O Brasil vem passando por um fascinante processo de descoberta e amadurecimento. O que estamos vivendo no Brasil é um destes momentos transformadores que educam os povos e fazem avançar as nações. O impeachment tem sido traumático em muitos aspectos, mas o funcionamento das instituições tem mostrado um amadurecimento extraordinário. E o Congresso e o Supremo Tribunal Federal podem contribuir para converter a “decrisis” em curso – uma crise de desagregação que conduz ao caos – em uma “sincrisis” – uma crise que se encaminharia para a solução pelo reordenamento do país e por acender uma luz no fim do túnel.
A causa original do impeachment da Presidente Dilma, que já se encontra na fase do senado, foi a profunda crise econômica e moral que se abateu sobre o país. Uma crise produzida pela corrupção e pela incompetência, aliada ao desprezo olímpico pela matemática, uma ciência tida como “neoliberal”, e pela afronta rombuda aos princípios da economia. Esta, como se vê, é uma tolice perigosa, já que a economia não se defende. Ela se vinga.
Em retrospecto, foi a conjugação de preços favoráveis das commodities associado com o crescimento artificial do poder de compra das classes mais pobres, via bolsa família e financiamento generoso de bens de consumo, que levou a esquerda a se imaginar invencível.
Jogou fora o freio e passou a acelerar os gastos sem limites na crença de que, no final, o “dinheiro pinta”. Pior, para perpetuar-se no poder, escancarou as portas da corrupção. A Petrobrás passou a ser vista como uma cornucópia de dinheiro fácil. Eram milhões e bilhões que jorravam sem controle e sem vergonha para o bolso de empreiteiras e políticos amigos. O governo petista virou um programa do tipo “quem quer dinheiro”. E se ainda fosse pouco, visando ganhar a eleição por meio de distribuição de dinheiro farto e por um marketing charlatão, a primeira mandatária assumiu o papel de “dilapidadora da república”, se deixou tomar pela soberba, aquele sentimento caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, e inaugurou o governo pela arrogância. Não surpreende que os fatos tenham vindo cobrar a conta.
As mentes toscas da nossa esquerda ignara sempre imaginaram que podiam torcer a verdade sem enfrentar as consequência, que esconder os fatos os fariam ir embora. Mas descobrem, agora, que não é assim que o mundo funciona. E a parte do povo brasileiro que foi ludibriado por um governo edificado sobre mentiras, descobre que foi vítima de um conto do vigário. E descobre, pela via sofrida de quem paga o pato, que é melhor desconfiar das promessas vigaristas de quem reconhece que “faz o diabo” para ganhar uma eleição.
O lado bom, ainda que doído, é que a nação brasileira vive a experiência de lamentar ter acreditado em “milagreiros”, de ter sucumbido aos demagogos sem escrúpulos que prometem milagres e efeitos sem causa com a ligeireza dos trombadinhas políticos que, de fato, são. Desta experiência vem o aprendizado sobre os fatos da vida. Vem a percepção de que as coisas são o que são e tudo o que é falso se desmancha no ar. Uma criança cresce quando queima o dedo na borda do fogão: ela aprende a não brincar com fogo. Uma nação cresce quando vive as angústias de uma crise econômica, social, moral e política que força todos a se unirem por um impeachment salvador: ela aprende a não brincar com o voto.