Os empregos estão sumindo. Entrando pelo ralo. Desaparecendo.
A realidade está à vista e os números são conhecidos.
O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou que o desemprego ficou em 9% no trimestre encerrado em novembro de 2015. É um número preocupante, que não mostra quantos tiveram que descer um degrau em suas vidas, aceitando posições menos remuneradas ou mais precárias. Segundo dados divulgados sexta-feira, a taxa é a maior para o período desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
No trimestre anterior, de junho a agosto, o índice havia ficado em 8,7% e no trimestre de setembro a novembro de 2014, em 6,5%.
Entre os empregados, a indústria cortou 2,9% das vagas, a agricultura, 2,5% e o segmento de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, 6,7%.
Houveram pequenas compensações, a construção cresceu 6,1%, os serviços domésticos, 4,7%, transporte, armazenagem e correio, 3% e na administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, 2,3%.
E agora?
O emprego é o principal esteio de uma sociedade. Empregos significam renda e significam dignidade.
O Brasil está em meio a uma “decrisis”. Ou, como entendiam os gregos clássicos, uma crise de desagregação. Um tipo de crise em que o esgarçamento do tecido social e econômico vai se acentuando e, se não é revertido, cria um círculo vicioso que cai num redemoinho e vai aumentando de velocidade até chegar ao colapso. Finalmente se instala o caos, quando se dá o desarranjo completo do sistema. Neste estágio, tendem a surgir forças novas que redefinem o contexto e articulam um novo arranjo social e econômico.
A questão relevante é saber se estes empregos vão voltar no futuro.
A resposta mais provável é que grande parte deles está perdida para sempre. A razão é que as atividades do “job description” dos atuais empregos já terão desaparecido quando a crise for superada e o Brasil voltar a ter crescimento econômico. Algo distante e ainda impossível de prever com o atual governo e suas políticas autofágicas.
Para voltar a criar empregos em escala adequada para as necessidades brasileiras, o Brasil terá que mudar. O Brasil tem jeito, mas o jeito será digital. O Brasil terá que caminhar em direção ao mundo da Revolução Industrial 4.0 e, portanto, será digital. De modo que os empregos do futuro serão diferentes. Serão empregos digitais.
Segundo a pesquisa “O Futuro do Trabalho”, publicada durante o Fórum Econômico Mundial de 2016, realizado em Davos, na Suíça, os avanços tecnológicos, especialmente a automação dos processos industriais, devem cortar algo como sete milhões de empregos no mundo nos próximos cinco anos. O estudo diz, ainda, que está prevista a criação de algo como dois milhões de novos postos de trabalho no planeta, e ainda que estes novos postos de trabalho remunerem melhor, por exigirem melhor qualificação dos seus ocupantes, não compensam os postos perdidos, o que deixa um saldo negativo de 5 milhões de empregos a menos no mundo. O Brasil incluído.
O estudo, realizado em 15 países e que inclui o Brasil, envolve 65% da força mundial do trabalho.
Segundo o prefácio que inicia o estudo “O Futuro do Trabalho”, que tem a autoria do organizador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, e de Richard Samas, membro do seu Conselho Diretor, “Hoje, estamos no começo da Quarta Revolução Industrial. Os desenvolvimentos em genética, inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, impressão 3D e biotecnologia, a impressão 3D, para citar apenas alguns, estão em curso e amplificando uns aos outros. Isto vai assentar as fundações para uma revolução mais completa e abrangente do que qualquer outra que já tivemos visto. Sistemas inteligentes em residências, fábricas, fazendas, regiões ou cidades vão ajudar a resolver problemas que vão da gestão das cadeias de suprimentos à mudanças climáticas. A ascensão da economia compartilhada vai permitir que as pessoas rentabilizem tudo, de suas casas desocupadas a seus carros.”
Segundo os autores, as novas tecnologias, que vem chegando de forma avassaladora, devem criar uma perturbação não somente para os atuais modelos de negócio, mas também para o mercado de trabalho e para os empregos já nos próximos cinco anos.
No centro deste ciclone destruidor de postos de trabalho está uma nova maneira de produzir, criar valor e distribuir bens e serviços.
O que podemos ter como certo é que o nosso planeta ganhou uma segunda atmosfera feita de informações digitais. Respiramos o oxigênio desta nova camada por meio da Web, da Conectividade, do Bigdata, da Internet das Coisas e de novas formas de lidar com a realidade. No mundo atual, quem não respira na nova atmosfera digital estará economicamente tão morto como quem não respira oxigênio na atmosfera gasosa que envolve o globo terrestre.
Os novos empregos, segundo o estudo, serão criados na Tecnologia de Informação e em Comunicações, seguido por Serviços Profissionais, Mídia e Entretenimento. Serão empregos de perfil tecnológico avançado. Tarefas típicas de manufatura, como operar prensas e apertar parafusos ficarão a cargo de robôs.
O problema é que um emprego só existe se ele estiver lastreado em geração de riqueza. Os novos “job descriptions”, que descrevem as tarefas, as funções, a finalidade, as responsabilidades, o alcance e as condições de atuação de uma posição de trabalho, e que incluem o rol dos conhecimentos, habilidades e competências requeridas para ocupar a posição, já vem com exigências que apenas profissionais bem preparados podem atender.
O exemplo transcrito abaixo é o “job description” para o cargo de chefe de projeto de nível intermediário para uma multinacional italiana da área de energia:
“O Chefe de Projeto, reportando-se ao Gerente de Departamento de Operações, será responsável pela gestão e coordenação dos projetos atribuídos à divisão de energia, terá a seu cargo a gestão da entrega ao cliente dos projetos contratados segundo o escopo, orçamento e tempo de execução, garantindo a satisfação do cliente.
O (a) ocupante da posição será responsável pelas seguintes atividades:
– Preparação do plano de execução do projeto para a realização de todas as atividades, garantindo o monitoramento o e o progresso das fases do projeto, de acordo com os requisitos e procedimentos operacionais da empresa cliente;
– Planejar, preparar, executar e finalizar o projeto de acordo com as demandas do cliente, segundo os termos contratados, dentro dos prazos e orçamento acordados, o que inclui trabalhar em coordenação com a equipe do projeto, bem como com quaisquer fornecedores ou consultores de terceiros envolvidos;
– Analisar o orçamento segundo as disposições contratuais (alocações de recursos, horários, ferramentas, materiais, etc.), exercer o acompanhamento dos custos estabelecidos no orçamento, identificar a necessidade e implementar ações corretivas em caso de atrasos ou custos adicionais, reportando-se ao Gerente de Operações;
– O Chefe de Projeto também é responsável por estabelecer, de forma clara, os objetivos do projeto, a sequencia de execução e fazer a gestão e o controle das restrições de custo, tempo, escopo e qualidade.
Qualificações e experiência requeridas:;
– Conhecimento de geradores, turbinas a gás e vapor, motores elétricos, caldeiras, geradores eólicos, Balance of Plants (BoP) e conhecimento de Usinas de Ciclo combinado;
– Capacidade para utilizar métodos e ferramentas para monitorar o andamento das obras;
– Confiável na realização dos objetivos atribuídos;
– Inglês fluente.
Qualificações pessoais:
– Formação em Engenharia (Preferentemente Engenharia Mecânica);
– Formação multicultural, vivência internacional e aberto a novas experiências;
– Excelente habilidade de comunicação, orientada para o cliente;
– Capacidade para identificar e se relacionar com as partes interessadas internas e externas;
– capacidade de organização, análise e resolução de problemas;
– Excelente conhecimento do MS Office; MS Project e autoCad
– Inovação e criatividade;
– Disponível para a mobilidade nacional e internacional.
E note que estes requisitos são necessários para uma posição intermediária e não para a Direção ou a Gerência Geral da empresa.
A maioria dos empregos criados na primeira e segunda revolução industrial estavam organizados pela lógica analógica. Eram empregos com tarefas repetitivas, especializadas, exercidas um tanto quanto nos moldes do filme “Tempos Modernos”. de Charlie Chaplin.
A lógica analógica é mão de obra intensiva. Existe desde os tempo bíblicos, com o mandamento de que “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gen 3,19). É a lógica do trabalho árduo, braçal, de suar a camisa, literalmente. Como não havia, nos templos bíblicos, a opção de “chamar as máquinas”, as atividades eram realizadas com ferramentas rústicas, de forma perseverante, ordenada, metódica, sistemática. Enfim, suand0 muit0 e produzindo pouco. O trabalho analógico é, por natureza, minucioso, de avanço lento, onde os erros são comuns.
Hoje a natureza do trabalho é outra. O trabalho é cérebro intensivo. O suor é do cérebro. O trabalho na Quarta Geração Industrial segue o lógica da Inteligência Artificial. Sob o comando do mundo digital paralelo, atua e produz resultados no mundo real, mas sob orientação e apoio do aparato virtual e da realidade criada no plano digital.
Para ser bem sucedido neste novo contexto, é preciso dominar as duas realidades que correm em paralelo. É preciso saber lidar com fatos reais e com o acompanhamento digital.
A retomada do crescimento virá com nova abertura ao mundo global. O Brasil não terá a opção de fechar-se sobre si mesmo e valer-se de estratégias que foram usadas no passado, como a substituição de importações. Não dispomos de meios para sustentar opções isolacionistas. E a chegada de mais empresas multinacionais significará mais exposição aos avanços de tecnologias e soluções da RI 4.0.
A conclusão é que os empregos futuros serão empregos para gente preparada para o futuro.
Os empregos que estavam aqui viraram fumaça. Fosse outro o governo, poderíamos ter feito uma transição controlada, garantindo os empregos de baixa qualificação por mais um tempo. Mas agora esta alternativa não existirá mais. Nossos postos de trabalho estão sangrando e estamos perdendo 10 mil empregos por dia. As empresas estão fechando postos de trabalho e desmontando sua infraestrutura. No dia em que voltarem, virão adaptadas às novas regras. E os novos empregos serão em menor número por valor agregado, mais exigentes sob o ponto de vista do conhecimento e mais concorridos e disputados.
Assim, para os interessados vale o aviso: Apertem os cintos. O emprego sumiu.
Ceska – O Diitaleiro