem-sucedidas no mudo são os da indústria de microchips de Taiwan, de carros elétricos na China, de pisos cerâmicos na Itália, e da indústria de software do Vale do Silício nos Estados Unidos

Em síntese, o que nossa indústria precisa é de condições e competência para inovar e avançar nos hipercompetitivos mercados mundiais levando a eles a marca do Brasil. 

Mas, então, como organizar uma instituição que atenda a todos estes requisitos?

Neste quarto tópico vamos ver uma forma para criar a EMBRACLUSTER;

A instituição proposta para impulsionar a indústria haverá de ter semelhanças, mas terá requisitos diferentes daqueles que tem a EMBRAPA em sua missão no agro.

Ainda que tanto o desempenho da agricultura como da indústria dependa da produtividade, o ecossistema de cada setor é diferente em muitos aspectos e, assim o tipo de apoio necessário também. 

São diferentes o ciclo de produção, a cadeia de suprimentos, a dinâmica do mercado, a geração de valor etc. 

Por isto a instituição a ser criada para apoiar a indústria precisa de um escopo de atuação específico, desenhado para alcançar toda a complexidade da sua cadeia de negócios.

É preciso lembrar que uma das principais diferenças entre o agro e a indústria é que o agro produz commodities, o que faz com que seu campo crítico de competitividade se situe na produção, enquanto a indústria produz mercadorias e, portanto, seu campo crítico de competitividade reside no mercado.

Isto significa que, embora tanto o agro como a indústria precisam ser competitivos em toda sua cadeia competitiva, para se manterem sustentáveis, o jogo de cada um dos setores se ganha ou se perde no seu campo crítico.

Ainda para entender a diferença entre o agro e a indústria vale destacar que o agro brasileiro vem sabendo capitalizar as vantagens competitivas que o favorecem no mercado internacional. Além do Brasil possuir vastas extensões de áreas agricultáveis, clima favorável e água abundante, graças à Embrapa e a outras instituições correlatas, o agro conta com tecnologia de ponta e uma geração de empresários e recursos humanos bem-preparados e atuantes. 

A reunião deste conjunto de condições excepcionais não aconteceu da noite para o dia e se deve, em parte, ao fato de que a EMBRAPA nasceu abaixo da linha de radar da política, o que permitiu a ela, mesmo sendo uma empresa pública, se profissionalizar e criar uma cultura interna ética saudável e resiliente sem sofrer interferências.

Já nossa indústria nasceu e sempre se manteve com grandes limitações. A antiga estratégia de substituição das importações sempre foi de horizontes limitados e hoje se encontra esgotada. O custo Brasil é um ônus intolerável. Os produtos evoluíram, os mercados mudaram e a indústria do Brasil se apequenou. Ainda assim temos algumas indústrias que brilham no mercado mundial, como a EMBRAER, a WEG, a TRAMONTINA, a GERDAU, a ALPARGATAS, a JBS e algumas outras. O que estas empresas têm em comum é que estão alinhadas com os novos paradigmas do mercado mundial, são empresas sólidas, bem administradas e com profundo conhecimento de seus mercados. Também contam, na retaguarda, com o apoio de sólidos “clusters” em suas regiões de origem, para os quais contribuem e dos quais se beneficiam. 

Outros exemplos de “clusters” no Brasil são os da indústria calçadista de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul e o de Franca, em São Paulo, o cluster metalúrgico de Joinville, em Santa Catarina, o cluster da indústria cerâmica na região de Criciúma, em Santa Catarina, o cluster de produção de proteínas na macrorregião do Alto Uruguai gaúcho e  Oeste catarinense e diversos outros. 

No Brasil nossos “clusters” são basicamente informais ou associativos, surgiram espontaneamente e funcionam gerenciando a cadeia estratégica de forma mais ou menos cooperada ou consensual. 

Isto é bom, mas insuficiente para a maioria das empresas nacionais competirem no atual hipercompetitivo mercado mundial, onde vem preponderando os mega-clusters nacionais, com países inteiros operando políticas nacionais centrados em “clusters” como é o caso da indústria de microchips de Taiwan, de carros elétricos na China, de pisos cerâmicos na Itália.

A conclusão, assim, é que o conjunto da indústria brasileira precisa contar com um suporte estratégico e mercadológico maior, mais bem organizado e institucionalizado. 

E como comprova a EMBRAPA, só uma empresa pública independente, capacitada a encarar os ecossistemas produtivos em sua totalidade, e com visão de longo prazo, reuniria as condições para encarar o imenso desafio de organizar os clusters competitivos que podem salvar a indústria do Brasil.

Finalmente, e se o Brasil não fizer nada?

Uma coisa é certa: o mundo não vai parar para esperar pelo Brasil. 

Basta lembrar que por muito pouco não perdemos a EMBRAER para a Boeing. Felizmente, para o Brasil, a Boeing cometeu alguns erros de consequências trágicas e precisou recuar da compra, que já estava fechada. Mas nada impede que logo logo os chineses voltem seu olho gordo para a EMBRAER e tentem levar nossa melhor empresa. 

Os nossos amigos portugueses, sempre práticos e telúricos, tem um ditado irrecorrível: “quem não tem competência não se estabelece”.

O que quase aconteceu com a Embraer vem acontecendo de maneira desalentadora na indústria brasileira. Sem horizontes e sem sólidas perspectivas nossas melhores indústrias, as mais inovadoras e competitivas, vem sendo assediadas pelos conglomerados internacionais e sendo vendidas às dúzias. 

Quando uma empresa é vendida nós perdemos o controle sobre sua tecnologia, sobre seu desenvolvimento e sobre seu futuro.

De modo que, para reverter a debacle da indústria é preciso mais que uma política de apoio perfunctório. É preciso o amparo estratégico de uma organização multifacetada e que se constitua em uma superestrutura proativa, atenta ao mundo e aos mercados mundiais e que não se deixe surpreender pelos fatos. Uma instituição qualificada a fazer a interface entre as empresas brasileiras e seus mercados no Brasil e no exterior. Mais do que isto, uma empresa capacitada a construir futuro, posto que, como dizia o grande Peter Drucker, é certo que não podemos prever o futuro, porém podemos construí-lo. 

Para atender a este escopo é que faço a sugestão de criarmos a EMBRACLUSTER. Uma empresa abrangente como a EMBRAPA e que apoie o conjunto, a totalidade das cadeias produtivas agrupadas em clusters, ainda que sem perder de vista as empresas que os compõe. Em outras palavras, que olhe para a floresta e não para árvores isoladas. 

Esta visão de conjunto é essencial para que os “clusters” sejam bem balanceados e concatenados, uma vez que, como se sabe, todo comboio viaja pela velocidade do barco mais lento.

Para concluir, um recente estudo da Universidade de Harvard revela um paradoxo: no mundo altamente globalizado que vivemos as vantagens competitivas duradouras numa economia global residem cada vez mais em coisas locais – conhecimento, relacionamentos, motivação – que os rivais distantes não conseguem igualar. E é isto, conhecimento, relacionamentos e motivação que sabemos como e onde buscar. 

Felizmente ainda dá para salvar nossa indústria antes que a derrocada industrial nos faça voltar no tempo e nos condene a viver do agro e dos minérios, como nos idos tempos do Império. 

Por fim, gostaria de dirijr à todos os brasileiros que querem ver no país uma indústria pujante e próspera a convocação do grande fazejador Brigadeiro Faria Lima: arregacemos as mangas que temos muito o que fazejar!

E se você gostou da proposta deste vídeo peço que o encaminhe para seus amigos e participe dos debates sobre os temas da indústria nas mídias sociais.

Muito obrigado.

Marketing Sapiens e a Inteligência Artificial

MARKETING SAPIENS e a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

O Marketing Sapiens vem a ser o Marketing dotado de processos inteligentes e que agora passa a contar com os novos recursos trazidos pela Inteligência Artificial, uma tecnologia que busca simular a inteligência do Homo sapiens por meio de algoritmos capazes de aprendizado e do desempeno de atividades como o processamento da linguagem humana, a visão computacional, a Robótica inteligente e outras mais.

                  O título de meu Canal no YouTube Marketing Nuts and Bolts vem da expressão norte americana Nuts and Bolts, que significa Porcas e Parafusos e é usada para se referir aos segredos e aos aspectos práticos de uma atividade ou um processo. 

                  Mas então, o que vem a ser MARKETING?

                  A definição oficial mais recente da American Marketing Association, aprovada em 2017, diz que

                  “MARKETING é a atividade e o conjunto das instituições e processos para criar, comunicar, entregar e permutar produtos que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e sociedade em geral.”

                  Philip Kotler, um dos mais conhecidos teóricos do Marketing diz que

“Marketing é a ciência e a arte de explorar, criar e entregar valor para satisfazer as necessidades de um mercado-alvo com lucro.”

                  The Chartered Institute of Marketing define o Marketing como:

“Identificar, antecipar e satisfazer às necessidades do cliente de forma lucrativa”.

                  Eu, se me permitem, acrescentaria uma definição segundo a qual:

“Marketing é a combinação de conhecimentos, ciência e arte que permite identificar e satisfazer as necessidades e desejos humanos por meio do mercado, suas empresas, entidades e organizações.”

                  O fato é que, independentemente de como possamos defini-lo, O Marketing, assim como a esfinge de Tebas na mitologia grega, nos lança o repto milenar: decifra-me ou te devoro!

                  Desvendar os segredos do Marketing, conhecer sua natureza e mergulhar em suas entranhas é um imperativo de sobrevivência para quem quer que se proponha a atuar no mercado contemporâneo em meio a um cenário altamente sofisticado, tecnologicamente complexo e impiedosamente competitivo.

                  Esmiuçar os recônditos do Marketing é o caminho a seguir para quem deseja compreender sua essência e dominar suas potencialidades.

O Marketing é o Sistema Nervoso da Empresa. E tal como no Sistema Nervoso do Homo Sapiens, O cérebro deve ser o centro da própria existência, o órgão que, por definição, deve pautar a vida, ter consciência do mundo ao seu redor e tudo deve saber para poder decidir e comandar com acerto e competência.

                  Uma empresa é um ente social com objetivos econômicos, que atua no mercado e deve viver em constante diálogo com ele, mantendo uma conversação produtiva e proveitosa que aos dois beneficie. 

                  Seu modus operandi constitui-se em um misto de ciência e arte e combina humanidades e técnicas Mercadológicas com refinamentos de artes marciais.

                  O recente advento da INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL empoderou o Marketing ainda mais, adicionando a esta especialidade novas competências e projetando seus horizontes para vastos espaços ainda inexplorados.

                  A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL correlacional já vem contribuindo na busca de informações, na aferição de tendências, na mensuração de vetores, em estudos comparativos,  em análises de Bigdata, no mapeamento de meta-mercados, na avaliação de campanhas publicitárias, além de facilitar a análise e a interpretação de pesquisas de mercado.

                  Um potencial ainda maior de aplicação da Inteligência Artificial no Marketing está surgindo com a nova INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PROFUNDA, a denominada IA CAUSAL, que trabalha não apenas fazendo a correlação de dados, que é o método da INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL hoje prevalente, mas o próprio algoritmo da formação dos dados, e portanto, a cadeia de eventos da relação de causa e efeito.

                  Esta nova modalidade de INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL promete revolucionar o campo da formulação de Estratégias, especialmente a arquitetura de Cenários futuros, permitindo prever resultados que vão transformar não só o Marketing, mas a própria Instituição do MERCADO.

                  Afinal, o Marketing existe porque existe o MERCADO e o MERCADO existe porque existe o Homo emptor – o homem que compra.

                  Neste texto do Marketing Sapiens coloco ao lado do título MARKETING a expressão Sapiens, termo que vem do latim e que significa sábio, astuto, inteligente.

                  O uso mais conhecido da expressão sapiens, obviamente, é aquele associado à designação de nossa espécie, que no sistema lineano, é denominada Homo sapiens, que vem a ser a nomenclatura de nossa espécie humana e designa o homem moderno e quer dizer: “homem sábio, homem que sabe”.

                  O título Marketing Sapiens reúne estes dois conceitos para definir o MARKETING INTELIGENTE, o Marketing estruturado para desempenhar o papel de cérebro da empresa e configurado para utilizar a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL visando obter uma performance superior e alcançar vantagens competitivas sustentáveis.

                  A civilização inventou o MERCADO porque os indivíduos de nossa espécie Homo sapiens possuem necessidades, aspirações e desejos que ultrapassam vastamente sua capacidade de proverem para si mesmos.

                  Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, 350 anos antes da era cristã, observou que o homem é um ser que necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade para alcançar a completude.

                  Aristóteles acrescentava que o homem é um ser social que, por natureza, precisa pertencer a uma coletividade. Somos, portanto, comunitários, gregários, sociais e solidários.

                  O que é fato incontroverso é que a sobrevivência de nossa espécie sempre dependeu da cooperação entre seus membros.

                  Nas savanas da África nossos ancestrais dos grupos de caçadores aprenderam a agir em conjunto e desenvolveram a linguagem humana para combinarem estratégias de caça porque caçar elefantes não era tarefa para caçadores solitários.

                  E foi assim que tudo começou.

                  Em torno de 11 mil anos atrás, após o fim da última Era do Gelo, grandes mudanças ocorreram na região do chamado Crescente Fértil, uma área em forma de lua crescente localizada no Oriente Médio e que incorporava o Egito Antigo, o Levante e a Mesopotâmia.

                  O Crescente Fértil é irrigado por quatro grandes rios, o Jordão, o Eufrates, o Tigre e o Nilo e abrange uma superfície de cerca de 500 000 km2, equivalente à França, na Europa, ou ao Estado de Minas Gerais, no Brasil, e hoje é dividida pelos atuais estados do Iraque, Síria, Líbano, Israel, Palestina, Jordânia e imediações.

                  A região do Crescente Fértil ficou conhecida como o Berço da Civilização do Homo sapiens, pois foi ali, graças as condições favoráveis para a agricultura, que surgiram os primeiros assentamentos humanos permanentes.

                  A atividade agrícola, diferentemente das atividades de caça, pesca ou coleta, exige dedicação integral e continuada.

                  Cuidar da safra é tarefa que não permite esmorecimento.

                  O cultivo do solo exige os cuidados do agricultor ao longo de todo o ciclo da produção, da semeadura até a colheita e, assim, estes assentamentos agrícolas iniciados no Crescente Fértil levaram o Homo sapiens a mudar seu estilo de vida, seus hábitos e sua organização social.

                  Na atividade agrícola o ano é dividido em etapas.

                  Tem o momento de preparar o solo, o momento de plantar a semente, o momento de limpar as ervas daninhas e o momento da colheita.

                  E esta foi a origem da evolução do Homo sapiens no rumo do Homo economicus, o homem racional que toma decisões no campo econômico com base na razão e com foco no seu bem-estar.

                  Ademais, a agricultura favorecia elevar a produção de alimentos e gerar excedentes, o que ensejava o crescimento da população e abria espaços para custear experimentos e inovação.

                  Em paralelo também sofisticava os hábitos de consumo e propiciava tempo livre para o lazer, expressão de origem latina que vem de “licere”, ou seja, algo lícito ou permitido para descanso, distração ou entretenimento. E tudo isto era novidade para o gênero humano e tornava a experiência de vida mais enriquecedora e estimulante.

                  O fato, entretanto, é que as pessoas dedicadas ao trabalho do campo viviam atarefadas, e só ocasionalmente tinham tempo para irem fazer suas próprias trocas.

                  Aí entram as qualidades únicas do Homo sapiens: sua versatilidade, sociabilidade, solidariedade e capacidade de aprender e inovar.

                  Graças à bem-sucedida experiência dos grupos de caçadores no trabalho em equipe, fator decisivo para a sua sobrevivência, o clã aproveita o aprendizado da colaboração e o aplica nas novas lides agrícolas.

                  E em meio as atividades do campo e da vida que segue, os membros das novas comunidades agrícolas se interessam por trocar coisas que tem por coisas que desejam.

                  Para facilitar as trocas surgem pontos de encontro onde os interessados em permutar coisas vão para se encontrar.

                  Mas dado que a maioria dos novos agricultores trabalhavam de sol a sol e só esporadicamente podiam ir aos pontos de troca, a solução prática foi confiar a um dos membros do clã a tarefa de ir fazer as permutas que interessavam aos demais.

                  Esse membro designado agora se converte em um negociador.

                  De tanto trocar e permutar vai acumulando experiências e melhorando suas habilidades negociais. Logo passa a avaliar com perícia quantas medidas de cevada ou de trigo vale um carneiro, quantos carneiros podem ser oferecidos por um jumento e quantos jumentos seria justo pagar por um camelo.

                  Acontece que o bom negociador é a quintessência do Homo economicus.

                  Se ele percebe que seus produtos não são valorizados naquele dado ponto de troca, ele monta em seu camelo, ou seu jumento, e vai em busca de outra PRAÇA.

                  Possivelmente, ao chegar lá, ele irá se dar conta que naquele novo ponto de trocas ele é desconhecido.

                  Para conseguir fazer negócios busca entendimentos com os outros comerciantes locais. Talvez consiga negociar um espaço ao lado da fonte onde todos vão buscar água e possa ali expor seus produtos. Faz arranjos bem vistosos e oferece amostras para permitir que os frequentadores locais experimentem suas mercadorias.

                  Assim, vivendo experiências, testando alternativas e observando com olhar atento o que funciona e o que não funciona na prática do dia a dia, os mercadores pioneiros foram galgando a curva do aprendizado de seu ofício e reunindo os conhecimentos da ciência e arte de conquistar clientes e fazer negócios.

                  São estes conhecimentos, e mais um grande segredo, que estes mercadores pioneiros nos legaram e que hoje formam os fundamentos do Composto mercadológico como conhecemos.

                  Vamos então ver os 4 eixos do Composto mercadológico, ou Marketing Mix, sob a ótica do Marketing Sapiens. O Grande Segredo, contudo, ficará como um teaser a ser revelado no final.

                  O Marketing Mix, ou Composto Mercadológico, divide a ação do MARKETING em 4 eixos de atuação distintos.

                  Estes eixos de atuação são conhecidos como os 4 Ps do MARKETING – PRODUTO, PREÇO, PRAÇA E PROMOÇÃO.

                  Esta divisão foi proposta em 1960 pelo professor Jerome McCarthy e foi amplamente adotada não só por facilitar a compreensão dos fundamentos do MARKETING como por ser de grande utilidade como ferramenta de planejamento e análise das atividades mercadológicas.

                  Vejamos, então, a natureza destes quatro eixos do Marketing Mix:

                  O PRODUTO é o primeiro e o mais importante elemento do Composto mercadológico. Sua primazia se dá pela óbvia razão de que sem PRODUTO não existe MERCADO.

                  E se o PRODUTO é a razão de ser do MERCADO, conseguir compradores para o PRODUTO no MERCADO é a razão de ser do MARKETING.

                  Sinteticamente, pode-se dizer que, para o MARKETING, a expressão PRODUTO define todos os bens e serviços comercializados no MERCADO.

                  O termo “PRODUTO” é formado pela combinação de duas palavras latinas: “pro”, que significa “à frente”, como é o caso em prover, promover ou progredir, e a palavra “dúcere” que significa carregar, levar, conduzir.

                  Assim a expressão “PRODUTO” traz em si a noção de algo que tomou forma, agregou substância, adquiriu identidade e se tornou uma coisa nova, um novo serviço ou uma nova solução, devidamente formatada, e que passa a ter valor no Mercado, que passa a ser valiosa e desejável para o Homo emptor, o homem que compra.

                  Desta forma, para facilitar o entendimento do conceito no âmbito do Composto mercadológico, convencionou-se que PRODUTO, na acepção do MARKETING, abarca toda e qualquer coisa que tenha valor e seja colocada no Mercado para ser vendida ou comprada.

                  A própria ideia do MARKETING MIX pressupõe que o PRODUTO oferecido no MERCADO irá competir pela preferência dos possíveis consumidores ou usuários.

                  Esta competição tende a se dar em volta dos três níveis que formam o PRODUTO:

                  O Primeiro nível é o “NÚCLEO”, o “Core” do PRODUTO.

                  No núcleo temos sua essência, sua substância, sua materialidade.

                  É o que define o PRODUTO em si, seu propósito, sua funcionalidade, sua “raison d’être”, ou seja, sua razão de ser. Por exemplo: uma bicicleta.

                  Sua função básica é permitir que as pessoas se desloquem de um lugar para outro sobre duas rodas. Por definição deverá ter duas rodas, selim, pedais, correia, freios etc.

                  O segundo nível é o ”PERCEPTIVO”.

                  Neste nível figuram os atributos, as características diferenciais e os elementos competitivos do PRODUTO. No exemplo da bicicleta seriam relevantes fatores como o design, as cores, o material de fabricação, a robustez, o acabamento, os acessórios e assim por diante.

                  O terceiro nível do PRODUTO é o “SUBJETIVO” e refere-se aos aspectos emocionais ligados ao PRODUTO, podendo envolver sentimentos, crenças, desejos, aspirações, valores pessoais e perspectivas individuais.

                  Uma evidência da importância emocional da bicicleta para seus donos é que muitos a chamam afetuosamente de magrela.

                  Entre os fatores deste grupo SUBJETIVO estão a reputação, a imagem da marca e o status. Também figuram nele as expectativas projetadas sobre o PRODUTO como seu desempenho, confiabilidade, funcionalidade, durabilidade etc.

                  É oportuno destacar que várias pesquisas mostram que os dois sentimentos mais relevantes para o sucesso de um produto são a lealdade e a confiança.

                  Uma commodity sem marca é só mercadoria, mas um produto com marca carrega compromissos de imagem e porta valores simbólicos e deve conhecer seu papel para manter sua boa reputação não e trair a lealdade de seus consumidores. Uma vez perdida a confiança de seus consumidores dificilmente conseguirá reavê-los.

                  O PREÇO é segundo eixo do Composto Mercadológico.

                  Uma definição simples seria que o PREÇO é o valor monetário de um PRODUTO colocado para vender no MERCADO.

                  Contudo, se formos olhar para o comportamento dos preços no MERCADO veremos que existem muitos fatores que influenciam sua flutuação.

                  Para a economia clássica de Adam Smith, o preço natural corresponde ao somatório dos custos dos insumos, mão de obra e demais fatores de produção necessários para fabricar um produto.

                  Já o preço praticado pelo MERCADO, conforme a Lei da Oferta e da Procura de Adam Smith, é regulado pela proporção entre a quantidade que é colocada no MERCADO (a oferta) e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o preço natural da mercadoria levada ao MERCADO.

                  Muita oferta e o preço cai. Muita procura e o preço sobe.

                  Para entender a questão do preço natural é preciso ter em conta que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma, mas a um custo.

                  Sob um enfoque Cosmológico, o PREÇO dá a medida da entropia econômica.

                  Grosso modo, a Segunda Lei da Termodinâmica explica que a transformação da natureza para fazer um produto ou prestar um serviço requer uma dada quantidade de trabalho e um dado gasto de energia.

                  Nada é grátis no Cosmo. Tudo tem custo e, portanto, tudo tem preço.

                  Os anglo-saxões simplificam o entendimento deste axioma dizendo que “não existe almoço grátis”.

                  Outro aspecto relevante para entender o fator PREÇO é o Princípio da Escassez.

                  Escassez em economia, significa que nunca há quantidade suficiente de um dado PRODUTO para atender a todas as pessoas que o desejariam possuir caso ele fosse gratuito.

                  O lado positivo do papel do MERCADO em relação ao Princípio da Escassez é que o mercado aponta o que se mostra escasso e dimensiona o tamanho desta escassez pela oscilação do preço.

                  O preço alto, então, funciona como um indicador e estimula os produtores a produzirem mais e a aumentarem a oferta.

                  Outro ponto a destacar é que o PREÇO, em MARKETING, deve ser entendido como o total do valor do desembolso necessário para a aquisição do bem ou serviço.

                  Frequentemente o valor monetário nominal não expressa o real custo do item, já que existem outros custos associados, tais como taxas e impostos, armazenagem, transporte e outros.

                  Assim, para concluir este tópico, o preço é uma referência que permite ao comprador saber o valor do desembolso necessário para adquirir a posse do produto ou receber a prestação do serviço, assim como permite ao vendedor estimar o valor que receberá pela venda do bem ou pela prestação do serviço.

                  A PRAÇA é o terceiro componente do MARKETING Mix.

                  PRAÇA, em MARKETING, vem a ser o local no ambiente do MERCADO em que se dá o encontro entre o vendedor e o comprador. É o local em que se situa o Ponto de Venda de um produto ou serviço.

                  O termo PRAÇA foi adotado para designar de forma genérica os pontos de venda, tanto físicos como virtuais, dado que durante milênios era na praça da aldeia que nossos ancestrais se encontravam para fazer trocas ou permutar coisas que tinham por coisas que desejavam.

                  Hoje o conceito de PRAÇA se alargou de tal modo que abarca o mundo todo e a PRAÇA tornou-se global.

                  O MERCADO ficou tão pervasivo, tão onipresente, que transformou o Planeta numa colossal Business-sfera.

                  Tanto que é difícil encontrar um só recanto de nosso planeta onde não se façam negócios ou não se compre ou se venda alguma coisa.

                  A diversidade dos Pontos de Venda é imensa, variada e fascinante.

                  Os Pontos físicos vão desde a mala sofrida do mascate, a cesta perfumada da vendedora de flores, o carro buliçoso de sorvetes, o sonoro vendedor de pamonhas, os acolhedores quiosques de praia, as brilhantes “vending machines”, os singelos mercadinhos do interior, aos movimentados mercados dos grandes centros, os coloridos bazares do Oriente, a Galeries Lafayette Champs-Élysées em Paris, os sortidos supermercados, os opulentos shopping  centers e, enfim, uma infindável miríade de locais onde os consumidores podem se deixar encantar por produtos maravilhosos e serem tocados pela magia da compra que move a economia e faz prosperar a sociedade.

                  Mas como a humanidade não para e o mundo evoluiu espetacularmente nos tempos mais recentes, o Homo sapiens colocou uma nova camada de tecnologia sobre o orbe terrestre, fazendo surgir a era digital e o ciberespaço.

                  Assim nasceu a PRAÇA na sua dimensão digital.

                  Neste mundo conectado, cada celular, cada tablet, cada computador e até mesmo cada sistema automatizado de compras que opera por meio da Internet das coisas, como a geladeira que encomenda no supermercado o leite e os ovos que precisam ser repostos, virou uma extensão da PRAÇA.

                  Nesta PRAÇA online existem milhões de Pontos de Venda abertos e pulsando 24 horas por dia, sete dias por semana

                  São portais, sites e Lojas Online, Marketplaces, Plataformas de e-commerce, Aplicativos dedicados e uma infinidade de outros canais de compra.

                  Apesar do número estelar de pontos de venda que a Instituição do MERCADO coloca hoje ao dispor do Homo Sapiens, o que a ciência nos diz é que o homem moderno, ainda que detentor de cultura, saber e possibilidades jamais antes alcançadas, no seu âmago, continua, biologicamente falando, o mesmo Homo sapiens de 5, 10, 100 mil anos atrás.

                  Seus conhecimentos se ampliaram de modo inimaginável, sua qualidade de vida lhe oferece conforto e bem-estar jamais sonhados, sua expectativa de vida já promete futuras gerações centenárias, e seus horizontes se projetam para o cosmo, mas no seu âmago o homem ainda é movido pelos mesmos instintos, sonhos, alegrias e tristezas de seus ancestrais.

                  E o Homo Economicus, em sua versão de negociador de nosso tempo continua interessado em comprar, vender e negociar no MERCADO e, igualmente, anseia valer-se dos benefícios e das benesses que este lhe proporciona.

                  O quarto componente do Composto de MARKETING é a PROMOÇÃO.

                  O propósito da PROMOÇÃO é divulgar, dar visibilidade e tornar o PRODUTO conhecido, enaltecendo suas qualidades e atributos para fazê-lo desejado pelos clientes de seu MERCADO alvo.

                  A publicidade é uma das formas mais conhecidas de anunciar e promover um produto. Mas não é a única. Ao componente da PROMOÇÃO incumbe colocar o produto sob luz favorável e existe uma imensa variedade de meios e maneiras de chamar a atenção, gerar interesse, estimular o desejo e conduzir à conclusão da venda.

                  Existem aquelas técnicas de promover voltadas ao grande mercado, a exemplo da publicidade e da propaganda nos meios de comunicação de massa como jornais, revistas, rádio e televisão, outdoor ou a exemplo dos patrocínios.

                  Outra forma de promover é aquela realizada pelo pessoal da empresa em contato direto com o público ou com clientes. Nesta modalidade de promoção o contato é feito com os clientes em estandes de promoção, quiosques ou estandes de vendas em eventos, feiras e exposições.

                  O Merchandising é uma ação de Marketing realizada no Ponto de Venda com a finalidade de promover a venda de um produto ou serviço.

                  Pode se limitar a cuidar da reposição e arrumação das gôndolas em supermercados, da exibição de cartazes e displays ou pode ser a demonstração ou degustação de produtos. O Merchandising tem a missão de colocar o produto diante do cliente e dar o empurrão final no ciclo da venda, posto que, como diz a sabedoria popular, o que não é visto não é lembrado e aquilo que os olhos não veem, o coração não sente.

                  A Promoção pelos canais digitais também é de grande importância. Notadamente os ligados à Internet. A começar pelos sites corporativos e Lojas virtuais seguidos pelos sites de busca, como o Google e o Bing, as Redes Sociais, sites e aplicativos de conexão entre os usuários como Facebook, Youtube, Instagram, WhatsApp e outros.

                  Ferramentas como o Telemarketing e o chamado Inbound Marketing, ou marketing de atração, usam intensivamente os canais on-line para atrair, persuadir, converter e encantar clientes.

                  Existem também as atividades de apoio, que não são menos importantes, como a Pesquisa de Mercado, as relações públicas, a assessoria de imprensa, o Serviço de Atendimento ao Consumidor e outros.

                  No grupo das atividades complementares a Pesquisa de Mercado tem a incumbência de obter informações sobre a realidade do mercado e contribuir para o Planejamento Estratégico, para o posicionamento do produto, para a definição do Público-Alvo e para orientar o conjunto das demais atividades Mercadológicas.

                  A Assessoria de Imprensa faz a intermediação entre a empresa e os veículos de Imprensa e de comunicação.

                 A Gestão das Mídias Sociais coordena as atividades de Marketing e de relacionamento na internet e associadas às redes sociais.

                  As Relações Públicas organizam o relacionamento com os formadores de opinião do Mercado e fazem a ponte com os –  stakeholders –  ou seja, com os públicos de interesse da empresa e que englobam desde o público interno, formado por colaboradores e funcionários, passa pelos os clientes e consumidores e vai alcançar o grande universo de investidores, acionistas, parceiros, legisladores, agências reguladoras das três esferas de governo, Organizações Não Governamentais e similares.

                  Enfim, para resumir, a PROMOÇÃO tem como missão principal conquistar os corações e mentes do público-alvo a levá-lo a preferir o PRODUTO que promove. Contudo a PROMOÇÃO não pode descuidar de outra frente vital para o sucesso continuado do produto no Mercado: o Pós Venda.

                  No Pós Venda duas atividades devem merecer atenção e cuidados:

                  Primeiro: O Serviço de Atendimento ao Consumidor e o Suporte ao Usuário. Hoje este serviço conta com forte presença dos Chatbots que facilitam dar apoio a clientes e usuários e podem atuar como canais de complementares pesquisa de satisfação dos consumidores. Outra tarefa que podem desempenhar é a de servirem como canais complementares de informações aos clientes potenciais.

                  Segundo: o atendimento à Garantia e a Assistência Técnica.

                  A Importância do Pós Venda não pode ser minimizada. O Cliente compra um produto para atender uma necessidade ou um desejo.

                  E para que ele fique satisfeito com o produto, este deve cumprir o que promete, funcionar bem e sem defeitos. Hoje, com as mídias sociais, eventuais problemas com o produto correm o mundo e significam baixa avaliação e problemas com o Mercado.

                  Uma última observação sobre este tópico relativo à PROMOÇÃO: do ponto de vista ético a PROMOÇÃO de bons produtos é um propósito eticamente legítimo, do mesmo modo como é ético alertar o consumidor sobre os eventuais riscos oferecidos pelo seu uso ou consumo.

                  O escritor Bernard Shaw dizia que quem confia em seu produto não deve envergonhar-se de tocar bumbo na porta da loja.

                  Assim PRODUTO, PREÇO, PRAÇA e PROMOÇÃO formam os quatro eixos em que se assenta o Marketing e em que se apoia o relacionamento da empresa com os consumidores que compram, usam e consomem seus produtos e serviços colocados na grande business-esfera do Mercado.

                  E agora, para concluir, vou revelar qual o GRANDE SEGREDO que nos foi legado pelos maiores mercadores de todos os tempos e capaz de alavancar o sucesso do marketing tanto das pequenas empresas como dos maiores conglomerados, e que pode garantir o seu sucesso e o de sua empresa.

                  Esse grande segredo guardado a sete chaves foi, certa feita, revelado aos filhos por um mercador que por muito tempo viajara com suas caravanas pelo deserto:

Filhos, a coisa mais importante para o sucesso de um mercador é simples como o ar, que está sempre à nossa volta e pode impulsionar os navios que cruzam os mares, mas também pode causar grandes tormentas que provocam destruição e morte: filhos saibam que a força mais poderosa que um mercador pode usar é a PALAVRA!

Usem bem a palavra e vosso sucesso será certo.

                  É pela palavra que vendemos, é pela palavra que argumentamos, é pela palavra que agradecemos ao criador e é pela palavra de nossos fregueses que o boca a boca vai na nossa frente para fazer nossa reputação e falar bem de nossa honestidade e promover nossa mercadoria. A palavra pode ser a benção ou a maldição do mercador. E o boca-a-boca do mercado é o nosso aroma que o vento leva e que chega antes de nós. Mas cuidado, as palavras más voam como os falcões, enquanto as palavras benignas são como sementes de tâmaras plantadas ao longo do caminho. As tamareiras demoram para produzir frutos, mas nenhuma fruta é mais doce ou mais apreciada.

                  Assim, caras amigas e caros amigos, sabemos que o maior segredo do marketing é mesmo o nosso velho conhecido boca-a-boca, agora ampliado pela internet, pelo celular, pelos aplicativos de mensagens e pelas mídias sociais

                  Sucesso e que os bons ventos do mercado enfunem suas velas!

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O MARKETING Inteligente agora com os recursos da Inteligência Artificial.

PORQUE O AGRO 4.0 VAI MUDAR O FUTURO DO BRASIL

“Cesse tudo o que a antiga musa canta que um valor mais alto se alvanta” – Camões.

O Agro está mudando o Brasil. A Onda do Agro 4.0 vem como um tsunami avassalador que vai romper os muros do atraso, mudar história do campo e colocar o Agro no centro do futuro do Brasil.

O Agro brasileiro tem DNA de primeiro mundo.

O Agro 4.0 é o agro das inovações, da automação, da tecnologia, da Internet das coisas, da Inteligência Artificial, mas é também o agro de brasileiras e brasileiros bem-preparados, de empreendedores com visão de futuro e que tem aspirações de progresso e prosperidade que não cabem mais nos moldes mesquinhos dos arranjos políticos que manietam o agronegócio.

O Brasil é um país complicado!

É verdade! O Brasil é um país complicado. Tem tudo para ser o paraíso da abundância. Tem riquezas naturais incomparáveis, território imenso e generoso, uma natureza invejada pelo mundo. Tem tudo para ser rico, próspero e sem miséria, mas teima em brigar com os fatos, ignorar o bom senso e mandar a lógica às favas.

Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos! (Nelson Rodrigues)

Nelson Rodrigues, frustrado pelo atraso endêmico que assola o Brasil desde o descobrimento, afirmou que “Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. O que Nelson Rodrigues queria dizer é que o povo brasileiro vinha sendo espoliado e esbulhado pelos coronéis, pelos governantes e pelos açambarcadores do poder desde que as caravelas de Cabral aportaram por aqui. Mas a sabedoria popular diz que não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe. E nossa gente sempre manteve a esperança. E sempre acreditou que um dia um novo futuro iria raiar no horizonte do Brasil. E esse futuro está agora batendo em nossa porta. O fato novo que agora surge no horizonte é Agronegócio que se agiganta, se torna uma força irresistível e forma um novo país dentro das fronteiras do Brasil.

O Agro brasileiro é disruptivo!

E esse novo país do Agro tem natureza disruptiva e vem com ímpeto para romper com as velhas crenças e com os velhos paradigmas do nosso triste passado patrimonialista e corrupto. E a transformação a ser produzida pelo Agro 4.0 é uma certeza porque as mudanças seguem a inexorável Lei de Camões, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta / Que outro valor mais alto se alevanta” Mas a mudança não se limitava aos versos do poeta. As novas descobertas daquele tempo alargaram os horizontes da civilização. Mostraram o caminho para as Índias; encontraram as Américas, descobriram o Brasil, fizeram surgir novos países. E, por fim, mudaram o eixo de poder no mundo. Pois bem, é exatamente este efeito da “Lei de Camões” que o Agro vai produzir no Brasil. A Onda Agro 4.0, na verdade, já começou. No plano econômico, o Agro é que vem pagando as contas e trazendo os dólares para custear a bagunça que reina em Brasília.

Os números não mentem jamais (Malba Tahan)

Os números do Agro são eloquentes. E como os números não mentem jamais, como dizia o matemático Malba Tahan, estes número provam que não é o carnaval, é o Agro que está salvando o Brasil. … Os ventos continuam soprando ao favor do Agro Brasileiro. Hoje ninguém mais põem em dúvida de que o Agro é a vocação natural do Brasil. Mas ainda nos falta uma verdadeira Mentalidade Agro. Ainda carecemos daquilo que os americanos chamam de “mindset”, uma disposição para escolher um rumo, para agir e superar obstáculos na conquista de um objetivo e a determinação de fazer acontecer, / de buscar avanços e resultados de forma consistente e sistemática. Possuímos a terra, a água, o clima, os empreendedores, os recursos humanos e a tecnologia. Ainda precisamos melhorar a infraestrutura e a logística, mas depois de cinco séculos de altos e baixos, de dúvidas e desconfianças, está claro para nós e para o mundo que, finalmente, encontramos o caminho.

Os indicadores do Agro brasileiro são convincentes.

Os indicadores impressionam. Segundo o IPEA, a Produtividade total dos fatores – ou seja o aproveitamento dos insumos que se convertem em produto – cresceu 400% na agricultura brasileira. Hoje nossa produção é suficiente para alimentar 1/6 da humanidade e, no mais bem vindo dos índices para o povo brasileiro, desde os anos 70, o preço da cesta básica no Brasil caiu para a metade. Outra coisa: A produtividade cresceu quatro vezes mais que a área plantada. A expansão do agronegócio é o fato mais importante da história econômica recente do Brasil mas a continuidade do sucesso do Agro pressupõe uma estrutura decisória descentralizada. As decisões precisam ser tomadas perto da ação, nos clusters e polos produtivos espalhados pelas vastas extensões do país. As necessidades do Sul são diferentes daquelas das do Centro Oeste ou do Norte ou Nordeste.

O modelo descentralizado é vacina contra a ditadura, porque só funciona em ambiente de liberdade e democracia.

Acontece que este modelo descentralizado só consegue funcionar em um ambiente de liberdade e democracia. O mundo em que o Estado centralizava tudo e se via como patrão e padrinho morreu. Hoje é tão anacrônico como os antigos lampiões de gás que precisavam de um acendedor público para alumiarem as ruas e becos.

O Brasil está pronto para a metamorfose 4.0

Em síntese, o Brasil está pronto a se transformar em uma nação capaz de voar alto, ir longe e brilhar entre as nações para proporcionar aos brasileiros tanto a prosperidade que merecem como o autêntico protagonismo no mundo contemporâneo a que legitimamente aspiram. …

APUNHALADO / O BRASIL APUNHALADO COM UMA PENA DE OURO!

(Clque para saber mais)

GOIO-EN, O CAMINHO E TEMPO. (Link com a Editora Viseu)

O Brasil apunhalado com uma Pena de Ouro.

O presidente Lula, ao que parece, está um tanto deslumbrado com os rapapés que recebe em seus entendimentos com a Argentina, mas deve tomar muito cuidado para não se tornar um novo Quintino Bocaiuva. 

Os presidentes Lula, do Brasil, e Alberto Fernandez, da Argentina, anunciaram estudos para uma nova moeda sul-americana compartilhada. Segundo disseram à imprensa, “esta moeda binacional teria a finalidade de reduzir a vulnerabilidade externa dos dois países em transações comerciais e financeiras.”

Quem conhece a história das tormentosas relações entre o Brasil e a Argentina ficou com a pulga atrás da orelha. 

Começa que o Brasil não tem vulnerabilidade externa com que se preocupar.

Assim fica claro que este arranjo tem o único propósito de levar o Brasil a assumir o risco do crédito com a Argentina, já que é este o país que convive com uma escassez crônica de dólares.

O indigitado Quintino Bocaiuva era senador e virou Ministro do Exterior da recém proclamada república brasileira em 1889. República essa cuja primeira providência, após abater a monarquia brasileira, foi embarcar o embasbacado ministro no encouraçado Riachuelo, o maior navio da marinha brasileira de então, para levá-lo com toda a pompa e circunstância até o Prata para apunhalar o Brasil pelas costas!.

E o fez em grande estilo. Vaidoso, sedento de glórias, como o descreveu o Barão de Ladário, foi recebido com mesuras, adulado, bajulado, paparicado com festas e banquetes e, por fim, não de se pejou de assinar, faceiro e pampeiro, o tratado que dava de mão beijada aos Argentinos um pedaço dos atuais estados do Paraná e de Santa Catarina. 

E não só apôs sua rebuscada assinatura de Calabar no tratado, como o fez com uma esplendorosa pena de ouro. Peça única, ornada de pedras preciosas e trabalhada pela mais refinada ourivesaria, num gesto fútil de reverência que o Plenipotenciário Quintino Bocaiuva concedeu ao presidente da República Argentina Miguel Juarez Celman. 

O Jornal o Estado de S. Paulo de 26 de janeiro de 1890 revelava na primeira página aquela perversidade:

Trocaram-se ante-ontem as últimas notas entre os srs. Bocayuva e Zeballos sobre a questão de Missões.

Zeballos oferecerá em nome do governo argentino a Bocayuva, para assinar o tratado, uma artística pena de ouro, assinando aquele tratado com a pena que o presenteou Juarez Celman. 

Certa vez o Papa Argentino observou que Deus é brasileiro. Ele haverá de saber melhor do que ninguém, pois foi só graças aos céus que esta despudorada manobra não prosperou e acabou anulada pelo congresso brasileiro.

É certo que a rivalidade do Brasil com a Argentina foi herdada da rivalidade entre Portugal e Espanha e, portanto, vem desde os tempos coloniais, mas no episódio da Questão de Palmas ou, Questão das Missões, como queriam os argentinos, os eventuais entendimentos coloniais serviram só como pretexto para maquinações e pleitos muito além dos acordos estabelecidos entre as matrizes Europeias. 

A verdade é que Argentina sempre viu o Brasil com olhos gulosos. 

O Brasil é um oponente grande e simplório. Um colosso amórfo, dominado por um desmesurado complexo de inferioridade, o famoso “complexo de vIra-latas”, de que falava Nelson Rodrigues. 

O efeito desse complexo é que tem governantes brasileiros, ávidos do glamour fugaz e de uma pitada de aplauso, bem no espírito da canção Folhetim do Sérgio Buarque de Holanda, que estão sempre prontos à fazer concessões e entregar o ouro por uma coisa atoa.

 A Argentina, por seu lado, trata de defender seus interesses, o que seria mesmo de esperar. 

A questão, porém, é que o país vizinho frequentemente se conduz de forma sobranceira e egoísta, sendo useira e vezeira em menoscabar nosso país. 

Esta relação tóxica é parte de nossa tragédia latino-americana. Tragédia, aliás, que alcança todo o continente. Vale lembrar que o ex-presidente Mexicano Porfírio Diaz, reclamando dos americanos, exclamou:

“Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.

De nossa parte aqui, seria o caso de exclamarmos “Pobre Brasil, tão longe dos Estados Unidos e tão perto da Argentina”. 

Mas voltando à tentativa Argentina de se apossar de parte dos territórios do Paraná e Santa Catarina, que originaram a momentosa Questão das Missões, pode-se afirmar que este foi um embate emblemático. 

O território dos Campos de Palmas estava pacificamente nas mãos do Brasil. 

Os bandeirantes paulistas tinham circulado por ali desde o século XVI. Em 1839, com a substantiva participação do Cacique Victorino Condá ajudando a pacificar os Kaingang, estabeleceram-se no Campo de Palmas 37 fazendas, as quais, em 1850, já tinham cerca de 36.000 cabeças de gado. 

Vale lembrar que os Kaingang, também chamados de coroados e bugres, que habitavam a área, sempre se afirmaram brasileiros. Eles haviam se relacionado bem com os portugueses até porque eram inimigos dos Guarani, índios aliados dos espanhóis. 

Em 16 de março de 1837 a Assembleia Legislativa de S. Paulo criou um destacamento de Policiais Permanentes para o fim específico da ocupação daqueles campos.

Em 1845, Manuel da Fonseca de Lima e Silva, o Presidente da Província de São Paulo, com visão e descortino de estadista, tomou a iniciativa da construção do Caminho de Goio-En, o caminho de tropas entre os Campos de Guarapuava e as Missões de São Pedro do Rio Grande do Sul, como informa em seu Relatório para a Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 7 de janeiro de 1845: 

“Compartindo o interesse que vos inspirou a ideia de abertura de uma nova comunicação entre esta Província e a de S. Pedro do Sul pelo território situado a sudoeste do Campo de Palmas, encarreguei esta comissão ao Cidadão Francisco Ferreira da Rocha Loures, homem empreendedor e ativo e que, pela circunstância de residir naquelas imediações me parece para isto precisamente habilitado.” 

Manuel da Fonseca de Lima e Silva, que seria o futuro Barão de Suruí, se encarregou ainda de arregimentar o apoio do Presidente da Província vizinha de São Pedro do Rio Grande do Sul, Luiz Alves de Lima e Silva, o então Conde de Caxias, que vinha a ser seu cunhado e sobrinho. 

A esse respeito o Conde de Caxias, informa em seu relatório a Assembleia Provincial gaúcha de 1846 que:

Por este meio tempo veio ter a esta Província o Tenente Francisco Ferreira da Rocha Loures, encarregado pelo Governo Provincial de S. Paulo de explorar o terreno e abrir uma nova estrada por conta daquela província… 

Mas voltando ao relatório de 1845 do Presidente de São Paulo, este informa que vai fazer mais uma estrada naquela região, agora ligando os Campos de Palmas com a Argentina. 

Na justificativa ele esclarece: 

“Aberta essa estrada, ela pode sobretudo melhorar a posição do Brasil acerca da solução das antigas questões de limites naquela parte do Império.”

Observem que ele, ao falar das questões de limites naquela parte do império se antecipa em décadas as futuras reinvindicações dos argentinos sobre os Campos de Palmas.

Tanto é fato que cinquenta anos depois, o Barão do Rio Branco, ao defender os direitos do Brasil aos Campos de Palmas, reconhece a importância da iniciativa do Presidente da Província paulista:

Em 1845, por ordem do presidente de São Paulo, general Manuel da Fonseca Lima, depois barão de Suruí, se deu começo à abertura da comunicação com o Rio Grande do Sul, pelo passo do Goio-En e por Nonoai. 

O general Caxias, então presidente do Rio Grande do Sul (outra província brasileira), animou e auxiliou esses trabalhos.

Foi na segunda metade do século XIX que cresceram os olhos dos argentinos. Especialmente ao se darem conta que a ausência de uma fronteira bem demarcada na região lhes dava oportunidade para turvar as águas e criar confusão. 

Conjeturaram que uma artimanha bem bem-sucedida lhes daria um naco de 30.621 km2 de uma das regiões mais férteis e promissoras de todo o continente. 

Ou seja, valia o esforço! 

Os limites territoriais das possessões de Portugal e Espanha na América Meridional haviam sido definidos pelos tratados de Madri de 13 de janeiro de 1750 e pelo de Santo Ildefonso, de 1º de outubro de 1777

Nos tratados consta que a divisa entre o Brasil e Argentina / no trecho entre os rios Uruguai e o Iguaçu seria feita pelos rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio. 

Na condição de herdeiros destes tratados, tanto o Brasil como a Argentina tinham que aceitar estes rios como limite entre os dois países. 

Acontece que os mapas daquela época eram pouco precisos e a Argentina se aproveitou deste pretexto para, com base em mapas de encomenda e argumentos especiosos, questionar a localização dos rios que fariam a divisa e passou a alegar que o rio brasileiro de nome Chapecó é que seria o verdadeiro rio Peperi-Guaçú e o de nome Chopim é que seria o verdadeiro rio Santo Antônio daquele tratado de fronteiras.

Em 1882 a Argentina tentou dar uma de joão sem braço. Fez uma lei dividindo o Território das Missões argentino em cinco departamentos administrativos e incluiu na divisão o território brasileiro dos Campos de Palmas. Na lei são designados como limites os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio, porém acontece que a Argentina atribuiu estes nomes aos rios Chapecó e Chopim, que ficam no meio dos Campos de Palmas. 

Ora, a falsificação era flagrante e o governo imperial se recusou a aceitar os mapas falseados que a Argentina apresentava. 

A Argentina, por seu turno, usava sua representação diplomática na capital do império para obter apoio e tentar convencer o governo imperial a abrir mão daquele território. 

Apesar de seus esforços, contudo, estava cada vez mais evidente que sua narrativa não convencia e seus argumentos não seriam aceitos pelo império do Brasil.

Uma evidência é a notícia dada pelo Jornal O Estado de São Paulo publicando em 6 de setembro de 1882 um despacho de seu correspondente em Buenos Aires: 

Diz La Pátria Argentina, que o dr. Avellaneda comunicou ao seu governo que o gabinete imperial não estava disposto a submeter a arbitramento a questão das Missões por considerar que não admitem dúvidas os direitos que têm o Brasil sobre aquele território.

Mas a Argentina não dava trégusas. Em 7 de setembro de 1889, o governo imperial, buscando apaziguar os ânimos e confiante em seus direitos, aceitou um acordo baseado em dois pontos:

1.               Seria feita uma nova expedição para verificar se os rios Chapecó e Chopim corresponderiam, de fato, aos rios da divisa descritos nos tratados originários, e

2.               Caso o Brasil não aceitasse estes rios como divisa a questão seria levada para a arbitragem do presidente norte-americano.

O prazo para a expedição trazer provas seria de 90 dias, contados a partir da ratificação do tratado, o que ocorreu em 5 de novembro de 1889.

Para o Brasil a questão parecia resolvida. Seus geógrafos, astrônomos, demarcadores e especialistas sabiam que a missão de reconhecimento seria feita nos rios errados a Questão das Missões iria para a arbitragem.

Já os argentinos tinham pressa. O tempo estava correndo contra eles, e eles também sabiam que a missão de reconhecimento era um embuste, assim como sabiam que, salvo a improvável hipótese de convencer o presidente Cleveland a decidir em favor de um embuste, estavam perdidos. 

Desse modo, a última esperança que lhes restava residia na mudança do regime de governo no Brasil.

E eis que então acontece o mais chocante. 

É difícil avaliar influência dos agentes argentinos na derrubada da monarquia brasileira, 

O que é sabido, no entanto, é que o golpe republicano que derrubou a monarquia se deu em 15 de novembro de 1889. 

E havia mais coisas sórdidas entre o céu e a terra: 

A começar pela suspeitíssima certeza dos Argentinos de que, no final, ganhariam uma “província à nossa custa”, como havia dito Bocaiuva quando que ainda era tido como o “príncipe dos jornalistas”, com como relata o Barão de Ladário nos artigos publicados no jornal A Tribuna e encaminhados aos senadores no final de 1890.

Por exemplo, no grupo da comissão demarcadora que explorava os rios Chapecó e Chopim, um oficial argentino disse em um jantar “que seus patrícios muito desejavam que o Brasil se constituísse em república, porque então seria fácil anexar o Rio Grande do Sul à Confederação Argentina.”  

Vejam, os argentinos não somente queriam tomar 30.621 km2 dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina, como pensavam criar uma cunha separando o Rio Grande do Sul do restante do país e, assim, facilitar a anexação do Rio Grande do Sul ao seu país. 

Um outro oficial superior argentino afirmou, referindo-se aos Campos de Palmas:

“Isto será nosso, ou por bem ou pelas armas”.

Ademais, é preciso reconhecer que, naquela conjuntura, os argentinos avaliavam melhor do que os cosmopolitas republicanos do Rio de Janeiro a importância do território em jogo e qual o potencial futuro dos Campos de Palmas. 

De toda forma, o governo republicano fez o que a Argentina esperava. Em sua primeiríssima iniciativa internacional, atropela o tratado de arbitramento assinado pelo império, aceita sem pejo as demandas argentinas e manda o Ministro Quintino Bocaiuva dividir com os argentinos o território dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina. 

E foi o que ele fez!

Vejam a linha de tempo da ignomínia republicana: 

Em 7 de setembro de 1889 o governo imperial assina o Tratado de Arbitramento que leva a Questão das Missões para decisão do Presidente dos Estados Unidos;

Em 05 de novembro de 1889, 58 dias depois, o congresso brasileiro ratifica o tratado de arbitramento;

Mais 10 dias e chegamos ao fatídico 15 de novembro de 1889. Nesta data os ativistas e militares dão o golpe, derrubam a monarquia e proclamam a república. O Marechal Deodoro da Fonseca assume a presidência e Quintino Bocaiuva se torna Ministro do Exterior.

Vem dezembro, Festas, Natal e Ano novo. Já em 14 de janeiro de 1890 o Encouraçado Riachuelo leva Bocaiuva ao encontro de seus parceiros argentinos para assinar o tratado de cessão do território. 

Outros 10 dias e em 25 de janeiro, o plenipotenciário é recebido com banquete em Montevidéu, onde assina com a tal aparatosa pena de ouro o infame tratado em que o Brasil cede para a Argentina metade dos territórios dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina.

Em seguida viaja ao encontro do presidente argentino.

O jornal O Estado de S. Paulo, na edição de 6 de fevereiro de 1890 publica um despacho vindo de Buenos Aires informando que Quintino Bocaíuva tinha sido homenageado com um banquete pelo presidente Juarez Célman, na noite de 3 de fevereiro. 

Segundo o despacho, “houve durante o banquete a máxima alegria e expansão fraternal, levantando-se muitos brindes ao Brasil e a República Argentina, firmando-se assim um acordo tácito para a manutenção da paz e a prosperidade das duas poderosas nações sul-americanas.”

Não surpreende que tenha havia máxima alegria e muitos brindes fraternais. A argentina estava conseguindo barato uma nova província formada com metade do território dos estados do Paraná e de Santa Catarina arrancados do Brasil por intermédio do homenageado, Quintino Bocaiuva, que é de se supor, não estava lá de graça.

O inacreditável é que esse recém-empossado Ministro de Relações Exteriores nada mais útil tivesse a fazer além de ir sabujar os vizinhos do Prata por mais de um mês, circulando entre Montevidéu, Buenos Aires, Córdova Tucumán e outras paragens do Prata em que foi homenageado por banquetes, eventos, convescotes e festas variadas. É ridículo registrar que o plenipotenciário viajou em 14 de janeiro, assinou o tratado no dia 25, em Montevidéu, viajou 700 quilômetros para ir visitar o presidente Argentino em sua residência em Córdova, voltou a Montevidéu em 16 de fevereiro para ali passar o carnaval e só então, feliz e pampeiro, regressar ao Rio de Janeiro em 25 de fevereiro, onde, para, estupefação geral, resolve deixar o posto de Ministério do Exterior, conforme noticiou o Jornal Estado de S. Paulo do dia 26 de fevereiro.

O país estava atordoado. A notícia da desfaçatez fazia ferver o sangue dos brasileiros.

O Barão de Ladário, em seus artigos no Jornal a Tribuna condenando o tratado, conta que o dito plenipotenciário teria asseverado: 

que não se podia atender, ao liquidar-se o litígio, à questão pura e simples dos direitos a certas linhas de fronteiras, mas e preferentemente à que se prendia aos interesses momentosos da nova situação do país.

Trocando em miúdos: Quintino Bocaiuva, com espantosa cara de pau, revela que a república ia dar metade dos estados do Paraná e Santa Catarina aos Argentinos porque era do interesse momentoso do novo governo republicano. 

O Barão do Rio Branco, o defensor da causa brasileira em Washington informa que: 

“Na República Argentina esta solução foi festejada com grande entusiasmo. No Brasil, porém, ela produziu o mais profundo sentimento de dor e levantou unânimes e veementes protestos.” 

Mas é claro que haveria alegria e festejos na argentina com um presente deste tamanho,  mas graças a mobilização do povo e aos protestos da imprensa, o Congresso Brasileiro rejeitou o tratado Bocaiuva por 142 votos contra 5 em sessão de 10 de agosto de 1891.

O passo seguinte foi o envio da Questão das Missões para o arbitramento do presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland. 

Lá, em Washington, mercê do Deus que é brasileiro, como reconhece o citado Papa argentino, a defesa da causa brasileira coube ao nosso mais insigne diplomata, o Barão do Rio Branco.

E enquanto o Rio Branco buscava fundamentar as razões brasileiras reunindo documentos e provas, os Argentinos, sob a liderança de Estanislao Zeballos, faziam intensa campanha de relações públicas tentando ganhar a questão na base do tapetão. 

As vésperas da decisão do presidente Cleveland, a Argentina ofereceu um banquete de gala para a alta sociedade norte-americana e, num gesto de insólita soberba, mimoseou cada uma das damas presentes com uma joia de ouro e diamantes posicionada em frente ao seu lugar na mesa do banquete.

Mesmo assim não adiantou.

Em 6 de fevereiro de 1895 o presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland emitiu sua sentença, dando ao Brasil a posse definitiva dos atuais territórios do Paraná e Santa Catarina. Foi a primeira grande vitória de nosso maior diplomata, o Barão do Rio Branco.

Um pequeno documentário mostrando a documentação reunida por Rio Branco é mostrado no vídeo Oeste Fértil, o Legado do Barão do Rio Branco, no canal Goio-En do Youtube.

E se você quiser conhecer mais histórias sobre a conquista do Oeste Fértil brasileiro e sobre o desenvolvimento do Alto Uruguai Gaúcho e dos oestes de Santa Catarina Paraná, conheça o meu livro Goio-En o Caminho e o Tempo da editora Viseu. É uma boa pedida.

Muito obrigado.

Livro GOIO-EN, O CAMINHO E O TEMPO / O CAMINHO DE TROPAS de Guarapuava para as Missões no RG do Sul

Um livro sobre o tempo em que o arrojo e a coragem escreveram a história do Oeste Fértil, do Alto Uruguai gaúcho e dos Oestes de Santa Catarina e Paraná.

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OESTE FÉRTIL – O Legado do Barão do Rio Branco ao Agronegócio Brasileiro.

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O agronegócio é a bola de neve da nova onda de prosperidade brasileira.

Uma prosperidade que já está beneficiando o Brasil e que logo vai chegar a todos nós.

O  agronegócio representou mais de 25 % do Produto Interno Bruto em 2022 e, nas exportações, logo vai representar metade de tudo o que o Brasil vende para o mundo. O Brasil é o campeão das exportações de soja, milho, café, açúcar, carne bovina e carne de frango.

Mas nada desta cornucópia de proveitos caiu do céu. Foi preciso que muita gente, muitos pioneiros e muitos visionários acreditassem no potencial das terras brasileiras, lutassem pelo Brasil e plantassem aqui as sementes que hoje começam a florescer.

Nossa história começa no ano de 1845. Este foi o ano da sorte grande para a futura prosperidade do agronegócio brasileiro.

Foi naquele ano que terminou a Guerra dos Farrapos. Sob a liderança do Conde de Caxias, o país celebrou um final auspicioso que garantiu que o Rio Grande do Sul e todo o Oeste do Brasil Meridional, a região das Missões, o Planalto Médio e o Alto Uruguai gaúcho continuassem fazendo parte do território brasileiro.

Foi também naquele ano que o governo da Província de São Paulo mandou abrir o Caminho do Goio-En, o Caminho de tropas que devia ligar os Campos de Guarapuava – no atual Paraná, com a vila de Passo Fundo – na Província de São Pedro do Rio Grande, atravessando a área de litígio com os Argentinos nos Campos de Palmas e a região que os mapas daquele tempo definiam como “Bosques inexplorados do Alto Uruguai”

E foi ainda naquele ano que nasceu José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, o gigante da diplomacia brasileira que conseguiu obter do Presidente dos EUA – Grover Cleveland – a decisão que deu ao Brasil a posse definitiva do Oeste de Santa Catarina e do Paraná, uma área ambicionada pela Argentina e cuja disputa territorial se deu na Questão de Palmas ou Questão das Missões, como preferem alguns.

Mas o que teriam em comum tão díspares acontecimentos do longínquo ano de 1845?

No que se refere ao caminho de Tropas do Goio-En, a ligação dos Campos de Guarapuava a Passo Fundo, este caminho foi fundamental para criar as condições para que, quarenta anos mais tarde, o Brasil pudesse se valer do argumento do UTI POSSIDETIS na disputa da citada questão de Palmas. Foi a abertura desta estrada que ensejou pacificar os índios Coroados, os Kaingang, e ajudou a ocupação do Oeste da então Província de São Paulo, hoje território dividido entre o Paraná e Santa Catarina. Foi esta ocupação que permitiu ao Barão do Rio Branco usar o UTI POSSIDETIS, argumentando que a maioria dos habitantes do território em disputa era formada por brasileiros. Particularmente pelos índios Kaingang, que se diziam brasileiros, enquanto os Guarani se afirmavam súditos da Espanha. Aliás, o Barão argumentava que os castelhanos não tinham conseguido provar que sequer um único e escasso argentino vivia naquela área.

Já o nascimento de José Maria da Silva Paranhos foi providencial pelo papel que desempenhou na Questão de Palmas e porque seu nascimento se deu em circunstâncias muito auspiciosas.

Paranhos Junior nasceu no Rio de Janeiro, na então Travessa do Senado, número 8, hoje Rua 20 de abril, número 14, onde funciona a Escola de Teatro Martins Pena.

Seu pai foi o Visconde do Rio Branco, um diplomata que atuou na região do Prata onde esteve em 1851 e 1852, como Secretário da Missão Especial do Marques do Paraná, tornando-se, em seguida, Ministro-residente em Montevidéu. Voltaria ao Uruguai em 1864 e novamente, de outubro de 1870 a março de 1871. Nesta viagem seu filho, o Juca Paranhos, foi junto, na qualidade de secretário da missão, e pode testemunhar pessoalmente os entendimentos do Brasil com a Argentina e o Paraguai no desfecho da Guerra do Paraguai. Esta experiência, em primeira mão, das lides diplomáticas com a Argentina, assim como o conhecimento pessoal da região em disputa na Questão de Palmas, foram determinantes, anos depois, para o êxito da defesa da posição brasileira e para que o Brasil obtivesse a posse definitiva do Oeste de Santa Catarina e do Paraná.

A sorte brasileira se comprova quando aquela causa de vital importância para o agronegócio brasileiro, e, claro, para a nação brasileira, foi parar nas mãos do então obscuro Consul brasileiro em Liverpool. O caso estava com o Barão Aguiar de Andrada, que já estava em Washington, quando faleceu. Foi aí que o Presidente Floriano Peixoto se lembrou de Rio Branco.

Na verdade, a disputa territorial com a Argentina já vinha do império, que não aceitava as pretensões Argentinas e já tinha optado pela solução arbitral, mas Quintino Bocaiuva, o primeiro chanceler da república, no entusiasmo de uma possível fraternidade republicana com os vizinhos hermanos, havia assinado em Montevidéu um tratado de partilha do território. Foi um escândalo. A imprensa, o exército e até o monarca exilado protestaram e o Congresso brasileiro acabou por rejeitar o acordo, de modo que foi assim que a disputa foi entregue para decisão do Presidente dos Estados Unidos.

Na disputa a Argentina argumentava que tratados do século 18 apontavam para uma fronteira entre  os territórios de Portugal e Espanha que seria definida pelos rios Jangada e Chapecó, e não pelo Pepiri-Guaçu e Santo Antônio – que ficavam mais a oeste, como defendia o Brasil.

O Barão cofiou o bigode e arregaçou as mangas. Liderando um grupo de diplomatas e especialistas, moveu céus e terras, mandou vasculhar cartórios e arquivos em todas as capitais europeias envolvidas com as Américas e recuperou documentos e mapas em locais como o Arquivo Geral de Simancas, na Espanha, e o Depósito Geográfico do Ministério dos Negócios Estrangeiros da França. Com cálculos, medições e interpretações historiográficas – como a de que a cartografia portuguesa era mais avançada que a espanhola no século 18 -, Juca Paranhos conseguiu reunir sobejas evidências para embasar a versão brasileira.

Em meu vídeo sobre o tema, apresentado em meu canal no Youtube, inclui uma verdadeira preciosidade audiovisual. Trata-se de documentário de 1945 realizado pelo Ministério de Relações Exteriores para celebrar o centenário do nascimento do Barão do Rio Branco. Nele podemos ver a documentação apresentada pelo Barão na defesa brasileira da Questão de Palmas. O trecho do documentário “Barão do Rio Branco” de 1945 e é reproduzido por cortesia do Centro Técnico Audiovisual da Secretaria de Cultura.

Assim, como se pode ver no vídeo (link no final), foi graças a uma dedicação infatigável que o Barão do Rio Branco foi vitorioso na disputa da Questão de Palmas e nos legou o Oeste Fértil, dando ao Brasil posse definitiva dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná e, assim, inscreveu seu nome como um dos grandes heróis do Agronegócio brasileiro.

Se você deseja conhecer mais histórias do tempo da Conquista do Oeste Fértil e do desbravamento do Alto Uruguai Gaúcho e dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná, periodicamente publico aqui vídeos sobre o tema em meu canal “GoioEn” no Youtube .

E se você tem fôlego para ler uma maratona de histórias sobre um tempo que merece ser lembrado, meu livro Goio-En, o Caminho e o Tempo, da Editora Viseu, é uma boa pedida.

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GARIBALDI E ANITA SOB O DOSSEL DOS PINHEIRAIS.

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Foi no ano de 1837 que o jovem italiano Giuseppe Maria Garibaldi chegou à Província de São Pedro do Rio Grande e foi visitar na cadeia o líder farroupilha Bento Gonçalves que estava preso pelos imperiais por ter sido escolhido presidente da República Rio-Grandense que queria se separar do Brasil.

Giuseppe Garibaldi tinha 30 anos e havia sido condenado à morte na Itália por ter participado de uma insurreição em Gênova que queria a unificação do país. Como a revolta deu errado ele adotou um nome falso e foi ser marinheiro no Mediterrâneo até decidir vir para o Brasil.

Quando visitou Bento Gonçalves Garibaldi se disse “cansado de arrastar uma existência inútil”, de dispôs a lutar pelos farroupilhas e pediu uma “Carta de Corso”, que era uma autorização para atacar e pilhar navios do governo imperial, que era o governo inimigo.

Foi dessa forma que o futuro general italiano e herói da guerra da unificação da Itália entrou na história farroupilha e acabou envolvido na história do Sul do Brasil.

Antes de continuar e para dar uma ideia da importância que o chamado herói dos dois mundos adquiriu na Europa de seu tempo, vale citar a visita que o agora General Italiano Giuseppe Garibaldi foi convidado a fazer à Londres em 1864.  

Já famoso e respeitado, especialmente depois de ter reunificado a Itália em 1861, Garibaldi foi recebido por uma multidão como nunca tinha sido vista na capital londrina. Basta dizer que carruagem que transportava o general precisou de cinco horas para percorrer a distância de quatro quilômetros entre a estação ferroviária de Nine Elms e a Residência Lancaster, onde era o convidado de honra do duque e da duquesa de Sutherland. (Saderland)

Em 1837, ao chegar no Brasil, Garibaldi se encantou com a natureza e, especialmente, com as esplêndidas araucárias das nossas matas. Relatou em suas memórias que

“Só quem já viu as imensas florestas que cobrem os cimos do Espinhaço, com seus pinheiros seculares, que parecem destinados a sustentar o céu, e são as colunas deste esplêndido templo da natureza…podem delas fazer uma ideia”.

Na visita ao presidente farroupilha Garibaldi recebeu também a incumbência de circunscrever o bloqueio ao porto de Rio Grande. Depois de aprisionar um navio imperial e sua carga, Garibaldi percebeu que ações isoladas não iram compensar a falta de um porto. O que os farrapos precisavam era de uma saída para o mar.

A essa altura, no delta do Rio Camaquã, existiam alguns galpões de uma velha charqueada. Ali Garibaldi fez construir embarcações de fundo chato para controlar a Lagoa dos Patos – um imenso corpo de água com 260 quilômetros de comprimento e 60 de largura em seu ponto mais largo. Sua principal característica, porém, é que suas águas têm em média, 3 metros de profundidade. E além de rasa, a lagoa tem muitos bancos de areia, de modo que os navios do império não podiam navegar ali sem o risco de encalharem.

A organização do estaleiro foi entregue a John Griggs, o João Grandão, um marinheiro irlandês que juntou-se aos revoltosos. Era homem de grande estatura, corpulento e imensamente forte, estava sempre bem-humorado e era um incorrigível otimista. Ainda assim, sem conhecer a carpintaria naval e com os poucos meios de que dispunha, não podia fazer grande coisa.

João Grandão soube de Luigi Carniglia, um mestre carpinteiro naval italiano estabelecido no Uruguai. Garibaldi conseguiu a ajuda do seu compatriota, que veio com suas ferramentas e uma equipe de profissionais tarimbados.

Trabalhando dia e noite, em dois meses, conseguiram construir dois veleiros lanchões. O maior, com 18 toneladas, era o Rio Pardo. O segundo lanchão, de 12 toneladas, era o Seival. No começo de maio de 1839 os barcos circularam pela Lagoa dos Patos à procura de presas. Na altura de Cristóvão Pereira deram com a sumaca Mineira que se rendeu após um único tiro.

Em resposta os imperiais mandaram quatro navios de guerra caçar os dois lanchões farroupilhas. Os rebeldes se sentiram acossados, logo descobriram um meio de se safar. Seus lanchões eram mais leves, rápidos e manobráveis. Além disso, os marinheiros rebeldes conheciam bem a lagoa e reconheciam os bancos de areia. Quando eram perseguidos pelos navios imperiais, se dirigiam a um banco de areia próximo e avançavam até o lanchão encalhar.

Assim que ficavam presos na areia, o comandante gritava com toda a força:

“À água, patos!”.

Dada a ordem, todos a bordo pulavam na água, inclusive Garibaldi. Enquanto alguns puxavam com cordas, os demais empurravam o barco de fundo chato sobre a areia, de modo a cruzarem para o outro lado. De volta na água, todos reembarcavam e impulsionavam o barco usando varas que se apoiavam no leito do lago.

Daí que rapidamente se safavam e os pesados navios da Marinha imperial ficavam, literalmente, observando impotentes a artimanha dos rebeldes.

Acontece que essas escaramuças náuticas podiam ser bastante divertidas, mas traziam poucos resultados práticos.

Garibaldi então sugeriu ao Governo Farroupilha que tomasse a cidade de Laguna, em Santa Catarina, e por lá conseguissem o tão necessário acesso ao mar.

Mas como atacar Laguna se toda a Marinha dos farrapos se resumia aos dois lanchões que estavam na Lagoa dos Patos?

Garibaldi explicou sua ideia: os dois barcos deveriam seguir por terra os 80 km até Tramandaí, lá entrar no Rio Tubarão, descer por ele e atacar Laguna pela retaguarda.

Para fazer a ideia funcionar era preciso colocá-los sobre rodas. Então fizeram duas enormes carretas. Cada uma tinha quatro rodas imensas, que mediam 3,20 metros de diâmetro. Para puxar todo aquele peso os revolucionários conseguiram pela região cerca de 200 bois de canga.

Finalmente, foi com enorme alegria e grande estardalhaço que começou a incrível jornada de levar por terra os barcos farroupilhas.

Imagine o espanto daquela gente ao ver aqueles dois veleiros completos, com seus mastros projetando-se para o céu, navegando em plena campina verde dos campos gaúchos.

Era um espetáculo de dimensões épicas, que incluía o alarido de cavaleiros, a algazarra dos condutores incitando os bois e a constante necessidade de improvisar pranchas para evitar que as rodas afundassem no terreno alagado. Foram seis seis dias para chegar, abaixo de chuvas torrenciais e vencendo metro a metro.

Ao chegar foi preciso mais três dias de trabalho para preparar os barcos e, por cruel ironia do destino, mal os barcos entraram na água soprou um fortíssimo vento pampeiro que pegou todos sem aviso e afundou o Rio Pardo. Agora só sobrava o Seival.

Por sorte, navegando rio abaixo, encontraram e apresaram o lanchão Lagunense, que vinha subindo o rio. O novo lanchão não se comparava ao barco perdido, mas era um reforço muito bem-vindo.

Ao chegarem em Laguna viram que a Marinha imperial estava bem instalada e equipada. Contava com diversas embarcações armadas e tinha sentinelas no alto do Morro da Glória, todos atentos à entrada da barra pelo lado do mar. Por sorte não havia sentinelas voltadas para o Rio Tubarão, afinal, ninguém poderia imaginar um ataque pela retaguarda.

No entanto, de repente, no dia 22 de outubro, coisas inesperadas começaram a acontecer. O Catarinense, que estava posicionado para defender a entrada do mar sofreu, um ataque de surpresa, pela popa. O comandante José de Jesus, vendo que perderiam o navio mandou que os marinheiros pusessem fogo na embarcação e fugissem para a terra.

O comandante imperial ordenou aos demais barcos que saíssem para o mar aberto, porém  a escuna Itaparica e o lanchão Santana não conseguiram escapar e acabaram encalhados. O problema, para Garibaldi, é que a escuna Cometa conseguiu sair para o mar. Ela levaria a notícia da queda de Laguna aos imperiais e era certo que logo eles viriam com todas as forças.

Então, os farrapos buscaram se preparar dentro das suas limitações.

Foi neste interregno que Garibaldi, que estava à bordo da escuna Itaparica e seguia com uma luneta as casas da barra de Laguna, observou em terra um grupo de moças e viu, em meio delas, uma donzela que se distinguia pelo porte e beleza e que, num átimo, atraiu sua atenção.

De imediato, fez descer um escaler e remou, alucinado, até a margem. Uma vez em terra, correu até o local onde tinha visto a moça, porém não mais a encontrou.

Suspirou desolado e perdeu a esperança de encontrá-la.

Mas o cupido tem lá suas artimanhas. Mais tarde um morador local o convidou a ir até sua casa para um café e Garibaldi aceitou. E ao entrar nessa se deparou com a jovem que tanto o encantara ao vê-la pela luneta.

Em suas memórias, Garibaldi conta seu encontro com Anita:

“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-nos reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse:

‘Tu deves ser minha!’.

Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor”.

A jovem Ana Maria de Jesus Ribeiro, que viria a ser mais conhecida como Anita Garibaldi e se converteria na “Heroína dos Dois Mundos”, por ter lutado ao lado dos farroupilhas e, depois, pela unificação da Itália, estava com 18 anos quando foi vista por Giuseppe Garibaldi, que tinha 32 anos.

A jovem aceitou unir-se a Garibaldi e recebeu seu batismo de fogo já na batalha naval de Laguna. A armada imperial chegou com força avassaladora e a Marinha dos farroupilhas foi simplesmente trucidada. Anita entrou nessa batalha sem temer pela própria vida e, num frágil bote a remo, cruzou diversas vezes a área de combate levando munições a Garibaldi.

Vendo a situação perdida, Canabarro, o comandante farroupilha, ordenou a retirada e, dias depois, enviou Garibaldi no rumo oeste, com a difícil missão de subir a Serra Geral e tentar recuperar Lages, que havia voltado para as mãos dos imperiais.

Na retomada de Lages Garibaldi viveu sua primeira experiência de combate como cavaleiro. Foi ainda em Laguna que aprendeu a cavalgar e a combater montado. Sua professora foi Anita, aquela moça encantadora que agora era sua companheira inseparável.

Anita, que era uma amazona de grande traquejo, teve em Garibaldi um aluno talentoso e aplicado. Sobre seu aluno de equitação escreveu ela para sua irmã e confidente:

“Querida irmã: (….) pela primeira vez eu o via em ação a cavalo. (…) Felizmente, ele aproveitou bem as minhas aulas de equitação. Eu não conseguia tirar os olhos de cima dele, cheia de admiração pelo modo como conseguia prever os movimentos dos adversários. Era tão bom nisso que conseguia mandar os seus homens para os lugares certos, surpreendendo a todos com a rapidez de suas ações e indo de um lugar para outro com muita velocidade, deslocando-se sem parar, como um perfeito guerrilheiro(…)”.

Regista a história que, naquele memorável dia 14 de dezembro de 1839, 500 soldados republicanos, entre os quais lutou a destemida Anita Garibaldi, enfrentaram e derrotaram os 2.000 soldados imperiais comandados pelo brigadeiro Xavier da Cunha.

Quatro dias depois, em 18 de dezembro, Garibaldi, Anita, Rosetti e Teixeira Nunes, com seus farroupilhas, entraram triunfalmente em Lages e ali reinstalaram os comandos militares e o governo da recém proclamada República Catarinense.

Anita e Garibaldi, desfrutaram, então, de alguns dias de paz e tranquilidade e cultivaram o amor que sentiam um pelo outro. Em meio às paixões políticas e à emoção das conquistas, viverem, com enlevo, momentos de mútuo abandono como só o amor conhece. Aqueles dias de romance e ternura ambos iriam lembrar para sempre.

Por coincidência, Anita era originária de uma família de Lages e ali ainda vivia seu Tio Antônio, que os acolheu afetuosamente. Em sua casa hospedaram-se e puderam compartilhar o mesmo teto pela primeira vez. Anita escreveu para sua irmã:

“(…) Nos dias que se seguiram àquela luta, chegamos a Lajes sem maiores dificuldades e fomos acolhidos alegremente pela família e pelos amigos. Já encontramos uma casinha bonita, toda de madeira. Não consigo acreditar que estou vivendo sozinha com José. Estamos muito felizes, rimos e brincamos de donos de casa, quando os nossos amigos vêm nos visitar. Tio Antônio e José logo simpatizaram um com o outro. Quando eles se encontram, passam horas discutindo sobre a liberdade dos povos. Mas devo confessar que, às vezes, começo a duvidar de que um dia o mundo será realmente diferente. Talvez ele melhore para os nossos filhos, pelo menos é o que espero. Mas o tempo passa e tudo fica como antes. Evito dizer isso aos nossos fervorosos sonhadores, que, por mais que discutam, não sabem dizer por quanto tempo resistiremos em Lajes. Ninguém se arrisca a fazer previsões. As patrulhas falam de tropas inimigas, organizam-se várias expedições. Com certeza José vai ter que patrulhar nos próximos dias, e eu vou com ele. Ficou decidido que ficarei encarregada de reabastecer as tropas de munições, o que me parece uma tarefa útil. Levarei comigo um grupo de companheiros fortes, que estou aprendendo a conhecer, para garantir os transportes. Quero organizá-los da melhor maneira possível (…).

Anita deixara um casamento de conveniência e uma vida de mediocridades para fazer parte das grandes lutas do mundo de seu tempo. E o destino lhe dera o companheiro a que fora destinado pelas estrelas. Sem pensar por quanto tempo a felicidade lhe seria pródiga, vivia momentos de arrebatamento indizíveis.

O Natal chegou e Anita e Giuseppe comemoraram juntos pela primeira vez a grande festa da cristandade. A Missa do Galo, em 24 de dezembro de 1839, foi um momento de profundas emoções para ambos e, ainda mais, para Anita, que aos 18 anos, via desabrochar a grande paixão à qual entregava sua vida sem medos e sem reservas.

A igreja, na Vila de Lages, estava enfeitada com um presépio que tinha uma manjedoura como a contada no Evangelho. À noite, a cena era iluminada por lamparinas que bruxuleavam, inquietas, como os corações do casal que as observava. No centro, o bambino Jesus, esculpido em madeira, tinha os braços abertos, um sorriso angelical e as faces rosadas. Envolto com musgos e ramos de pinheiro, pouco parecia se importar com a modéstia de seu berço. Embevecido, o casal esqueceu o tempo e ali ficou, de mãos dadas, se deixando encantar por aquela atmosfera de fé e esperança que os unia ainda mais. Um sentimento de carinho sem limites os amalgamava em um amor maior do que a vida, enquanto fortalecia seus sonhos para um futuro que desvendariam juntos.

Subitamente, fazendo ecoar sua voz de tenor, limpa e cristalina, naquela pequena igreja de Lages, Garibaldi principiou a cantar a mais linda e a mais italiana das músicas de Natal, Tu scendi dalle stelle, uma canção natalina de simbolismo incomparável que unificava seu país pelo inexcedível amor a Gesù bambino, ainda antes que a Itália tivesse se unido politicamente:

Tu scendi dalle stelle, o Re del Cielo,

e vieni in una grotta, al freddo al gelo.

O bambino, mio divino, io ti vedo qui a tremar.

O Dio beato!

Ahi, quanto ti costò l’avermi amato!

A te, che sei del mondo il Creatore,

mancaron panni e fuoco, o mio Signore!

Caro eletto pargoletto, quanto questa povertà più m’innamora!

Giacché ti fece amor, povero ancora!

(Tu desces das estrelas, ó Rei do Céu,

e vens para uma gruta, ao frio, ao léu.

Ó menininho, meu divino, eu te vejo aqui a tremer.

Ó Deus abençoado!

Que preço tu pagaste por ter-nos amado!

A ti, que és do mundo o Criador,

faltaram roupa e calor, ó meu Senhor!

Querido pequenino eleito, como esta pobreza me faz amá-lo ainda mais!

Porque, por amor, agora te fizeste pobre.)

Como presente de Natal, Teixeira Nunes, o comandante farroupilha, deu a Anita um vestido de musselina, um xale de seda, sapatos de marroquim e um chapéu da moda. Garibaldi ganhou um poncho claro, ricamente trabalhado.

Dias depois a luta recomeçava tão dura e angustiante como antes. Garibaldi e Anita continuaram vencendo mil entreveros pelas plagas do sul nos três anos seguintes, de 1839 a 1841, ano em que Garibaldi despediu-se dos farroupilhas e, ao lado de Anita e de seu pequeno Menotti, seguiu para viver o extenso caminho de conquistas que ainda lhe reservava o destino.

Para saber mais sobre o conteúdo do livro Goio-En, o Caminho e o Tempo, vou apresentar neste canal um punhado de casos e histórias ligados à conquista do Alto-Uruguai gaúcho e das regiões dos Oestes de Santa Catarina e do Paraná, a região que forma o rico Oeste Fértil Brasileiro.

E se você tiver folego para uma maratona de 900 páginas de leitura sobre fatos e histórias de um tempo que merece ser lembrado, Goio-En, o Caminho e o Tempo, da editora Viseu, é uma boa pedida.

Obrigado.

(Clique para acessar a Editora Viseu)

Mundo Global: O Universo Logístico opera no Ciberespaço

O Mundo Global precisa da Logística como o corpo precisa do ar que respira.

E a língua da logística é o Código de Barras, que é lida pelos olhos do Coletor de Dados.

O mundo atual é um organismo complexo, que tem amplitude global e que, para funcionar de forma satisfatória, depende de suprimentos que circulam entre nações e continentes e capazes de atender desde os grandes conglomerados até aos menores consumidores privados espalhados pelos cinco continentes. Este sistema planetário de abastecimento, suprimentos e movimentação de cargas recebe o nome de “Sistema Logístico”.

Para entendermos como funciona o Sistema Logístico Mundial precisamos compreender a natureza dos universos digitais. Estes universos têm, basicamente, dois planos: um plano real – o mundo físico, onde as coisas acontecem – e um plano virtual, que reproduz o que acontece no plano real e permite sua gestão por meio de informaç˜oes e controles. Esta dimensão virtual tem existência no ciberespaço e é conectada em escala planetária no espaço formado pela interconexão mundial dos computadores e das suas memórias. O universo virtual da logística reproduz a realidade por meio de “avatares” dos navios, portos, aviões, armazéns, containers, paletes, mercadorias e de itens codificados. Simplificando, o universo logístico virtual é uma reprodução digital do mundo real e que permite entender e gerencial em tempo real o que acontece na dimensão real.

Para exemplificar, imagine uma grande metrópole com milhares de edifícios, apartamentos, casas, lojas, hospitais, escolas e órgãos públicos espalhados por quadras, avenidas e ruas em bairros e regiões diferentes. E nesta metrópole as pessoas moram, trabalham, estudam, se movimentam e vivem suas vidas. Como fazem para se deslocarem e se orientarem com sucesso no emaranhado da cidade? Elas se valem da organização da cidade em endereços. Um endereço identifica a região, o bairro, a rua e o número do lugar que a pessoa deseja encontrar. Tudo funciona porque uma cidade organizada facilita a mobilidade em seu espaço urbano mantendo os endereços inalterados e mapeando sua localização. Este é o método analógico de organizar os espaços geográficos

Agora imagine se esta cidade mudasse os endereços todos os dias, e as vezes, mais de uma vez por dia?

O velho e confiável sistema analógico de organização entraria em colapso e seria impossível fazer qualquer coisa nesta cidade imaginária.

Do mesmo modo que em uma metrópole, um grande galpão, armazém ou depósito destinado a receber, movimentar, armazenar, separar e expedir mercadorias se serve de endereços com áreas, corredores, porta paletes e milhares de posições de paletes. E, no entanto, essa grande e complexa estrutura muda seus endereços o tempo todo, frequentemente mudando os endereços diversas vezes por dia. E, o que é mais notável, essa movimentação toda se dá sem sobressaltos e com as atividades sendo executadas rapidamente, sem dificuldades e sem erros. Como isso é possível?

O segredo do funcionamento desta estrutura tem no centro o conceito da “Cadeia de Suprimentos”. Cada elo da cadeia liga dois pontos do processo de acompanhamento do item rastreado: um ponto de partida e um de chegada, de maneira que se possa saber onde o item está e o que acontece com ele em tempo real.

O primeiro passo no processo de acompanhamento logístico é a atribuição de um número. Esse numero passa a ser o “nome” do item e, daí em diante, será através dele que se saberá seus passos e sua trajetória ao longo da cadeia de suprimentos.

Para que este número possa ser reconhecido em cada ponto de parada e partida no processo logístico existem diversos tipos de identificadores, sendo a etiqueta com o código de barras o método mais comumente usado.

No processo logístico em andamento, o reconhecimento do item é feito pela leitura da sua etiqueta de Código de Barras por meio de um “leitor de código de barras” acoplado a um computador e a um software de gestão do processo. No caso de grande número de volumes ou itens é preciso um equipamento de uso profissional: os “Coletores de Dados” móveis, que são, na realidade, computadores móveis que funcionam ligados a uma rede WiFi através radio-antenas especializadas, os “Access Points”, que, por sua vez, “conversam” com o servidor por intermédio de “Controladoras”, equipamentos que ampliam o alcance e a funcionalidade dos “Coletores de Dados.”

(Para saber mais veja www.autocom.com.br)