Chega de atraso, que ninguém merece.

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Ou viramos a página de uma vez ou sofreremos a maldição de Sísifo*

De onde menos se espera, de lá é que não sai nada mesmo. (Apparício Torelly, o “Barão de Itararé”)

O fato é que o Brasil é um país único. Um país sui generis, que dá um tiro no pé e depois reclama que está difícil de caminhar.

Em certo sentido, somos especiais. Temos uma natureza privilegiada e um potencial inigualável. Somos o quinto maior território e a quinta população do mundo; temos 200 milhões de hectares de terras agricultáveis e mecanizáveis; somos campeões no agro negócio; fabricamos aviões como gente grande; nossa economia é a nona do planeta (mas já foi a sétima). Em contrapartida, gostamos do atraso. Somos afeiçoados mesmo. Basta dizer que ocupamos um obsceno 80º lugar no Ranking Mundial de Produtividade. (E olha que melhoramos uma posição em relação ao ano passado!). É vergonhoso dizer, mas o crescimento da produtividade no Brasil foi, segundo a CNI, de 0,6% ao ano, entre 2002 e 2012. Na Coréia do Sul, no mesmo período, o crescimento foi de 6,6% ao ano. O que o Brasil levou 10 anos para crescer a Coréia do Sul cresceu a cada ano. Em compensação, nosso salário real continuou a subir muito acima da produtividade – cresceu 1,8% ao ano – e como desgraça pouca é bobagem, tivemos a maior apreciação da moeda doméstica – o Real valorizou-se a uma taxa de 7,2% ao ano, jogando água em nossa competitividade.

  • E bota anacronismo nisso!

Em resumo, somos um fenômeno de anacronismo. Grande porção do país ainda vive mergulhada no atraso. Temos regiões onde grassa o coronelismo  colonial e onde ainda vicejam crenças da idade média. Quarenta anos depois ainda somos um “Belíndia”, como definiu Edmar Bacha em seu ensaio de 1974, referindo-se a um Brasil com áreas de desenvolvimento Belga convivendo com outras de pobreza indiana.

O que assombra é que aceitemos um sistema que favorece os trapaceiros da política. Nosso regime político foi desenhado como um queijo suíço, com buracos para facilitar a corrupção. Os privilégios e as mordomias são espantosos. A desfaçatez é escandalosa. É assombroso que aceitemos engolir este presidencialismo de “coalisão”, que cheira a quadrilha e que nos mantém em crise permanente.

Infelizmente, somos presa fácil dos demagogos e charlatães da política. O propósito de enricar com dinheiro público, desviando do erário, sempre foi a grande motivação de grande parte dos políticos brasileiros, notadamente os dos grandes grotões do norte e nordeste, regiões em que a política é a maior atividade econômica. E é nelas que reside a grande reserva nacional de atraso. É contando com elas que Lula e sua trupe de bucaneiros, aventureiros, corruptos, saltimbancos e malabaristas sonha em voltar ao poder. Ameaça vã, que o país rejeita, como os rejeitou com o impeachment da Dilma, mas que ainda move suas mentes peçonhentas.

  • Seremos, como Sísifo, condenados a combater a corrupção por toda a eternidade?

Nossa leniência nos faz vítimas recorrentes. A cada geração os brasileiros tem precisado mobilizar-se contra os piratas da política em nosso país. Jânio, em 1960 prometia varrer a corrupção. Seu símbolo era a vassoura. Os versos de seu jingle “Varre, varre, varre, varre vassourinha / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já ‘tá cansado / De sofrer dessa maneira” empolgaram o país. Era o que o povo queria ouvir. Mas ele avaliou mal, preferiu dar um golpe no congresso acreditando que o povo ficaria do seu lado e se deu mal. Veio Jango e os comunistas se assanharam. O povo pediu e os militares botaram os comunas para correr. O governador Brizola, genro de Jango, o mesmo que, depois, institucionalizou a criminalidade nos morros do Rio de Janeiro, fugiu para o Uruguai vestido e mulher. Coisa de “coração valente” e vergonha pouca. Tivemos ainda o Collor, que prometia acabar com os “marajás”. Pilantra e sacana, até hoje, se refestela com dinheiro público. Pouco tempo atrás se descobriu que sua mansão em Brasília, a “Casa da Dinda” é mantida com verbas do senado. Se bem que é coerente: é preciso bem conservar a frota de carros de luxo, um Lamborghini Aventador (R$3,2 milhões); uma Ferrari 458 (R$ 1,4 milhão) Uma Bentley Flying (R$ 975 mil), e um Range Rover (R$ 570 mil), que a PF diz terem sido pagos com recursos de propina, e que, mesmo assim, estão sob a “guarda” do senador por Alagoas, o mesmo estado do notório senador Renan Calheiros.

Enfim, não fosse nossa leniência, de que outro modo explicar a resignação com que engolimos 13 milhões de desempregados e 5 milhões de empresas sufocadas e inadimplentes neste país fantástico onde jorra leite e mel? Tínhamos que estar indignados. Tínhamos que estar enfurecidos. Tínhamos que estar na ruas.

Acontece que nossa índole é de povo manso. De povo dócil. Acostumado a engolir desaforos sem piar. A ser açoitado no tronco sem gemer. Esta passividade é nosso mal. Os políticos corruptos e os habitantes do pântano do planalto contam com ela. Eles, os políticos corruptos que pululam em Brasília, estão agora mesmo  planejando um novo golpe na decência. Pensam em enfiar goela abaixo do país uma nova legislação para dificultar o combate à corrupção. Os paspalhos acham que vai dar. Que não estamos atentos. Acham que o impeachment de Dilma foi uma exceção causada pela inabilidade da dita cuja, cujos erros foram além da conta. Erros que eles, mais ladinos, mais malandros, mais “espertos”, não tencionam repetir.

Penso, entretanto, que laboram em erro crasso. Querem continuar mamando e corruptando. Desafiam a paciência da nação. Brincam com fogo e com o país e vão sofrer as consequências.

  • Exorcizando o erro

O que entristece é que temos tudo para dar certo. Ainda assim nossos políticos teimam em cometer desatinos, em perseverar em erros históricos, em flertar com os desacertos que são a razão de nosso atraso.

  • Mas, então, por que insistem em fazer errado?

A razão é simples: fazem errado porque fazer errado tem sido um bom negócio. Porque a ocasião faz o ladrão. Porque preferem se locupletar sem esforço.

  • E por que não mudamos o regime e passamos a fazer o que é certo?

Bom, aqui podemos voltar ao perspicaz Barão de Itararé, “Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”.

Para começar, o que está errado no Brasil é que as elites do atraso é que comandam o país. E estas não querem mudar. Fingem que mudam, mas só de mentirinha. Felizmente, para as gerações jovens, estão envelhecidas e no seu ocaso. Infelizmente, delas não se pode esperar mais nada.

Vejam o governo Temer. O presidente está mais para um caricatura do que para um estadista. Seus ministros são mais sinistros do que ministros. O congresso é mais um convescote de predadores do que uma instituição a serviço do país.

Mas ainda assim, não duvide, o Brasil vai mudar. Afinal, nada levanta um traseiro mais depressa que fogo em baixo do banquinho!

O tsunami que o governo do PT/PMDB produziu no Brasil apresenta números de estarrecer. Após três anos andando para trás, o brasileiro ficou 10% mais pobre. E o estrago ainda perdura: 7 mortes violentas por hora (por hora!), bilhões desviados por corrupção, criminalidade nas alturas, angústia e sofrimento generalizados. Até nossa proverbial fleuma tropical vem perdendo a paciência. E os brasileiros, chamuscados, cansaram das labaredas queimando sob seus banquinhos. Até porque, convenhamos, a pilantragem que nos esfola passou dos limites.

  • Bem, mas o que fazer?

Deixar como está para ver como é que fica não é opção. Precisamos reconhecer que nossa democracia não é funcional. E que temos que mudar nossa forma de fazer politica.

Três passos fundamentais para desatar o nó que prende o país ao atraso:

1. Mudar a eleição da Câmara de Deputados do sistema proporcional para o distrital. Parece pouco, mas o efeito é mágico. 80% destes deputados não se elegeriam no sistema distrital. Os partidos se reduziriam naturalmente a três ou quatro. O sistema distrital muda a forma e a lógica da escolha. A eleição em um distrito mobiliza as forças locais. Os candidatos saem da comunidade e são escolhidos e apoiados por gente que os conhece. Pode ser um professor, um empresário, um clérigo, um médico. Mas dificilmente será um rufião, um safado, um corrupto, um palhaço. A comunidade saberá distinguir entre um candidato sério e um pilantra.

2. Mudar para o sistema parlamentarista. Um parlamento eleito pelo voto distrital tende a agir pensando no melhor para suas comunidades e para o país e não no melhor par si mesmos. Este compromisso com seu país e seu povo pode ser observado na maioria dos países do primeiro mundo. Todos parlamentaristas, exceto os EUA, onde o presidencialismo também vive em crise permanente. Engraçado que esta gente que tanto detesta os americanos foi copiar exatamente o que os EUA tem de errado.

3. Reequilibrar a representação na Câmara dos Deputados. Não é democrático que o voto de um roraimense valha dez vezes o voto de um paulista. Esta desproporção afeta a representatividade do sul e desequilibra o parlamento, onde a maioria do norte e nordeste se especializou em tirar proveito dos estados do sul. Isto não é saudável e não se sustentará no longo prazo. Infelizmente este desequilíbrio foi produzido no governo militar por um general metido a gênio, mas nada democrata, o “bruxo” Golbery do Couto e Silva, que dizia: “São Paulo já tem o poder econômico, então não pode ter o poder político”. Esta tese é antipatriótica ao extremo. Ela pressupõe que os outros estados estão condenados a serem pobres eternamente. Ademais, esta aberração, além de antidemocrática é preconceituosa e precisa ser corrigida.

Estas correções sistêmicas vão ocorrer. Por bem ou por mal. A mudança de gerações no Brasil sempre foi traumática, dado que os mais jovens sonham com uma revolução, mas o que recebem é a conta deixada pelos mais velhos. Os déficits colossais do atual governo vão ser empurrados para os jovens. E eles serão sacrificados na crença de que “bom cabrito não berra” ao ser morto e esfolado. Será? Os jovens brasileiros vão se deixar esfolar sem berrar? Duvido.

E de distorção em distorção, nossa política insana construiu um sistema político perverso, aberrante, concebido e desenhado para não dar certo.

  • Somos uma obra prima do atraso

O resultado é que temos hoje uma obra prima do atraso, uma obra prima do compadrio. Um regime feito sob medida para favorecer a corrupção. Não temos uma democracia de verdade. Os brasileiros não se sentem representados. O que temos é um arremedo de fancaria, uma alegoria que acoberta um balcão para negociatas.

Só que os tempos mudam. O tempo das ilusões acabou. As novas gerações não vão aceitar pagar a conta das estripulias das gerações perdulárias que as antecederam. E vão querer mudar as regras do jogo, por bem ou por mal, como outras o fizeram antes. Cansaram dos piratas de cara de pau, dos políticos incompetente e corruptos, dos idiotas, patetas, palhaços e trapalhões que o voto proporcional elege.

A sociedade mobilizada e o povo nas ruas começaram por demolir a república petista. Mas não se mobilizou para entregar o poder a Temer e seu bando de espertalhões. Não foi para isto não!

Outra coisa: muito se engana quem pensa que o povo enfiou a viola no saco e sossegou. O povo agora tem a internet e está equipado com as mídias sociais. O burburinho online mostra que está mais atento e mais bem informado do que nunca. O povo pode ainda não saber bem o que quer, mas sabe com clareza o que não quer. O povo cansou de estripulias e vem rejeitando os demagogos e rufiões. E não quer mais do mesmo. Cansou de ser o bode que não berra e engole a corrupção, a indecência e a grossa burrice do regime que temos.

O debate está apenas começando. E a internet vai ser a nova ferramenta de mudança. A mão invisível da mídias sociais vai fazer a diferença.

Ano que vem tem eleições. Preparem-se porque vai ser um vendaval. E aposto que vamos debater e esconjurar a corrupção. Chegou a hora de virar a página. Chega de atraso, que ninguém merece.

Ceska – O digitaleiro


(*)PS. – Como se sabe, Sísifo, na mitologia grega, foi condenado, por toda a eternidade, a rolar uma grande pedra de mármore até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que estivesse quase alcançando o topo, a pedra rolava montanha abaixo novamente até o ponto de partida, invalidando todo o esforço despendido.

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