“Queremos ir ao Céu, mas não queremos ir por onde se vai para o Céu” – Padre Vieira
Uma metamorfose mudou a natureza da crise brasileira. Saímos da décrisis e agora estamos em uma sincrisis. Resta ver se esta metamorfose vai também mudar o Brasil.
Como se sabe, os gregos dividiam a crises em dois tipos: a décrisis e a sincrisis.
Por décrisis entendiam o tipo de crise em que as coisas vão piorando até colapsar ou explodir de vez. Até que se dê a ruptura do status quo. É a crise dominada por forças desagregadoras que se entrechocam, rompem a coesão interna e, por fim, dilaceram o organismo ou a sociedade onde se instalam. Foi o que aconteceu com o regime do PT e o “governo” da “Presidenta” Dilma. A queda da Dilma foi o ponto da inflexão. Foi o momento em que se deu a metamorfose e a décrisis se transmudou para sincrisis.
O PT havia se convertido na intersecção da corrupção, do acesso ao dinheiro sujo e ao poder político desvirtuado. Abandonou seus propósitos moralistas quando se deixou tomar pela ganância sôfrega, pela ambição sem peias, enfim, quando mandou os escrúpulos às favas. Ao decidir “comprar” tudo e todos entrou numa aventura doida demais. Apostou contra o Brasil e perdeu o jogo. Convém lembrar, entretanto, que os comunas e a esquerda profunda desprezam a moral burguesa e acham que o capitalismo é ilegítimo, o que justifica tirar dos que tem e do governo. Acreditam que não se trata de roubo, posto que, para eles, os fins justificam os meios. Quanto ao povo, nosso ingênuo e crédulo povo, este se tornou vítima da espoliação e foi escalado para cobaia da tal “nova matriz econômica”, um experimento grotesco de “moto perpetuo” na economia.
- A economia não se defende. Ela se vinga!
Foram desmandos e mais desmandos, mas o fato é que o PT, ébrio de cobiça, inescrupuloso e sem noção, não aprendeu que a economia, assim como a natureza, não se defende. Ela se vinga. Não tem discurso que anule a melancólica realidade: não existe “almoço grátis”. O PT, contudo, deu de ombros. Continuou a gastar sem limites e a agir como o selvagem de Montesquieu, aquele que derruba a macieira para comer a maçã. Só o despreparo, a imaturidade basbaque e a cretinice rotunda da mal informada Dilma para achar que “fazer o diabo” para ganhar a eleição não teria consequências. Teria e teve.
A farra da gastança desregrada, a roubalheira desenfreada, a corrupção sistemática, o voluntarismo inconsequente, a arrogância e a prepotência foram ingredientes que entraram na décrisis petista e tornaram o Impeachment da Dilma um fato irreversível. A implosão final de seu governo era prenunciada pelo cheiro de enxofre no ar. Quem tinha um mínimo de pudor se afastava. E o crescimento do tumor da décrisis ia assustando todo mundo. No final os estertores do governo petista foram um espetáculo dantesco. Formou-se uma unanimidade anti-Dilma. Todos, menos um “resti di galera”, um grupelho de debilóides, perceberam que era questão de vida ou morte. Ou tiravam Dilma ou afundariam todos.
O mais notável é que a nação em si não correu o risco de colapso. A economia sofreu, e ainda sofre, claro. É sempre mais fácil destruir do que construir. Mas as instituições, bem ou mal, funcionaram, funcionam e vem dando conta do recado. Por seu lado, a sociedade civil se mobilizou, enchendo as ruas e cobrando providências. Os milhões na rua davam clara demonstração de que estavam atentos e tinham reservas cívicas para encaminhar o fim da crise. Outro ponto positivo é que as forças armadas não precisaram entrar no processo de colocar ordem na casa. Mas seu silêncio sinalizava que estavam alertas e prontas. Se as coisas fugissem ao controle, agiriam. Não tenham dúvida.
- E agora, o que vai ser?
Estamos em uma encruzilhada e a eleição de 2018 vai dizer para onde vamos.
Pela definição dos gregos, a fase da crise em que estamos mergulhados agora tem os contornos de uma sincrisis.
E toda a sincrisis começa com uma catarse, a purgação ou purificação por que deve passar a sociedade para reencontrar seu eixo moral. Trata-se do processo de contrição e expiação que abarca políticos, servidores e empresários corruptos, mas não se resume a eles. Os brasileiros que votaram para eleger Lula e Dilma (e que, de contrabando, também elegeram Temer) igualmente precisam fazer o mea culpa. Este processo catártico é doloroso e requer grande dose de equilíbrio para que não se jogue fora o bebê com a água do banho. É preciso punir os culpados e rever procedimentos, mas deve ser depurado e aproveitado o que possa ser recuperado.
- A grande incógnita: o comportamento dos eleitores em 2018.
Eleições tem a ver com escolhas. E com propostas.
E como sabem os que lidam com pesquisas de opinião, a escolhas em uma eleição tendem a ser guiadas pelos vetores dominantes no debate social.
O debate, a rigor, já começou. As mídias sociais são o fator novo no grande debate e terão peso decisivo. Os vetores do debate tendem a cristalizar-se em volta das opiniões dominantes e vão balizar as alternativas disponíveis. Os grupos sociais, estimulados pelo debate, vão fazer sua escolhas e apoiar as propostas mais em consonância com seus interesses. As mídias sociais vão filtrar e sedimentar o sentimento nacional. E vão apoiar a economia de mercado e respaldar o sentimento anti-corrupção. Aliás, já vem fazendo isto…
- Dois temas dominantes: a economia e a corrupção.
A questão da corrupção vai ser importante, sem dúvida, mas a economia deverá ser o mais importante dos temas da eleição.
O eleitorado, hoje mais amadurecido, parece ter aprendido uma lição com a degringolada do governo petista. A lição é que, no final, nós é que pagamos a conta. E que governar não é fazer mágica. Governar é agir pesando as consequências e pensando no bem geral.
Mas sabemos que ainda tem muita gente que vai apoiar os demagogos. Ainda tem gente que acredita em Papai Noel e que existe um jeitinho malandro de obter benefícios sem pagar a conta.
E, ao fim e ao cabo, todo o debate vai, mais uma vez, girar em volta do dilema proposto pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta: “Ou nos locupletamos todos, ou implante-se a moralidade.”
Se der a lógica, se decidirmos ser um país sério, o melhor candidato para a presidência deverá ser um político experimentado, comprovado, bem intencionado, sério e bem avaliado. Hoje, em minha opinião, o melhor nome que o país tem é o do Governador Geraldo Alckmin. Afinal, é consenso de que o estado melhor governado do país é o de São Paulo. E seria lógico, portanto, imaginar que o país todo desejasse ser como São Paulo. Mas não tenhamos ilusões. Vai ter quem prefira a mediocridade. Vai ter quem prefira turvar as águas para continuar tirando vantagens e nadando na malandragem.
É doloroso reconhecer, mas nosso debate político ainda vem patinando em ideias dos anos cinquenta do século passado. Ainda assim, o movimento pendular de nossa história nos dá esperanças. Jânio prometeu varrer a sujeira e sua vassourinha. Empolgou a nação, conquistou o imaginário nacional e ganhou a eleição. (Sua renúncia foi uma traição ao seu eleitorado…). O movimento militar veio apoiado pela maioria da sociedade e prometeu um governo sério. (Em 20 anos acabou desgastado, mas hoje todos reconhecem que foi sério e fez muito pelo país.). Collor ganhou prometendo acabar com os Marajás. (Revelou-se um engodo. Ele virou o Rei dos Marajás. Teve sua décrisis, foi impichado, mas foi seu vice, o Itamar Franco, que assumiu e fez o Plano Real.). Fernando Henrique Cardoso se elegeu prometendo fortalecer o Plano Real. (Cumpriu o que prometeu e entregou um país arrumado ao Lula.). Lula, que parecia ser gente boa, foi nossa recaída no populismo. (Sua “carta aos brasileiros” foi apenas mais uma mendacidade de um mentiroso contumaz.). Quanto a Dilma, ela não passou de uma pedra no caminho, de um poste eleito por um marketing charlatão.
Resumo da ópera: sim, dá para ter esperanças. Mas, no fundo mesmo, o que vamos decidir na eleição de 2018 será se aqui, na Terra de Santa Cruz, o crime ainda vai compensar ou se, de uma vez por todas, vai deixar de compensar para sempre!
Acredite. Faça sua parte. Depende de Nós!
Ceska – O Digitaleiro