Não existe a opção de não fazer nada. Estamos mergulhados nesta crise até o pescoço. Nosso destino está traçado: se o navio afundar, afundaremos juntos. “Deixar correr solto”, medidas paliativas e remendos não resolvem e implicam no risco de vivermos um século perdido. De jogarmos o século XXI pela janela.
As mudanças que transformam geram resistência. Deslocar interesses e privilégios não é, nem nunca foi fácil. Mas as mudanças estão vindo e vão mudar o país. Gostemos ou não.
O motor da mudança é a força das raízes digitais que penetram no solo e vão levantar o velho casarão assombrado que abriga a velharia política e institucional que ainda tenta se manter agarrada ao mundo analógico que vai para o museu. Aquele mundo a ser sepultado com seus zumbis e assombrações.
Uma nova sociedade se alevanta. Vibrante, jovem, apaixonada pelas possibilidades online. E vai criar uma camada digital zero quilômetro sobre a velha camada desgastada, carcomida e anacrônica, cheia de craca e paralisada pela entropia.
É destino da humanidade evoluir e avançar. Nem sempre é fácil, nem sempre é pacífico, mas a irresistível força dos tempos prevalece. E nada resiste à participação maciça da sociedade quando as pessoas decidem tomar nas mãos o protagonismo de seu próprio destino.
No mundo digital o novo normal será o cidadão ter liberdade para escolher e estabelecer individualmente as regras de seu relacionamento com o Estado, com respeito aos serviços que deseja e pelos quais se dispõe a pagar. O novo cidadão, que é, ao mesmo tempo, consumidor-consumidor-eleitor terá um papel relevante no redesenho institucional do Brasil. E já dispõe dos meios para renovar o Estado e alcançar sua autorealização, o ideal filosófico que nasceu com Aristóteles e que, hoje, é realizável.
O desafio da civilização no século XXI é criar condições para que a Organização Social do Estado se constitua na plataforma para a realização do destino de seus cidadãos.
O cidadão é o alfa e ômega do Estado democrático compartilhado. Sem o cidadão não existe nem sociedade e nem civilização. Pode existir a barbárie, mas nunca um Estado democrático de direito. A cidadania em plenitude deve ser o esteio da Nação e do Estado. Esta a essência do pensamento da Civilização Ocidental. E esta a ideia base da democracia na sua origem.
Na Antiguidade Clássica, na Grécia, a concepção idealista da democracia grega entendia que a “vontade do povo” se manifestava nas assembleias públicas das cidades-Estados. Era quando os cidadãos se reuniam para tomar decisões políticas de interesse da comunidade.
Na chamada “democracia direta”, os cidadãos gregos (é bom lembrar que as mulheres, os escravos e os estrangeiros não eram considerados cidadãos) participavam das discussões em torno dos assuntos da cidade e tomavam decisões, sem intermediários ou representantes.
Esse método de participação popular, obviamente, só era possível nas cidades-Estado da Grécia antiga, posto que o número limitado de cidadãos com direito a participar podia ser reunido todo numa praça.
A democracia direta não sobreviveu ao período clássico e caiu em desuso. A partir do século XVII, por inspiração da Revolução Americana de 1776 e da Revolução Francesa de 1789, a ideia da democracia voltou, agora como uma democracia indireta, com base no direito dos cidadãos participarem dos assuntos de interesse coletivo a partir do voto.
A principal função do voto é a escolha de representantes. Os representantes eleitos, por sua vez, dispõem de poderes que lhes foram delegados pelos cidadãos para cuidar dos assuntos políticos da comunidade, conforme os preceitos de uma Constituição.
O problema é que os “representantes do povo” passaram a formar uma nova “corporação, – a “classe política” – com interesses específicos e voracidade insaciável. Pantagruélica.
Este método, ainda que trabalhoso e demorado, prestou valiosos serviços à democracia e à cidadania e, mal ou bem, representou um avanço civilizatório importante. Era o que de melhor se podia fazer no tempo em que as comunicações ainda dependiam de correios à cavalo. Mas, com o advento das novas tecnologias e com a velocidade em que as coisas acontecem hoje no planeta, a democracia representativa, nos moldes da instalada no Brasil, já não consegue acompanhar o mundo e começa a apresentar sinais de fadiga.
Ceska – O blogueiro digital